SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 31 de maio de 2018

ENTRE SOMBRAS E SÓIS



*Rangel Alves da Costa


Acima digo da sombra e do sol, mas poderia dizer do dia e da noite, da luz e da escuridão. Contudo, não se trata de avessos ou opostos, mas apenas para indicar a outra feição existente numa mesma face, Ora, a sombra é o mesmo sol transformado.
Cada ser que nasce traz consigo uma manhã radiante. Não importa que seja em berço rico ou pobre, pois o que se concebe é a luz da vida indistinta em cada um. Pois bem, a sua luz vai se intensificando com as forças da adolescência e se transforma em verdadeiro sol na maturidade. Mas a partir daí vai se tomando de sombras até ser envolvido pelo negrume do tempo.
Por mais bela que seja a vida, por mais vivenciada que ela seja, ainda assim não será sempre sol no percurso da existência. As sombras existirão desde os primeiros anos, mas são quase imperceptíveis diante da pujança da idade. Mas assim que os obstáculos comecem a surgir e a serem reconhecidos e sentidos, então os sombreados estarão a cada passo e por todo lugar.
O que é a alegria, a felicidade, o contentamento, a vida em fulgor, que não o sol em seu máximo esplendor, brilhante, intenso, radiante? Mas até quando uma vida tão prazerosa e cheia das melhores realizações? Até o instante que a própria vida deseje ou que o ser humano semeie as sombras que lhe alcançarão.
O ser humano é sol, o ser humano é brilho, é estrela maior, é luz essencial em tudo. Contudo, haverá de compreender que nada brilha intensamente o tempo todo, nada consegue se manter fulgurante em dada existência. Assim como o fogo se transforma em chama e depois recrudesce para se transformar em brasas e cinzas, até adormecer apagado, assim também o sol humano.
O próprio sol, aquele que está lá em cima e surge ao amanhecer para iluminar o dia, já não é mais o mesmo a cada novo nascer. A cada nascer o sol está com menos força, com menos brilho, com menos intensidade de luz. Três gerações inteiras não perceberão as mudanças, mas a verdade é que o astro maior está esfriando cada vez mais. E chegará o dia de não ter mais um raio de luz sequer.
Ora, se o sol também morrerá, quiçá os reles mortais. Não se discute tal inevitável fadário, mas a percepção humana de sua própria condição de fragilidade. O sol de antigamente era mais quente, mais arrebatador, mais pulsante. O sol de hoje, mesmo que ninguém perceba, já está muito mais frio. E o ser humano como vai se transformando da infância à velhice?
Mesmo que não deseje reconhecer, inevitável que os sintomas do esfriamento do sol humano sejam mais que perceptíveis. O encorajamento, a aptidão, a destreza, o vigor, a rigidez corporal, a saúde, o apetite sexual, a coordenação motora, a percepção de realidade, tudo isso vai se transformando no homem com o passar dos anos. E para onde caminha senão para as sombras?
A pessoa não percebe bem nas primeiras manifestações, mas as sombras vão surgindo ao seu redor desde ainda jovem. Mesmo que se imagine sempre tomada de sol, a ausência de luz vai se tornando cada vez mais rotineira. A verdade é que é o próprio sol que acaba confirmando a presença de sombra. Esta só existe em função daquela, e por isso mesmo tudo que impeça a luz estará permitindo a presença da sombra.
E muitas são as sombras que acabam acompanhando a caminhada humana. Aquelas provocadas por imaginar que somente o sol brilharia sobre si, aquelas chamadas pelo próprio homem e aquelas inevitáveis depois de toda luz pela estrada. E de repente até o sol do meio-dia deixará de brilhar. E feito sombra às sombras se unirá em busca de qualquer luz. Mas já é noite. E só resta o luar entre nuvens.


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Lá no meu sertão...


Sertão solidão



Sem amor (Poesia)



Sem amor


O amor
se eu já tivesse
nunca pedia

se eu já amasse
não esperaria

se eu já cansasse
não correria

se eu já negasse
não imploraria

seu já beijasse
não entristecia

seu eu já amando
não sonharia

o amor
se você me desse
eu aceitaria.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta – nós dois



*Rangel Alves da Costa


Nós dois... Por que não há lua sem poesia, não há orvalho sem a pele da folha, não há brisa sem a canção que chega. Nós dois... Por que não há lápis sem o seu caderno, não há fogo sem o calor da chama, não há primavera sem jardim florido. Nós dois... Por que não há saudade sem haver imagem, não há recordação sem haver moldura, não há desejo sem haver esperança. Nós dois... Por que não semente sem haver o grão, não há terra sem haver o chão, não há perfume sem haver fragrância. Nós dois... Por que não há carinho sem haver afeto, não há carinho sem haver o toque, não há abraços sem haver afago. Nós dois... Por que não há mel sem o beijo da abelha, não há o sol sem haver a luz, não há o dengo sem o cafuné. Nós dois... Por que não há açúcar que não traga doçura, não há encontro sem ter a procura, não há o prazer sem o gosto que dá. Nós dois... Por que nós dois somos a soma de um. Um mais um num só amor e num só coração.


