SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 31 de julho de 2010

SINTOMAS E DIAGNÓSTICO (Crônica)

SINTOMAS E DIAGNÓSTICO

Rangel Aves da Costa*


A chuva, inquestionavelmente, é uma das coisas mais lindas e maravilhosas que a natureza pode oferecer ao mundo e à vida. Contudo, falo de chuva enquanto precipitação pluviométrica, que cai em determinado período e faz festa na terra, nas raízes e nos brotos, que verdejam as plantações, permite a acumulação de água nos tanques e barragens e chega em forma de alimento e sobremesa para bichos e homens. Essa chuva sim, será sempre desejada e esperada, mas não essa que vem caindo nos últimos dias e só serve para adoecer as pessoas.
A bem dizer, essa coisa molhada que cai não é nem chuva, chuvisco nem tempestade. Parece que o que se derrama de uma hora pra outra, acompanhada de um vento frio e de um tempo meio afrescalhado – não se assume nem como sol nem como nublagem, ficando meio lá meio cá -, é muito mais um respingar de doenças do que outra coisa.
Tudo, menos chuva, pois esta não jorra sobre as pessoas tantas dores pelo corpo inteiro, tanta febre, tanto frio que não há cobertor que acuda, tanta tosse, tanto espirrar, tanto enjoo na cabeça, tanta moleza no corpo, tanto fastio, tanto remédio, tanta receita, tanta chá, tanto xarope, tanto lambedor, tanto médico, tanto enfermeiro, tanto hospital, tanta reclamação, tanto lenço de papel, tanto papel higiênico, tanto pedaço de pano, tanto comprimido, tanta injeção, tanto vidro, tanta bula, tanta promessa, tanta falta de efeito, tanta batatinha enrolada na cabeça, tanto pano quente no juízo, tanta reclamação da vida, tanta vontade de matar não sei quem, tanta vontade de esculhambar com todo mundo tanta farmácia, tanta falta de dinheiro, tanto posto de saúde, tanta erva, tanta planta, tanta raiz, tanto lenço de pano, tanta mão pelo nariz, tanta mão pela cabeça, tanta dor de cabeça, tanta vontade de deitar sem poder dormir, tanto barulho no ouvido, tanta vontade de arrancar o nariz, tanto nome de remédio, tanto chá diferente, tanto médico em todo lugar, tanta sabedoria que cura tudo, tanta gente que nunca adoece, tanta gente milagreira, tanto ai, tanto ui, tanto olho ardendo, tanto nariz ferido, tanto resto de água no copo, tanto comprimido entupindo a garganta, tanta garganta inflamada, tanta coriza, tanto rosto envelhecido, tanto contágio, tanta xícara com pires por cima, tanto termômetro, tanto grau, tanta andar a pulso, tanto vômito, tanta promessa, tanta cabeça quente, tanto corpo molhado, tanta gripe, tanta virose, tanto resfriado, tanta constipação, tanto defluxo, tanto castigo num só filho de Deus. É demais. Já mais de seis dias e essa droga parece que não vai embora.
O bom é que esse problema todo se resolve facilmente, vez que sempre chega um receitando a fórmula milagrosa e infalível. Todo mundo é médico nessa hora. O médico é médico, o vizinho é médico, o conhecido é médico e o desconhecido também. Já tomou Gripetex? Se ainda não tomou basta dois comprimidos que daqui a duas horas você tá bonzinho. Pegue folha de Aribalda, faça um chá e você fica bom na mesma hora. Eu só tomo Antitossil, pois antes de dissolver o comprimido a tosse já foi embora. Raspe um pé de Crumada Roxa e dois pés de Crumada Roxinha, bote no fogo e quando a água tiver roxeada é só esfriar, tomar e ir pra festa. Minha avó ensinava que junta isso e aquilo, faz uma infusão e pronto.
Outro dia, antes de ficar arrebentado pela malvada, encontrei um dessas médicas de meio de rua toda mole, arriada de gripe, chega não podia nem falar direito de tanta rouquidão. Então perguntei por que não tinha tomado aquele remédio que ela mesma diz ser tão eficaz. E a quase defunta respondeu: "Já tomei o que sabia e o que os outros ensinaram. Agora estou indo comprar três litros de conhaque, um de mel e um pacote de limão. Depois, de cinco em cinco minutos é só virar um copo bem cheio e fica tudo resolvido. Dizem que é tão bom que depois do terceiro copo a pessoa já sente até vontade de cantar, dançar, voar...".





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Toninho disse...

Que felicidade no tema e na bela cronica Rangel! Esta coisa esta virando moda mesmo e numa regra geral no Brasil inteiro.Tanta chuva...Revolta da natureza é a profecia geral nas bocas da naninhas.O homem esculhambou tudo,e esta chuvas, mais se parecem com aquelas que analisadas em regiao de polos petroquimicos.Tudo que sobe cai, né? Pois é aí está o troco.Os laboratorios felizes, criando, inventando doenças e nomes e soluções para elas.O povo cada vez mais doente e sem dinheiro para as soluções.E o corpo sente e a vida foge.Muito boa esta., que estas malvadas pestes nao nos pertubem.Paz e saude amigo.