SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Palavra Solta – a vida sofrida, o carro-pipa e a lata d’água


*Rangel Alves da Costa


Em grande parte do sertão sergipano a seca já se prolonga por mais de três anos seguidos. Significa dizer que a terra nunca mais viu escorrer água, as fontes e barreiros nunca mais se encheram, as pastagens nunca mais brotaram uma só rama verdosa. Por consequência, o esturricamento por todo lugar, o homem e o bicho sem água e sem alimento, toda a vegetação definhada, o deserto calorento e triste tomando conta das paisagens. Com céu sem nuvens desde o amanhecer ao anoitecer, as chuvaradas e trovoadas vão se tornando em sonhos cada vez mais distantes. Para agravar ainda mais a situação, nem as torneiras estão mais pingando água na região sertaneja. O serviço estatal de abastecimento cobra a conta todo mês de cada residência que possua água encanada, porém não faz derramar nem um pinguinho molhado das torneiras durante dias seguidos, com relatos de até um mês sem que um copo possa ser transbordado. Numa situação tal, o que se observa é um viver tão sofrido como antigamente. Moradores das cidades colocando baldes, latas e vasilhames nas calçadas em angustiantes esperas que algum carro-pipa passe e forneça um tiquinho daquilo que de cima não está caindo. É a pobreza da água, a miséria da precisão da cuia d’água, a plena e total desvalia pelo pão da água. Até que voltem as chuvas, as trovoadas, os relâmpagos, os trovões, a vida em festa. Mas quando?


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

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