SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

VIAGEM À MINHA TERRA (Última parte)

                  
                                            Rangel Alves da Costa*


Ao chegar a tarde, antes mesmo que o sol arrefecesse, o destino quase sempre era a Praça da Matriz e suas opções para passar o tempo. E não muitas, pois nem bancos existem naquilo que se denomina de praça. Apenas muretas de canteiros saudosos de qualquer plantinha. Flor por ali morreria de susto. Lamentável uma cidade sem praça que simbolize sua suntuosidade.
Contudo, sendo dias festivos da padroeira, com a juventude ainda na expectativa de que os eventos com bandas ainda pudessem ser realizados, verdade é que a região central estava completamente tomada de gente. Por cima e ladeando uma praça mais abaixo, a Arnaldo Rollemberg, parques com brincadeiras para a criançada, bancas de jogos, quiosques e tendas para revenda de lanches.
Mas nada igual ao bar de Naní, em local estratégico na praça principal. Excelente ponto de observação para tudo que ocorre ao redor, entre uma cerveja e outra, um refrigerante ou um tiragosto surgido ao acaso, rapazes e moças, casados e solteiros, jovens e velhos, começavam a aproveitar o que de melhor certamente restaria da festa.
E era festa mesmo, com gente animada, dançando ao som dos veículos estacionados ao redor. E por ali os velhos e novos amigos. Por ali Zé de Iaiá e Dona Iolanda, Toinho de Lídia, Ielma, Leto, Jorge, Djalma, Ronivaldo, Toninho, Tonho Meu, o visitante Marcelo e sua esposa, Teinha, Jozélia, Divá, Celinha. Um monte de gente boa. Sem falar de Zé Leno e Naní, proprietários do ambiente. E esta uma incansável, batalhadora sem igual, traduzindo sua presença num misto de acolhimento e amizade. E tantos que chegavam, proseavam, viravam um copo e depois seguiam adiante. Mas juro que nunca vi uma gente com tamanha sede. Vixe-maria!
Como diz o ditado, quem não tem cão caça com gato. E foi isso que passou a ocorrer quando a turma mais jovem começou a se certificar que não haveria mesmo qualquer evento com banda. Mas foi difícil que isto acontecesse, vez que o tempo todo foram sendo iludidos pela possibilidade de a qualquer momento chegar a notícia dizendo que a assessoria jurídica da prefeitura havia conseguido reverter a decisão de primeira instância proibindo a apresentação das bandas.
Era realmente uma situação difícil de acreditar pela juventude, vez que algumas bandas já se encontravam na cidade e em nenhum momento a prefeitura reconhecia que não havia conseguido modificar a decisão judicial e que, portanto, não haveria mais evento algum na praça. Só fez isso a partir da segunda-feira, através de comunicado transmitido pelas ruas da cidade.
Somente quando a noite chegou é que a pedra assentou no seu lugar. Então o jeito mesmo era brincar com o que podiam dispor, ou seja, beber, dançar ao som dos veículos, caminhar de canto a outro. E, infelizmente, alguns espalhando conversas infundadas, mentirosas, querendo fazer politicagem diante da situação vergonhosa e vexatória protagonizada pela prefeitura. E tudo para dizer que a culpa pela não realização dos eventos era da oposição.
Já escrevi dois textos sobre o assunto, sobre os motivos pela não realização dos eventos, suas causas, apontando o acerto da magistrada da comarca ao tomar a decisão pela proibição, bem como mostrando como o fanatismo político consegue cegar diante de uma situação tão clara e compreensível. Cito abaixo apenas algumas passagens do que já expressei sobre o episódio. Escrevi:
“Perante os poço-redondenses, o prefeito simplesmente conseguiu jogar na lama uma tradição, lascar a vida de comerciantes e quase apagar do calendário as comemorações alusivas à padroeira Nossa Senhora da Conceição. E espalhou tanta mentira que se demorasse mais um pouco ia se tornar verdade: “Vai ter festa, os advogados já estão providenciando tudo!” E depois... Mas que coisa mais feia senhor prefeito!
Entretanto, tudo pode ser visto num aspecto mais realista e daí surgir uma simples constatação: Roberto Araújo acabou dando uma prova contundente, incontestável e explícita de sua incapacidade administrativa.
Ora, se não consegue administrar e resolver um problema que ele mesmo deu causa, logicamente não pode administrar nem resolver os problemas de um município inteiro. É uma equação mental simples: quem não resolve o menos não consegue resolver o mais!
Cito um problema que o próprio prefeito deu causa porque foi ele quem fez chegar ao conhecimento do judiciário, dos setores governamentais e da população que o município de Poço Redondo estaria vivendo em estado de calamidade absoluta diante das estiagens que assolam a região.
Não se pode negar que os problemas são muitos, as necessidades da população também, mas o quadro dantesco desenhado, os absurdos criados, os exageros repetidos, não condizem com a realidade fantasmagórica ecoada pelo governante.
Verdade é que os últimos prefeitos acostumaram a transformar o município no pior lugar do mundo, no mais pobre, mais feio, mais desorganizado, mais esburacado, mais carente, mais tudo de ruim que possa existir, e simplesmente para que os visitantes, os governantes e todos que desconhecem a realidade, passem a ver o lugar como aquele que vive permanentemente com a mão de esmola estendida.
