SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 31 de agosto de 2017

ADEUSES


*Rangel Alves da Costa


O adeus, quando deixando marcas no coração de quem fica, já é motivo suficiente para o entristecimento e a desesperança. Adeuses desejando retorno, adeuses sem ao menos imaginar a possibilidade de reencontro, adeuses chorosos e lacrimejantes pela certeza de ter sido aquela a última visão. E na partida, apenas a distância de uma estrada e uma porta que talvez nunca mais seja aberta para o reencontro, o olhar e o abraço.
Mas também há outros adeuses nos instantâneos da vida. Pessoas que passam, cativam no olhar, sorriem com a alma, mas já vão seguindo adiante para um nunca mais. E no vulto sumindo, nos passos sumindo, apenas a vontade de reencontrar. Revoadas assim todos os dias. Como pessoas e pássaros de arribação que vão sumindo em adeuses pelos horizontes.
De repente me vejo imaginando sobre situações aonde os breves encontros já chegam acompanhados de adeuses. Pessoas são avistadas, olhadas, diferenciadas pelo olhar, causando boas e estranhas sensações, trazendo consigo algum tipo de relembrança, mas num instante já desaparecem em meio aos outros ou nas distâncias da estrada.
Com as folhas mortas também acontece assim. E igualmente com borboletas, colibris e flores da estação. Tudo surge num instante para não mais serem avistados. As folhas passam em voo pela janela dizendo adeus. Em época primaveril, os visitantes chegam a voar pelo quarto, a pousar no umbral da janela, a fazer rasantes sobre o umbro e a cabeça, como se fizessem um carinho de despedida.
Pessoas existem que surgem diante do olhar de modo espantosamente diferenciado. Ao encontrá-las é como as estivessem apenas reencontrando, pois de feições aparentemente conhecidas de algum lugar, de algum passado, de alguma outra situação de vida. Olhar no olhar, e tudo parecendo em comunhão espiritual. Contudo, de repente passam, seguem, vão embora sem uma palavra sequer.
Em meio à multidão, numa rua qualquer de capital, de repente o olhar divisa outro olhar na distância. Há muitos olhos ao lado, nas proximidades, mas o olho encontra exatamente um de alguém que está meio à floresta de gente. Aproxima-se um pouco mais, mas ao chegar mais próxima tem a certeza que não conhece aquela pessoa. Contudo, tem máxima certeza que a conhece de algum lugar, de um algum instante de vida. Mas de onde?
Também é muito comum que o olho se espante ante o avistado. Surgem cenas tão impressionantemente marcantes que a pessoa sequer deseja se desapartar daquele instante. Um pedinte numa porta de igreja, uma criança que passa ao lado da mãe e lança um olhar e um sorriso tão profundos que mais parece um presente abençoado. No entanto, ao olhar novamente o menino, já não o encontra mais com a face voltada em olhar e sorriso.
As folhas velhas ou fragilizadas pelas ventanias, já caem dizendo adeus. São lenços que se estendem pelo ar e depois jazem encharcados pelos canteiros. Folhas mortas, enferrujadas, envernizadas de tempo, que pouco tempo atrás vicejavam no alto, simplesmente caindo inertes sobre o leito encharcado de restos de outras folhas. São os adeuses daquilo que um dia foi viço, foi seiva, foi verdor, foi natureza em flor. Mas em partida lenta e melancolicamente poética.
Um velho que dava milho aos pombos na praça do antigo palácio, certa feita me confidenciou uma coisa. Disse o homem em sua sabedoria: Conheço todos os pombos daqui. Sei os que chegam e sei os que partem e não voltam mais. Acostumaram tanto com minha presença que quando aqui chego já os encontro ao redor desse banco. Se o banco está ocupado, sequer se aproximam. E quando vou embora, não demora muito e eles também levantam voo. De repente vou seguindo e um pombo pousa bem no meu ombro.
O pombo adiou sua despedida, seu voo, seu adeus daquele dia. Mas nem sempre acontece assim. Os olhos e o coração testemunham as partidas sem retorno e os adeuses que se eternizam na saudade.


Escritor
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Lá no meu sertão...


Sertão paisagem




Minha flor (Poesia)


Minha flor


E me vem a dúvida mais cruel
escolher entre o jardim e o amor
espada mortal de sangue e fel
ter que decidir se flor ou flor

avisto o jardim de bela flor
e a flor do amor em resplendor
mas se a mais bela hei de escolher
escolho a flor brotada em você

e já não duvido de minha flor
pois em teu jardim a flor do amor
e levo um buquê em minha mão
com rosas vermelhas à uma flor.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - parece mentira


