*Rangel Alves da Costa
Andando pelas ruas mais afastadas da cidade
interiorana onde nasci, eis que ao entardecer avisto velhos amigos sentados à
calçada. Não estavam em cadeiras não, mas no cimento da calçada mesmo, e ali
bem sossegados na aragem boa da hora. Aliás, somente depois que o sol vai
cismando de ir embora é que o entardecer sertanejo se refresca, vez que pelo
dia o calor tomar conta de tudo. Pois bem, todos ali proseando as velhas coisas
de todo dia: a seca, o sol, o bicho sofrendo de fome e sede, a falta d’água por
todo lugar, as antigas vaqueiramas, as boiadas no estradão, os berros pelas
malhadas, os currais cheirando a estrume e bonança. Sobre o presente têm pouco
a dialogar, preferindo mesmo nem tocar em assunto de política, roubalheira e
corrupção. Por isso mesmo que vão tecendo em palavras as velhas memórias e
antigas saudades. Coisas boas demais de seu ouvir. E eu, mais moço que eles,
apenas me deleitando com cada palavra e cada renascer do passado. São os bons
amigos que encontro pelas ruas melancólicas de minha terra, e cuja vivacidade
somente reencontrada no ontem, nos causos, lembranças e proseados desses
senhores tão humildes e tão sábios.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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