SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 30 de novembro de 2016

SECOS, MOLHADOS E NOSTÁLGICOS


*Rangel Alves da Costa


Os armazéns e mercearias de antigamente, principalmente aqueles localizados em cidades interioranas, eram verdadeiros mercadinhos sortidos de tudo. Contudo, quanto mais rústico o comércio mais o prazer aumentava pelo que logo se avistava. Geralmente em esquinas, com duas ou três portas à frente e uma na lateral, tanto balcão como as prateleiras eram de madeira antiga, de lei, envernizada ou tomada de cor escurecida pelo tempo. O sortimento era vasto, tendo cajuína, bolachão, goiabada, mariola, sardinha, quitute, bolacha doce e salgada, e muito mais. Vinho de Jurubeba, Cinzano, Cortezano, Pitu, Serra Grande, Pau de Arara, Teimosinha, bem como litros e mais litros de aguardente com casca ou raiz de pau. Um pouco abaixo do balcão e pelos cantos, os sacos de farinha, de milho, de arroz e café com casca, de açúcar e sal grosso. Mas o mais gostoso mesmo fica em riba do balcão, espalhando em profusão. Eram fardos de carne seca, de jabá e charque, de bacalhau e carne de porco salgada. E descendo do telhado as mortadelas e os apresuntados de dar água na boca. Um baleiro, de vez em quando uma cafeteira e uma compota de doce de leite batido. Era entrar e se apaixonar. Tomar, mandar cortar fiapo de carne seca, tomar outra, e depois não querer sair mais do lugar. Até que o menino chegava correndo para dizer que a mãe estava raivosa à espera do charque com pé de porco pra botar no feijão.
Em muitos armazéns, beber somente no lado do balcão, na parte lateral, pois a parte da frente era de outro tipo de freguesia. Não tinha graça nem cabimento que uma moça chegasse para comprar um sabonete Gessy, Alma de Flores ou Palmolive, e ter de suportar olhares cínicos e piadinhas maldosas dos beberrões. Aliás, nem todo dono de mercearia permitia que o cabra permanecesse por muito tempo ao pé do balcão, fazendo hora até se embebedar. Depois das duas goladas já estava liberado para ir embora, ainda que voltasse no passo seguinte. Alguns vendeirins tinham o cuidado de oferecer um umbu ou fruta miúda para acompanhar a cachaça. Se o cabra chegasse com uma caça já no prato, pronta para ser saboreada com a pinga, tinha de sentar à mesa e, além da cachaça, também acenar pedindo cerveja. E cerveja apenas refrescada, pois sempre em geladeira a gás e sem certeza de um resfriamento maior. Por isso mesmo é que o bebedor, desejando uma mais gelada, sempre pedia uma do fundo do pote. E era como se viesse do fundo do pote mesmo, vez que a espuma logo testemunhava seu estado quase natural. Dado o ambiente familiar, com pessoas idosas e mulheres casadas a todo tempo chegando ao balcão, também não se permitia galhofa, piadinha, qualquer palavreado mais chulo. Ou se comportava ou era convidado a pagar a conta e sair pela porta lateral, sem direito à reclamação. Ora, o porrete do vendeirim, ou mesmo a faca afiada, nunca se mantinha distante da ousadia.
Muitos armazéns mantinham espaços reservados às frutas e verduras frescuras que chegavam em cestos grandes. Melancia, tomate, cebola, pimentão, abóbora, maxixe, quiabo, manga, de um tudo. Mas nem sempre era garantia de tais produtos nas mercearias e armazéns interioranos. Contudo, não podia faltar a farinha boa de mandioca, o feijão novo da safra da região e açúcar. Bastava pedir e o vendeirim metia a medida pela boca do saco e de lá retirava a quantidade certa. Não errava uma. E a balança pendia também na medida certa, ainda que muita gente desconfiasse das gramas a menos a cada quilo. Mas não adiantava reclamar. Do mesmo modo acontecia com o corte de jabá ou de bacalhau. A pessoa pedia seiscentas gramas e a faca já dava o bote certeiro, sem um tantinho a mais ou a menos, a não ser o desconto daquele fiapinho experimentado pelo comprador. Assim se fazia pela segurança do negócio, como bem asseverava o pequeno comerciante. Já corria o risco no vender fiado, no esquecimento do pontual pagamento, e não podia ver o seu negócio fechando as portas por causa de espertalhões.
Sendo bom freguês, nada faltava a hora que desejasse. Levava desde o fumo de rolo ao cigarro de palha já pronto, desde o ki-suco ao bolo de feira. E numa ou noutra talvez encontrasse uma lavanda, uma água perfumada ou mesmo uma alfazema mais cheirosa. E quando chegava a solteirona escolhendo a melhor fragrância, logo o vendeirim dizia que com aquele perfume ela ia apaixonar muita gente. Então a pobre gastava todo o dinheirinho da aposentadoria naquela esperança irrealizável de amor. No mês seguinte retornava tristonha, com cara de que ninguém havia sentido sua fragrância ao entardecer à janela. Então ouvia do vendedor: Parece que o aquele perfume todo não deu muito certo. Agora faça diferente, além do cheiro leve também um bote de velas de Nossa Senhora. E a coitada saía carregando perfumes e velas de todos os santos.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


A triste situação dos rebanhos no sertão nordestino. Basta que um carro-pipa se aproxime e logo os animais avançam sedentos.




Canção do amor pela estrada (Poesia)


Canção do amor pela estrada


Se eu chorar
o lenço do amor enxuga
o riso do querer me alegra
o sopro da paixão me leva

e vou seguindo
sorrindo pela estrada afora
cantando uma canção antiga
e quem quiser amar que me siga

mas não choro mais
na dor eu aprendi ser forte
no peito tenho jardim florido
para o amor de novo renascido.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - ainda choro a dor de ontem


*Rangel Alves da Costa


Ontem, com a notícia da tragédia envolvendo a Chapecoense e integrantes do jornalismo esportivo, a reação foi de indescritível espanto, sofrimento e tristeza. Tudo tão absurdamente espantoso que redundou numa espécie de anestesia ante o acontecido. Ora, acreditava mas não podia acreditar, lia o noticiário mas não queria ter nada daquilo como verdade, a cada homenagem avistada na angústia e no tormento era como o enfrentamento de uma pesarosa fantasia. Mas amanheceu e o anestésico acabou seu efeito, a realidade não mais adormece ou viva se entorpece na ilusão de pesadelo terrível. Eis que tudo verdade. Eis que o voo e a despedida, eis que a viagem e o não retorno, eis que o adeus distante do seu gramado e de sua torcida, eis que o silêncio longe de seu ouvinte e de seu admirador. Agora, sem anestesia, sem mais condições de esconder os estímulos dolorosos, é como se a navalha do real ferisse sem piedade. Tudo realmente acontecido, tudo verdade. Não mais o idílio, apenas o luto. Não mais a descrença, apenas o enfrentamento da dor. E por isso mesmo - e muito mais - ainda choro a dor de ontem. Ainda - e muito mais - espanto-me com a fragilidade de vida, para encontrar forças somente para dizer: Filhos, nunca fostes tão vencedores, pois alcançastes agora a eterna vitória!


