Rangel Alves da Costa*
Tudo na vida é permeado de fases. Há um tempo para tudo, segundo o Livro de Eclesiastes: tempo de viver, tempo de morrer... Na existência, as fases da infância à velhice; nas estações, com o outono, inverno, primavera e verão; no desenvolvimento humano, desde a inocência à maturidade.
E também as fases nos elementos da natureza e nos astros. E por isso mesmo dizem da época boa para o plantio e para a colheita; a época do florescer e do perder o viço, secar, cair. E também as intrigantes, cativantes e misteriosas fases da lua, conforme o olhar vai em busca de suas respostas.
Ao se voltar para a lua, o sol ilumina sua face. Daí que a fase da lua representa o quanto dessa face iluminada está voltada para a terra. Por isso mesmo, ao olhar para a lua o indivíduo a encontrará mais ou menos iluminada, caracterizada por uma das quatro fases mais conhecidas: lua nova, quarto-crescente, lua cheia e quarto-minguante.
Na lua nova, a face visível do olho da noite está escurecida porque a luz se esconde pelo outro lado; no quarto-crescente, a parte iluminada da lua é semicircular, numa faixa dourada que vai aumentando aos poucos; na lua cheia, todo o orbe lunar fica alumiado e esse luzir intenso pode produzir consequências inimagináveis na mente das pessoas; e no quarto-minguante é formado um novo semicírculo escurecido até fechar-se totalmente, adormecendo a noite para a lua nova.
Mas a lunação como descrita acima não diz tudo sobre a lua. São fases e subfases, chegando a mais de trinta modos de transformações dessa senhora da noite, escondida pelo dia para reaparecer sempre mais bela, ainda que nova, ainda que só apenas uma parte de sua claridade. E não se deve esquecer a lua velha.
Quase ninguém fala sobre ela, ninguém diz a alguém que se encantou com a lua velha, ninguém se coloca no umbral da janela para mirá-la lá em cima. Também pudera, vez que a lua velha é presença luminosa que só existe em quem vivenciou as luas passadas, viveu as noites de um dia, foi lobo uivante e louco debaixo de seu luzir.
A lua velha é a mesma lua cheia, grande, bonita, misteriosa demais, assustadora para muitos, capaz de transformar sadios em loucos e enlouquecidos em passarinhos voejantes. A mesma, porém com sutis diferenças. Se a lua cheia clareia o instante, a lua velha traz à mente o lume voraz de outros tempos.
Por isso mesmo que a lua velha também poderia ser chamada lua da recordação, lua do que se foi, lua da saudade dos tempos idos, lua do ontem não adormecido, lua dos amores de antigamente, luas das paixões não curadas, lua dos namoros antigos e ainda presentes na memória do coração, lua do que tão belamente se foi e agora se faz apenas saudade, lua da tristeza e do sofrimento pelo reviver das aflições amorosas de um dia.
A lua velha é astro que a nuvem do tempo não consegue encobrir, nada consegue esconder; lua que está na mente e no firmamento, clarão após uma porta que leva a lugares e caminhos distantes, noutros tempos, noutras noites; lua que ainda brilha iluminando um rosto tão amado, que ainda faz descer seus raios sobre portas e janelas de outros dias, que ainda guia o amante apaixonado nos perigos misteriosos das noites idas.
Lua velha e de brilho ainda tão intenso, cor de luz na mesma idade do vivenciado um dia, clarão aos olhos adolescentes e tão inexperientes na vida, fulgor do encorajamento pra tudo fazer sem imaginar nas consequências debaixo do sol. Foi debaixo de uma lua velha, um dia tão nova, que nasceu o primeiro beijo, o primeiro abraço, que os corpos se entregaram para o primeiro amor.
E foi debaixo de uma lua nova, agora já velha, que me fiz apaixonado. Na sua luz escrevi o primeiro verso, marquei o primeiro encontro, cheguei e parti para outras luas. E quanta saudade tenho dessa luz de ontem, dessa lua velha constante no céu estrelado de minha recordação; dessa lua imensa que não sai de mim.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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