Rangel Alves da Costa*
O que será o tempo, senão a medida de duração dos seres; uma estrada onde se avista o passado, tem-se o presente e tenta-se avistar o futuro; a existência humana considerada no curso dos anos; a época do acontecimento dos fatos? O que será o tempo, senão a ocasião da vida e da morte?
E o que será a idade, senão o tempo decorrido desde o nascimento até a morte do indivíduo; o número de anos de alguém ou de alguma coisa; aquilo que diz respeito à infância, à juventude, à idade adulta, à velhice; uma fase, um período, uma época? O que será a idade senão o ferro marcado na rocha dura para mostrar sua fragilidade?
Mas quem seria mais antigo, o tempo ou a idade? O tempo está no início de tudo, pois tudo teve um tempo de começar; mas a idade é o próprio começo, o marco inicial da existência de tudo. Verdade é que o tempo tem uma idade, e esta possui a mesma duração daquela.
Mas um dia, ninguém sabe ao certo se num passado muito distante ou nas vizinhanças do agora, o tempo estava passando quando foi avistado pela idade, e desse sempre esperado encontro começou a surgir o seguinte diálogo:
Idade: Eis o bom e velho tempo, vinho antigo com sabor de orvalho de agora. Como tem passado?
Tempo: Ora, minha sempre jovial idade, estou simplesmente indo. Quando o vento sopra mais forte ando mais rápido; quando é tempo de brisa até descanso um pouco mais. O problema é quando chegam os vendavais...
Idade: Quem dera que todos entendessem o tempo, não é mesmo? Ainda que de repente não aceitem, mas é bem mais fácil compreender a idade, me compreender. Quanto a você, realmente deve ser muito difícil passar como deve diante das expectativas das pessoas...
Tempo: Nem fale amiga idade, nem fale. Uns querem que o tempo passe apressado, correndo, numa velocidade estonteante; já outros desejam um tempo passando morosamente, na lentidão de quase nada acontecer; outros querem ainda que o tempo nem passe...
Idade: Mas isto pode ser explicado facilmente. Contudo, a explicação não depende de você, não depende do tempo, mas de mim, da idade. E isto porque é a idade que pede que o tempo passe mais rápido ou não...
Tempo: Está certíssima. A idade jovial, adolescente, ainda menina, e que só pensa em ter cada vez mais novas experiências na vida, sempre deseja que o seu tempo passe aos pulos, apressadamente. Mais tarde, já na idade adulta e compreendendo que é preciso aproveitar melhor cada instante, deseja que o tempo flua como horas lentas e esperando que o melhor ainda possa acontecer...
Idade: E aqueles de idade já bastante avançada, logicamente que se pudessem parariam o tempo ou o fariam voltar. E neste momento lembram-se do tempo passado, do tempo não aproveitado, do tempo perdido...
Tempo: Infelizmente, é sempre assim que acontece. Verdade é que ninguém valoriza muito o tempo. Contrariamente, há uma clara preocupação com você, com a idade. A idade parece ser tudo na vida. Assim, se a idade é jovem, fazem de conta que tudo será como aquele momento, que o tempo nem passa; se a idade já é adulta, a preocupação com o tempo não é suficientemente forte para que não cometam bobagens, não procurem se preservar; e se a idade já é a da velhice, então tudo começa a se transformar em querer viver ao máximo não só esse tempo como todo aquele que ficou para trás...
Idade: Contudo, o problema maior que acho é que só se preocupam mesmo com a gente, ou seja, com o tempo e a idade, quando tudo parece que já passou. Dificilmente alguém diz que quer aproveitar o máximo sua idade ou que quer aproveitar ao máximo de todo tempo que disponha...
Tempo: Isso mesmo. Preocupa-se demais com as horas, os minutos, o encontro marcado. E nós simplesmente acontecendo sem que percebam. Enquanto olham para os seus relógios, nós vamos passando, caminhando, deixando saudades gravadas no espelho...
Idade: Sim, o espelho. Eis o nosso reflexo maior, o espelho para que cada um se encontre no tempo e sinta a idade que tem.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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