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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

NOSSOS ALIENÍGENAS (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Quando se fala em alienígena, logo a maioria das pessoas pensa se tratar de extraterrestre, de ser de outro planeta. Tal concepção poderia ser bem diferente se observassem que, ao pé da letra, alienígena pode ser qualquer coisa estranha, alheia.
Conceitualmente, alienígena é aquilo de origem estrangeira, algo estranho ou forasteiro. O termo pode ser usado ao se referir a algo que se mostra desconhecido. Do mesmo modo, serve para caracterizar aquilo que está ou vive completamente fora da realidade, seja porque desconhece o que o rodeia ou porque se permite não ser visto dentro da normalidade.
Neste aspecto, o conceito seria expandido para abranger o termo alienado. E este indicando o indivíduo que vive afastado, desviado ou separado de determinada realidade. Ou ainda a pessoa que não se interessa pelos acontecimentos do país ou do mundo, ou que não tem conhecimento da realidade social.
Relaciona-se também a quem está apartado, afastado, desinformado; sem vínculos, envolvimento ou interesse; que se isolou, tornou-se alienado de tudo e de todos E, ainda, aquele que não tem consciência da verdadeira natureza dos processos sociais e sua inserção nestes, ou dos conflitos entre classes e da exploração de certas classes por outras. Por fim, chamam alienado ao que está enlouquecido, cujas faculdades mentais o distanciam da realidade.
Mas não cessa por aí, pois é principalmente utilizado para designar o ser de outro planeta ou local fora do sistema solar, quando é comumente chamado extraterrestre. É neste sentido que se generalizou a concepção de alienígena como extraterrestre, ou seja, designando todo e qualquer habitante fora ou extra da órbita terrestre. E enquanto visitante chega em disco voador, em objeto aéreo não-identificado, em aeronave de outro planeta ou galáxia.
Mas nem precisa sair de nossa órbita nem ficar mirando os horizontes celestiais para encontrar esses seres de outro planeta. Ao nosso redor vive uma legião de extraterrestres, de alienígenas. Jamais saíram do solo terreno, mas possuem hábitos, maneiras e costumes que logo os identificam como seres completamente estranhos à realidade de nosso planeta. São, pois, verdadeiros alienígenas.
Não podem ser normais, e sim verdadeiros alienígenas, as pessoas cuja cegueira social impede de enfrentar a realidade da vida e enxergar seus problemas. Não possuem qualquer problema de visão, mas não vislumbram um passo adiante perante os absurdos surgidos, às condições desumanas a que são submetidos, aos abusos e arbitrariedades de toda ordem. Tudo acontecendo, maltratando, denegrindo, ferindo, e a pessoa sofrendo passivamente sem esboçar qualquer gesto de indignação.
Não podem ser considerados desse planeta aqueles que vivem no mundo da lua, demasiadamente sonhando, fantasiando em tudo, no mundo de inalcançáveis quimeras. Para estes, a novela televisiva é mais importante que a vida, que a realidade, que a conta pra pagar no dia seguinte, que a criança que queima em febre, que os barracos desabando nos morros. E como não bastasse essa fuga, planejam o impossível, querem o irrealizável, ficam à janela esperando o príncipe encantado despontar da nuvem no seu cavalo alado.
São verdadeiros alienígenas essas estranhíssimas pessoas com seus hábitos desavergonhadamente incomuns: vivem em função da vida do outro, sentem prazer pela derrota ou deslize do próximo, vigiam dia e noite a porta e o passo da pessoa que procura apenas viver sua própria vida e fazendo o que deseja dela, são daqueles que tanto pior melhor, se esforçam para colocar pedras no caminho de quem vai passar.
Não há dúvida de que são alienígenas por excelência aqueles para os quais tanto faz que aja corrupção na política, roubalheira nos poderes governantes, candidatos e eleitos com mais ficha suja do que muitos encarcerados. E podem ser reconhecidos quando as provas criminosas são contundentes e ainda assim erguem a bandeira, trabalham para elegê-los, partem pra cima de quem ouse abrir a boca para dizer a verdade.
Uma coisa que alienígenas não gostam é da verdade terrena. Somente a deles, a sua realidade e os seus estranhos e nefastos jeitos de conviver neste mundo.



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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