*Rangel Alves da Costa
A greve dessa última sexta-feira, mesmo não
tendo sido uma explícita manifestação do descontentamento do povo ante as
últimas medidas governamentais, e sim uma tentativa político-partidária, de
viés esquerdista, para desqualificar o governante-mor e ao mesmo tempo fazer
ressurgir o grito de uma oposição combalida pelos fatos, ao menos serviu para
mostrar que parte da população continua acordada acima do berço esplêndido de
alguns.
Os que saíram às ruas com seus gritos e
bandeiras - e muitos destes como vorazes e fanatizados incendiários -, tomaram
as vias públicas como se fugindo estivessem de um terrível monstro marinho.
Como que escapando das procelas, dos dragões, das temeridades do mar, buscavam
a todo custo alcançar a praia para a salvação. Ou seria com medo da tão
propalada baleia azul? Aquela mesma deixando as redes sociais e avançando por
terra para devorar todo mundo.
Não. A população que saiu às ruas e toda a
população brasileira jamais deveriam temer os perigos trazidos pela baleia
azul, pois com ela pactua através do voto. Aliás, a baleia azul do jogo
virtual, ainda que provoque vítimas por onde avança, é muito menos perigosa que
outro tipo de cetáceo de monstruosidade assustadora: a baleia azul dos
governantes. Esta vem, desde muito tempo, avançando do mar planaltino e outros
mares para impiedosamente dilacerar a população brasileira.
Sem atentar para o fato de que essa outra
espécie de baleia é a que realmente vem destroçando a população brasileira, eis
que de repente a sociedade se assusta, entra em polvorosa com o jogo mortal da
baleia azul. Com efeito, essa praga tecnológica vem se disseminando pelo mundo
inteiro e espalhando pânico entre as famílias, professores, psicólogos e tudo o
mais. Tudo por causa dos efeitos nocivos que tal jogo vem provocando entre os
jovens, com mutilações e até suicídios.
No entanto, o sinistro jogo já é um velho
conhecido das famílias brasileiras. Não como o jogado pelas redes sociais, onde
a cada participante são dadas tarefas a serem cumpridas e cada uma mais espantosa
que a outra. Numa tarefa, o jogador tem que se autoflagelar para seguir
adiante, na outra tem que se automutilar, para, enfim, receber a tarefa final:
praticar suicídio. Muito parecido com o jogo que vem sendo desde muito imposto
ao brasileiro.
Ora, não seria de se imaginar que a reforma
da previdência é uma baleia azul imposta de goela abaixo pelo governo federal,
aonde o trabalhador vai se mutilando, se flagelando aos poucos, para depois
saber que talvez nunca se aposente? O trabalho de tantos anos e a desesperança
de não poder aproveitar algum tempo de vida para descansar, não se tornam em
verdadeiro suicídio? Eis o jogo: a pessoa trabalha e contribui, já cansada de
tanto trabalhar para contribuir, ainda assim é exigido que envelheça perto da
morte para se aposentar. Quanto o jogo termina a pessoa já se foi.
A reforma trabalhista não seria uma feroz e
assassina baleia azul? Cogitando-se até mesmo com o fim da Justiça do Trabalho,
refúgio último do trabalhador ante as explorações do empregador, é como se
jogasse o hipossuficiente ao mar e diretamente na boca do monstro. Fragilizando
e retirando direitos do trabalhador, terceirizando os sonhos e as esperanças de
tantos, colocando os acordos entre as partes fortes e frágeis acima da lei
trabalhista (CLT), enfraquecendo a sindicalização e organização coletiva, nada
se faz além de engordar o monstro empresarial e enfraquecer ainda mais a já
combalida e sempre desrespeitada classe trabalhadora.
A baleia azul brasileira jamais perdoou a
população, principalmente a mais carente. Ao abrir sua boca, ao arreganhar seus
dentes afiados, logo surgem aumentos de impostos, de tarifas de água e energia
elétrica, de remédios, da cesta básica, de tudo. E de boca aberta está nas
portas dos hospitais, nas filas desrespeitosas e no atendimento do serviço
público, na crescente falta de segurança pública e no assustador aumento dos
índices de criminalidade e violência. Que baleia mais voraz é essa que sequer
dá um aumento digno de salário-mínimo, e o que dá logo retira através da
diminuição do poder aquisitivo da população.
É esta, pois, a baleia azul dos governantes,
a mesma - marcada na pele, mas nem sempre reconhecida por todos - que sempre
esteve devastando a sociedade brasileira. Como no jogo mortal das redes
sociais, age como num percurso de fragilização até chegar ao depauperamento
total. Parece mesmo que a intenção governamental com suas políticas de
fragilização social, de retirada de direitos e contumazes aumentos da carga
tributária, é mesmo ir retirando o poder de sustentação vital de um povo. E
muitas vezes provocando o extremo de pais de famílias e empresários tentarem
contra a própria vida pela insustentabilidade da sobrevivência.
A baleia azul virtual pode ser combatida com
a negativa do jogo. Mas o que fazer ante a baleia azul governamental? Também
não mais jogar o jogo deles. Ou seja, dizer não aos monstros que surgem dos
mares como salvadores da pátria.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com