*Rangel Alves da
Costa
Qual
Olimpo o homem imagina habitar? Qual reino celestial está assegurado, desde já,
ao ser? Qual deus, além de simples e mortal humano, o homem imagina ser?
Ademais, a vida é curta, breve demais, para que a pessoa se suponha além de
mero passageiro. E trocar a doce experiência de viver por ilusões doentias,
acaba transformando a passagem em devaneio e dor, ainda que o sujeito se
imagine poderoso o suficiente para a tudo vencer.
Mas tem
gente que nunca aprende a viver ou finge não querer existir perante os bons
ditames da existência. Sempre esquece que ao homem foi permitido existir para
viver com fraternidade, amor, compreensão, compartilhamento. Coisas simples e
que não deveriam ser renegadas por ninguém. Contudo, indaga-se: o que levar o
ser humano a transgredir a si mesmo, forçando ser além daquilo que lhe foi
permitido ser?
Na
possível resposta, algumas enfermidades psicológicas, comportamentais, morais e
éticas. Doenças da honra, da conduta, da atitude, do trato do convívio social.
Muita gente há que não se possa dizer que em completo estado de degradação. E
tudo por que tomada de egoísmos, vaidades, soberbas, desonestidades,
arrogâncias, demagogias, hipocrisias. As hipocrisias, aliás, causam um
surrealismo mortal ao ser humano: cria aparências que são como vermes que,
invisivelmente, vão corroendo por dentro, devastando aos poucos todo veio
aurífero que imagina ser.
Mas não há
como fugir dessa triste realidade. O mundo está cheio de hipócritas. A cada
passo e por todo lugar pessoas fingidas, dissimuladas, falsas, verdadeiros
lobos em peles de cordeiros. Os fingimentos parecem servir como carapaças às
abomináveis verdades escondidas. É próprio dos hipócritas se esconderem em
máscaras e falsas aparências. Sempre medrosos, mentirosos, desleais, não têm
coragem de enfrentar as verdades que se apresentam. Brilhos e luzes nos que
vivem em sombras.
Na
hipocrisia, a máscara brilhosa e fétida. No hipócrita, a perfumada putrefação. Tantas
qualidades em quem só tem defeitos. Tanto querer ser sem nada ser. E pessoas
assim por todo lugar. Hipócrita que se arvora da fartura quando nem tem o pão.
Hipócrita que vive se escondendo nas sombras do poder. Hipócrita que menospreza
o outro sendo um igual. Hipócrita que canta vitória quando pagou pela glória.
Hipócrita que estende a mão e se enoja por dentro. Hipócrita que abraça quando
deseja pisar. Hipócrita que possui duas ou mais faces segundo a situação ou
conveniência.
Hipócrita
que acha que a vida é só o momento presente. Hipócrita que nem olha para trás
para não avistar o amigo que ontem o serviu. Hipócrita que muda de opinião
segundo o interesse. Hipócrita quando o anel no dedo vale mais que o restante
do ser. Hipócrita quando a roupa bonita limita o contato com o de roupa simples
ou rasgada. Hipócrita que se arvora de tudo ser quando nada é. Hipócrita que
mostra o prato cheio do outro, dizendo que é seu, quando o próprio continua
vazio. Assim as hipocrisias.
Assim os
hipócritas. Conheço muita que é assim. A muitos, a riqueza se expressa no luxo,
esquecendo que a verdadeira grandeza reflete através da alma. Eis o mundo de
feras e labirintos, eis a vida onde os de bom coração só são acolhidos aos
olhos do Senhor. A razão do Eclesiastes: Vaidade das vaidades, tudo vaidade...
Não sabendo que o sol nasce e o sol se põe. O que é agora já não será. E ao pó
hás de retornar!
Enquanto
isso, o humilde possui a sua paz merecida, o seu viver honrado e o
reconhecimento pelo homem de bem e aos olhos de Deus. Então, por que forjar um
viver aparente quando a grandeza humana está nas qualidades do ser em si mesmo,
envolvido em verdade e realidade? Pelas ilusões e fragilidades. Quanto mais
fraco o homem mais ele se ampara em sombras inexistentes.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário