*Rangel Alves da Costa
Dia das Mães. Ou dia de todas as mães, vivas
e presentes ou ausentes pela partida. Mães separadas de seus filhos pelas
circunstâncias da vida ou mães que não faz muito tempo se foram em lágrimas
ainda choradas. Mães que não são apenas aquelas que gestaram filhos, que os
trouxeram ao mundo entre choros e alegrias, mas que desde a primeira semente
cativaram e cultivaram os seus como a boa terra com seu grão.
Mães que sofreram as dores e as aflições da
gravidez e jamais desapartaram de seus ventres os filhos mesmos nascidos e já
crescidos. Mães de cuidados, de cuidadosos banhos e fraldas quentinhas, de
loções e lavandas, de pós e infindáveis carinhos. Mães de ninar, mães de
cantar, mães de acordar no meio da noite diante de qualquer ruído ouvido. Mães
aflitas pelo choro pequenino, pelo corpo febril, pela enfermidade de seu
filhinho.
Mães do esmero na papinha, no mingau, no
leito materno colocado na boquinha como primeiro alimento. Mãe pobre e
desesperada, de berço de bambu, de esteira, de molambo, mas sempre mãe. Mãe que
sente todo o seu filho dentro de si. Mas que não desaparta um só instante para
que não sinta preocupação e saudade. Mãe que tanto se orgulha em ver seu filho
tomado banho, perfumado, arrumado e fotografado para a posteridade.
Mãe que ansiosamente aguarda o primeiro
aniversário de seu filho. Sempre aquela mulher orgulhosa de sua cria. Mãe que
silenciosamente chora por ter tão pouco a dar àquele que merece sempre mais para
crescer saudável. Mãe que muitas vezes não tem leite nem farinha, não tem fralda
nem remédio, não tem qualquer coisa que minimize a pobreza, mas que se
reinventa na sua força materna para que seu filho sempre adormeça sem o choro
da barriga vazia.
Mãe que se eterniza como mãe, em amor
infinito enquanto durar. E que sofre toda vez que o filho já crescido abre a
porta para sair, que se atormenta esperando seu retorno, que em preces e
orações pede que Deus sempre proteja o seu. E que só dorme depois da certeza
que o seu filho retornou em paz. E que tantas vezes se vê diante dos inesperados
da vida e por isso sofre todas as dores de mãe.
Assim uma mãe, desde a gestação ao
nascimento, num mundo entremeado de alegrias e sofrimentos, mas nada que lhe
seja mais importante que o orgulho de mãe. Um orgulho bom que se faz perfaz em
amor tamanho que nada da vida pode superar a grandeza de tal sentimento. Por
isso mesmo que ela continua tão presente depois da ausência da terrena. Eis que
toda mãe é imortal: nenhuma morte jamais conseguiu levar total uma mãe. Ela
sempre está ao lado do seu.
Drummond, nosso poeta maior, assim resumiu
essa eternidade de mãe no poema Para
Sempre:
“Por que Deus permite
Que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite
É tempo sem hora
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E a chuva desaba
veludo escondido
Na pele enrugada
Água pura, ar puro
Puro pensamento
Morrer acontece
Como o que é breve e passa
Sem deixar vestígio
Mãe, na sua graça
É eternidade
Por que Deus se lembra
- Mistério profundo –
Fosse eu rei do mundo
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca
Mãe ficará sempre
Junto de seu filho
E ele, velho embora
Será pequenino
feito grão de milho”.
Todas as mães são, assim, poemas. Tristes,
belos, melancólicos, felizes, nostálgicos, amorosos, saudosos, fraternais. Mas
todas em versos de um poema: Mãe nasceu para fazer nascer, e nunca perece nos
frutos brotados...
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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