*Rangel Alves da Costa
O indeferimento pelo governo de Sergipe, no
último dia 16, de uma solicitação feita através de ofício, e este encaminhado
pela Associação Cultural Memorial Alcino Alves Costa, objetivando
apoio/colaboração/patrocínio para o evento Cariri Cangaço Poço Redondo 2018, já
demonstra bem como o poder trata a cultura e a história. Lamentável que assim
tenha acontecido, mas aconteceu.
Contudo, mais lamentável ainda a justifica de
falta de recursos e contenção de despesas, quando se conhece muito bem a
verdade do outro lado, principalmente em ano eleitoral e quando o pleito se
avizinha. Noutro dia mesmo, na mesma cidade de Poço Redondo, o governador e
farta comitiva se banqueteavam em cavalgada e guloseimas eleitoreiras. Ou será
que a comitiva governamental tira do próprio bolso essa gastança toda?
Não há dinheiro para cultura, não há dinheiro
para evento histórico-cultural, não há dinheiro para nada que não seja para
fins eleitoreiros, esta a verdade e tem de ser dita. O ofício encaminhado e
indeferido não foi solicitando colaboração para festa de sofrência, arrocha ou
micareta. O que o governo negou foi a colaboração a um evento de amplitude
regional, pois atraindo a Poço Redondo pesquisadores, escritores, turistas e
uma gama de pessoas que sabem da riqueza cultural, geográfica e histórica do
sertão sergipano.
Certamente que a cultura não dá voto, a
história não dá voto, o que realmente interessa, engrandece e valoriza o sertão
não dá voto. E quando o poder gostou do conhecimento, da sabedoria, da
educação? E quando a política gostou daquilo que não seja o clientelismo, o
favorecimento, a compra de votos, a manipulação de consciências em nome do
poder? A negativa ao apoio, colaboração ou qualquer outro nome que se queira
dar, não partiu da iniciativa privada ou grupo empresarial, mas de um governo
estadual.
E por que esse mesmo governo estadual mantém
secretarias de cultura e turismo se não investe nem apoia nem a cultura nem no
turismo? Apenas como cabides de emprego? Quando um governo nega a sua riqueza
interior, espalhada em cada canto e recanto do litoral e além, está
desvalorizando o próprio estado que governa e suas potencialidades. Investir em
cultura e turismo não é apenas criar secretarias, mas principalmente dar
condições para que alcancem os seus objetivos.
Saiba, senhor governador, que Poço Redondo
possui muito mais que cavalgada e falsas lideranças que chegam apertando sua
mão. Saiba, senhor governador, que Poço Redondo é muito mais que um cavalo
selado e colocado à sua disposição para o tropel demagógico, é muito mais que a
cervejama que desce e os segredos trocados ao pé do ouvido. Poço Redondo,
senhor governador, vai muito além do que vossa senhoria chega lá com intenção
de fazer.
Poço Redondo possui potencialidades
históricas, culturais e geográficas, que certamente o senhor não conhece e nem
tem a mínima preocupação de conhecer. Ora, interessa a cavalgada, o microfone,
o discurso politiqueiro e a promessa. Não interessa saber de sua história, de
suas riquezas naturais, de sua pujante cultura. Talvez lhe falte um bajulador
para dizer que toda vez que pisa naquela terra está pisando o chão sagrado de
Alcino, está na Gruta do Angico, no Quilombo da Guia, na Serra da Guia, no Morro
da Letra, na Cachoeira do Bom Jardim, na Fazenda Maranduba e a vindita entre
cangaceiros e volantes, no Casarão de Bonsucesso, na terra de Zé de Julião, do
Mestre Tonho, de Dona Zefa da Guia. Está pisando na Capital da Cultura do
Cangaço e de onde saíram nada menos que 34 filhos para o mundo cangaço.
Quando o Cariri Cangaço escolheu Poço Redondo
para sediar um de seus encontros anuais, o fez pela riqueza histórica e
cultural existente no município. O que se denomina Cariri Cangaço não se volta
apenas para o estudo, a pesquisa e a discussão de temas envolvendo o cangaço,
mas de uma imensa gama de aspectos relacionados ao Nordeste brasileiro:
messianismo, coronelismo, religiosidade, misticismo, cultura local e regional,
etc. Trata-se de um seminário permanente, formado por estudiosos, pesquisadores
e escritores, sempre buscando novos conhecimentos e novas vertentes históricas.
O Cariri Cangaço é um evento de cunho
turístico-cultural e histórico-científico, configurando-se como o maior e mais
respeitado evento do gênero no país. Reúne, a partir de uma programação plural,
dinâmica e universal, personalidades locais, regionais e nacionais, do universo
da pesquisa e do estudo das temáticas propostas. E se materializa através de
palestras, debates, visitas técnicas, apresentação de documentários, exposições
de arte, lançamentos e feiras literárias. E em Poço Redondo, com o tema
“Celebrando o Chão Sagrado de Alcino”, o que haverá é uma celebração, uma
grande festa da cultura, da história e das riquezas desse recanto sertanejo
agora negado pelo senhor governador.
Saiba, pois, senhor governador, que ao negar
apoio ou qualquer tipo de colaboração ao evento, vossa senhoria incorreu no
gravíssimo erro de tratar o conhecimento como coisa sem nenhuma importância.
Sob uma justificativa pra boi dormir, a atitude tomada não foi só desrespeitosa
como aviltante à cultura e à história sergipana, principalmente de Poço
Redondo. Mas vossa senhoria está convidada a participar. Será entre os dias 14
e 17 de junho próximo. Cavalo pra montar e politicar não tem não, mas um povo
que ama sua terra o senhor vai encontrar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário