Rangel Alves da Costa*
Verdade é que a cidade de Poço Redondo cresceu de modo impressionante. Quem passa pela pista que corta a parte mais lateral da cidade, na rodovia estadual em direção a Canindé de São Francisco, ou mesmo aqueles que adentram apenas ao centro e arredores, não imaginam o tamanho crescimento externo, com os novos núcleos habitacionais que foram surgindo.
Se por um lado o progresso humano, a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico regrediram drasticamente e chegaram a patamares inaceitáveis em comparação a outros municípios da região sertaneja, de outro lado se verifica um crescimento sem precedentes de novas construções, ainda que muito modestas na sua maioria. Exemplo disso pode ser constatado nos conjuntos habitacionais, ou bairros como querem chamar, nos moldes do São José e do Lídia.
Como consequência, também uma sensível mudança nos aspectos demográficos, urbanísticos e sociais da cidade: crescimento da população, aumento das necessidades estruturais, diminuição da qualidade de vida no ritmo do crescimento, carência de rede de esgotos e saneamento básico, construções desordenadas, desarticulação das relações quase que familiares até então existentes, aumento do desemprego e do subemprego, crescimento considerável de pessoas na linha da pobreza e até em estado de miséria absoluta.
Fato importante a ser considerado, e que constatei com muita surpresa, diz respeito à pavimentação existente nos dois bairros acima citados, e que superam em muito a qualidade do calçamento observável na região central e arredores mais próximos. Nestas áreas centrais, a falta de conservação da pavimentação tornou a cidade feia, esburacada, intransitável mesmo, criando sérias dificuldades até para a simples locomoção.
Contudo, a qualidade da pavimentação encontrada nos bairros, com uma estrutura de calçamento digna de se apreciar, não impede que vejamos - levando-se em consideração as condições do que se tem na região central - como algo desanimador. E por uma motivação muito simples: tornou-se verdadeiro hábito das recentes administrações municipais apenas construir e depois abandonar, esquecer, deixar de dar manutenção.
E acrescente-se ainda o fato que se a administração municipal não determina que a secretaria de obras e serviços urbanos procure melhorar a pavimentação da região central, local que realmente requer uma estrutura de qualidade diante do fluxo de pessoas e de veículos, por consequência lógica mais tarde a mesma sorte terão os bairros e conjuntos. Quer dizer, se não há conservação nem manutenção na “cara da cidade”, logo se pressupõe o que poderá acontecer nas áreas mais distantes.
Ora, os prefeitos transitam pelo centro da cidade, andam de lado a outro, não se importam com a feiúra e a degradação que estão as ruas, praças e outros equipamentos, então imagine se irão ter a mínima preocupação quando os paralelepípedos começarem a se soltar de vez nas ruas mais distantes, lá pelas lonjuras dos deus-dará. E não só com relação ao calçamento, mas também com a malha asfáltica que foi colocada em algumas ruas nas proximidades do hospital.
Verdade seja dita, mas aquele arremedo de asfalto, verdadeira borra de betume e alcatrão mineral, se não for recebendo constantes reforços, novas camadas, logo ficará totalmente deteriorado. Pude observar que em muitos lugares as laterais já estão sendo corroídas, penetrando por baixo da terra e destruindo a cobertura, avançando pelos lados.
O mesmo se diga com relação aos calçamentos, que mesmo nos locais de recente colocação já estão desprendendo as pedras, corroendo o cimento da junção e esperando somente uma chuva mais forte para ir formando buracos. E mais tarde se terá a mesma feição que se tem hoje na região central, ou seja, não há mais calçamento, e sim pedras soltas ou com quase nenhuma camada de cimento interligando os paralelepípedos. Resultado: uma pedra se solta e vai formando o buraco, e daí a total destruição, vez que não há qualquer tipo de conservação.
Comparando o que avistei pelos bairros, ruas distantes e verdadeiras veredas ladeadas por moradias, com o que observei na região central, outro fato exemplar pode ser citado. E este diz respeito à limpeza pública, à higiene social dos habitantes, ao modo como os moradores cuidam dos seus arredores e a ausência da administração municipal em muitos setores da organização urbana.
Nos bairros como o São José, o Lídia e adjacências, locais onde eu já percorria desde o alvorecer do dia – domingo no São José e segunda no Lídia e em toda aquela redondeza do hospital -, pude encontrar e conversar com mocinhas e donas de casa que naquela hora da manhã já varriam suas portas, vassourando até mesmo os locais mais adiante.
Por incrível que pareça, mas varriam a rua diante de suas casas como se estivessem limpando sua cozinha ou varanda, com cantiga murmurando na boca, sorriso no olhar e certamente um prazer infinito no coração. Muitas vezes de lenço ou outro pano na cabeça, aspecto humilde e olhar desconfiado diante do estranho que se aproximava, bastava que eu as cumprimentasse e o reconhecimento se transformava em festa afetiva de ambos os lados.
Mas voltando ao aspecto comparativo da limpeza, logicamente que são os próprios moradores da periferia que cuidam do asseio de suas portas e de suas ruas. Acaso precisassem esperar pelos cuidados da administração municipal certamente sofreriam dos mesmos males que tanto acometem a região central, onde o mais comum é se deparar com imundícies pelo meio das ruas, lixo se acumulando pelos meio-fios e lixões em qualquer canto desabitado.
Sei que aqueles eram dias festivos, propensos ao acúmulo maior de lixo, mas não creio que seja sensato que garrafas, copos, plásticos e restos de um tudo sejam deixados acumulados pelos canteiros, pelas ruas, por cima de onde deveria estar existindo um bem cuidado jardim. Encontrei varredoras sim, mas lá pela praça de eventos e talvez varrendo as esperanças do que não pôde acontecer.
Continua...
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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