Rangel Alves da Costa*
As dez pragas da política, também conhecidas como pragas eleitorais, são os sacrifícios, os sofrimentos e os tormentos que o povo sofrerá na pele, no recanto de cada lar e no seu humilde cotidiano, se o faraó – aquele que chega erguendo a mentirosa e desavergonhada bandeira do seu partido e de sua candidatura – conseguir ludibriar a população votante e continuar instalado nos templos executivos e legislativos municipais.
Não somente nestas esferas de poder político, pois alcançando também as eleições presidenciais e para as câmaras legislativas e o senado federal. E neste aspecto há de se observar que as pragas, as maldições e imprecações são ainda mais fortes, redobradas, triplicadas, vez que onde o poder é maior também serão as mazelas destinadas ao povo eleitor.
As dez pragas bíblicas não são muito diferentes destas impingidas pelos eleitos aos seus eleitores sempre enganados, aviltados, desrespeitados. Na Bíblia, conta-se que o Faraó, com verdadeiro poder diabólico, desrespeitou a ordem de Deus para libertar o povo de Israel da escravidão. Por se rebelar contra o poder divino, contra o tirano foram lançadas as dez pragas do Egito. Estas eram um sinal de que faraó deveria se arrepender de sua insurreição contra Deus e deixar livre o povo de Israel, para que se cumprisse a promessa feita a Abraão.
Mas na política, onde sempre há faraós no poder e tantos outros querendo alcançar as riquíssimas e corrompidas dependências dos templos, as pragas ocorrem e sempre ocorrerão de modo inverso. Quer dizer, os faraós recebem do povo a força de governo que precisam para depois se contrapor ao próprio povo. É este que ao eleger o faraó estará marcando sua própria sina de abandono, pobreza e até morte. E para reverter essa situação, somente o eleitor poderá destruir o poder do corrupto antes mesmo que ele alcance seus objetivos eleitorais.
As dez pragas vão sendo lançadas lentamente, no decorrer do mandato. Acreditando o povo que daquela vez escolheu o melhor, de repente as primeiras constatações: nada do prometido é cumprido, foge do povo mais que tudo, o seu nome é estampado indignamente nas manchetes dos jornais e pelas ruas a voz do povo acaba fazendo o reconhecimento tardio: corrupto, larápio, bandido de gabinete.
O povo abrirá a boca para esconjurá-lo, ameaçá-lo de não quero vê-lo passando nem diante de sua porta. Mas o faraó é matreiro, poderoso, sabe enganar como ninguém, e principalmente já conhecendo o povo eleitor que se vende por qualquer coisa. E quem foi chamado de ladrão será ovacionado como salvador da pátria no dia seguinte.
Por conhecer da fraqueza e da sem-vergonhice do eleitor, então começa a jogar seu jogo infame, mas que sempre dá bons resultados. Terá o sorriso e a palavra, o gesto e o aceno, mas por trás estará costurando com agulha de fogo e linha cortante o que cada um deverá merecer: quatro anos sobre brasa ardente, descalço, sedento, e mais adiante os do grupo dele rindo, achincalhando, fazendo festa com a bandeira da sigla partidária fincada no túmulo da esperança.
Verdade é que as pragas não serão novidades nenhuma, pois já preparadas no grande caldeirão da perversidade, do amedrontamento, da ilicitude, do desrespeito ao povo, à lei e aos direitos constitucionalmente consagrados. Infelizmente, sempre são derramadas sobre o povo sem piedade, e estes esperam apenas cicatrizá-las para se debruçar novamente sobre o caldeirão da vergonha eleitoral. E vai levantar a bandeira, gritar, torcer, apostar, defender com unhas e dentes aqueles que mais tarde serão seus algozes.
Segundo a Bíblia, as dez pragas são: 1. Transformação da água em sangue; 2. A praga das rãs; 3. A infestação de piolhos; 4. Proliferação insustentável de moscas; 5. Peste tomando o gado; 6. Úlceras e tumores sobre o corpo; 7. Devastação das plantações por raios e granizo; 8. Ataque dos gafanhotos; 9. Dias de trevas; 10. A morte dos primogênitos.
Por sua vez, no infame e abjeto livro político e partidário, as dez pragas são: 1. Transformação de ser humano em objeto asqueroso, desprezado e menosprezado; 2. A infestação da pobreza, com crescimento de miseráveis e desvalidos, de modo que qualquer esmola seja garantia de voto; 3. Desemprego, pois o faraó possui muitos amigos e parentes, e somente a estes caberão ter emprego e renda; 4. A mentira como resposta eficaz e eficiente para tudo, vez que o povo sempre acredita no que o mentiroso poderoso diz; 5. A transformação do poder em arma contra o povo e sempre em benefício próprio e de familiares e apadrinhados; 6. O povo em maldição: faraó que promete demais e não tem condições de cumprir será amaldiçoado. Mas como ele tem poder, repassará a maldição para o povo mesmo; 8. A maldição da sabedoria popular: “o povo tem o governo que merece”; 9. O feitiço do esquecimento, pois quem apanha hoje do faraó, sofre nas mãos do político, amanhã já estará completamente esquecido, e ainda mais se receber um saco de cimento ou uma cesta de alimentos; 10. Os arrependimentos: aí já terá sido tarde demais. Portanto, a única coisa a se fazer para evitar as dez pragas é mandar de volta o faraó para o seu devido lugar, ou tirá-lo do pedestal que tenta permanecer.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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