*Rangel Alves da Costa
Em tudo há um sinal. No bem e no mal, sempre
um sinal. Ao que faço tão bem e ao que faça mal. Não dá para fugir do que
sempre se mostra como um pedestal.
São os sinais do tempo, os sinais de agora,
arrumar as coisas e dizer que vai embora. E seguir a estrada pelo mundo afora,
acreditando que atrás fica alguém que chora.
São os sinais do tempo, são os sinais de
agora, dizer que só gosta e não dizer que adora, ou fingir sentimentos do peito
pra fora.
São os sinais do tempo, os sinais de agora,
tudo tão volúvel, tudo que evapora, sem nobreza n’alma que tanto implora a boa
virtude de esperar a hora.
São os sinais do tempo, os sinais de agora,
tanto fez tanto faz em tudo o que aflora, pois nada importa se tudo é brinquedo
que se joga fora.
São os sinais do tempo, os sinais de agora, a
insensibilidade que a tudo devora, na incoerência que a verdade deplora,
deixando o ser sem prumo ou escora.
São os sinais do tempo, os sinais de agora,
um navio sem rumo que num porto ancora e saudoso fica das águas de outrora, sem
ter mais destino, pois o mundo o ignora.
São os sinais do tempo, os sinais de agora, o
que estava dentro e foi jogado fora, só pela maldade de mandar tudo embora, até
mesmo o amor que no outro aflora.
São os sinais do tempo, os sinais de agora, que
mesmo a esperança nada revigora, já que tudo desfeito não retorna na hora e o
que foi rejeitado não retorna sem demora.
São os sinais do tempo, os sinais de agora, a
sede de ter tudo e de tudo se arvora, quando o que tem diga que adora, mas o
que não tem logo se assenhora.
São os sinais do tempo, os sinais de agora,
tanto faz a manhã, tanto faz a aurora, o galo que canta parece ter uma espora
que espanta o sorriso e a felicidade desaflora.
São os sinais do tempo, os sinais de agora, e
já não se conhece, já não se namora, tudo é logo na cama e depois vai embora,
fazendo do corpo a honra que se devora.
Será que o tempo só traz amargor, que renega
a paz, que rejeita o amor? Será que o tempo é assim tão atroz, de tamanho
egoísmo que se esquece de nós?
Será que o tempo nos constrói de vento, nos
faz de areia e na cal do tormento, será que ao invés da alegria e prazer,
simplesmente nos doa a dor e o tormento?
Será que o tempo tem borracha à mão e vai
apagando cada passo no chão? Será que o tempo brinca de viver, não dá tempo ao
tempo para que o melhor possa acontecer?
Será que o tempo é relógio quebrado, que ao
invés do compasso vai descompassado, transformando o instante num tempo já
passado e o que passou no que à frente é avistado?
Será que o tempo guarda para mim algo além de
um tempo que tudo seja fim, ou que algum tempo a felicidade porta a porta enfim?
Ou será que me nega até o que há em mim?
Sei que são os sinais do tempo e os sinais de
agora, queria outra fruta, mas só tenho amora, e já não há pomar na minha
aurora. E já não sei se fico ou se já vou embora.
Os sinais de agora atormentam a vida. Da
porta pra dentro só a dor doída. Da porta pra fora a estrada dividida entre o
caminhar e a espera sofrida. Mas são os sinais e não há saída.
Os sinais de agora são como vendavais que
levam os restos e não voltam mais, deixando os lenços estendidos em varais. O
que aqui estava já não será mais.
Os sinais de agora são como profecias, como o
Eclesiastes e suas ironias, que transformam noites em clarões dos dias, pois
tudo se transforma depois das calmarias.
Os sinais de agora são sinais de dor, não há
mais sinal sequer de amor, pois o que se plana é o medo e o horror, e o que se
colherá será de espinhos na flor.
Em tudo os sinais do tempo e os sinais de
agora, não há como fugir ou desejar ir embora, pois tem de suportar a colheita
da hora e o que foi plantado não se joga fora.
Resta ao homem reaprender a viver, não querer
ser além do que merecer, pois tudo está marcado com a sua hora, no sinal do
tempo, no sinal de agora.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com