*Rangel Alves da Costa
Imagem a
presença de duas fotos. Mirem as fotos. Olhem bem. Na primeira foto, um prato
refinado de um restaurante de luxo. A pessoa já paga ao colocar o pé e ao
sentar e pedir o menu. Logo se depara com esse requinte de nome estrambólico e
pede. Ora, pede por que é rico, é igualmente refinado e coisa e tal. Valor?
Certamente mais de 100 reais.
Na segunda
foto, um prato tipicamente nordestino, gordo, apetitoso, igual comida de feira.
Quanto? Nada mais que uns 20 reais. A diferença maior, contudo, não está no
preço, e sim na quantidade, sabor e no poder de realmente saciar a fome.
Duvido que
o primeiro prato acabe com a fome de alguém. Não acaba de jeito nenhum, pois um
tiquinho de nada enfeitado com outro tiquinho de nada. Ademais, a fina educação
da grã-finagem recomenda que nunca se deva comer tudo, sempre tendo de deixar
alguma coisa no prato.
Mas como
comer o nada e ainda deixar alguma comida no prato? Sou daqueles que não passa
nem pela porta da frente de ambientes assim, cheios de frescuras e de cardápios
cheios de cifrões. Sou daqueles que não passa sequer pela calçada de um local
onde um refrigerante custa os olhos da cara, um prato custa o salário do mês e
uma sobremesa tem o valor de uma roupa bonita.
Ora,
quando estou com fome eu quero realmente comer. Quando estou com fome eu quero
ter à minha frente um prato com comida de verdade. Se eu quisesse enfeite eu ia
almoçar pétala em jardim ou beliscar um favo de mel. Que não me venham com
tiquinho de nada, apenas enfeitado com raminho por cima, e depois ainda dizer
que é comida, que é alimentação, que mata a fome.
Comida boa
é aquela que satisfaz, que mata a fome, que de tão boa faz a pessoa comer mais
e lamber os beiços. Comida boa é aquela que a pessoa come sem pressa e sem
medo, seja na feira, na cozinha ou em pá no quintal com cuia à mão. Comida boa
é aquela que aromatiza a cozinha e faz a boca se encher de água só em pensar no
prato despejada. Até mesmo um feijão de corda com ovo por cima tem mais sabor e
valia que prato de luxo.
No
passado, se um restaurante de luxo preparasse um fígado acebolado igual ao de
Jarde de João Lameu, certamente o prato não sairia por menos de 200 reais. Mas
quanto Jarde cobrava para o cabra sair de bucho cheio? 10, 15 contos. No meu entendimento,
comida jamais poderá ser vista como luxo, mas como necessidade.
Não
adianta o grã-fino pagar em ouro por um prato com quase nada e depois sair do
“restaurant” morrendo de fome, doido pra encontrar um cachorro quente ou um
prato de farinha com ovo e salsicha. Por isso que gosto de panelada cheia e
prato que mais parece montanha. E comer com a mão, fazendo bolo de feijão e
molhando no molho apimentado.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com