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

terça-feira, 29 de novembro de 2016

HOMEM DO LAR (E SEM TIRAR PEDAÇO)


*Rangel Alves da Costa


Em meio ao mundo masculino quase sempre pautado pelo machismo, torna-se até contraditório que o homem afirme participar da vida do lar ou realizar determinadas tarefas que são sempre vistas como de ofício exclusivamente feminino. Neste sentido, caberia ter como válido o ditado segundo o qual ao homem a porta da frente e à mulher a cozinha.
Assim, ao homem caberia exclusivamente ser macho, reprodutor, dono do pedaço, o bom da boca dentro de casa e da porta pra fora, cabendo à mulher a obediência, o ofício doméstico, a faxina, o viver para servir ao seu verdadeiro dono. É que a macheza não permite pegar em cabo de vassoura ou estender uma roupa no varal. Coisa de mulher, como se o homem fosse de outra espécie que não a humana.
Noutras palavras, o senhor e sua escrava, aquele que chega e tem de ter à disposição não só a comida pronta, segundo o seu gosto, bem como uma mulher de pernas abertas em cima da cama. A mulher não tem querer, opinião ou atitude, pois tudo na dependência do desejo do homem. Assim ainda se concebe por todo lugar, como se o relacionamento entre macho e fêmea fosse de escravismo ou de jugo predatório.
Seria da normalidade da convivência - segundo o exacerbado machismo - que a mulher sempre estivesse aos pés do homem, à sua disposição para tudo. Ora, o macho cospe na sala e a sua escrava tem de acorrer para limpar. O poderoso espalha cinzas de cigarros sobre o sofá por que sabe que sua submissa logo estará ali para limpar. O dono do mundo atira a panela fora se o cozido não estiver de seu gosto. E assim por diante. Do seu lado, à mulher cabe somente a silenciosa obediência.
E assim certamente por que muitos se comprazem em se revelar exatamente como o homem, esposo ou companheiro, não deveria ser. Na roda de amigos, jamais fazer com que os outros pensem que participam da vida do lar, que ajudam nos afazeres domésticos. O homem veste calça e não saia, logo alguém confirmaria. Ademais, se torna muito mais empolgante dizer que o único compromisso que o varão possui é não deixar faltar nada em casa. Tudo como se um lar dependesse apenas de feira ou de conta paga.
O machismo - ou a desavergonhada vergonha - acaba impedindo que o homem se expresse como verdadeiro homem. E como verdadeiro homem por que o que o diferencia da mulher é o sexo e não a condição humana. Assim, de modo injustificável, para muitos se torna impensável lavar ou estender uma roupa, sequer as próprias cuecas. Para outros, será o fim do mundo ou “mulherzice” varrer a casa ou mesmo colocar do lado de fora o saco de lixo. Nem pensar em fazer comida, cuidar da roupa ou passar espanador sobre móveis. É como se tornasse menos homem ou diminuísse sua honradez masculina.
Neste retrocesso mental, acaba impingindo sobre sua mãe, mulher ou companheira, a pecha de serviçal de seu machismo. Contudo, será sempre um erro afastar do homem a sua condição de homem de lar, de cuidado, de preservação de seu ambiente doméstico ou familiar. E tenho como erro perante as minhas próprias atitudes.
Não só pela condição de solteiro, mas sempre lavei minhas roupas, passei ferro e preguei botões, bem como faço pequenas costuras. Sempre fiz minha comida, lavei os meus pratos, varri a casa e o meu escritório. E sem máquina de lavar, tudo na mão e em varal sombreado. Do meu guarda-roupa quem cuida sou eu. Sei onde está uma meia ou um lenço. Não deixo roupa suja acumular nem o pó tomar conta de tudo.
Nunca deixei de ser menos homem por causa disso, nunca me caiu qualquer pedaço por conta disso. Pelo contrário, acrescento à minha condição masculina o senso de preservação de minha própria pessoa. Ora, quem gosta de mim sou eu. E quem deve cuidar de mim sou eu. Até que alguém queira me ajudar afastando a poeira de minha solidão.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


AMAR O POVO. AMAR MEU POVO!




Cais coração (Poesia)


Cais coração


Como se num cais
o aflito esperasse um barco
assim o amor no coração
daquele que o deseja tanto

e passa uma andorinha
e vai e volta a onda triste
o entardecer se aproxima
e no peito a dor da saudade

quando a lágrima surge
então o olho divisa ao longe
as sombras de um barquinho
o amor de volta ao cais coração.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - a dor de Chapecó, do esporte, do Brasil


*Rangel Alves da Costa


O jogo acabou antes da hora marcada. Muitos não retornaram aos vestiários, mas subiram aos céus. O povo catarinense hoje amanheceu aos brados, não por um grito de gol da Chapecoense, mas pelo repentino adeus de quase toda sua equipe de futebol. O Brasil, emissoras de rádio, canais televisivos de esporte, todos igualmente estarrecidos com o lamentável acidente nos espaços colombianos. Faleceram jogadores, membros da comissão técnica, dirigentes, jornalistas, narradores e locutores, tripulantes. Um apito final antes da hora, uma derrota inesperada, uma despedida dos gramados da terra. Há que se chorar a dor de um povo, há que se lamentar a perda de tantas vidas, há que se prantear esse tão duro revés no esporte. A equipe ia exatamente disputar a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. Não entrou em campo, subiu na nuvem, deixou entre nós um troféu de luto. Que tristeza Chape, que lágrima tão verdadeira de um povo que somente agradece pela sua tenacidade no campeonato da vida. Morrestes, não! Deus te consagrará na vitória eterna!



Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

OBITUÁRIO DE VIVOS


*Rangel Alves da Costa


De modo estranho, mas a verdade é que o livro de registro de mortos está cada vez mais tomado de nomes de vivos. E não são fantasmas ou assombrações, mas pessoas deste mundo, em carne e osso e sentimentos, que vão sendo consideradas como desaparecidas ou inexistentes entre os demais. Neste sentido já havia afirmado o filósofo: Há gente que apenas vive sem viver, há gente que apenas está sem ser visto ou considerado, como se a morte em vida lhe antecipasse o fim.
Já um velho amigo sertanejo, daqueles sábios moldados na quentura da terra, assuntava: Há um cemitério pelo mundo inteiro, cheio de defunto morto e de defunto vivo. Tem gente que andeja como se vivo fosse, mas já se foi desde muito. Tem gente viva que nem parece que ainda vive. Também não há muita diferença em tá debaixo da terra ou por riba dela quando o sofrimento é tanto que chega a não suportar. E quem disse que viver é padecer desde o amanhecer ao anoitecer?
Diz-se, assim, que há um obituário de vivos toda vez que o vivente seja considerado como um renegado das mínimas condições de existência. Neste sentido, somente pode ser considerada como vida aquela que torne a pessoa reconhecida na sua dignidade, como ser de direitos, como alguém que possa fruir dignamente de sua própria condição humana. Por consequência, aquele que rasteja em busca do grão, que se ressente da negativa do pão, da água, do remédio, da moradia, de qualquer felicidade ou prazer, tem seu nome inscrito no obituário dos vivos.
Logicamente que obituário se refere a óbito, a falecimento. É o registro ou informe sobre a morte de alguém, contendo os dados necessários à sua identificação, contendo ainda, possivelmente, dados relativos à filiação, laços familiares e os feitos em vida. Alguns jornais ainda publicam obituários, outros não. A morte parece ter se tornado insignificante demais para ser lembrada além família, parentes e amigos. E, devido ao crescimento populacional, há também o fato de ter se tornado tão comum e rotineira que já não é mais pranteada como antigamente.
Houve um tempo que a morte era quase que protocolar, exigindo cerimônias e rituais de despedida. Os velórios, as sentinelas e os encaminhamentos fúnebres eram exigências que as famílias observavam em detalhes, ainda que as dores e os sofrimentos se redobrassem. As missas, os lutos, as saudades, também possuíam maior significação. Atualmente, contudo, poucos são os velórios nas residências e diminutas também as manifestações de pesar. E chegam mesmo a dizer que são tantos os sofrimentos em vida que apenas se somam aqueles pela morte de alguém.
Mas é chegado um tempo que os obituários só têm serventia aos historiadores. De vez em quando estes estão repassando papéis envelhecidos em busca de dados que a outros não teriam qualquer importância. E dizem que o historiador sergipano Sebrão Sobrinho possuía avidez em vasculhar tais documentos em capelas de cemitérios. Só tinha como verdadeira a informação se pudesse constatar no velho livro a data de nascimento e da despedida. Era um apaixonado por datas, dados estatísticos, minúcias históricas.
Mas por que existiria obituário de vivos, se este documento se presta unicamente a registrar a morte? Eis uma história para depois saber se o historiado está morto ou vivo. Era uma vez um sujeito que passou a andejar pelas ruas depois que perdeu barraco, mulher, quase tudo o que tinha vida. Molambento, sujo, barba e cabelos longos, também sujos e desgrenhados, na barriga uma fundura de poço. De fome e sede. Reconhecia velhos amigos, mas por nenhum era reconhecido. Tentava se aproximar e era ignorado. Sem cama, sem mesa, sem porta, apenas o mundo como guarida. Sempre entristecido, assim foi vivendo entre soluços sem prantos e dor sem gemidos. Solitário num banco de praça, sempre esperava o outono chegar para se avistar naquele aflitivo e angustiante retrato. E um dia sentiu que já era folha seca, que também precisava ser levado pela ventania. Mas ele vivia?
Nas portas e corredores de hospitais o livro aberto. Nas condições que chegam e como são cuidados, verdadeiramente ninguém sabe em qual página escrever seus destinos. Sabe-se que há um país - qual nome? - onde basta precisar de atendimento médico em hospital e já se está tendo o seu nome lançado no obituário dos vivos. E também aqueles esquecidos de toda sorte que mugem e berram as dores do bicho nas secas de cada dia, que comem o barro e bebem o suor da cruel desvalia. Em toda seca que há e o livro é aberto para o rabisco da sina. E assim o obituário vai enchendo suas páginas de vivos que já não vivem.
Aquela criança africana, rastejando o grão e comendo terra, de sepultura nos olhos e ossada na pele, parece ser de identificação indefinida no livro. Por mais que ainda sopre vida, por mais que seu olho se mova sem brilho, não há como dizer que está viva. O problema é que não há mais páginas para tantos nomes.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


Perante as vidas secas, meus olhos se alagam e se derramam. E chamo o meu povo para ouvir minha sufocada prece. Mas o meu povo já parece sofrido demais com o seu sufocado grito...




Amar: verbo e conceito


Amar: verbo e conceito


Amar
só amar o verbo
e ele conjugar
o sentido

amar
só amar o conceito
e nele encontrar
o sentir

amar
o verbo e o conceito
e nele aprender
o amor.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta – a vela acesa


*Rangel Alves da Costa


O sol se vai. O dia já é de sombras. No tempo, um semblante singelo e entristecido. A ventania já levou a folhagem do dia. A brisa agora sopra seu leve frescor. O varal se embala mansamente. Um grilo canto. Um sino dobra na igrejinha. É chegada a hora da Ave Maria, do instante sagrado onde o dia se abraça à noite perante a fé maior de um povo. Nesta hora de chegada da noite, quando o leve negrume já se estende pelos quadrantes, mãos que buscam a oração. É a hora de um povo orante, de um povo devotado ao sagrado, de um povo expressar sua fé maior. Hora de a mão buscar o rosário, o terço, as contas que percorridas levam à cruz, e que acreditadas levam a Deus. Noite de céu, de anjos, de santos, de Deus. Então, junto ao oratório, a mão acende a vela. Uma vela acesa é portal entre a terra e o céu, entre o beato e o paraíso, entre o cristão e sua esperança maior. Não só uma vela acesa, mas um espelho, uma porta, uma voz, um degrau, uma escada. É preciso alcançar o céu, é preciso conversar com Deus, é preciso remir o pecado, é preciso salvaguardar a alma. Então a vela chameja o encontro. Enquanto o olho brilha na fé e a boca sussurra o encontro, um Deus cheio de luz se mostra na chama. E brilha o mais belo dos brilhos ante a humilde e enrugada face daquele que acredita. E consegue encontrar.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