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quarta-feira, 30 de maio de 2018

LEMBRANÇAS DA CASA



*Rangel Alves da Costa


Ah, as lembranças da casa. E como doem as lembranças da casa. Como são doces e alegres, dolorosas e torturantes as lembranças da casa. Era rica ou pobre, era de barro ou tijolo? Não precisa saber. Era lar. E tudo.
A casa. Lar que era vivo e transbordante  nos tempos idos, com portas e janelas abertas, pessoas chegando e saindo, fumaça subindo da lareira e cheiro de café torrado ao entardecer.
A casa. O ninho familiar, com pessoas vivendo os seus destinos, compartilhando instantes de alento e desalento, sem imaginar quanto o tempo vai transformando a existência, tornando solidão aquilo que era tão presença.
“Menino cuidado com pingo de chuva, pra cair gripado e febril é num instante. Menina venha cá arrumar essas bonecas dentro da casinha. Pensa que boneca de pano não tem sentimento, é? Maria coloque o café no pilão e depois estenda a roupa no varal...”.
“Zezinho, já avisei que não quero ver você subindo sozinho naquele cavalo alazão. O bicho ainda tá brabo, arreliento, e é arriscado por demais que desembeste com você em cima. Também não quero que saia por aí de arapuca na mão pra pegar passarinho. Tem cobra e bicho perigoso por todo lugar. Se quiser brincar que vá correr na malhada com seu cavalo de pau ou cuidar da sua fazenda de ponta de vaca...”.
“Mãe, Zezinho roubou o cabo de minha vassoura. Mãe, eu vi Aninha pegar seu talco de pó pra botar nas bonecas dela. E também saiu do quarto com uma alfazema escondida. E também ouvi quando conversava com uma boneca e dizendo que um príncipe encantado qualquer dia vai aparecer na janela do quarto dela. E que vai mandar o bicho-papão ficar debaixo de minha cama...”.
“Cale a boca vocês dois. Mas quem já se viu duas criaturinhas iguais a vocês duas. Um vem e diz que a outra fez isso, a outra vem e diz que o outro fez aquilo. Mas que coisa mais feia. Agora venha cá Zezinho, e depois venha você Aninha, pois quero saber direitinho dessas histórias. E vão preparando o lombo...”.
Os anos foram passando e a movimentação na casa continuava intensa, mas as vozes tomavam outros tons, os gritos já não eram da criançada nem dos pais ordenando a convivência. Outras palavras, e até alvoroços, começaram a se espalhar pelas paredes e arredores.
“Corra, corra Zezinho, vá chamar o doutor. Aninha se apresse aqui, me ajude a abanar sua mãe que parece sufocada, sem um pingo de ar. Abra a janela, tire essa cortina da porta. Faça uma garapa, traga aquele chá. Abane aqui que ela parece que nem pode mais respirar...”.
“Corra aqui pai, chega, venha logo pelo amor de Deus. Não estou sentindo mais nenhuma respiração. Será que ela morreu, será que ela morreu? Responda, será que ela morreu? Ela não pode morrer, ela não vai morrer. Será que ela morreu? Responda, responda pelo amor de Deus...”.
No mês seguinte o pai não suportou a dor do luto e também faleceu. Estava de lenço à mão sentado numa cadeira na varanda quando pendeu a cabeça para o silêncio da vida. Parecia sorridente na feição envelhecida mil anos em poucos dias. Quando a filha encontrou-o assim, talvez já caminhando em busca de sua amada, pela última vez um grito ecoou na casa.
Foi o último grito, mas cujo som continua ecoando nas sombras escondidas do passado. Apenas os dois irmãos continuando ali, apenas as palavras inevitáveis eram pronunciadas.
“Não suporto mais viver aqui nesse sofrimento. Vou embora daqui. Vou morar na casa de Tia Tonha, lá na cidade. Só tenha pena de lhe deixar sozinho aqui. Nessa idade e ainda não pensou em casar. Parece que nossa sina é viver na solidão pela vida...”.
“Também vou sentir muito sua falta. Mas também sei que não pode continuar nessa situação de desalento. Ninguém vive feliz numa casa que só traz tristeza e dor no coração. Olho pro lado e parece que vejo nossa mãe, olho pra outro e sinto a presença do nosso pai. E eles olhando tudo pelos retratos na parede. Mas vá. Também não vou demorar aqui não. Vou vender tudo, entregar a sua parte e depois penso que estrada tomar...”.
Vendeu a casa. Quem a adquiriu nunca usou como habitação. Os anos foram passando e tudo envelhecendo, se deteriorando, numa dolorosa paisagem. As janelas abertas, a porta caída. Folhagens mortas sendo levadas pelo vento e ali fazendo moradia. Tudo abandono e solidão, apenas a ventania zunindo triste ao redor.
Quando chegava o entardecer um cheiro forte de café torrado era sentido por quem passava ao redor. E vozes, e vozes na noite. E depois um grito desesperado. E novamente o silêncio dos tempos.
E tudo nos idos da memória que alegra e chora. Tudo na relembrança daquela casa, tudo na folha do tempo, tudo no sopro do vento.


