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domingo, 11 de julho de 2010

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 42

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 42

Rangel Alves da Costa*


Um mês após esse encontro instigante, onde muitas verdades vieram ao cume, Lucas resolveu que não seria bom para ele considerar ao pé da letra toda aquela predestinação tão fortemente confirmada pelo amigo sacerdote. Quanto menos se importasse mais se afastaria da incumbência de carregar aquela cruz nas suas costas. Fazer o bem não deve ser visto como sacrifício, mas como uma determinação sensata e humanitária do ser humano, era o que considerava.
Fazer o bem e se com isto estivesse conduzindo a cruz de Cristo, não se importaria jamais de caminhar com essa promessa por todos as estradas da vida. Qual o mal que faz em se fazer o bem, qual o trabalho que dá ajudar o próximo nisso ou naquilo, qual a desonra causada num ser humano por optar em viver junto aos mais carentes, qual o cansaço que recai sobre o corpo quando o sacrifica pelo bom sacrifício? Se fazer o bem seria missão, nem precisaria de anjo confirmando o destino, nem precisaria de cruz se mostrando para ser carregada, nem precisaria de palavras para asseverar o que não pode ser esquecido.
Ora, será que o ser humano é mero objeto que está no mundo ao sabor dos acontecimentos sem que tome uma posição diante desses mesmos acontecimentos? Não, Lucas sabia que não. Na sua concepção, ser humano é aquele que vive constantemente agradecendo a sua condição de humano, de estar sobre a terra, vivo, escolhido para estar ali. E para agradecer a existência não se requer muito do homem não, mas apenas que ele aja segundo as boas virtudes, praticando as boas ações, sendo justo consigo mesmo e com o próximo. Não se pede demais, não se exige demais do homem, apenas que se reconheça como tal, e nesse reconhecimento a certeza de que não foi colocado em vão sobre a terra.
Será que dói, fere, mata fazer o bem? Será que é pedir demais que ajude ao próximo que está necessitado? Será que os olhos que vê a dor nos outros não sente no coração a mesma dor? Será cansativo demais para o homem estender a mão ao seu semelhante que está caído no chão? Será que cansa a boca dizer ao próximo uma palavra de conforto? Será que faltará para sempre alimento sobre a mesa se o pão de hoje for dividido. Alguém já passou sede, fome, frio, calor, esteve doente e ninguém ajudou, esteve chorando e ninguém consolou, esteve abandonado e ninguém acolheu, esteve com a mão estendida e ninguém a tocou? Será? Lucas se indagava sobre isso tudo e sempre concluía que fazer o bem nada mais é do que estar agindo no lugar do Senhor.
Compreendia também que muitas pessoas tinham dificuldades em saber, ao menos, o que significava fazer o bem. Muitos pais não conversam mais com os filhos, os mais jovens não querem ouvir os mais velhos, os professores só ensinam e não conversam, os ensinamentos repassados nas igrejas estão sendo ouvidos cada vez mais por menos pessoas, são poucos os jovens que frequentam os templos religiosos, assistem missa, participam de grupos de discussão doutrinária. Tudo isso dificulta o entendimento do que seja fazer o bem. Se ao menos abrissem a bíblia e lessem capítulos, versículos, passagens, mas não, preferem o boato, a fofoca, o proibido e sempre esquecem das lições importantes.
Em quantas casas não possui uma bíblia sequer, em quantos templos não existe mais fé, em quantos pregadores existe o compromisso com a verdade, em quantas pessoas não existe religião? Numa situação como tal, não se pode esperar mesmo que todos saibam o que seja fazer o bem. Enquanto pensava e ao mesmo tempo se interrogava, vinham à mente de Lucas algumas palavras importantes ditas um dia para a eternidade.
Isaías tinha razão, dizia: "Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão, defendei a viúva".
Jeremias tinha razão, e dizia: "Encontrarei minha alegria em lhes fazer o bem e solidamente os colocarei nesta terra, com toda a minha alma e coração".
Verdade cita Romanos, dizia: "A vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, buscam a glória, a honra e a imortalidade".
E dizia ainda Romanos: "Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens".
Em Coríntios uma grande lição, dizia: "porque procuramos fazer o bem, não só diante do Senhor, senão também diante dos homens".
No mesmo sentido ensinava Gálatas: "Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos".
É a mesma lição do Tessalonicenses, dizia: "Vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem".
E por último ainda veio à mente de Lucas a verdade dos Salmos: "Retribuem-me o mal pelo bem, hostilizam-me porque quero fazer o bem".
Assim, continuar fazendo o bem era a grande e principal missão de Lucas, mesmo que lhe retribuíssem com a hostilidade.



continua...




Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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