*Rangel Alves da
Costa
Em meio ao
mundo masculino quase sempre pautado pelo machismo, torna-se até contraditório
que o homem afirme participar da vida do lar ou realizar determinadas tarefas
que são sempre vistas como de ofício exclusivamente feminino. Neste sentido,
caberia ter como válido o ditado segundo o qual ao homem a porta da frente e à
mulher a cozinha.
Assim, ao
homem caberia exclusivamente ser macho, reprodutor, dono do pedaço, o bom da
boca dentro de casa e da porta pra fora, cabendo à mulher a obediência, o
ofício doméstico, a faxina, o viver para servir ao seu verdadeiro dono. É que a
macheza não permite pegar em cabo de vassoura ou estender uma roupa no varal.
Coisa de mulher, como se o homem fosse de outra espécie que não a humana.
Noutras
palavras, o senhor e sua escrava, aquele que chega e tem de ter à disposição
não só a comida pronta, segundo o seu gosto, bem como uma mulher de pernas
abertas em cima da cama. A mulher não tem querer, opinião ou atitude, pois tudo
na dependência do desejo do homem. Assim ainda se concebe por todo lugar, como
se o relacionamento entre macho e fêmea fosse de escravismo ou de jugo
predatório.
Seria da
normalidade da convivência - segundo o exacerbado machismo - que a mulher
sempre estivesse aos pés do homem, à sua disposição para tudo. Ora, o macho
cospe na sala e a sua escrava tem de acorrer para limpar. O poderoso espalha
cinzas de cigarros sobre o sofá por que sabe que sua submissa logo estará ali
para limpar. O dono do mundo atira a panela fora se o cozido não estiver de seu
gosto. E assim por diante. Do seu lado, à mulher cabe somente a silenciosa obediência.
E assim
certamente por que muitos se comprazem em se revelar exatamente como o homem, esposo
ou companheiro, não deveria ser. Na roda de amigos, jamais fazer com que os
outros pensem que participam da vida do lar, que ajudam nos afazeres domésticos.
O homem veste calça e não saia, logo alguém confirmaria. Ademais, se torna
muito mais empolgante dizer que o único compromisso que o varão possui é não
deixar faltar nada em casa. Tudo como se um lar dependesse apenas de feira ou
de conta paga.
O machismo
- ou a desavergonhada vergonha - acaba impedindo que o homem se expresse como
verdadeiro homem. E como verdadeiro homem por que o que o diferencia da mulher
é o sexo e não a condição humana. Assim, de modo injustificável, para muitos se
torna impensável lavar ou estender uma roupa, sequer as próprias cuecas. Para
outros, será o fim do mundo ou “mulherzice” varrer a casa ou mesmo colocar do
lado de fora o saco de lixo. Nem pensar em fazer comida, cuidar da roupa ou
passar espanador sobre móveis. É como se tornasse menos homem ou diminuísse sua
honradez masculina.
Neste
retrocesso mental, acaba impingindo sobre sua mãe, mulher ou companheira, a
pecha de serviçal de seu machismo. Contudo, será sempre um erro afastar do homem
a sua condição de homem de lar, de cuidado, de preservação de seu ambiente
doméstico ou familiar. E tenho como erro perante as minhas próprias atitudes.
Não só
pela condição de solteiro, mas sempre lavei minhas roupas, passei ferro e
preguei botões, bem como faço pequenas costuras. Sempre fiz minha comida, lavei
os meus pratos, varri a casa e o meu escritório. E sem máquina de lavar, tudo
na mão e em varal sombreado. Do meu guarda-roupa quem cuida sou eu. Sei onde
está uma meia ou um lenço. Não deixo roupa suja acumular nem o pó tomar conta
de tudo.
Nunca
deixei de ser menos homem por causa disso, nunca me caiu qualquer pedaço por
conta disso. Pelo contrário, acrescento à minha condição masculina o senso de
preservação de minha própria pessoa. Ora, quem gosta de mim sou eu. E quem deve
cuidar de mim sou eu. Até que alguém queira me ajudar afastando a poeira de
minha solidão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário