*Rangel Alves da Costa
O sol se vai. O dia já é de sombras. No
tempo, um semblante singelo e entristecido. A ventania já levou a folhagem do
dia. A brisa agora sopra seu leve frescor. O varal se embala mansamente. Um
grilo canto. Um sino dobra na igrejinha. É chegada a hora da Ave Maria, do
instante sagrado onde o dia se abraça à noite perante a fé maior de um povo.
Nesta hora de chegada da noite, quando o leve negrume já se estende pelos
quadrantes, mãos que buscam a oração. É a hora de um povo orante, de um povo
devotado ao sagrado, de um povo expressar sua fé maior. Hora de a mão buscar o
rosário, o terço, as contas que percorridas levam à cruz, e que acreditadas
levam a Deus. Noite de céu, de anjos, de santos, de Deus. Então, junto ao
oratório, a mão acende a vela. Uma vela acesa é portal entre a terra e o céu, entre
o beato e o paraíso, entre o cristão e sua esperança maior. Não só uma vela
acesa, mas um espelho, uma porta, uma voz, um degrau, uma escada. É preciso
alcançar o céu, é preciso conversar com Deus, é preciso remir o pecado, é
preciso salvaguardar a alma. Então a vela chameja o encontro. Enquanto o olho
brilha na fé e a boca sussurra o encontro, um Deus cheio de luz se mostra na
chama. E brilha o mais belo dos brilhos ante a humilde e enrugada face daquele
que acredita. E consegue encontrar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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