SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 18 de julho de 2010

"SEXO BOM" E "SEXO BOMBOM" (Crônica)

"SEXO BOM" E "SEXO BOMBOM"

Rangel Alves da Costa*


Hoje já é domingo, 18 de julho de 2010, mas ontem sentei para escrever alguma coisa e, mesmo sem ter a pretensão disso, me sentia injuriado com a maioria de vocês. Falo de vocês mesmo que estão aí do outro lendo este escrito. Porém, creio que minha raiva não é sem fundamento, e até possui fundamento demais, pois pauta-se na constatação de que as pessoas preferem sempre ler – e muito mais – textos cujo título possua uma conotação sexual ou apelativa.
Já escrevi mais de quinhentos textos só para o Recanto, e dentre os mais lidos até agora estão os dois únicos que escrevi que cito a palavra sexo no título. Na poesia é a mesma coisa. Parece coisa instintiva, mas basta que passem os olhos e encontrem esse nome vão logo em cima, mesmo que o texto não valha nada, seja uma porcaria. Pessoas existem que querem ganhar leitores assim, escrevendo qualquer imundície e rotulando com aquilo que leitores incoerentes gostam. E o pior que é leitura na certa, comentários e mais comentários, e a vida sexual de cada um sendo o reflexo daquilo tudo.
Hoje mesmo eu estava pensando em escrever sobre os mistérios que ainda caracterizam as civilizações perdidas, sobre o fascínio que os deuses elementais causam nas pessoas, sobre a influência das expectativas positivas nas nossas vidas ou sobre a noite do cego. Ainda vou escrever, mas não para publicá-los em vão, vez que a maioria dos leitores fogem dos temas interessantes e realmente instigantes para se contentar com uma história de bunda, de seios ou de relações sexuais.
O título desta crônica cita o nome sexo por duas vezes, sexo bom e sexo bombom, e pessoas vão ler não porque conhecem o meu estilo ou gostam do que escrevo, mas simplesmente porque é algo relacionado ao sexo. A estas pessoas digo que satisfarei as suas ansiedades sim, mas não sem antes dizer mais duas palavrinhas sobre a construção do conhecimento através da leitura.
Não estou pretendendo com esse desabafo me eximir da culpa por ter poucos leitores. O meu estilo é esse, já conhecido, que é falar do sertão – sou sergipano sertanejo com muito orgulho -, da realidade, de questões históricas e sociológicas e de uma série de aspectos que discuto enquanto escrevo. Não, isso não, de maneira nenhuma. Talvez todos os outros escrevam muito melhor do que eu mesmo, saibam envolver mais os leitores, tenham veias rubembraguianas ou sabinianas.
Eu não tenho veia de nada, pois só sei escrever o que sei escrever, e pronto. Que leiam ou não leiam. Ademais, escrevo sempre para mim e não para aqueles que só leem sobre sexo. Até mesmo este texto me pertence como essa música que estou ouvindo agora. Perguntem aos aficcionados por sexo se conhecem Anton Dvorak, se conhecem os "Sinos de Zionice"?
Leitores desse tipo não querem saber o que é, por exemplo, o Kama Sutra, sua história, seus fundamentos, suas pretensões comportamentais, mas sim sobre o sexo, as posições sexuais que estão no texto indiano. Quer dizer, pouco importa conhecer as raízes do Kama Sutra se o que pretendem mesmo é adentrar no sexo pelo sexo que o envolve. E por aí afora, pois conhecemos as pessoas também pelo que elas gostam de ler e pela leitura válida que tanto desprezam.
Mas eu ia esquecendo que tinha de falar sobre os sexos que dá nome ao título. Vamos lá então. Numa cidadezinha do interior dois breguinhas, dois cabarés malcheirosos, disputavam acirradamente para ver quem tinha mais clientes. Usavam da propaganda, da oferta do tipo coma duas e pague uma, enfim, de todas as estratégias para atrair os rapazes. Até que um dia a dona de um desses bregas colocou uma faixa perto da entrada "Temos Sexo Bom". Quando a concorrente viu ficou puta da vida e mandou fazer uma faixa ainda maior dizendo "Temos Sexo Bombom".
E certa vez dois amigos estavam numa praça e um perguntou ao outro o que significava sexo bom e sexo bombom. E o outro respondeu: "Não sei não, mas deve ser porque um é para os mais velhos e o outro é para os rapazinhos novos. O bom é pra quem só aguenta dar uma e o bombom, que é bom duas vezes, deve ser pra quem aguenta dar uma depois da outra".
Viram que coisa mais besta o que falei sobre o sexo. Mas só vão ler o texto por sua causa, e não pelo que eu expus coerentemente no início. Mas é assim mesmo. O que fazer diante de tanta inteligência dos leitores?




Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Caca disse...

Olá, Rangel. Vim conhecer e já estou gostando. Olhe, eu acredito que leitores assíduos são diferentes desses tipos que você cita. Esses são os enxeridos, os noveleiros, os fofoqueiros, os preocupados consigo mesmos e com o espelho apenas. O grosso que forma o senso comum, o mesmo que está habituado a acompanhar o grosseiro mundo das idiossincrasias mais torpes do ser humano através da mídia. Ele não procuram leitura para alimentar o espírito com conhecimentos novos e sim municiar-se de informações fúteis para alimentar o seu vazio. O bom leitor a gente vai conhecendo é aos poucos e por que são poucos também. Eu possuo um blog também,caso queira conhecer: http://uaimundo.blogspot.com. Abraços. Paz e bem.