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Lá no meu sertão...


O Sertão tem Memória!




Da saudade (Poesia)



Da saudade


Sim, entristecido andei
por velhos caminhos
que um dia eu já passei
se não no meu passo
mas nos antepassados
do que sou e que herdei

entristecido sim
por não mais reencontrar
o pai do pai do meu pai
a mãe da mãe de minha mãe
nem mesmo aqueles meus
que já partiram em adeus

então na solidão eu chorei
sentindo a falta de tudo
daquilo que meu pai dizia
daquilo que minha mãe fazia
enxugando lenço na saudade
e sem ter quem tanto queria.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta - nem tudo é gasolina



*Rangel Alves da Costa


Nem tudo é gasolina. Nem tudo é combustível. A vida não existe num posto nem debaixo de uma bomba. Nem tudo é gasolina e nem tudo é combustível. O mensageiro grego percorreu mais de cem quilômetros para dar uma simples notícia. A guerra já tinha acabado quando ele chegou. Já pensou se o carteiro chegasse de carro ou de moto em cada casa, e casa após casa? Os enamorados não chegariam furtivamente, no silêncio da noite, acaso seu passo fosse não máquina e de tanque cheio. Será que o homem desaprendeu a andar, a correr, a caminhar? Será que o homem não pode ir à esquina comprar um pão se não for no seu veículo possante? Quem subam então as montanhas nas suas máquinas. Que se deliciem nos picos mais altos dos montes nas suas máquinas. Por que não sobem ao Everest, ao Himalaia e às Montanhas Sagradas, nos seus importantes? Simplesmente porque a felicidade da vida somente se alcança no passo, na caminhada, no sentir o calor da terra sobre os pés. O motor é invenção humana, a máquina é invenção humana, mas a coragem do homem não. Então que se encoraje para viver a vida andando, correndo, caminhando em direção ao alto do monte, da montanha sagrada.


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terça-feira, 29 de maio de 2018

VIVER NO MATO



*Rangel Alves da Costa


Ainda tem gente que não desgarra de seu pedaço de chão de jeito nenhum, ainda que a cidade chame a todo instante. Ama sua terra, ama seu pedacinho de chão, seu cercado e seu jeito simples de viver e sobreviver.
Gente que nasceu e cresceu e ainda vive e convive com a mesma feição sertaneja de antigamente. Nada parece mudar. O tempo passa, tudo voa, muito se renova, mas o viver sertanejo permanece desde o beiral da estrada de chão à cancela adiante.
Da cancela adiante a porta e a janela, o batente largo, o silêncio das horas. Parece não haver morador. Mas há. Logo sobe um cheiro vindo da cozinha, o som de uma panela, uma voz qualquer. Oi de casa! Oi de fora, eis a resposta.
Assim cheguei à casa de um já envelhecido sertanejo, um dos maiores caçadores já nascidos naqueles carrascais sertanejos, pessoa de valor e nobreza reconhecidos por todos. Um homem e seu mundo, ou aquele que a distância matuta à dureza violenta do asfalto.
Moradia de Seu João de Laura, no Riacho Largo de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo. Agora pergunto: Há cena mais singela e cativante que esta?
Um fogão de lenha sobre um estrado de barro batido. Cinzas espalhadas pelo que restou da lenha preparando comida.
Um vasilhame enegrecido de tempo e cinzas em cima do beiral da boca. Pedaços de telhas quebradas com a serventia de encobrir os restos da madeira e do carvão.
Uma lona velha, de um azulado empoeirado, estendida ao lado para proteger da ventania e da chuva, como se ali a chuvarada até se esquecesse de chegar.
E, bem juntinho ao fogão adormecido, em cima da leveza das cinzas mortas, um galo sem pressa de nada. Sonolento, descompromissado com qualquer cantar. Apenas ali, apenas aí.
Mais adiante uma meia-cerca de madeira velha, pedaços de paus levantados e arvoredos emoldurando a vida. Restos, tocos, troncos, pedaços espalhados ali e acolá.
Dos braços da madeira descem sacos, baldes, quinquilharias. Um saco que alguma serventia já teve no passado. Certamente um feijão batido, um milho despigado, uma alegria com qualquer colheita.
Uma planta em caqueiro sem idade pende da madeira e desce num girau de quatro costados tortos. Talvez assim, nesse mesmo jeito e na mesma feição, dia após dia.
O fogão de barro nem sempre é usado, somente quando a panelada é de demora em cozinhar. No barro do fogão a face da pedra. Até racha pelo fogo e pelo calor, mas nunca se esbagaça.
Fogão de barro e lenha para muita serventia. Um quarto de bode para muita visita, uma feijoada pra família que chega, um cozido diferente para sair da rotina do mesmo prato do dia após dia.
Abaixo de tudo a terra, o chão sertanejo como lastro de tudo, os passos fincados desde os tempos idos. Um chão entremeado de areia e pó, de terra e poeira, de aridez e barro batido pelo passo do tempo.
Um chão que um dia foi caminho de Lampião e seu bando. Uma terra abrindo passagem para antigos caçadores, para vaqueiros e animais soltos e de cria, para os caminhos sertões adentro e mais além.
Sertões onde se espalhavam os umbuzeiros, as umburanas, as craibeiras, os marmeleiros, as quixabeiras, as catingueiras muitas, os tufos de pau. Tudo num tempo de mata e de floração ao longe.
Sertões do nambu, do preá, da codorna, do caititu, do veado do mato, da seriema, da rolinha fogo-pagô, até da onça e do bicho grande. Rastros apenas perdidos nos idos, veredas de ninhadas e locas que já não existem mais.
Certo que muito mudou e até a mata já escasseou. O bicho de caça sumiu de vez. A terra já não produz como antigamente. O desmatamento aumentou o calor e trouxe o sol para fazer moradia na varanda de cada um.
A permanência na terra, contudo, é uma questão de amor sem igual. A obstinação pela terra, pela casinha de barro ou de qualquer sustentação, é uma opção amorosa para não deixar de acordar ainda na madrugada escurecida e adormecer com a noite ainda menina.
Nunca há riqueza de luxo, mas também em lugar nenhum é encontrada riqueza igual. O luxo e o prazer da vida ainda na paz, o contentamento de estar sentindo a terra aos pés e o bicho de cria roçando a mão. Um viver assim que Seu João de Laura sequer sonha em desapartar.
E tem gente que ainda diz que é casa de pobre. E tem gente que ainda olha pra tudo e quase renega o olhar. E tem gente que não sabe o que é a vida. E tem gente que não conhece o viver sertanejo. E tem gente que sequer reconhecer a grandeza - em toda singeleza e simplicidade - desse mundo sertão.


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Lá no meu sertão...


Havia um calango ali, eu vi. Escondeu-se na loca enquanto eu sentei na pedra. Mas depois ouvi o calango falar: Calor da peste aqui, saia logo daí...




Já é tarde



Já é tarde


Vai que já é tarde
não que seja escuridão
ou que a noite já venha
mas porque o seu tempo
o tempo da felicidade passou
e você do amor sempre duvidou

então agora siga e vá
ainda é cedo mas já é noite
para quem faz do sol um breu
e jamais quis a bela luz do amor
preferindo semear mil discórdias
naquele que pelos dias te iluminou.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta - “fia da gota teimosa...”



*Rangel Alves da Costa


“Tá, se existe um pessoa teimosa tá ali, sem outra igual. Se existe outra ainda tá pra nascer, mas certamente nunca igual a essa fia da gota. a muié é a teimosia em pessoa, é a ruindade em forma de gente, é o capricho na pele e no osso, é a pirraça nascida em pessoa. Por teimosia, se o mundo for por um lado ela vai pelo outro. Por capricho, se alguém disser que é doce ela diz que é salgado. Por pura encrenca, se alguém pedir para não fazer uma coisa é igual a dizer que faça. Fia da peste, uma gota serena mesmo, uma fia do cabrunco que só serve pra ir de encontro a tudo, parecendo ter o maior prazer do mundo de encrencar, de embirrar, de ser contra tudo e todos. Uma febrenta mesmo, como dizia o velho Quelé. E dizia que nem burra de carga era igual a ela, pois a burra se dava um jeito na vara, mas ela nem com chicote de couro cru. Contava tia Jureminha que existia uma moça tão teimosa, mas tão teimosa mesmo, que o namorado deu um anel de ouro e ela não aceitou, pois dizendo que só queria de latão. Quando viu à sua frente logo dois anéis de latão, então cismou que só queria de ouro. Então o namorado, imaginando que já sabia como resolver o problema, então comprou um de ouro e outro de latão. Mas ela não quis de jeito nenhum. Cismou que só queria se fosse uma corrente de prata. A encrenca em pessoa, a teimosia em forma de gente, uma fia da gota mesmo...


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segunda-feira, 28 de maio de 2018

A VIDA SEM GASOLINA



*Rangel Alves da Costa


A greve já duradoura dos caminhoneiros e o desabastecimento de combustíveis, aliados às espertezas dos brasileiros, vêm provocando situações mais que inusitadas.
Como num filme onde a falta de água faz com que a população trate o precioso líquido como bem mais valioso, travando guerras e promovendo ataques, por aqui a falta de combustível nos postos não só colocou os carros em repouso nas garagens como fez surgir estranhíssimas ilicitudes.
E assim porque tem gente que não quer ficar sem rodar com seu veículo de jeito nenhum. Fala-se em tráfico de gasolina e óleo diesel. Fala-se em sequestro de galões de gasolina, de pessoas e até de caminhões transportando combustíveis.
E muito mais. Fala-se em pagamento de até mil reais por um galão de vinte litros. Fala-se em roubo e furto de gasolina. Fala-se em laboratórios clandestinos trabalhando a todo vapor para produzir gasolina. E a certeza de enriquecimento no dia seguinte ao anúncio do invento.
Coisas mais que surpreendentes, pois se fala em invadir países vizinhos e tomar seus postos de combustíveis à força. Muito rico já está providenciando grandes e longas tubulações vindas diretamente das refinarias dos países vizinhos.
Fala-se em gente saindo às ruas com relógio de ouro e gritando que troca por cinco litros de gasolina. Pelas calçadas, já fácil avistar móveis e geladeiras, eletrônicos e importados, e tudo com inscrição bem visível: tudo por vinte litros de gasolina.
Fala-se até em assalto à mão armada aos donos de veículos que ainda ousam trafegar. O cara vai, coloca a arma no rosto do condutor e diz “ou a gasolina ou a vida”. Ou ainda: “É um assalto mano, passe aí todo o gás desse carango”.
Sem invencionice, muitas queixas já foram prestadas dando conta de furto de gasolina. Relata um desses boletins que um senhor esqueceu no carro a carteira com notas graúdas de dinheiro, notebook e celular, mas deixaram tudo e levaram a gasolina.
Já outra relatou que foi sequestrada e o resgate nada mais era que dez litros de gasolina. Passou dois dias em poder dos sequestradores por que sua família não conseguia juntar o combustível.
Na zona sul tomaram de assalto um carro novinho importado. Mais adiante foi encontrado com o tanque vazio. Não queriam o carro, apenas a gasolina. De outro carro levaram até o tanque inteiro.
Luzita Boca de Veludo, dona de um cabaré, teve uma ideia genial. Como a clientela estava sumida, então ela colocou abaixo da luz vermelha uma faixa: Venha trocar o óleo que a gasolina é garantida!


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Lá no meu sertão...


Ao lado de amigas do meu Poço Redondo



O que fazer? (Poesia)



O que fazer?


O que fazer
se tudo é você
você e você
e tudo a perder?

o que fazer
se sua teimosia
é infeliz rebeldia
e provoca sangria?

o que fazer
se tudo já fiz
e empina o nariz
e ama e não diz?

só posso fazer
deixar como está
adiante caminhar
pra trás nem olhar.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta - primeira lágrima da noite


*Rangel Alves da Costa


Não vou chorar, jurei o dia inteiro. Hoje não vou chorar, repeti e repeti. E assim por que havia tomado uma decisão que contextualizava não só o pranto como toda e qualquer tristeza. Simplesmente decidi não fazer da noite um livro amargamente aberto para tristezas, saudades, angústias e aflições. Já estava sem suporta de toda noite ter aquele funesto livro diante dos meus olhos, aberto em minhas mãos, bem dentro do coração. Não. Eu não queria mais isso de jeito nenhum. Por isso mesmo que cheguei ao entardecer com a certeza de que dali em diante nada seria como antes. Sim, eu estava alegre, feliz, contente. Nem a falta de gasolina por todo lugar tinha o poder de diminuir minha felicidade. Mas eis que o tempo foi passando, as horas avançando, os minutos e segundos batendo à porta da noite. E ela chegou, a noite. E de repente começou a chover. Aqui a agora chove. Tudo mais escurecido, mais silenciosamente inquietante, mais triste. E eu, eu com a primeira lágrima da noite!


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domingo, 27 de maio de 2018

SENHOR GOVERNADOR, O QUE É CULTURA, O QUE É HISTÓRIA?



*Rangel Alves da Costa


O indeferimento pelo governo de Sergipe, no último dia 16, de uma solicitação feita através de ofício, e este encaminhado pela Associação Cultural Memorial Alcino Alves Costa, objetivando apoio/colaboração/patrocínio para o evento Cariri Cangaço Poço Redondo 2018, já demonstra bem como o poder trata a cultura e a história. Lamentável que assim tenha acontecido, mas aconteceu.
Contudo, mais lamentável ainda a justifica de falta de recursos e contenção de despesas, quando se conhece muito bem a verdade do outro lado, principalmente em ano eleitoral e quando o pleito se avizinha. Noutro dia mesmo, na mesma cidade de Poço Redondo, o governador e farta comitiva se banqueteavam em cavalgada e guloseimas eleitoreiras. Ou será que a comitiva governamental tira do próprio bolso essa gastança toda?
Não há dinheiro para cultura, não há dinheiro para evento histórico-cultural, não há dinheiro para nada que não seja para fins eleitoreiros, esta a verdade e tem de ser dita. O ofício encaminhado e indeferido não foi solicitando colaboração para festa de sofrência, arrocha ou micareta. O que o governo negou foi a colaboração a um evento de amplitude regional, pois atraindo a Poço Redondo pesquisadores, escritores, turistas e uma gama de pessoas que sabem da riqueza cultural, geográfica e histórica do sertão sergipano.
Certamente que a cultura não dá voto, a história não dá voto, o que realmente interessa, engrandece e valoriza o sertão não dá voto. E quando o poder gostou do conhecimento, da sabedoria, da educação? E quando a política gostou daquilo que não seja o clientelismo, o favorecimento, a compra de votos, a manipulação de consciências em nome do poder? A negativa ao apoio, colaboração ou qualquer outro nome que se queira dar, não partiu da iniciativa privada ou grupo empresarial, mas de um governo estadual.
E por que esse mesmo governo estadual mantém secretarias de cultura e turismo se não investe nem apoia nem a cultura nem no turismo? Apenas como cabides de emprego? Quando um governo nega a sua riqueza interior, espalhada em cada canto e recanto do litoral e além, está desvalorizando o próprio estado que governa e suas potencialidades. Investir em cultura e turismo não é apenas criar secretarias, mas principalmente dar condições para que alcancem os seus objetivos.
Saiba, senhor governador, que Poço Redondo possui muito mais que cavalgada e falsas lideranças que chegam apertando sua mão. Saiba, senhor governador, que Poço Redondo é muito mais que um cavalo selado e colocado à sua disposição para o tropel demagógico, é muito mais que a cervejama que desce e os segredos trocados ao pé do ouvido. Poço Redondo, senhor governador, vai muito além do que vossa senhoria chega lá com intenção de fazer.
Poço Redondo possui potencialidades históricas, culturais e geográficas, que certamente o senhor não conhece e nem tem a mínima preocupação de conhecer. Ora, interessa a cavalgada, o microfone, o discurso politiqueiro e a promessa. Não interessa saber de sua história, de suas riquezas naturais, de sua pujante cultura. Talvez lhe falte um bajulador para dizer que toda vez que pisa naquela terra está pisando o chão sagrado de Alcino, está na Gruta do Angico, no Quilombo da Guia, na Serra da Guia, no Morro da Letra, na Cachoeira do Bom Jardim, na Fazenda Maranduba e a vindita entre cangaceiros e volantes, no Casarão de Bonsucesso, na terra de Zé de Julião, do Mestre Tonho, de Dona Zefa da Guia. Está pisando na Capital da Cultura do Cangaço e de onde saíram nada menos que 34 filhos para o mundo cangaço.
Quando o Cariri Cangaço escolheu Poço Redondo para sediar um de seus encontros anuais, o fez pela riqueza histórica e cultural existente no município. O que se denomina Cariri Cangaço não se volta apenas para o estudo, a pesquisa e a discussão de temas envolvendo o cangaço, mas de uma imensa gama de aspectos relacionados ao Nordeste brasileiro: messianismo, coronelismo, religiosidade, misticismo, cultura local e regional, etc. Trata-se de um seminário permanente, formado por estudiosos, pesquisadores e escritores, sempre buscando novos conhecimentos e novas vertentes históricas.
O Cariri Cangaço é um evento de cunho turístico-cultural e histórico-científico, configurando-se como o maior e mais respeitado evento do gênero no país. Reúne, a partir de uma programação plural, dinâmica e universal, personalidades locais, regionais e nacionais, do universo da pesquisa e do estudo das temáticas propostas. E se materializa através de palestras, debates, visitas técnicas, apresentação de documentários, exposições de arte, lançamentos e feiras literárias. E em Poço Redondo, com o tema “Celebrando o Chão Sagrado de Alcino”, o que haverá é uma celebração, uma grande festa da cultura, da história e das riquezas desse recanto sertanejo agora negado pelo senhor governador.
Saiba, pois, senhor governador, que ao negar apoio ou qualquer tipo de colaboração ao evento, vossa senhoria incorreu no gravíssimo erro de tratar o conhecimento como coisa sem nenhuma importância. Sob uma justificativa pra boi dormir, a atitude tomada não foi só desrespeitosa como aviltante à cultura e à história sergipana, principalmente de Poço Redondo. Mas vossa senhoria está convidada a participar. Será entre os dias 14 e 17 de junho próximo. Cavalo pra montar e politicar não tem não, mas um povo que ama sua terra o senhor vai encontrar.


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Lá no meu sertão...


Ex-votos nas Cruzes dos Soldados - Estrada de Curralinho, Poço Redondo/SE





Passo ao paraíso (Poesia)



Passo ao paraíso


Sim, sim
se eu te quero
e você me quer
não foi o acaso
que traçou assim
se não foi junção
tudo era fim

sim, sim
se eu te olhei
e você me olhou
não foi incidente
ou coisa banal
mas linha escrita
mostrando o sinal

e dizendo
dar as mãos é preciso
então sigam
encontrem o paraíso!

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta - a igrejinha de Antônio Conselheiro no Cariri Cangaço Poço Redondo 2018


*Rangel Alves da Costa


IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE CURRALINHO, IGREJA DO CONSELHEIRO, IGREJA DA RIBEIRA DA FÉ, IGREJA DO ALTO MAJESTOSO DO VELHO CHICO. Tanto nome e um só nome: IGREJINHA DE CURRALINHO. Do seu majestoso alto, sob as bençãos do Velho Chico, um dos momentos mágicos do Cariri Cangaço Poço Redondo 2018. Nas alturas de sua calçada, a aclamação ao Conselheiro, a voz se elevando para contar a história de um povo através da fé. E nas palavras os passos antigos abrindo veredas, abrindo os caminhos, a saga do Conselheiro e suas andanças pelos sertões sergipanos, pelo chão de Poço Redondo. Na manhã do dia 15, será na calçada desta igrejinha a primeira palestra do grandioso evento, e pelos arredores os sertanejos e os visitantes encantados com tudo e todo maravilhamento. E a igreja, de roupa nova por dentro e por fora, de anel dourado no dedo e flor brotando na cruz lá no alto, a todos abençoará e dirá: Venham a mim, sempre. Curralinho e Poço Redondo merecem eternizar essa festa em suas vidas!


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sábado, 26 de maio de 2018

LA LUNA



*Rangel Alves da Costa


Estava lendo um poema. La luna o seu nome. E dizia assim: La luna, mulher e lua. Um nome e uma luz. Um beijo na face e um olhar dourado. Ela está lá em cima,  la luna. E quem dera que aqui estivesse, mulher...
A lua de ontem também estava um poema. Minha la luna de solidão. Ela estava cheia, imensa, belíssima e misteriosa. E também perigosa, segundo os crentes nas interferências lunares.
Creio na magia da lua cheia, no seu imenso poder de atrair, envolver, transformar. Basta um simples olhar para a sua face e algo misterioso surge diante do olhar. E também na mente.
No ser humano, é a mente que mais sofre influência da lua cheia. Como é a mente que irradia todas as forças e propensões pelo corpo, então todo o ser passa a ser submetido ao poder daquela luz imensa.
Tento avistá-la apenas na sua beleza, na sua luminosidade indescritível. E trago tal grandeza para o romantismo que aflora, para a nostalgia que ressurge, para a poesia do instante.
Eis que, indubitavelmente, a lua cheia faz o amante ficar propenso a mais amar, o saudoso a entristecer ainda mais, o poeta a encontrar versos jamais imaginados em outras fases lunares.
Eis que a lua cheia desperta a emoção, sentimentalismo, reencontro. Ninguém é capaz de mirar tamanha esfera dourada e se fazer de forte ou de alheio ao que ela forçosamente transmite.
Eis que ninguém consegue simplesmente mirar a lua cheia e depois retornar o olhar sem trazer na íris todo um mistério indecifrável, toda uma força que poderosamente age pelas entranhas adentro.
Nesta noite não pude, pois numa cidade sem campo aberto ao redor, mas gostaria de ter esperado essa lua do alto duma montanha ou em cima de uma pedra grande. E abrir os braços e erguê-los para o alto como se desejasse abraçar toda a luz.
E conversar com a lua cheia, dialogar com seus segredos e mistérios, me confessar escravizado diante do poder de sua luz. E somente assim conseguir sair de lá sem me deixar levar por aquele clarão. E subir e subir, ou descer e descer...
Fico imaginando quanta ação dessa lua perante homens, animais, águas e todos os elementos da terra. Tenho a máxima certeza que não há um só elemento sobre a terra, um só grão de areia, que naquele momento não estivesse sendo afetado pela força e poder da lua cheia.
Os loucos, coitados, mais enlouquecidos ainda, transtornados e transformados, envoltos no dilema de querer subir a qualquer custo até alcançar o imenso anel. E assim porque atraídos para o amor da lua, para a paixão da lua, para o inexplicável da lua.
Os loucos, pobres coitados, tentando a todo custo fugir daquela luz chamejante, buscando se esconder para não ter de mirar aquilo que se alastra para ferir, machucar, dilacerar a alma.
Mas não consegue, pois nada consegue se esconder ou fugir da lua cheia. Os loucos se amarram a objetos, trancam portas e janelas, correm para esconderijos, mas nada disso surte qualquer efeito. E de repente já estão do lado de fora, com as mãos sobre a cabeça, gritando, já sem forças para evitar que ela os chame ao alto.
Sob o clarão do luar, os apaixonados se ajoelham, os amantes se tornam vorazes, as inocências só pensam em pecar, os pecados afogueiam os corpos, os copos são transbordados, os seres se entregam sem medo.
Nas distâncias das águas os barcos e velas naufragam com a força das ondas, com os movimentos revoltosos dos azuis. Os cais são povoados por seres estranhos, de pessoas que vagueiam perdidas, e todas desejosas de ir beber da luz do luar sobre as águas.
E eu nem sabia mais o que fazer. A noite tão bela, a lua tão cheia, a lua chamando, e fui. Segui até a janela para novamente voltar o olhar para o alto e ver se na lua avistava o eu poeta que já havia sido chamado. E tive que reencontrá-lo lá em cima.
Minha la luna estava lá em cima. E eu apenas aqui. Apenas aqui.


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Lá no meu sertão...


Um sertão, uma estrada, um cachorro...



Louco amor (Poesia)



Louco amor


Se me vem o amor
sinto um arrepio
mudo então de cor
sou camaleão
me vejo em rubor
o sal de minha boca
tem outro sabor
e anestesiado
sorrio na dor
se sinto amor

se o amor aumenta
fico desvairado
um lobo arredio
uma cão acossado
solto minha garra
e tão desgarrado
que uivo bem alto
todo extasiado
amante insano
um apaixonado.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta - claro-escuro, madrugada...