domingo, 27 de novembro de 2016

DIÁRIO DA AGONIA


*Rangel Alves da Costa


Não se sabe ao certo por qual mão ou em qual ocasião, mas lá estava escrito, entre rasuras, rabiscos, inconstâncias, deslizes de linha a outra, tremulando como se agonizante na folha.
10h00min da noite. Sabe que vai sofrer. Ou mais uma vez sofrer, pois sempre assim. É a partir dessa hora que a visitante sai dos arredores e começa a bater à porta, a janela, a vida inteira. Ela sempre chega: a saudade!
10h05min. Não será dessa vez que irá se prostrar à saudade, é o que decide. Diz a si mesmo que não vai mais recordar nada que lhe traga sofrer, que não relembrar qualquer coisa que atormente ainda mais o seu viver. Mas dificilmente demais é domar a saudade.
10h10min. Decide que não abre mão de ter paz nessa noite. Mas a saudade é traiçoeira, fria, perigosa demais. E para alcançar seus objetivos agonizantes é que se reveste de aparências inimagináveis. Por isso mesmo que chega como canção ao vento, como um retrato que surge à mente, como a sutileza de uma voz que surge do nada.
10h30min. Sentia-se forte. Já passado das dez e ainda não tinha sentido nenhuma saudade. Preparou-se para esvaziar o cálice e depois disso deitar ali mesmo no tapete para dormir mil horas seguidas. Precisava dessa paz depois de tanto sofrer. Não deveria ser assim, mas amor provoca terríveis sofrimentos.
10h31min. De repente sentiu como se o cortinado estivesse sendo arrancado da janela pela força da ventania. Em seguida, apenas um vento leve entrando pela sala tomada de escuridão. Vento manso mas com sopro suficiente para apagar a vela. E então começou a ouvir uma velha canção. A mesma canção que sempre acompanhava a saudade mais voraz.
10h33min. A canção chegava cada vez mais forte, mais intensa, mais devastadora. Por que uma bela canção pode causar tanta dor, tanta aflição, tanta agonia? Precisamente aquela canção mais apreciada nas noites vividas a dois. Precisamente aquela doce música que embalava beijos, afagos, carinhos, carícias, buscas e encontros.
10h40min. Mais vinho no cálice. Outro cigarro. A sala pequena demais para tantos passos de canto a outro. A cortina afastada de vez, a janela escancarada, toda a música e todo sopro de vento tendo seu caminho aberto. Mas não pode ser, eu não suporto mais isso, não quero mais sofrer, dizia quase gritando.
10h50min. Gavetas reviradas, baús abertos, papéis e retratos espalhados por todo lugar. Poesias, bilhetes, cartas, fotografias de sorrisos e lágrimas, tudo espalhado pelo tapete. Uma flor murcha, um pedaço de lua guardado pela paixão. Um pingente dourado devolvido antes de a porta ser fechada. Todo o amor assim, agora em pedaços, retalhos, restos espalhados.
10h51min. A voz, a feição, a presença. Sim, pois a saudade não se compraz em fazer apenas recordar e traz a presença de toda dor. Dói demais ouvir a voz, sentir como se o antigo amor estivesse ali, querer olhar no olhar, tocar, sentir. Dói demais não poder se libertar dessa presença impossível de ser novamente amada. Agora somente saudade.
Depois das 11h00min. Ninguém ouve o soluço que mortalmente sufoca. Ninguém avista a correnteza de lágrimas que corre e escorre pelo rosto e corpo. Ninguém avista o lenço molhado jogado ao chão. Ninguém avista a feição agonizante, de olhos perdidos em mar, que tremula entre meia-luz do breu e da lua que entra pela janela.
Em meio à escuridão, a poesia que surge como o punhal mais afiado: Sozinho eu abri a porta. Não caminhei sozinho por que você chegou. E juntos caminhamos pela vida. E juntos nos amamos pela vida. Mas por que agora estou sozinho na estrada? Mas já não consigo seguir sem olhar para o que ficou pela estrada...
E depois, depois que a madrugada ouviu o último soluço, restou somente garrafas vazias, cálices quebrados, cinzas caídas ao chão, restos revirados. A janela ainda aberta, a mesma canção. Mas ninguém ali. Mas ouve-se, ao longe, um doloroso uivo de lobo solitário.
Será?


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


Memorial Alcino Alves Costa, em Poço Redondo, sertão sergipano. Um anoitecer iluminado pelas luzes natalinas...




O presente (Poesia)


O presente


Mylla me deu
um sol e uma lua
singela esperança
e um doce presente
chamado amor

se Mylla me desse
tudo o que desejo
bastaria somente
o mesmo presente
chamado amor

quero muito mais
e Mylla sabe disso
e até vou implorar
que no seu presente
traga tudo do amor.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta – no divã (ou no hospício)


*Rangel Alves da Costa


Admitamos, ninguém é normal. Também admitamos que por trás das máscaras estão as loucuras, as insanidades, as doidices, as amentalidades. E igualmente reconheçamos que o mundo é uma camisa-de-força, um divã atordoado, um hospício sem porta de saída. Porra! É bom comer pedra, mas deixando um pouquinho pro outro. Tem gente que quer beber veneno e não encontra uma gota sequer. Todo mundo já bebeu tudo. Ora, nada de falar sozinho. É preciso gritar, bradar sozinho. Pelas calçadas e praças e a maior gritaria, mas tudo na normalidade da vida. Sim, correr atrás de cachorro para morder e de cobra para picar. Tomar banho de paletó e andar nu. Ninguém tem fome, vez que muita areia e muita grama para comer. Nada de sexo. A coisa que mais dá prazer é se roçar em urtiga e cansanção. E não pode haver felicidade sem que esta se revele na lágrima, na dor, no sofrimento, na agonia. Por que o mundo é assim, e as pessoas do mundo também. A moça engravida do vento porque o rapaz prefere namorar a folha seca que cai. Por isso que sempre vive sozinho. Cada folha que cai desaba um mundo de solidão.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

sábado, 26 de novembro de 2016

HIPOCRISIAS


*Rangel Alves da Costa


Qual Olimpo o homem imagina habitar? Qual reino celestial está assegurado, desde já, ao ser? Qual deus, além de simples e mortal humano, o homem imagina ser? Ademais, a vida é curta, breve demais, para que a pessoa se suponha além de mero passageiro. E trocar a doce experiência de viver por ilusões doentias, acaba transformando a passagem em devaneio e dor, ainda que o sujeito se imagine poderoso o suficiente para a tudo vencer.
Mas tem gente que nunca aprende a viver ou finge não querer existir perante os bons ditames da existência. Sempre esquece que ao homem foi permitido existir para viver com fraternidade, amor, compreensão, compartilhamento. Coisas simples e que não deveriam ser renegadas por ninguém. Contudo, indaga-se: o que levar o ser humano a transgredir a si mesmo, forçando ser além daquilo que lhe foi permitido ser?
Na possível resposta, algumas enfermidades psicológicas, comportamentais, morais e éticas. Doenças da honra, da conduta, da atitude, do trato do convívio social. Muita gente há que não se possa dizer que em completo estado de degradação. E tudo por que tomada de egoísmos, vaidades, soberbas, desonestidades, arrogâncias, demagogias, hipocrisias. As hipocrisias, aliás, causam um surrealismo mortal ao ser humano: cria aparências que são como vermes que, invisivelmente, vão corroendo por dentro, devastando aos poucos todo veio aurífero que imagina ser.
Mas não há como fugir dessa triste realidade. O mundo está cheio de hipócritas. A cada passo e por todo lugar pessoas fingidas, dissimuladas, falsas, verdadeiros lobos em peles de cordeiros. Os fingimentos parecem servir como carapaças às abomináveis verdades escondidas. É próprio dos hipócritas se esconderem em máscaras e falsas aparências. Sempre medrosos, mentirosos, desleais, não têm coragem de enfrentar as verdades que se apresentam. Brilhos e luzes nos que vivem em sombras.
Na hipocrisia, a máscara brilhosa e fétida. No hipócrita, a perfumada putrefação. Tantas qualidades em quem só tem defeitos. Tanto querer ser sem nada ser. E pessoas assim por todo lugar. Hipócrita que se arvora da fartura quando nem tem o pão. Hipócrita que vive se escondendo nas sombras do poder. Hipócrita que menospreza o outro sendo um igual. Hipócrita que canta vitória quando pagou pela glória. Hipócrita que estende a mão e se enoja por dentro. Hipócrita que abraça quando deseja pisar. Hipócrita que possui duas ou mais faces segundo a situação ou conveniência.
Hipócrita que acha que a vida é só o momento presente. Hipócrita que nem olha para trás para não avistar o amigo que ontem o serviu. Hipócrita que muda de opinião segundo o interesse. Hipócrita quando o anel no dedo vale mais que o restante do ser. Hipócrita quando a roupa bonita limita o contato com o de roupa simples ou rasgada. Hipócrita que se arvora de tudo ser quando nada é. Hipócrita que mostra o prato cheio do outro, dizendo que é seu, quando o próprio continua vazio. Assim as hipocrisias.
Assim os hipócritas. Conheço muita que é assim. A muitos, a riqueza se expressa no luxo, esquecendo que a verdadeira grandeza reflete através da alma. Eis o mundo de feras e labirintos, eis a vida onde os de bom coração só são acolhidos aos olhos do Senhor. A razão do Eclesiastes: Vaidade das vaidades, tudo vaidade... Não sabendo que o sol nasce e o sol se põe. O que é agora já não será. E ao pó hás de retornar!
Enquanto isso, o humilde possui a sua paz merecida, o seu viver honrado e o reconhecimento pelo homem de bem e aos olhos de Deus. Então, por que forjar um viver aparente quando a grandeza humana está nas qualidades do ser em si mesmo, envolvido em verdade e realidade? Pelas ilusões e fragilidades. Quanto mais fraco o homem mais ele se ampara em sombras inexistentes.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