*Rangel Alves da Costa


Parece mentira. Contando ninguém acredita. Parece mentira, mas não é não. Já se vão mais de cem anos que caço, cato e futuco, uma vestimenta de vaqueiro para colocar no Memorial Alcino Alves Costa e não encontro. Ninguém doa, ninguém empresta, ninguém vende. Será que em Poço Redondo nunca existiu vaqueiro, nunca existiu gibão, nunca existiu peitoral, nunca existiu perneira, nunca existiu esporas? Mas não é só isso não. Já desde mais de duzentos anos que estou com dois manequins, um masculino e um feminino, prontos pra vestir de cangaceiros. Serginho Rodrigues já doou a roupa do cangaceiro, mas falta a da cangaceira, bem como os chapéus estrelados, os embornais, as alpercatas, as cartucheiras, os cantis, os adornos e tudo o mais. Se eu fosse todo dia atrás de quem já prometeu, certamente ia endoidar. E já faz mais de trezentos anos que tento firmar algum tipo de parceria ou convênio que ajude nas despesas de manutenção e de funcionamento, mas não tem jeito. Seria a forma de o Memorial abrir as portas todos os dias, ampliar seu acervo e proporcionar melhor atendimento à população. Mas tem nada não. Sonhei mil anos em abrir as portas do Memorial. E nem quinhentos anos de falta de apoio ou colaboração irão me impedir de manter viva, ali na casa da esquina, a memória de Alcino, de Dona Peta, de Poço Redondo, do Sertão. A minha memória.




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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

DESMUNDO


*Rangel Alves da Costa


No mundo do Desmundo, o mundo existente só tem razão de ser quando o seu povo já perdeu o poder de contradizer ou contestar o que está revirado de pés à cabeça. Chega um tempo em que a sociedade se torna tão alienada, tão submissa e escravizada perante determinadas situações, que nem o fogo queima mais a pele nem a ponta de espinho fere mais o pé. O que doer na alma se esta moldada à aceitação do sofrimento?
É que o povo cria mundos estapafúrdios e vai se acostumando com o extravagante, com o grotesco, até com a incoerência e a irracionalidade. Quando não é um mundo criado pelo próprio povo, o mesmo passa a ocorrer pela aceitação ou pela assimilação. Significa dizer que de repente aquilo que seria absurdo perante outros mundos e outras realidades, afeiçoa-se ao cotidiano, ao dia a dia de aceitação e de subserviência ou que foi concebido com validade ou simplesmente imposto.
Desmundo, pois, é o mundo desse mundo já chegado ao fim pela perda absoluta de reconhecer-se em seus valores ou de buscar na anormalidade sua normalidade. Desmundo é fim de mundo, mas um estágio final perceptível apenas pelos que estão de fora ou ainda não foram inseridos naquela realidade. Eis que dentro desse mundo revirado, tosco, às avessas, os sofrimentos são como suspiros de amor e as dores da alma são apenas prazeres predestinações. Talvez algo parecido com um país que sequer se reconhece mais.
Quando Maurício Babilonia apareceu e foi logo de porta adentro, trazendo um buquê de flores para Meme, e atrás de si um bando de borboletas revoava em manto, ninguém disse nada, pois tudo tido como normal. Quando a bela Remedios subiu aos céus num sorriso satisfeito como se viva estivesse, ninguém disse nada, pois tudo tido como normal. Nada de anormal parecia acontecer em Macondo durante os Cem Anos de Solidão.
O anormal ou o avesso em tudo, sempre será visto como normal onde o seu povo assimila tal realidade. Não há espanto nem surpresa se o mundo revirado pareça estar na posição mais correta. Assombro causará se outra forma de repente surgir para dizer que não é assim, que tudo está errado, que tudo tem de ser diferente. É como se os valores reencontrados já não servissem perante os conceitos perdidos.
Quando a cidadezinha de Manarairema passa a ser acometida por estranhíssimos acontecimentos, como a repentina chegada de homens amedrontadores e carrancudos pelos arredores, mas principalmente quando um monte de cachorros e bois invade a cidade e não quer convívio pacífico com ninguém, o espanto de primeiro momento foi dando lugar à aceitação. Sabia que não podiam fazer nada, pois fazendo parte das surpreendentes coisas da vida. Depois, tanto os carrancudos como a matilha foi embora e tudo pareceu ter voltado à normalidade. Mas aquele mundo criado por José J. Veiga em A Hora dos Ruminantes já não era o mesmo.
Tudo surpreende no realismo fantástico de Gabriel Garcia Márquez e de José J. Veiga, mas nada surpreende ao mundo criado. Nada parece assustar, nada parece assombrar, nada parece amedrontar. Quando os mortos ressurgem em Antares, na obra Érico Veríssimo, é como se aqueles fantasmas apenas tomassem o lugar dos apáticos da sociedade, dos vivos omissos e negligentes com a situação política e social de então. Surpreende ao leitor, mas não ao contexto ficcional.
Ora, normal que um cachorro seja um ser social e um homem apenas um bicho que late e ruge. Normal que um filho saudoso do pai vá ao mundo dos mortos enquanto o falecido faz o caminho inverso e no desencontro nada mais possa ser feito, ficando um no lugar do outro. Normal que a moça só seja ouvida e compreendida em silêncio, pois se abre a boca e fala ninguém entende nada. Normal que o cego ensine aos de luz no olhar as cores do arco-íris, vez que estar de olhos abertos não significa a percepção de nada. Tudo normal.
Entretanto, se patriarca dos Buendía ouvisse que existe um mundo real onde tudo é diferente, logo diria: Desmundo! E na sua exclamação o desconhecimento de que pudesse existir um mundo tão distanciado daquele de Meme, de Mauricio, de Amarante, da bela Remedios, dele próprio, José Arcadio Buendía. Mas um mundo de Maria, de Tonho, de Zé, de Zefinha, de Bastião, de Lúcia, de Minervina. E todos vivendo acorrentados e constantemente ameaçados por feras da pior espécie: a fera da política, a fera do poder, a fera do mandato, a fera do autoritarismo, a fera do mando.
“Ah, então aqui é o paraíso!”, diria o transtornado senhor de Macondo. Realmente, em comparação a Desmundo, eis que Macondo parece mesmo um paraíso. Lá, naquela fantasia atabalhoadamente cativante, apenas normalidades avessas, porém sem serem tão vergonhosas, estapafúrdias e repugnantes, como a desse Desmundo afeiçoado a país. Sim, um país que chegou ao seu desmundo na mais melancólica realidade.


