*Rangel Alves da Costa
Nada fácil prestar contas de 2019. Uma tarefa
cujo troco sai mais amargo do que o imaginado. Entre perdas e ganhos, como se
muito de mim tivesse chegado à beira da falência.
Mas tudo bem. A gente nem sempre ganha.
Ademais, as realidades da vida são de um comércio tão injusto que a gente perde
achando que está lucrando.
Nem tudo perdido, porém. E ainda bem. A vida,
o ato de continuar vivendo, sempre será o lucro maior que se tem. E quando o
viver está acompanhado de saúde, então não há que se reclamar.
Nenhuma novidade de monta. Nem subi ao alto
da escada nem permaneci no reles do chão. Olhei muito para o alto, e sempre
como se quisesse alcançar além. As dificuldades nos degraus, contudo, impediram
tal escalada.
Amei e desamei. Fui apaixonado e
desapaixonado. Muito beijei e também ressequei o lábio. Tive prazer e tive dor.
Na junção dos sorrisos com as tristezas, sempre a mistura de tudo em qualquer
instante.
Nada havia me prometido que não consegui
realizar. Não me prometo nada. Vou apenas vivendo, fazendo, tentando construir
castelos. Alguns se mostram de areia, outros permanecem como espelho da luta.
Não comprei carro nem fiz nenhuma viagem dos
sonhos. Também eu não havia me prometido nada disso. Não enchi os meus dedos de
anéis nem perdi a conta de cifras em contas bancárias. O mesmo que eu tinha na
entrada do ano é o mesmo que continuo tendo.
Não sou de mágoas, de ódios nem de rancores.
Não juntei nada disso e agora não guardo nada que me permita revanches. Sou de
paz e de concórdia, talvez suportando mais do que deveria. Mas assim mesmo.
Como diz a canção e o poema, a verdade é que
eu deveria ter vivido mais, namorado mais, brincado mais, ter sido mais menino
do que sempre fui. Eu deveria ter olhos de mais poesia, ter braços mais abertos
para os abraços, ter palavras mais amigas e mais ecoadas. Eu deveria ter feito
muito mais.
Contudo, comigo levo – e sempre aberto – o Livro
do Eclesiastes. Sei que depois da alegria vem a tristeza, depois da seca vem a
chuva, depois do amor vem a solidão, depois da palavra vem o silêncio. De nada
disso eu jamais pude fugir.
E assim o ano passou. 2019 acabou e agora a
janela já se abre para 2020. Esperar o melhor, sim. Desejar o melhor, sim. E
fazer o melhor também. É preciso construir, edificar sempre. Fazer e viver!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com