*Rangel Alves da Costa
A infância é a única fase da existência que
continua existindo em meio às outras estações da vida. Chega a juventude e a
meninice permanece. Chega a fase mais adulta e a criança continua persistindo
no ser. Chega a velhice e o menino retorna em sua força, principalmente por que
ao se alcançar a velhice longa, ao mesmo berço o ser humano retorna, aos mesmos
cuidados de mãe o velho se entrega. Mas eu sou menino sempre, muito mais menino
que qualquer outra idade que eu possa ter. Já tenho um pouco mais de cinquenta,
mas não abro mão de ainda conviver com minha meninice. Bem sei quantos motivos
ásperos rondam a vida com suas responsabilidades. Bem sei quantas dores pelos
caminhos de espinhos há de se caminhar. Ora, mas se eu fosse me entregar às
preocupações tantas deste desumano mundo, sequer tempo de viver eu teria. Por
isso abdico dessa e de qualquer idade para ser ainda o menino daquela fase da
vida passada. Ao invés de chorar de tristeza, eu corro, brinco, solto pipa no
ar. Ao invés de andar tomado de nervosíssimos e irritações, eu vou viver o
mundo dos passarinhos, eu andejo pelos jardins e quintais, eu tomo banho de
riacho e chego a cantar debaixo da biqueira em dias de chuva. Ao invés de
brigar com o mundo, de fazer da insensatez uma ilusória defesa, eu me lambuzo
no doce, ei jogo bola de gude, peço aos outros meninos que me emprestem seu
cavalo de pau. E não estou nem aí para o que digam de mim. Tanto faz. Quero
apenas ser menino. E sou.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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