Rangel Alves da Costa*
A educação brasileira vive o dilema das contradições entre a teoria e a prática. As leis, os princípios e as diretrizes que regem a educação e o sistema educacional possuem objetivos tão grandiosos e claros que se efetivamente praticados permitiriam o que todos pregam sem existir: todos na escola com uma educação de qualidade.
Essa educação de qualidade tão propagada não alcança seus objetivos práticos por vários motivos. Em primeiro lugar, há uma dicotomia entre a qualidade de ensino que se quer ter e a qualidade do professor que possa proporcionar tal qualidade. Mesmo que atualmente exista um elevado número de professores com formação pedagógica, ainda assim não conseguem transformar o saber numa didática eficiente de ensino.
Logicamente que outros fatores se relacionam para que o docente não consiga traduzir em qualidade a proposta educacional do governo. Eis que sempre haverá o problema da desvalorização profissional, dos reclamos pelos baixos salários. As escolas não oferecem estruturas de ensino e nem os profissionais procuram se atualizar por conta própria, ainda que a informática já tenha chegado a muitas escolas. E tudo isso influencia negativamente no ensino de qualidade.
Em segundo lugar, por mais que a legislação educacional preveja a regionalização dos conteúdos educacionais, ainda assim não há uma séria preocupação em adequar o ensino das diversas disciplinas com a realidade vivenciada pelo aluno. Desconhecendo sua realidade, logo se torna mais difícil, comparativamente, compreender a outra.
De repente, como comumente ocorre, o professor da região nordestina valoriza mais o ensino de temas sulistas do que a riqueza histórica e geográfica que possui seu próprio contexto. E nesse passo entra também o aspecto da multidisciplinaridade, que a maioria dos professores não utiliza para tornar os conteúdos mais atraentes e de melhor compreensão para o alunado.
Em terceiro lugar, não se deve esquecer um velho problema que jamais deixou de existir na educação brasileira, que se traduz nos altos índices de evasão e repetência. Por mais que lutem para diminuir tal incidência aprimorando a relação professor-aluno e ensino-motivação, parecem esquecer que o problema não é provocado em sala de aula, mas sim pela incidência dos diversos fatores acima expostos.
E como demonstrado, tais fatores dizem respeito à maior preocupação do professor com o seu salário do que com o aluno, à falta do aspecto da familiaridade na educação e de uma didática que privilegie a importância do discente, bem como à falta de qualificação de muitos profissionais da educação para tratar dos problemas assim que eles surjam. Os problemas surgidos na escola ou na sala de aula devem ser prontamente resolvidos ali mesmo.
Portanto, de nada adianta alardear uma educação de qualidade, de primeiro mundo, com todos na escola e com os melhores instrumentos educacionais, se quem vive no cotidiano educacional sabe muito bem que não é assim que funciona. É a velha história do existente sem ninguém jamais ter visto.
O problema da educação brasileira está na raiz, ou seja, na localidade onde se produz o saber e o conhecimento e no modo como são transmitidos. E sem um trabalho de base eficaz jamais haverá educação e ensino de qualidade, redundando num alarde utópico e bem distante da realidade.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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