*Rangel Alves da Costa
Tempo, tempo, que não venha o vento, que não
venha a chuva, que não venha o musgo, a me devorar. Tempo, tempo, tão longa no
tempo, tão distante na estrada, tão filha do tempo, longa caminhada. E no
silêncio a noite, e no silêncio o dia, e no silêncio todo o tempo que o tempo
tem. Tempo, tempo, quanto desprezo pela minha existência, como se tudo eu fosse
e fosse nada. Tudo eu sou quando em cima de mim querem repousar, quando sobre
em mim querem jogar o mundo, quando no meu leito querem chorar suas dores.
Tempo, tempo, sei que tenho a palavra, sei que tenho o verbo, mas ninguém quer
ouvir. Ouço vozes acima de mim, ao meu lado, mas sou silenciado quando quero
falar. Ora, dizem que a pedra é nada, que a pedra é estorvo onde ela esteja. De
repente lançam armas pontas nas minhas costas, então lanham, então quebram,
então me dividem. E em silêncio continuo com a minha dor. Apenas uma pedra,
apenas uma pedra. E um dia o profeta meditou sobre o mundo bem sobre os meus
braços. Um dia um viajante parou para descansar e meditou sobre a vida e a
morte. Eu quis falar, mas ele não quis ouvir. Ninguém fala com a pedra. Esquecem,
contudo, que todos eles são mais pedras que eu, que são muito mais petrificados
que eu. Esquecem eles que apenas viram pó, que somem de tudo. E eu, ainda que
como pó seja levada ao vento, nas paredes do tempo abrirei meus braços para a
eternidade, pois o homem vira pó, mas a pedra renasce pedra do próprio pó. E pó
sobre pó, a petrificação, uma nova pedra.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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