*Rangel Alves da Costa
Ela
guardava o diário com o maior cuidado do mundo, dentro de baú, enrolado em
panos, trancado de cadeado. Mas um dia saiu pra missa e esqueceu não só a porta
do quarto aberta como o baú. Talvez avexada para mais uma promessa a Santo
Antônio, o padroeiro das titias e desvalidas de macho, eis que acabou deixando
de passagem aberta seu maior segredo: o baú. Uma sobrinha mais que curiosa, não
demorou muito e enveredou pelo mundo da tia solteirona. Assim que avistou o
baú, logo levantou a tampa para encontrar o diário envolto em mordaças. Então
leu: “Hoje amanheci mais estranha do que outros dias. Sinto-me tomada por um
fogo estranho, me subindo as entranhas, quase me enlouquecendo. Mas sei que é
falta de homem. Se macho eu tivesse, esse meu fogo não queimava desse jeito,
apenas esquentava num calorzinho bom. Mas uma coisa é certa: se esse fogo
continuar não responderei pelos meus atos, pois sou capaz de correr nua atrás
de macho, gritando pela rua que me jogue no chão e me possua. Com fogo ou sem
fogo, a verdade é que qualquer dia farei desse jeito. Já que homem não vem,
então vou atrás de qualquer um...”. A própria sobrinha estremecia ante os
relatos. Mas lhe veio à mente a maldade. Conseguiu uma foto de um homem nu e
colocou na primeira página do diário. Quando a solteirona retornou e percebeu a
imprudência cometida ao ter deixado a porta aberta, a primeira coisa que fez
foi correr em direção ao baú. Ao abri-lo e encontrar o homem nu no seu diário,
arregalou os olhos, estremeceu, e caiu estatelada. Morreu de pernas abertas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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