E foi essa imagem que foi repassada ao judiciário municipal pelo próprio prefeito, juntando provas dos decretos de estado de emergência. E certamente o mesmo judiciário foi surpreendido ao tomar conhecimento que a prefeitura municipal estava organizando um evento grandioso, com a contratação de muitas bandas e gastos outros, cuja soma de recursos públicos a serem destinados afrontava o estado de miséria absoluta alardeada.
Ora, não teria cabimento algum uma festa tão grande e tão cara para um povo pobre e sofrido. Não teria qualquer justificava gastar uma fortuna com “baianadas” e “requebros” com o povo de cuia na mão.
Não seria humano aceitar a ilusão do palco com a realidade vivenciada nas distâncias empobrecidas. Daí que a proibição do evento festivo não foi só um grande acerto do judiciário, como ao mesmo tempo alertou o governante sobre a verdadeira destinação que deve ser dada aos recursos públicos. Ao invés de auê o de comer!
 Contudo, o mais afrontoso ainda foi a luta titânica travada contra o próprio judiciário para fazer prevalecer o gasto desnecessário dos recursos públicos. Não satisfeitos com a proibição impostas pela juíza da comarca, acharam por bem recorrer. E enquanto não saiu o veredicto final continuaram mentindo para o povo, alardeando que tudo seria resolvido.
Mas qual o erro maior do prefeito Roberto Araújo, o que dá provas de sua extrema incapacidade administrava?
Será fácil responder. A juíza da comarca não optou pela proibição num ato ditatorial nem de uma canetada só. Ouviu o administrador, abriu espaço para justificações e fez mais. Quando o prefeito afirmou que a festa seria totalmente patrocinada e, por consequência, os cofres públicos não seriam afetados, a magistrada simplesmente pediu – dando prazo para tal – que a documentação relativa aos valores repassados pelos patrocinadores lhe fosse enviada. Nada mais correto, eis que aí estaria a comprovação da fonte dos recursos e assim a festa seria realizada sem qualquer problema.
Contudo, terminou o prazo concedido para a juntada da documentação e nada foi feito neste sentido. Então, diante da negligência e da omissão, a magistrada se viu praticamente forçada a proibir definitivamente a realização da festa na praça de eventos. E acertadamente assim o fez. Ora, inadmissível que a população se iluda por três dias quando a miséria se perpetua.
Negligência, omissão, falta de prova diante do que se alega não condiz com uma administração que respeita os seus munícipes. Alegou o patrocínio e não provou. Daí  acertada proibição, tanto na primeira instância como em grau de recurso”.
E sobre a manipulação da realidade, contradizendo a verdade para imputar aos opositores a culpa pelos erros do prefeito-candidato, anotei:
“A juíza da comarca de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, diante da constatação irrefutável de um estado de miséria absoluta no município, a partir de dados fornecidos pelo próprio prefeito, decidiu proibir a realização de festa com a presença de bandas contratadas a custo altíssimo.
Não demorou muito e o próprio prefeito providenciou carro de som para comunicar a população acerca da proibição imposta pela magistrada local. Contudo, por mais que os realistas conhecessem os motivos da decisão e o prefeito reconhecesse tal fato, ainda assim a verdadeira realidade dos acontecimentos já havia sido completamente distorcida pelos fanáticos e apaixonados eleitores do prefeito.
Negaram-se e continuam negando a realidade, desconhecendo totalmente a verdade, criando situações até mesmo inadmissíveis para dar outra feição ao que o seu próprio candidato conhece em profundidade. Não seria errôneo afirmar que, à moda dos loucos, passaram a viver de alucinações, de fatos inexistentes, de verdadeiros transtornos.
E isto porque não afirmam outra coisa a não ser que foi a oposição que lutou para a festa ser proibida, que foi o partido “a” ou partido “b” que mandou proibir a festa, que o povo ficou sem o evento festivo por culpa exclusiva da oposição política. E o pior: esquecem de citar, e em nenhum momento citam, que quem proibiu a festa, e por motivo justo, foi a excelentíssima senhora doutora juíza de direito da comarca de Poço Redondo.
Esquecem de dizer que, após a interposição de recurso tentando garantir a realização do evento, quem passou a proibir foi o órgão maior da justiça estadual, o tribunal de justiça do estado, através de um de seus desembargadores. Mas não, continuam insistindo, afirmando, teimando, repetindo, enlouquecendo, dizendo que a proibição foi motivada pela oposição.
Logicamente que fatos assim, totalmente desnaturados, irracionais, não poderiam partir de pessoas conscientes, normais, dentro das plenas faculdades mentais. Mas sim de pessoas politicamente apaixonadas, fanáticas, que tentando acompanhar o cordão das esperanças empregatícias vão perdendo até o controle de sua honra íntima, pessoal. Isto sem falar no cordão dos bajuladores, nefastas espécies que se proliferam assustadoramente em épocas de eleições”.
Tais foram as considerações sobre a minha viagem a Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo. Ainda não contei tudo, muito falta a dizer. Contudo, esperarei um pouco mais, aguardarei o resultado das eleições vindouras. Espero em Deus que o eleito consiga olhar com respeito esse sertão querido, modificar essa vergonhosa realidade, trazer de volta a feição progressista e bonita do município.
Do contrário, mesmo não tendo nascido com a sina de salvador da pátria, abraçarei a sorte e lutarei até a morte, mas serei candidato a prefeito em 2016. E para vencer!



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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