Noutros idos do Velho Chico. Ou quando o rio parecia mar...




Singelo e sublime (Poesia)


Singelo e sublime


Preciso tanto
de um amor singelo
amor fruta de pomar
de manga e araçá

preciso tanto
de um amor sublime
amor de pôr de sol
de anoitecer e arrebol

preciso tanto
de um amor humilde
amor de açúcar e café
de teu beijo tão mulher.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta – pés descalços


*Rangel Alves da Costa


É preciso abrir a porta e enfrentar o mundo. Jogar todo antigo e buscar a sorte. Enfrentar o mundo em nome do sonho ou da simples necessidade de seguir, de experimentar vida nova. Ninguém vive na clausura pela eternidade. O futuro de tudo está na estrada. Assim, é preciso seguir. Pés descalços pelas estradas, pelos caminhos da vida. Estrada de chão, estrada de barro, estrada espinhenta e pedregosa, mas ainda assim os pés pisam descalços no seu chão e seguindo adiante. Não há espinho nem dor quando a sola do pé já endureceu de tanto seguir. Outras vezes os espinhos apenas se recurvam por dentro da terra para eles mesmos não serem feridos pelas pisadas. Mas também há espinho e dor se o caminhar for amedrontado. As pontas de pedras e espinhos fazem da estrada uma emboscada aos pés que temem seguir ou que não saibam aonde vão. Assim na maioria dos pés que seguem descalços. Noutros, eis que um caminhar como se estivessem numa colcha macia, sobre gramas e flores, no frescor e sossego. Mas sentir a terra, o calor da terra em cada passo, pois só haverá pés descalços quando houver o sentido e a pulsação do que brota da própria terra: o chão, o mundo, a vida.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

NOSSAS TRAGÉDIAS COMUNS


*Rangel Alves da Costa


No Brasil, difícil não reconhecer que a ação de alguns provoca impactos desastrosos perante os demais. Por mais que a ação seja justificada por aqueles que a levam a contento, ainda assim a grande maioria será prejudicada. Não raro que são ações premeditadas para produzirem efeitos políticos ou ideológicos, sem que se considerem as nefastas consequências para a comunidade que nada tem a ver com quebras de braços ou brigas de poder.
Exemplos disso podem ser observados nas greves por meros caprichos sindicais, no fechamento de rodovias por grupos de assentados, no impedimento do funcionamento de escolas por grupos de estudantes orientados por outros interesses, nas manifestações que acabam impedindo o funcionamento dos órgãos públicos. E o exemplo maior seria a escolha de governantes e legisladores. As escolhas malfeitas de alguns nada mais servem que penalizar a sociedade como um todo.
São as escolhas feitas por alguns que produzem consequências gerais, de modo prejudicial e até lesivo. Muitas vezes, a falta de conhecimento, a baixa escolaridade, a carência de conscientização e de senso crítico, além da permissividade como massa de manobra, transforma a ação de minorias num perigoso jogo de interesses. E interesses estes que só dizem respeito mesmo a alguns que ao longe ficam observando a concretização insidiosa de seus objetivos. E verdadeiras tragédias surgem perante as ações impensadas de poucos, porém orquestradas por espertalhões que ficam ao longe monitorando os resultados.
Há uma teoria popularizada pelo ecologista norte-americano Garrett James Hardin, mas esboçada desde a filosofia antiga e aprimorada por recentes pesquisadores, denominada Tragédia dos Comuns. Pode contextualizar diversas situações, mas principalmente na afirmação de que pessoas comuns, quando passam a agir contra os interesses maiores da comunidade da qual fazem parte, acabam prejudicando a si mesmas e ao todo. Suas ações, que não podem ser dissociadas do contexto geral, por mínimas que sejam, ainda assim possuem o efeito de um simples bater de asas: produzir devastações inteiras.
O cerne da questão envolve a ação contrária ao desejo e ao pensamento da comunidade. Uma ação descontrolada de alguns sobre determinada questão terá como consequência o prejuízo de todos. Fugindo-se da estabilidade, dos meios concebidos por todos como os melhores, certamente haverá uma ruptura e uma desagregação daquilo anteriormente pactuado. Ademais, os interesses pessoais, quando exercidos de modo impensado ou mesmo egoísta, provocam não só a divisão de interesses como fragilizam o interesse geral, dado o esfacelamento do bem comum.
Há algum modo de se evitar tais tragédias, vez que somente observáveis quando os prejuízos já foram causados? Difícil, mas não impossível. Considerando que o aprendizado tantas vezes surge somente quando a lição é dolorosa, espera-se que as consequências sejam suficientemente fortes para que ao menos as reincidências sejam evitadas. Um fato concretizado, por si só, não significa que deva ser repetido, principalmente quando suas consequências se mostraram tão danosas.
Na conscientização da realidade de mundo e de vida reside o primeiro passo para que as tragédias sejam evitadas. Ora, se todo morador de uma comunidade evita, por exemplo, fazer queimadas descontroladas ou acumular lixo defronte as residências ou lugares baldios, e apenas um, com maldosa intencionalidade, faz exatamente o contrário, certamente que sua ação irá prejudicar a todos. O bueiro pode ser entupido pelo lixo jogado de apenas um morador. Um grande incêndio pode ser provocado por apenas uma fogueira de quintal. Nos exemplos dados, mesmo a conscientização da maioria encontra barreira naquela irracionalidade ou premeditação do mal.
Ora, por que a floresta é imensa, então logo se imagina que a derrubada de uma só árvore não modifica em nada a sua pujança. Mas outro, com a mesma concepção, logo vai e derruba outra árvore. E assim mais outros e mais outros. De árvore em árvore derrubada, de repente surge a primeira clareira, depois o descampado nu, até se transformar em completa devastação. O mais instigante é que todos, inclusive aqueles responsáveis pelo desmatamento, sabiam que aquela floresta era essencial à vida comunitária, pois purificando o ambiente, refrescando o ar, proporcionando um clima mais saudável á população. Contudo, a simples ação de alguns comprometeu a vida de todos.
Os poderes públicos, seja por ação ou omissão, também incorrem na proliferação de tragédias. Toda vez que se afastam de seus deveres abrem as portas para as ambições privadas, para interesses escusos que acabam produzindo danos incalculáveis a populações inteiras. Quando uma barragem se rompe e na sua voracidade lamacenta vai provocando mortes e destruições, certamente que ali estava instalada sob justificativa de desenvolvimento e progresso local. O que não dilui a certeza de que a segurança da população estava em risco. Mas a força do forte se impõe perante o fraco, e somente quando a destruição acontece é que o frágil é valorizado enquanto vítima. Assim acontece com as tragédias anunciadas.
Assim as nossas tragédias comuns. E assim porque, para alguns, tanto faz que o mundo vire se eles se mantêm de pé. Ou que eles repousem bem enquanto outros convivam com sobressaltos.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


