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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 30 de julho de 2010

ROSTOS QUE PASSAM (Crônica)

ROSTOS QUE PASSAM

Rangel Alves da Costa*


Ontem pela manhã, caminhando pelo centro da cidade, num redemoinho de pessoas e faces, percebi à minha frente um garotinho, lá pelos seus seis ou sete anos, que era uma alegria só, dançando e pulando enquanto segurava na mão da mãe. Ouvia o som da música vindo da loja e fazia sua festinha seguindo em frente. Que coisa mais pura e doce, pensei. Somente a infância para proporcionar momentos assim.
Achei tão bonita aquela cena que apressei um pouco o passo para olhar se no rosto do menino estava refletida aquela mesma alegria dançante do seu corpo. E o rosto iluminava-se, totalmente feliz, cheio de coisas bonitas, numa alegria indescritível. Meu Deus, enfim a vida, disse a mim mesmo. Mas tudo muito rápido, em coisa de segundos, pois num instante eu já estava mais à frente e pessoas em correria não deixavam mais que eu enxergasse o menino.
Segui em frente todo pensativo, porém alegre e extremamente contente por haver presenciando tamanha felicidade em meio àquela multidão. Mas depois me veio à mente uma constatação que continuo tentando compreender sem entristecer: Certos rostos, faces, feições, passam um dia diante de nós e ficamos com a certeza de que talvez nunca mais os veremos. Fico triste só em pensar: será que jamais encontrarei aquele rosto pelo caminho?
Em meio ao mundo tomado de pessoas desconhecidas, de pessoas que fingem desconhecer, de pessoas que não querem ser reconhecidas, de pessoas sumidas, de pessoas reencontradas, até parece que todos que passam diante de nós são estranhos, porque muitas vezes são e outras vezes se tornam.
Nesse mundo sem faces, ou de rostos demais que confundem, sempre é muito difícil encontrar alguém que nos passe felicidade pela feição bonita e feliz que possui. É muito difícil mesmo, pois o vizinho lhe olha com cara de pittbull e a mocinha de bunda empinada que mora em frente se acha importante demais para dar bom dia ou boa tarde. Você vai caminhando pela rua e fala com todo mundo, mas somente um ou outro, principalmente os mais idosos, respondem seu cumprimento.
Se com pessoas já conhecidas é assim, imagine em meio à multidão das ruas, ao vai e vem desenfreado, com truculentos e deseducados querendo lhe derrubar, passar por cima de você. Se alguém trombar propositalmente e o atingido ao menos olhar no rosto do outro corre o risco de apanhar ali mesmo. É melhor sentir o machucão calado do que ser totalmente destroçado. E não é só isso, pois olhar para o rosto de qualquer pessoa que passa por você é correr sério perigo de ser xingado, desmoralizado, aviltado: "Me conhece por acaso, pra tá olhando?"; "Viu o que, você me conhece?"; "Tá achando bonito, seu viado safado?". Se responder apanha na hora, e apanha feio, sem que ninguém venha em seu socorro. Afinal, ninguém conhece ninguém.
Contudo, por mais que caminhemos em meio a esses animais ferozes que se vestem de gente e porque temos que olhar porque temos olhos e temos que ver, enxergar, para seguir adiante, ainda assim não somos tomados completamente pela brutalidade e ignorância das pessoas. O que se vê, de repente, é humanização incrível em meio ao caos, mas que infelizmente somente os olhos podem constatar isso.
Quem nunca olhou para uma pessoa qualquer e sentiu profundamente que já a conhece de algum lugar? Quem nunca chamou pelo nome porque tinha a certeza que conhecia aquela pessoa? Mas que feição meiga, bonita, de uma doçura incalculável, parecendo ser uma pessoa muito boa e agradável! Que rosto encantador, cheio de pureza e meiguice, e que meus olhos não erram em afirmar ser alguém diferente! Parece um anjo, na meiguice, no olhar, no jeito de ser? Quem nunca passou por uma situação dessas?
Naquele menino vi a alegria e plenitude de vida em pessoa. E ficou a certeza que entre os espinhos que se espalham pelas calçadas floresce também coisas boas. É uma pena que os rostos passam e a gente fica imaginando se terá a sorte de vê-los outro dia. Um só instante é pouco demais para quem a gente desejaria ver sempre. E o pior é que só por aquele instante mesmo, num segundo, e nunca mais.





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

3 comentários:

Caca disse...

E o curioso é que tudo o que as pessoas desejam é um reconhecimento no outro. Estranhos os humanos, muito estranhos. Abraços. Paz e bem.

Anônimo disse...

LINDO!ADOREI QUERIA MUITO TER ESSA SUA, INTELIGÊNCIA DE ESCREVER CRÔNICA ADORO. MUITO BOM SE TODO MUNDO PENSAR
COMO VOCÊ O MUNDO NÃO SERIA ESSE CONTORNO.DESCULPA EU NÃO TENHO MUITO ASSUNTO PARA ESCREVER.UM GRADE ABRAÇO BEIJOS!!TUDO DE BOM PRA VOCÊ♥

Célia Regina Carvalho disse...

Olá... Conheci seu blog no Beco dos Poetas. Muito bons os seus textos. Parabéns...