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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 20 de julho de 2010

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 51

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 51

Rangel Alves da Costa*


Diante do intenso barulho na entrada da casa, Lucas levantou num pulo e saiu correndo para verificar o que teria sido. A porta tinha sido afetada de tal modo que estava despedaçada, com partes ainda presas no portal e pedaços de madeira jogados dentro da sala. Dificilmente poderia se imaginar como tinham feito aquilo, pois o baque causado e o dano resultante pareciam ter sido provocados por uma poderosa arma de guerra.
Passando por cima do que restou, dos estilhaços por todos os lados, Lucas saiu pra fora no intuito de tentar enxergar quem ou o que tinha causado aquilo tudo. Na escuridão ainda predominante naquele horário, no entremear entre a noite e a madrugada, por mais que olhasse e andasse rapidamente de um lado para o outro, não conseguiu ver nada que indicasse a presença de pessoas nos arredores. Se procurava ouvir mais atentamente para localizar alguma coisa, os sons que chegavam eram só os dos bichos também acordados e assustados com o ocorrido.
De repente, ouviu um novo barulho na mesma proporção e com as mesmas características do primeiro. Desta vez na parte dos fundos da casa, para onde se dirigiu imediatamente e encontrar os mesmos estragos feitos. Do mesmo modo que fizeram com a porta da frente fizeram com a porta de trás. Somente a violência e os danos, mas sem poder ver ou avistar os responsáveis por aquele absurdo.
Meu Deus, quem poderia ter vindo aqui essa hora da noite, causado isto e por qual motivo? Era o que Lucas ficava se perguntado de um lado para o outro, temendo que outra violência pudesse ser causada a qualquer instante. E se agora viessem agir contra ele, totalmente desprotegido naquela situação? Resolveu que o melhor a fazer naqueles momentos em era não parar um só instante em lugar algum, de modo a evitar ser surpreendido pelas costas ou coisa parecida. E assim, ainda sem entender nada e procurando respostas para tudo, é que ficou zanzando de um lado para o outro até o amanhecer.
Assim que o dia foi clareando foi medindo as consequencias dos estragos, observando se tinham atingido outros locais e deixado pistas. Nenhum vestígio de identificação havia sido deixado pelo malfeitor ou malfeitores. Um dano naquelas proporções dificilmente poderia ter sido causado por um único indivíduo. Decidiu ainda não tocar em nada até que fosse até a delegacia relatar o ocorrido e policiais viessem até ali para verificar o fato e começar a investigar.
Quando dois policiais chegaram até o local já passava das oito horas da manhã. Perguntados por que haviam demorado tanto, vez que desde às seis horas já havia dado conhecimento ao policial de plantão, foi informado apenas que era praxe na delegacia os agentes só atenderem as ocorrências depois de terem tomado o café da manhã. Como é que a gente pode enfrentar bandido de barriga vazia?. Foi o que indagou um.
Contudo, diante das investigações preliminares, da verificação do fato e dos danos, a primeira conclusão tirada pelos policiais, que se olhavam constantemente, deixou Lucas totalmente estarrecido.
- Pelo que podemos verificar, de antemão posso dizer que não foi gente que causou isso aqui não. Não há nenhuma pista de que indivíduos tenham feito nada disso e me parece ter sido obra de algum animal... – Falava um dos policiais, sempre olhando para outro, para ter a certeza de que concordava com o que dizia.
- Mas isto é um absurdo. Não estão vendo que nenhum animal viria até aqui com a intenção de derrubar primeiro a porta de frente e depois a dos fundos?... – Dizia Lucas indignado, quando foi interrompido pelo outro policial.
- É que, sabe, tem muito bicho inteligente, até mesmo mais astucioso que o homem. Você é inimigo de algum animal, de algum cavalo, boi ou de alguma onça? Isso me parece ter sido coisa de algum animal que não gosta de você. Sabendo que você estava aqui dentro, não podendo chamar você para dizer umas duas, até mesmo porque não falam, então resolveram dar uma pesada ou marrada na porta só para fazer raiva a você. O mesmo bicho depois foi para o outro lado e fez o mesmo. Pode até ter sido um cachorro, desses bem grandão. Você já viu a patada de um cavalo?...
- Mas vocês estão de brincadeira. Virem até aqui, verificar essa situação toda, terem a certeza de que isso só poderia ter sido feito por gente muito perigosa e ainda afirmar que foi causado por animais, me desculpe, mas acho que vocês enlouqueceram...
- E isso mesmo, pode ter sido um cachorro louco – Disse um policial, na maior seriedade do mundo.
E Lucas continuou:
- Cachorro louco que nada, mas gente muito sadia sim, sadia e que a essa hora deve estar sorrindo ou prestando contas pelo que fez. Mas já que concluem que foi algum animal, por favor abram um inquérito que depois vou repassar os dados para a imprensa. E vai sair no jornal: Polícia despreparada para enfrentar e prender animais bandidos.
Foi quando os dois se olharam mais uma vez, e entre engasgos e nervosismos, um falou:
- O problema é que a gente não pode prender animal, pois isso é lá com o pessoal que cuida dos bichos. Também como é que ia colocar uma algema num cavalo ou numa onça? Deus me livre. Se fosse gente, a gente ia atrás, mas com bicho é diferente. E tem outra: se observar algum boi ou cavalo suspeito rodando a casa tome cuidado...
- Passem muito bem – E Lucas indicou-lhes o caminho de volta.



continua...




Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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