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terça-feira, 13 de julho de 2010

DESTINO (Crônica)

DESTINO

Rangel Alves da Costa*


Sobre o destino já ecoaram pensamentos, cantigas e versos, já gritaram a pena do escritor solitário, o medo do homem doentio e a certeza daquele que sabe que errou. O que diz essa ventania sobre o destino que o conhece tão bem? O que ensina o errante sobre o destino? Como será o destino para aquele que vai partir? O que é o destino? Qual o nosso destino?
Eis a sabedoria: "O destino não é coisa que se saiba pelas sinas, nem obra do acaso, nem artes para adivinhos ou leitores de palmas de mão, nem nada que se modifique com caprichos da fatalidade. O destino de cada indivíduo neste mundo está por cima do seu próprio caso pessoal" (Almada Negreiros); "Podemos muito bem, se for esse o nosso desejo, vaguear sem destino pelo vasto mundo do acaso. E, contudo, não faltará ao mesmo tempo quem negue a existência daquilo a que se convencionou chamar o destino" (Haruki Murakami); "Apercebo-me dos meus erros, mas não os corrijo. Isso só confirma que podemos ver o nosso destino, mas somos incapazes de o mudar. Apercebermo-nos dos erros é reconhecer o destino, e a nossa incapacidade para os corrigirmos é a força do destino" (Alexander Puschkine).
Eis a sabedoria: "Bem sei, Senhor, que não é o homem dono de seu destino, e que ao caminhante não lhe assiste o poder de dirigir seus passos" (Jeremias, 10,23); "Os olhos do sábio estão na cabeça, mas o insensato anda nas trevas. Mas eu notei que um mesmo destino espera a ambos" (Eclesiastes, 2,14); "Porque o destino dos filhos dos homens e o destino dos brutos é o mesmo: um mesmo fim os espera" (Eclesiastes, 3,19); "Um mesmo destino para todos: há uma sorte idêntica para o justo e para o ímpio, para aquele que é bom como para aquele que é impuro, para o que oferece sacrifícios como para o que deles se abstém" (Eclesiastes, 9,2); "Dar-lhes-ei um só coração e um mesmo destino, a fim de que sempre me reverenciem, para o seu próprio bem e de seus descendentes" (Jeremias, 3239); "Senhor, vós sois a minha parte de herança e meu cálice; vós tendes nas mãos o meu destino" (Salmos 15,5); "Aquele que nos formou para este destino é Deus mesmo, que nos deu por penhor o seu Espírito" (Coríntios, 5,5).
Eis a mitologia: Na mitologia grega, Moros era o destino, agindo através de suas mensageiras chamadas Moiras. Os seres sempre dependiam da vontade do Destino, força superior aos homens e aos deuses. Dos seus desígnios nem os seres superiores, as imortais divindades, escapavam. O que ele decidir será sempre inquestionável, pois sua determinação é soberana. Se era destino de Prometeu ser acorrentado na montanha e sofrer eternamente, que assim se cumprisse. "No poder do mundo, o Destino vê o sangue escorrer da carne inocente, mas já decidiu: aquele será Édipo, o maldito, que há de caminhar sempre para a fatalidade do sofrimento e carregar consigo toda a infinita miséria dos homens neste planeta sonâmbulo".
Ninguém faz o destino acordando e abrindo a porta de casa para seguir portal afora, escada abaixo ou além fronteira. Tudo o que não pode ser porque é tudo que já é, eis o destino. Da ideia de mundo, da ideia de vida, da ideia de existência, a tudo isso precede o destino, pois já parte do universo na sua formação primeira, anterior a tudo, e um dia colocado perante os outros seres para cumprir a parte do que lhe cabe.
Tudo muda, tudo passa, tudo pode se transformar infinitamente de uma hora para outra, menos o destino, que é o mesmo da primeira ideia do existir. Todos aqueles que dizem dar um novo norteamento na vida para mudar o destino, nada mais estará fazendo do que cumprir o que já lhe fora predestinado. Cada ação, cada passo, ainda que se admire pela novidade, não será nada diferente do que a pessoa tinha que realmente fazer. Verdade é que o destino também fala pela boca do Eclesiastes: "Não há nada de novo debaixo do sol...". Tudo que é novo já é destino.
Somente a morte conhece o destino do destino, sabe onde ele vai descansar um dia, pois este pode revirar o mundo, mas depois seguirá em busca da casa da mãe. É isto, a mãe do destino e a morte, mesmo que seja divorciada do seu pai, que é o nascimento.





Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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