*Rangel Alves da Costa


Claro-escuro, madrugada... A noite não se foi e o alvorecer já veio. Um meio termo na dúvida do dia. Uma luz escura, um claro escuridão, um tanto de sonho e um despertar. Ainda madrugada, pois escuridão, mas porta aberta para o amanhecer. Já não durmo nem estou acordado, um meio termo nessa solidão. Uma chuva caindo, um negrume no céu, uma fresta de luz, uma nuvem encoberta, um tempo tristonho. Os silêncios gritantes e as ruas tão nuas, as janelas fechadas e os vazios escondidos. E dono desse mundo assim, como somente eu estivesse vivo e reinando em tudo, apenas caminho rumo ao meu quintal. Acender o fogo, tomar um café, ligar o chuveiro e me deixar molhar. Mas não. A chuva caindo me chama aos espaços, joga fora minhas roupas e me deixa em nudez. O café fica pra depois, a tristeza também. Sou apenas menino, sou apenas moleque. Numa madrugada e o menino em seu mundo, deixando que as águas lhe tomem inteiro. Somente depois o homem prepara seu café, sorve sem pressa de nada, acende um cigarro e lança seu olhar ao ainda melancólico e triste, ao ainda chuvoso e solenemente angustiante. E depois chora.


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sexta-feira, 25 de maio de 2018

VERSOS EM MINHA HOMENAGEM



*Rangel Alves da Costa


No dia de ontem, 24 de maio, já no descambar do entardecer, eis que pelo Facebook, a partir de uma solicitação de amizade feita instantes atrás, de repente eu vejo um pedido de postagem na minha linha do tempo. Prontamente fui lá verificar do que se tratava. E que surpresa maravilhosa encontrei.
Tratava-se de um poema do sergipano Joésio Menezes, nascido em Tobias Barreto, porém morando em Brasília, intitulado “A UM POETA FILHO DO NORDESTE”, preliminarmente afirmando ser “Uma singela homenagem ao poeta sergipano Rangel Alves da Costa”.
Plenamente agradecido, cheio de alegria e contentamento, transcrevo o poema pelo qual fui homenageado pelo amigo Joésio:

A UM POETA FILHO DO NORDESTE
(Joésio Menezes)

Em toda a minha vida,
caríssimo poeta Rangel,
essa foi a primeira vez
que li uma prosa em cordel!...
E sabe o que aconteceu?
Esse belo texto Teu
provou que és um Menestrel!

És um artista nato,
um poeta verdadeiro,
representante ilustre
do Nordeste brasileiro,
região sem outra igual...
E no aspecto cultural,
das artes é um grande celeiro.

Não me causa nenhum espanto
esse teu grande talento.
No Nordeste é sempre assim:
todo dia nasce um rebento
com enorme capacidade
de mostrar sua genialidade
tendo a arte como instrumento.

Mas sei o quanto sofre
o artista nordestino
para mostrar seu talento
a um público “cretino”
de pessoas interesseiras
cuja índole traiçoeira
é de bajuladores genuínos.

Por isso, nobre Poeta,
não desistas!... segue em frente!
Mostra ao mundo tua arte
e a Cultura da tua gente!
Mostra a todos que o Nordeste
é um celeiro inconteste
de artistas competentes!

O artista nordestino
- que não se cansa de lutar
pelo pão de cada dia
para os filhos alimentar -
traz nas veias o labor
e no peito um amor
que não se podem comparar...

Pois bem, caro Rangel,
não se zangues nem contestes
Quando disserem que és
um grande “cabra da peste”,
pois isso é um sinal
de que te acham genial,
um nobre “Filho do Nordeste”...

Poeta Joésio Menezes


Grato. Comovido. Muitíssimo obrigado, amigo Joésio.


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Lá no meu sertão...






Cangaceiros e atrevidos, AVANTE!




Amor e ódio (Poesia)



Amor e ódio


Amo demais
e odeio demais
depois de dizer
te amo
posso dizer
te odeio

não é questão
de mudar
ou não saber
se odiar ou amar
mas apenas
sentir se a ferida
está curando
ou se continua
sangrando

e latejando
não há fingir
que me torne
amando.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta - chove...



*Rangel Alves da Costa


Ao menos agora, de nenhum modo quero que me venham notícias da greve, do atropelamento do governo e do chamamento dos militares para acudir um governante que vai de ladeira a baixo, e já deveria ter descambado de vez desde muito. Quero pensar mais nisso não. E não por que agora chove. E se é noite e chove, então que todos os problemas do mundo vão para onde bem desejarem. Perto de mim, na minha mente, no meu pensamento, perante o meu olhar, somente a magia da chuva. E agora chove. É noite e chove. Sozinho estou, mas não tem nada não. Gosto mesmo da solidão enquanto chove. É quando é noite e quando chove que me romantizo, que me poetizo, que lacrimejo, que sinto saudades, que desenho na vidraça o coração desamado, ou saudosamente distante. Agora chove e a chuva lá forma me chama ao silêncio, à meditação, ao reencontro comigo mesmo. Estendo meus braços além do portão e sinto os pingos querendo lavar minha alma. E vou. Irei até o quintal e, desnudo de toda moral imoral do mundo, deixarei que as águas caiam sobre mim e me embalem como criança que deseja apenas viver seu instante.


Escritor
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