*Rangel Alves da Costa
Poço
Redondo, meu amor! Um dito sem falsidade, escrito na mais pura verdade, de um
filho do sertão que canta sua terra em louvor. Poço Redondo, meu amor, no meu
coração ecoou!
E como é
grande, como é imenso, o meu amor por você. Ter no peito a identidade, pulsando
nordestinidade, e filho de uma irmandade que se chama sertaneja, desde os matos
à cidade.
Filho de
Poço Redondo, filho da crença e da fé. Menino do Gado Manso, do Riacho Jacaré,
das Beiradas do Tanque Velho, de Dona Lídia o café, da lavadeira Mariá e de
tanta Maria e José.
O parque
da Festa de Agosto e no alto-falante a canção, a meninada brincando com alegria
e animação. Seu João Retratista preparando o tripé pra foto não escurecer,
enquanto o mercado é lavado pro baile do Embalo D.
Um tempo
de saudade. Charisma e Toque de Amor, Tabu e Topaze. Calça boca de sino,
espelho e pente no bolso, uma dança agarradinho. Enquanto o globo girava o
casal se abraçava querendo ir pro escurinho.
Coisa boa
é recordar. Não havia noites mais animadas que os noturnos do lugar. As praças
repletas de gente, e todo mundo contente e querendo ir pra Discoteca dançar. Ou
se encostar na janela de Dom e se danar a namorar.
Não vou
desatinar meu destino de ter nascido nordestino, pois isso orgulho maior e
coisa que mais estimo. Orgulho de ser sertanejo, da flor do mandacaru no meu
beijo, do vaga-lume o seu relampejo.
Orgulho do
meu Poço Redondo, onde nasci e não escondo e vou sua história compondo. Não há
orgulho maior de ter a lua e ter o sol, da terra nua e seu arrebol, vida minha
e vida sua, floridas igual girassol.
Orgulho do
meu sertão, do Padim Ciço e Lampião, de Alcino e Zé de Julião, de todo Zé e
todo João. Relembro o tempo antigo do casebre como abrigo, do vaqueiro e seu
perigo, da seca maior castigo.
Orgulho na
vereda matuta, da mataria sem ter fruta, mas não faltando a labuta. Lua maior
sem igual, a passarada em madrigal, no céu o melhor sinal. Pelos campos a
boniteza, a vida maior beleza, de um povo humilde a riqueza.
Porta
aberta ao madrugar, pra barra do céu logo olhar, e nos olhos a esperança e o
temor de não trovejar. Sou de um sertão de humildade, de pobreza sem maldade,
no homem a sinceridade, no viver a honestidade. Homens de mãos calejadas, de
faces de sol enrugadas, de alpercatas e pegadas, nas sinas e nas estradas.
Nos tempos
de antigamente, potes na cabeça e rodilhas, cabelos presos em presilhas, roupas
de chitas em barrilhas, em tudo as maravilhas. Moringa na janela da tarde, em
tudo uma saudade, doce de cocada de frade e a gostosura em alarde.
Quixaba
nos escondidos da mata, araçá trazido em lata, araticum juntado em cascata,
vida doce e tão pacata. Panela de barro no chão, graveto para o fogão, e por
riba do tição o toicinho em queimação.
Comer em
prato de estanho, coisa que é hoje estranho, mas que nas mesas humildes era
luxo sem tamanho. Ouvir o sino tocar, e logo a beata a rezar, Marizete leva o
santo e na voz o seu belo cantar, pela rua em procissão, pela estrada em maior
devoção, a religiosidade de um povo na sua santa missão.
Cavaleiros
e cavalhadas, pegas-de-boi e vaquejadas, festas de mato e caçadas, saudades
pelas estradas. Nas calçadas mais antigas, os proseados de amigas, falando se
santas e raparigas, dos milagres e das intrigas.
Nas tardes
de bordadeiras com suas mãos tão ligeiras, traçando os bilros nas beiras, assim
aquelas vidas rendeiras. Ralar o milho em quintal, ovos na gordura animal,
colocar tudo na mesa e ter o de comer sem igual.
Assim a
vida de um povo tão renegado no novo, mas por tudo ainda louvo e só de pensar
me comovo. Pois sou de um sertão assim, de um tempo do sem-fim, e mesmo que
tudo em trampolim, nada se faz tão ruim. Acredito no sertão, pois amo este meu
chão, é como uma fé chamejante bem dentro do coração.
Pois este
filho de Alcino, que um dia foi tão menino, traz no seu figurino a feição
ensolarada de sertanejo genuíno. E ama tanto o seu chão que canta em verso em
canção, a vida desse seu povo que tem na moradia o sertão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com