SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Palavra Solta – a vela acesa


*Rangel Alves da Costa


O sol se vai. O dia já é de sombras. No tempo, um semblante singelo e entristecido. A ventania já levou a folhagem do dia. A brisa agora sopra seu leve frescor. O varal se embala mansamente. Um grilo canto. Um sino dobra na igrejinha. É chegada a hora da Ave Maria, do instante sagrado onde o dia se abraça à noite perante a fé maior de um povo. Nesta hora de chegada da noite, quando o leve negrume já se estende pelos quadrantes, mãos que buscam a oração. É a hora de um povo orante, de um povo devotado ao sagrado, de um povo expressar sua fé maior. Hora de a mão buscar o rosário, o terço, as contas que percorridas levam à cruz, e que acreditadas levam a Deus. Noite de céu, de anjos, de santos, de Deus. Então, junto ao oratório, a mão acende a vela. Uma vela acesa é portal entre a terra e o céu, entre o beato e o paraíso, entre o cristão e sua esperança maior. Não só uma vela acesa, mas um espelho, uma porta, uma voz, um degrau, uma escada. É preciso alcançar o céu, é preciso conversar com Deus, é preciso remir o pecado, é preciso salvaguardar a alma. Então a vela chameja o encontro. Enquanto o olho brilha na fé e a boca sussurra o encontro, um Deus cheio de luz se mostra na chama. E brilha o mais belo dos brilhos ante a humilde e enrugada face daquele que acredita. E consegue encontrar.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

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