*Rangel Alves da Costa
Houve um tempo sertanejo que o tempo
calorento fazia as pessoas dormir de portas abertas sem medo algum de nada. As
portas e janelas escancaradas e nenhum desordeiro ou marginal para surrupiar ou
furtar. Quando o calor apertava mesmo, então esteiras eram estendidas nas
calçadas e os sonos ali adormeciam tranquilamente e sem perigo de qualquer
afronta. Acima de tudo Deus, abaixo de Deus o céu, e o homem em sua proteção
divina, assim se dizia. Era um tempo de sertão feliz, seguro, aprazível demais
de se viver. A não ser a meninada levando fruta de quintal, não se falava em
roubo de nada. Os donos podiam sair e deixar as casas de portas abertas que as
encontravam do mesmo jeito ao retornar. Mas hoje nem muros altos, grades,
cercas eletrificadas, seguram a bandidagem. Ninguém está a salvo do medo e da
violência que hoje imperam sertões adentro. Tanto roubam nas cidades como nas
pequenas propriedades pelos arredores. Levam galinha, porco, reses, o que
encontrarem. Diante de uma situação assim de desmedida insegurança, não há como
não recordar saudosamente daquele mundo de paz e de noites dormidas e sonhadas
pelas esteiras estendidas nas calçadas, debaixo da lua grande.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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