Ainda pelos arredores da Cachoeira do Bom Jardim, em Poço Redondo, sertão sergipano.





Sentindo saudade (Poesia)


Sentindo saudade


Sentir saudade
e na saudade
o abraço e o beijo
o afago e o afeto
e o desejo tanto
de voar agora
e pousar no ninho
de um passarinho
com suas canções
de amor e paz

sentir a saudade
e levantar o voo
e pousar ainda
no antigo ninho
de um passarinho
que ainda ama
e que tanto quer.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - o diário da solteirona


*Rangel Alves da Costa


Ela guardava o diário com o maior cuidado do mundo, dentro de baú, enrolado em panos, trancado de cadeado. Mas um dia saiu pra missa e esqueceu não só a porta do quarto aberta como o baú. Talvez avexada para mais uma promessa a Santo Antônio, o padroeiro das titias e desvalidas de macho, eis que acabou deixando de passagem aberta seu maior segredo: o baú. Uma sobrinha mais que curiosa, não demorou muito e enveredou pelo mundo da tia solteirona. Assim que avistou o baú, logo levantou a tampa para encontrar o diário envolto em mordaças. Então leu: “Hoje amanheci mais estranha do que outros dias. Sinto-me tomada por um fogo estranho, me subindo as entranhas, quase me enlouquecendo. Mas sei que é falta de homem. Se macho eu tivesse, esse meu fogo não queimava desse jeito, apenas esquentava num calorzinho bom. Mas uma coisa é certa: se esse fogo continuar não responderei pelos meus atos, pois sou capaz de correr nua atrás de macho, gritando pela rua que me jogue no chão e me possua. Com fogo ou sem fogo, a verdade é que qualquer dia farei desse jeito. Já que homem não vem, então vou atrás de qualquer um...”. A própria sobrinha estremecia ante os relatos. Mas lhe veio à mente a maldade. Conseguiu uma foto de um homem nu e colocou na primeira página do diário. Quando a solteirona retornou e percebeu a imprudência cometida ao ter deixado a porta aberta, a primeira coisa que fez foi correr em direção ao baú. Ao abri-lo e encontrar o homem nu no seu diário, arregalou os olhos, estremeceu, e caiu estatelada. Morreu de pernas abertas.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

ARMADILHAS DO AMOR


*Rangel Alves da Costa


Armadilhas do amor. Parece nome de novela mexicana, mas a pura realidade. Rasgada, apaixonada, enlouquecida, mas espelhando os desafios e as armadilhas do amor. E armadilhas que bem poderiam ser tocaias, emboscadas, verdadeiras arapucas.
E também perigosas demais, pois podem dilacerar, podem ferir e açoitar, fazer sofrer, fazer chorar. Até enlouquecer. O pior que tudo acontecendo sem sequer a pessoa ter consciência suficiente para entender a sua verdadeira situação.
Refém da surpresa pelo amor abruptamente chegado, a pessoa sequer possui condições mentais para sopesar os perigos, as ameaças ou oportunidades. Passa a caminhar no escuro, a subir entre nuvens, a sentir-se noutro mundo. E com as consequências mais imprevisíveis que possam existir.
Tudo acontecendo de modo inverso ao esperado no amor. Começa a sofrer sem reais motivos. Ou pelo amor tão desejado que causa transtorno e ansiedade. Começa a delirar, a fantasiar uma relação ainda sequer começada. Começa pelo fim, eis que já se imaginando apossado do outro.
 Lamentável que assim aconteça. Mas assim acontece. E muito mais do que possa imaginar nossa vã filosofia. A pessoa está até bem consigo mesma, acostumada com sua solidão, talvez até já desistindo de encontrar quem compartilhe seus sentimentos, mas de repente e o destino lhe prepara a danada da tocaia.
E das mais preparadas, sem saída mesmo. Chama anjos com setas, redireciona caminhos, faz a pessoa, imperceptivelmente, ir até o alvo de sua sina: a outra pessoa, aquela pessoa que ali já espera para que a trama do destino se enlace ainda mais. Parece tudo inesperado, um acaso apenas, mas não. Tudo planejado por forças misteriosas.
Então, sem saber o que lhe espera, sem imaginar o que lhe aguarda adiante, a pessoa simplesmente se encaminha para ser tocaiado, para cair na armadilha do amor. E basta um breve instante para ter tudo seja transformado em sua vida. E se torna em humilde refém.
O mais difícil de acreditar é que a emboscada não é preparada por um inimigo comum, por um desafeto ou rixoso de outras datas, mas por aquilo tão caro e desejado pelo ser humano: o amor. Sim, pelo amor. Toda a arapuca, repleta de laços e grilhões, preparada pelo amor.
Uma desmedida covardia. Uma traição imperdoável. Ora, a pessoa luta, busca, se esforça, tudo faz para dizer a si mesma que está amando, que enfim encontrou sua outra metade, que está feliz por dentro e por fora, e nada simplesmente acontece. E quando acontece é desse jeito: um vulcão de boca aberta.
Uma covardia sem fim. Numa casualidade da vida (também chamada de destino em desavergonhada cumplicidade), num ocasião qualquer, eis que o olho encontra um olho adiante e tudo parece revirar. A coisa é tão forte e impactante que a pessoa nem consegue pensar muito. Encontrei, enfim! Logo imagina.
Tudo difícil demais de entender por que assim acontece. Dia após dia, noite após noite, anos a fio, e nada de aquele encontro acontecer. Contudo, do nada, como verdadeira armadilha, o destino encurta o caminho, marca o encontro e depois se afasta. Injusto que assim faça, mas faz.
E se afasta como se dissesse a si mesmo que já fez a sua parte e agora cabe aos dois se resolverem sozinhos. Vai embora e deixa para ser resolvido entre os dois. Mas agora é que surge o problema maior. Ou problemas maiores, vez que o encontro marcado pelo destino nem sempre traz as consequências desejadas.
Mas o problema maior é quando a outra pessoa olha, sorri com o olhar, sorri com a boca, corresponde a tudo, mas na hora da proximidade fica dando volteios. Ainda por cima, depois é que começa mesmo o jogo da judiação. Quer mas não quer, não é bem assim, precisamos conversar melhor, precisamos disso e daquilo.
Não me alongarei nos detalhes. Mas é por isso que os copos são revirados, os juízos desconcertados, as dores e os sofrimentos sem fim. E ter a certeza que amar assim é sempre perder a paz e padecer muito mais.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


Pelos arredores da Cachoeira do Bom Jardim, em Poço Redondo, sertão sergipano.





