*Rangel Alves da Costa
Comadres até certo. Vizinhas até certo ponto.
Amigas até certo ponto. Confidentes até certo. Fofoqueiras, sim. Mentirosas,
sim. Mexeriqueiras, sim. Intriguentas, sim. Descaradas, sim. Desocupadas, sim.
Assim são as comadres. Comadres sem batismo de ninguém, apenas pela força da
expressão e na tentativa de fortalecer o vínculo da fofoquice, da aleivosia, do
não ter o que fazer. Comadres que são vizinhas mesmo, que são conhecidas, que
estão sempre presentes por todo lugar. Ora, uma boa fofoqueira não pode deixar
passar nada em branco. Ademais, o que não encontra como verdade, inventa como
mentira. Comadres derreadas nas janelas, paradas nas calçadas com vassouras à
mão, destrinchando a vida dos outros por cima dos muros. Comadres que se
esquecem dos afazeres do lar para esmiuçarem a vida do próximo. “Veja comadre,
como aquela ali tá barrigudinha. Será?”. “Comadre, a amiga já soube da maior,
pois saiba agora: Fulaninha deixou o marido. Não sei se é verdade, mas dizem
que foi por causa de Zé Oião”. “Comadre, fia de Deus, estou sem acreditar. Me
contaram em jura que a fia de Zé Lió embuchou e desembuchou adespois que o pai
dixe que ou perdia o fio ou a porta de casa era a seuventia”. E assim vão as comadres
nos seus ofícios injuriosos de todo dia e de toda hora do dia. Até o dia de uma
já estar falando mal da outra e vice-versa. E de repente é uma chamando a outra
de puta, de safada, de gaiteira. E a outra respondendo que não passa de uma
zinha, de uma quenga xibiuzenta. E as vias de fato, as calçolas furadas à
mostra, os cabelos puxados, duas balofas rolando pelo chão, em atracamento que
nem trator desaparta.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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