*Rangel Alves da Costa
Graças a Deus que não sou um Paulo Coelho, um
Dalai Lama, um Padre Fábio de Melo, um escritor qualquer de autoajuda. Graças a
Deus por que odeio suas frases de efeito e que nada dizem senão o mesmo
açucaramento derramado em mel.
Qual o efeito de uma frase de efeito, vinda
de reconhecida personalidade, mas que expressa o nada, sim, apenas o nada? Tanta
frase de feito sem efeito eu tenho lida, que juntei abaixo minhas próprias
frases. E todas sem efeito.
Leiam - acaso desejem - e imediatamente
esqueçam, pois, como dito, não surtirá efeito nenhum. Aquelas frases adocicadas
não possuem efeito alguma, quem dirá estas que surgiram apenas como lacuna ao
ócio ou por não ter mesmo o que fazer. Mas vamos a elas:
Os pés não são as mãos. Uns caminham, outras
seguram. Mas há quem segure com os pés e caminhe com as mãos. Tudo depende da
arte ou do cansaço.
As pessoas só não esqueceriam que possuem
família se nos seus sobrenomes fossem grafados até quinta geração. Algum dia
elas iriam querer saber o porquê daquele Santos, daquele Silva, daquele Costa,
daquele Sacramento.
Não ter dinheiro nem na conta nem no bolso
possui suas vantagens. De vez em quando a pessoa tem de deixar a ilusão de
riqueza para sentir a pobreza na pele, no desejo, no querer ter e não poder.
Não troco um proseado com um velho sertanejo
por dez livros técnicos ou acadêmicos. Prefiro a palavra da sabedoria ao
linguajar mofo e incompreensível. Preciso de lição viva e não daquilo que eu só
entenderia se perdesse meu tempo procurando cada termo no dicionário.
A juventude é um livro aberto. Eis aí o
perigoso. Por isso mesmo a existência de tantas páginas rasgadas, ao sabor das
ventanias e dos desatinos, em outonos perdidos e sem esperança de alcançar
outras estações na vida.
Perguntaram-me o que era o amor e então
respondi que é o desamor. Perguntaram-me se eu estava enlouquecendo por
responder assim, então respondi que sim. Enlouquecido por um amor tronado em
desamor.
Não há retrato mais fiel que o trazido e
exposto pela saudade. Na saudade, o amor é amor, a dor é a dor, o sofrimento é
o sofrimento, a morte é a morte. Não será saudade acaso chegue com outra face
ou outra feição.
Não tem fome quem não come outra coisa que
não seja o prato de nome esquisito. Tripa assada mata a fome, ovos com salsicha
mata a fome, farinha com rapadura mata a fome, resto de panela mata a fome,
qualquer comida mata a fome. É preciso mostrar que não abre mão do strogonoff
depois de dois dias sem fome. Duvido que não implore uma batata podre.
Quem beija na boca e se lambuza não sabe
beijar, já dizia a menina que um dia voou. E como ela subiu aos céus, passeou
entre as nuvens e depois suavemente pousou? Quando beijou leve, suave, doce e
levemente enamorada.
O verdadeiro Deus não é o Deus do acaso, da
igreja ou das escrituras. O verdadeiro Deus está no templo do coração. Não é um
Deus de todos, pois um Deus próprio. Não é um Deus que está no céu, mas que
vive dentro e na presença daquele que o reconhece como o Deus de sua vida.
Falar sozinho e pensar em silêncio fazem o
mesmo efeito. As palavras são as mesmas, os diálogos são os mesmos. A única
diferença está no poder de voo. Elas só podem voar quando a boca as solta de
qualquer modo e pede que vão, ao longe, buscar sua significação.
Mais que correto o ditado dizendo que nem um
dia sem uma linha. Isso mesmo. Escrever, escrever, escrever. Ainda que só se
consiga escrever coisas sem importância como as avistadas acima.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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