Um grão de amor (Poesia)


Um grão de amor


Um grão de amor
na aridez de meu ser
a semente se espalhou
mas nada eu vi nascer

minha amada é de chuva
e sou o sol mais escaldante
a nuvem que chega turva
logo se afasta em rompante

eu só queria cultivar amor
e em teu ser fazer jardim
mas a semente o vento levou
e ficou uma saudade sem fim.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - na boca da noite


*Rangel Alves da Costa


Não há momentos mais significativos que aqueles envolvendo a boca da noite. Esta quando chega traz consigo toda uma simbologia ao mundo sertanejo, nas distâncias interioranas de meu Deus. Chega sombreada, porém iluminada de cinzas do sol, orante, cativante, cheia de fé. É na boca da noite que as saudades se assomam aos olhos e corações entristecidos, que as mãos trêmulas se põem em oração, que os credos e ave-marias silenciosamente ecoam. É na boca da noite que tudo parece mais distante, mais saudoso, mais nostálgico e romântico. A ventania que passa levando folhagens, as vozes do vento relembrando sussurros e nomes. Em tudo uma canção antiga, ouvida mesmo sem canto algum. É o despertar do passado trazido pela boca sombreada da noite. Ainda que os ofícios chamem ao fazer, pois com café e cuscuz no fogão, ainda que as últimas roupas tenham de ser buscadas no varal, ainda que a vela tenha de ser acesa junto ao oratório, é a mente que mais convive, se encanta e se martiriza, com a boca cheia de noite e poesia. Há gente que chora ouvindo o dobrar dos sinos, há gente que finge ter paz quando se atormenta por dentro. Ah que saudade tanta! Logo ouviria uma voz de mãe chamando ao café. Mas agora somente o silêncio e a relembrança do último adeus. E mais tarde a lua inteira para navegar sobre os olhos d’água.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

“NO TOCA-FITA DO MEU CARRO, UMA CANÇÃO ME FAZ LEMBRAR VOCÊ...” (OU QUANDO A MÚSICA É RECORDADA)


*Rangel Alves da Costa


O passar dos anos parece não ter sido proveitoso em termos musicais. Atualmente, apenas uma ou outra música desponta com qualidade, pois o restante é tão descartável que nem ela nem o seu cantor dura mais que uma estação. Uma musicalidade tão ruim que nem um verso da letra é guardado para depois.
Seja qualquer denominação que se queira dar - algo assim do tipo sertanejo universitário, axé, sofrência, paredão, forró elétrico, etc. -, a verdade é que a musicalidade surgida é tão comercial que não há nenhum intuito de passar pelo crivo da crítica. Talvez reconheçam que sua valia se basta no cair do gosto da juventude festeira e na sua exploração em shows interioranos.
Nessa onda de busca de reconhecimento e exploração financeira, o que se observa, contudo, é o modismo musical passageiro. Algumas bandas baianas, como Olodum, Chiclete com Banana e Banda Reflexus, conseguiram se firmar durante anos, igualmente a cantores como Luiz Caldas. Foram desaparecendo da mídia e também da boca e do rebolado do povo, o que tenderá a acontecer com a safra do axé posteriormente surgida.
Cantoras como Cláudia Leite e Ivete Sangalo, logo terão o mesmo esquecimento experimentado por Margaret Menezes e Sarajane (a da rodinha). Até Gerônimo, um artista de superior qualidade, agora só é ouvido no exterior. Significa dizer que a música baiana perdeu seu espaço no cenário musical. Assim acontece porque o apelo comercial sempre se esvai quando o público reconhece, por exemplo, que não é mais essa música que deseja ouvir. Então recorda de um Ederaldo Gentil e a sua genial “O ouro e a madeira”.
Não é diferente o que acontece com o dito sertanejo universitário e o forró eletrizado, onde nem a sanfona é respeitada. De Chitãozinho e Chororó, Leonardo, Zezé de Camargo e Luciano, dentre tantos outros que fizeram sucesso, hoje somente a fama e a recordação de alguns rompantes que caíram no gosto popular. As bandas de forró - quase todas pertencentes a empresários - por algum tempo sobreviveram por uma estratégia peculiar: no ano seguinte os mesmos integrantes já faziam parte de uma banda com nome diferente. Até mesmo Brasas do Forró e Mastruz com Leite, que se sobressaíam sobre as demais em qualidade, perderam o fôlego de palco e de mídia.
Então, intencionalmente trabalhados para sucessos de temporadas, surgiram cantores e bandas cujos estilos se voltam para o popularesco dançante ou com sofrência de traição amorosa. Cantores como Pablo e Tayrone cantaram essas dores corneadas para depois sumirem. E dificilmente retornam. E assim também acontecerá com aqueles ainda de sucesso atual, como Wesley Safadão, Luan Santana e tantos outros. Certamente não farão falta quando houver o esgotamento geral de suas idiotices musicais.
Por outro, um alento, um tipo de boa recordação, já que nem tudo está perdido. E não está perdido pela qualidade musical de um passado que de vez em quando retoma seu lugar. Não diz respeito aos grandes nomes do cancioneiro popular nem dos grandes mestres da MPB, mas tão somente de artistas e músicas que pontuaram e ainda são ouvidos com gosto e saudosismo, principalmente por haverem marcado intensos e amorosos momentos em muitas vidas.
A verdade é que a canção faz bem quando a alma também canta, nem que seja empurrada pela cachaça. E todo apaixonado que toma umas e outras bem sabe o tipo de música que melhor lhe convém. Quem no passado não já ouviu “No toca-fita do meu carro, uma canção me faz lembrar você, acendo mais um cigarro e procuro lhe esquecer”? Ora, Bartô Galeno dá de dez a zero no Safadão, no Esticado, no Mano Walter, em todas as Samira, Márcia Felipe e Marília Mendonça. Todos estes não seriam capaz de fazer corações ainda mais apaixonados com canções assim: “... Ainda ontem chorei de saudade, relendo a carta, sentindo o perfume, mas que fazer com essa dor que me invade, mato esse amor ou me mata o ciúme...”, “Oh meu amado! Por que brigamos? Não posso mais viver assim sempre chorando. A minha paz estou perdendo, a nossa vida deve ser só de alegria, pois eu te amo tanto...”.
Ou ainda o velho e bom Fernando Mendes: “Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer, você só me ensinou a te querer, e te querendo eu vou tentando me encontrar...”. Também um hino antigo de amor cantado por José Ribeiro: “Tens a beleza da rosa, uma das flores mais formosas... Tenho medo que tua beleza de rosa se transforme num espinho, quase morro só em pensar em perder teu carinho. Tenho medo que esta paixão seja uma ilusão sem fim, tenho medo que não sejas a flor do meu triste jardim...”.
Brega para uns, para outros apenas saudade, mas uma musicalidade ainda viva nos corações, e tanto de balcão como de janela, tanto de lua grande como de insônia, pois amor. Amor rasgado, porém verdadeiro.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


Escrevo por que sou silêncio...




A felicidade (Poesia)


A felicidade


Hei de ser feliz
e feliz por que

meu avô
pinicava fumo
falava sozinho
e quanta felicidade

hei de ser feliz

minha avó
catava feijão
debulhava milho
e quanta felicidade

hei de ser feliz

e um dia
meu avô e minha avó
me deram um rosário
para ter felicidade

e o rosário
de toda minha fé
sempre me diz
que sou feliz

e serei mais feliz!


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - o silêncio e a escrita


*Rangel Alves da Costa


Não há escrita sem silêncio. Ou o escritor se impõe ao silêncio ou o grito do mundo atravessa o sentido de sua escrita. Há de se compreender que a escrita tem voz, que grita, que esbraveja, que é pura algazarra. Contudo, nasce silenciosa, apenas balbuciante, sussurradamente, como uma doce palavra de amor ao ouvido. Deve o escritor buscar o silêncio e a solidão. Necessita estar alheio ao mundo para fazer brotar um mundo novo, uma Macondo, um Santana do São Francisco, um Mundaréu. Deve estar distante de tudo para dar vida e sentimentos a tantos que sairão da escrita ao mundo. Que bom que o vento avance e sacoleje a cortina da janela. Que bom se a folha seca passar adiante da vidraça ao lado. Que bom se o açoite da ventania traga zunidos e lamentos. E com a brisa e o sol em poente, apenas o mundo tão necessário ao escritor no seu ato máximo de gozo e prazer, no orgásmico instante de fruição de seu monástico ofício. Daí que quero ter o silêncio agora. Daí que preciso de solidão. Não para mim, mas para criar o mundo que brota em pensamento.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

terça-feira, 22 de novembro de 2016

A BÍBLIA SANGRANDO E SOFRENDO


*Rangel Alves da Costa


A Bíblia se desconfigura, até mesmo sangra e sofre, pela leitura e não obediência a seus preceitos, lições e ensinamentos. Entremeada de regras que norteiam e delimitam a ação humana na vida terrena, pontua ainda as consequências para quem violar seus preceitos. Mas qual sua leitura perante o mundo moderno?
O progresso do homem, a partir da construção de um mundo muito mais humano do que cristão, fez com que muitos de seus princípios perdessem os valores éticos, morais e de conduta segundo os norteamentos sagrados, até mesmo pela impossibilidade de plena subordinação às suas leis. Com efeito, muito há na Bíblia que se distancia e confronta a realidade.
Há, contudo, leis gerais que ainda prevalecem e que servem de base para muitas codificações modernas: não matar e não furtar, sob pena de incriminação penal. Contudo, outras, tais como não cometer adultério, guardar o dia de sábado, não adorar outros deuses, honrar pai e mãe e não esculpir e adorar imagens sagradas, já não são fielmente seguidas pela sociedade moderna.
A própria igreja católica possui altares com imagens de santos e da própria santidade maior. Desde os tempos mais antigos que povos elegem outros deuses nos seus cultos, e muitos seguem unicamente tais divindades. O dia de sábado não é guardado pela sua utilização como útil ao trabalho, ainda que em meio expediente. Poucos são os filhos que continuam honrando pai e mãe, vez que se arvoram de donos de seus destinos e negam sua linhagem familiar. Com relação ao adultério, a própria Bíblia se contradiz na sua observância e o mundo moderno logo cuidou de ter como normalidade tal prática insidiosa. A tipificação penal sobre adultério, pela ineficácia de aplicabilidade, acabou sendo revogada no Brasil.
A Bíblia não menciona expressamente os chamados pecados capitais, que foram disseminados no seio da própria Igreja: orgulho, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça. Mas em Provérbios consta que são consideradas como abomináveis: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam o sangue inocente, coração que maquina planos malvados, pés que correm para a maldade, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia discórdia entre os irmãos.
Os sete pecados disseminados pela Igreja são, na maioria, próprios do ser humano que, em maior ou menor prática, os dissemina nas suas atitudes cotidianas. A mentira e o falso testemunho são tão corriqueiros que dificilmente se obtém alguma prova verdadeira através da palavra, vez que esta sempre tendenciosa, como, aliás, sempre ocorre com a maioria dos seres humanos. E o que mais se observa são corações maldosos, invejosos e que vivem em busca de contentamento pelo mal do próximo.
Mas a Bíblia contém verdadeiros exageros aos olhos modernos. Com efeito, alguns preceitos soam como impraticáveis, inobserváveis, impossíveis de serem considerados como algo que realmente possa ser acolhido. Assim manda oferecer a outra face para ser igualmente atingida, desfazer-se dos bens para ajudar o próximo, silenciar perante as injúrias e abominações, perdoar todo mal e toda pessoa maldosa, dentre outros aspectos. Muito disso é justificado como simbólico pela Igreja, afirmando que a leitura mais aprofundada leva a outro conhecimento das exigências. Mas assim está escrito e é pela escrita que se conhece.
Ademais, determinados costumes citados na Bíblia, e muitos destes tidos como prova de fé e de comunhão, são tidos como absurdos no mundo moderno. Há uma passagem onde o pai, pela fé, só não matou o filho porque um anjo impediu. Há cordeiros e outros animais constantemente sendo imolados perante os altares, e para o agrado de Deus. Em muitas passagens, o sangue jorra em nome dos sacrifícios. Assim, perante a lei moderna, muito do contido na Bíblia se consubstanciaria como ação criminosa.
A verdade é que, forçosamente, muito do livro sagrado foi revogado em nome dos novos costumes e das novas exigências de convívio. Será preciso, pois, depurar seus ensinamentos e acolhê-los segundo a crença e a fé arraigadas em cada pessoa. É esta que faz sua própria lei, moral e de conduta, ajustando-a ao que a Bíblia ensina e diz.
Por outro lado, é o afastamento dos princípios bíblicos que conduz ao desregramento humano. A violência, a barbárie, a verdadeira insanidade, não é fruto somente do afastamento do homem da palavra de Deus. E por isso mesmo a Bíblia sangra e chora toda vez que sua palavra é negligenciada em nome do livre-arbítrio humano. Nem com rédeas o homem conduz sua liberdade, muito menos com o seu senso de arrogância e poderio.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com