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sexta-feira, 9 de julho de 2010

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 40

EVANGELHO SEGUNDO A SOLIDÃO – 40

Rangel Alves da Costa*


Sem entender nada daquilo que o padre estava dizendo, Lucas se aproximou mais e respondeu ao amigo:
- É uma história longa Padre Josefo, mas contarei em seguida assim que me falar que espanto todo é esse com essa velha cruz de madeira.
O padre, que agora estava com o rústico objeto diante dos olhos, virando de um lado para o outro, observando detalhes e com olhar luzente de tanta admiração, disse:
- Esta é também uma longa história, mas bote antigo nisso, pois remonta aos primeiros tempos, pode acreditar. Se quiser pode sentar para não se abalar em pé com o que vou dizer, pois se meus olhos não mentem e o meu saber não está corroído pela idade, tudo leva a crer que temos aqui uma cruz igualzinha àquela procurada pelos piratas das coisas da antiguidade, que dizem ter relação direta com a bíblia mas não está descrita nela e que tanto tem atormentado os estudiosos, biblistas, arqueólogos e todos os Indiana Jones da vida...
- Sim, vou sentar para ouvir mais descansadamente essa história. Pode prosseguir padre – Disse Lucas, enquanto puxava um banquinho e sentava. E o sacerdote continuou:
- Textos muito antigos relatam que um artesão de nome Tahan, de Jerusalém, em cujos arredores Cristo foi crucificado, ao ver a aflição daquele homem de braços abertos para morrer pelo próprio homem, de tão sentido que ficou que guardou aquela imagem na mente e chegando em casa procurou a madeira mais resistente e nobre para esculpir, em tamanho igual a este aqui – mostrando o objeto -, uma cruz idêntica a que tinha visto na colina do Calvário, no monte Gólgota, onde Cristo jazia exposto à doravante solidão dos homens. Mas talhou não somente uma, mas três, procurando assegurar que aquela lembrança não fosse apagada se acaso sumisse alguma cruz. Verdade é que os estudiosos afirmam a existência dessas cruzes, ainda intactas, em algum lugar desconhecido, o que causa ainda mais desejo de encontrá-las pelo significado que as cruzes do artesão de Jerusalém passaram a ter.
- Que significado é este, Padre Josefo – Indagou Lucas atentamente:
- Nessa parte é onde a cruz do artesão se entranha na bíblia para buscar nela o significado de se seguir ao Cristo, com cada seguidor carregando a cruz da incompreensão, do sofrimento e ao mesmo tempo protegido pelo próprio Senhor e feliz por ter sido escolhido como confiado discípulo. Quer dizer, a cruz do artesão passou a significar que aquele que estiver na sua posse foi verdadeiramente escolhido pelo Senhor para dar continuidade aos seus ensinamentos na terra. Isto porque, em muitas passagens da bíblia, Cristo cita a cruz, com o significado de luta e esforço, como uma necessidade para os que pretendem ser seus fiéis seguidores. Se não estou esquecido, tais aspectos podem ser vistos em Mateus, Marcos, Lucas, Coríntios e Filipenses:
"Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim".
"Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me".
"Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me".
"Em seguida, dirigiu-se a todos: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me".
"E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo".
"Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho; e isso sem recorrer à habilidade da arte oratória, para que não se desvirtue a cruz de Cristo".
"A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina".
"Porque há muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo chorando, que se portam como inimigos da cruz de Cristo, e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus".
Diga-se também, amigo Lucas, que São Paulo não se gloriava noutra coisa, a não ser na cruz. Por tudo isto, a importância dessa cruz que está aqui, dessa aparição divina como um anúncio de que ela está aqui não para ficar inerte na parede, mas para ser carregada pela palavra e pelas ações de um escolhido, que outro não pode ser a não ser você Lucas. Mas falaremos depois sobre isso, pois agora me diga com calma como esta cruz veio parar aqui, por favor – E puxou também um banquinho para sentar.


continua...




Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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