Rangel Alves da Costa*
Se o povo conta é verdade ou... Deixe pra lá. Mas vamos ao fato.
Dizem que numa delegacia de polícia aconteceu um episódio pitoresco envolvendo um meliante preso em flagrante por furtar a bolsa de uma velhinha e a autoridade policial responsável pelo inquérito. O caso seria rotineiro se não fosse pelos argumentos utilizados pelo acusado para se livrar da cadeia.
Então perguntou o delegado: “Mais uma vez você vem parar aqui, não é seu cabra ruim? Só que dessa vez a cana vai ser dura e você vai subir, vai pra penitenciária. Assaltar velhinha indefesa não tem vez aqui comigo não...”.
De cabeça baixa, choroso, o flagranteado respondeu: “Mas seu delega, foi um descuido meu, um vacilo, uma recaída que dá em todo mundo que agora só pensa em viver na seriedade, fazendo o bem, pelo melhor caminho...”.
“Que melhor caminho é esse assaltando a bolsa de uma pobre velhinha?”.
“Mas seu delega, juro que não fui eu. Se essa pessoa aqui fez isso era porque tava possuído pelo coisa ruim, pois agora até sou uma pessoa que só pensa em igreja, em rezar, em fazer o bem...”.
“Então, se tornou evangélico, foi?”.
“Deus me livre, seu delega, Deus me livre de ser evangélico. Dizem que tem pastor ali que é perigoso demais, afanador de marca maior, que o fiel até corre o risco de estar fazendo curso pra pegar o que é dos outros...”.
“Então qual igreja você freqüenta?
“A mesma igreja freqüentada pela senhora sua mãe. Todo dia eu encontro ela lá na igreja, quietinha e orando feito uma santa...”.
“Deixe de conversa, cabra safado. Minha mãe não tá nem mais aqui pra freqüentar igreja...”.
“Mas é a alma dela que encontro lá na igreja. Até ela mandou lhe avisar para soltar quem for preso injustamente, como é o meu caso...”.
“Deixe de palhaçada, de mentira. Você não tem jeito mesmo, não pode viver em sociedade. Se tornou num bandido incorrigível e tem de pagar pelos erros cometidos. Vai ter de aprender a ser homem lá na penitenciária...”.
“Mas nem homem eu sou mais, seu delega...”.
“O que?”.
“Isso mesmo. Depois que comecei a freqüentar dia e noite a igreja passei a me sentir uma verdadeira beata, uma mocinha religiosa, uma bichin...”.
“Cale a boca agora mesmo, seu cabra safado. Agente Pezão, leve esse safado de volta lá pro xadrez”.
“Mas doutor bonitão, o senhor não pode fazer isso comigo. É contra os direitos humanos. Sou uma verdadeira mulher e não posso ficar no meio daqueles presos tarados. Corro o risco de ser violada, estuprada...”.
“Leve-o agora mesmo, Pezão, anda!”.
“Pezão, o doutor disse Pezão? Socorro, socorro, me tirem daqui!”.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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