*Rangel Alves da
Costa
Mesmo que
poucos percebam, o mundo segue em cega obediência aos preceitos do Eclesiastes,
o livro bíblico onde se tem que depois da chuva vem o sol, depois da tristeza
vem o sorriso, e por aí vai.
Está claro
em Eclesiastes que a inversão das coisas, dos fenômenos e das realidades, é
inevitável. Nada permanece da mesma forma além do tempo permitido. Por isso que
a noite chega após o dia, a morte chega após a vida.
Ao menos
se espera que assim seja. Contudo, inegável que a vida, o mundo, a existência,
parece se demorando demais no oposto negativo do livro bíblico referido, vez
que entra dia e sai dia e as angústias tomando o lugar das possíveis
felicidades.
Como uma
estação que inevitavelmente chega, já era tempo de os horizontes da vida humana
estarem abertos para a esperança, para o conforto da alma, até para o sorriso.
Mas não, pois as notícias que surgem são sempre de desalentos e incertezas.
A
realidade brasileira atual é exemplificação maior disso. Parece que a
felicidade do povo (ao menos da maior parcela da população) deixou de existir,
sumiu de vez. E o mais agravante é que a desesperadora situação, ao invés de se
reverter em dias melhores, vai sendo acrescida de mais tormentos.
Fila para
implorar ossos, famintos recolhendo restos nos lixos da burguesia, infinitas
mãos estendidas pelas calçadas, a miséria absoluta onde antes havia café e pão.
Remédio caro, a conta da energia chegando com valores absurdos, gás de cozinha
e gasolina com preços difíceis de serem suportados.
Manchetes
diárias dando conta das rachadinhas, das corrupções, dos abusos de poder, do balcão
de negócios comandados pela primeira-dama, das atitudes tirânicas e animalescas
do presidente, das milícias comandadas através do poder político, dos
inquéritos enlameados e dos defensores do indefensável.
Desemprego,
miséria e fome. Eis a realidade de um país cujo crescimento se resume exatamente
em desemprego, miséria e fome. Desenvolveu a carência, o negacionismo da vida
humana, a humilhação e a sordidez, mas a esperança não. O amanhã é apenas uma
consequência do nada do ontem e do hoje.
Nada de
pessimismo. Na verdade não cabe pessimismo, mas apenas refletir a realidade.
Alguns certamente dirão que está tudo bem, às mil maravilhas, que nunca se viu
tanto crescimento como no momento atual. Um discurso típico de política mentirosa.
Somente a beleza do tapete é visível, pois o que se esconde logo abaixo é de
enojar.
Em tais
aspectos, o Eclesiastes está demorando demais a surtir efeito na terra
brasilis. Ora, onde se proclamava o fim da miséria, agora se avista a miséria
absoluta, a pobreza desenfreada, as mortes por falta de pão. Fogões de lenha
para panelas vazias, mão estendida esperando que outro pobre venha em socorro.
O Brasil
nunca passou por situação tão desesperadora. Desse modo, tem-se como ilusório,
fantasioso e mentiroso, todo argumento afirmando que o país está em franca recuperação
econômica. Onde mesmo? A carestia pontua por todo lugar, a cada novo dia um
novo preço para o mesmo produto. Até quando?
Daí que
não são nada animadoras as últimas notícias na terra brasilis. Neste desvão de
vida, o que restar de vida daqui em diante já se terá como sorte grande. E como
dito, o pior é que não se vê nenhuma esperança de melhoria.
Para
exemplificar, o presidente exonerou o anterior presidente da Petrobras sob a
alegação de que não aceitava as políticas praticadas no aumento dos preços dos
combustíveis. Colocou outro, mas tudo continuou do mesmo jeito, com aumentos
quase diários.
Então o
presidente disse que não pode fazer mais nada quanto a isso, quanto a evitar os
aumentos. Quer dizer, deixou a população ao deus dará. Como entregue às
baratas, ou à manipulação dos mercados, todos os setores do País. E, conforme o
presidente, nada poderá ser feito para mudar tal situação.
Escritor