SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 15 de abril de 2017

Palavra Solta – num tempo de esteiras estendidas nas calçadas


*Rangel Alves da Costa


Houve um tempo sertanejo que o tempo calorento fazia as pessoas dormir de portas abertas sem medo algum de nada. As portas e janelas escancaradas e nenhum desordeiro ou marginal para surrupiar ou furtar. Quando o calor apertava mesmo, então esteiras eram estendidas nas calçadas e os sonos ali adormeciam tranquilamente e sem perigo de qualquer afronta. Acima de tudo Deus, abaixo de Deus o céu, e o homem em sua proteção divina, assim se dizia. Era um tempo de sertão feliz, seguro, aprazível demais de se viver. A não ser a meninada levando fruta de quintal, não se falava em roubo de nada. Os donos podiam sair e deixar as casas de portas abertas que as encontravam do mesmo jeito ao retornar. Mas hoje nem muros altos, grades, cercas eletrificadas, seguram a bandidagem. Ninguém está a salvo do medo e da violência que hoje imperam sertões adentro. Tanto roubam nas cidades como nas pequenas propriedades pelos arredores. Levam galinha, porco, reses, o que encontrarem. Diante de uma situação assim de desmedida insegurança, não há como não recordar saudosamente daquele mundo de paz e de noites dormidas e sonhadas pelas esteiras estendidas nas calçadas, debaixo da lua grande. 

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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