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Lá no meu sertão...


Precisa conhecer. Precisa visitar!




Depois da chuva (Poesia)


Depois da chuva


Choveu
e eu chorei

ou chorei
toda a chuva

pela nuvem
no olhar

quando a chuva
passou

o meu lenço
secou

e me estendi
no quintal

e renasci
pelo vento

depois voei
do varal.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - os jornais amontoados pelos cantos


*Rangel Alves da Costa


Desde muito tempo que os jornais vão sendo arremessados dentre da varanda e vão ficando acumulados pelos cantos sem que eu tenha mais vontade de sequer lançar qualquer olhar às manchetes da primeira página. Desde muito que o novo acontecido já chega tão envelhecido que nada diz de bom. O mesmo sangue derramado, a mesma lágrima chorada, a mesma dor pranteada, o mesmo espanto espantando o alvorecer. Desde muito que o preço só aumenta, que o terror vai acumulando vítimas, que a política mostra seus ocultos podres, que os poderes lançam suas garras. Político, político, político, corrupção, corrupção, corrupção, ninguém aguenta mais. Não quero flores nos jornais, mas também me afasto da sujeira escrita. Não me sinto bem folheando a podridão dos excrementos de um mundo desmundo. Tudo me dói a cada jornal que chega. Não há mais receita de bolo nem resenha boa, não há mais um folhetim de um amor assim sofrido e incompreendido, não há mais a fofoca da socialite que traiu o ricaço pela quinta vez - num mês. Os jornais que chegam já não têm serventia, as suas notícias não existem mais. Tudo que amanhece já se modificou e na soma do fato um espanto maior. Que tudo fique pelos cantos, que se acumule e se autodestrua. O mal da manchete há de fazer vingança, e pelas mãos da própria letra escrita na história.


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terça-feira, 29 de agosto de 2017

O OUTRO PERANTE OS OUTROS


*Rangel Alves da Costa


Lamentável que assim aconteça quase como um costume, um hábito, um normal cotidiano: achar que não tem o que fazer e logo procurar cuidar da vida dos outros. Ou mesmo simplesmente desfazer do que os outros fazem, e sempre de modo infame e vergonhosamente destrutivo.
É que para muitos a vida dos outros se torna de maior importância do que mesmo a própria vida. Contudo, se há um lado maldoso nisso tudo, por outro lado há até uma necessidade quando se respeita os limites da privacidade. É que ninguém pode imaginar que tudo faça sem que os outros percebam. Desse modo, o que o outro faz não compete somente a este, mas também ao próximo.
E há de ser assim mesmo porque as ações humanas merecem ser vistas e obter respostas aqui na terra mesmo. O bem ou o mal que é feito não pode simplesmente ser relegado ao plano do esquecimento, do já passou, do apagar-se nas páginas do tempo.
Já cantaram em eco e grito que ninguém é uma ilha. Ora, se ninguém consegue isolar-se completamente, então alguma presença ou vigilância externa faz parte de sua vida. O olho ao redor mira vida e tudo e acaba sabendo um balaio de coisas sobre o outro, ainda que este faça o máximo para que deixem sua vida em paz.
Contudo, quando falo da importância de que o outro seja visto perante suas ações, não o faço no sentido de que alguém, a todo custo, queira se intrometer na vida partir de quem faz o que bem quer da vida. Preocupar-se com o outro, vigiá-lo, acompanhar os seus atos, apenas para expor sua privacidade é atitude que contraria normas fundamentais inerentes à personalidade.
Ao falar da necessidade e positividade de interagir com as ações do outro me volto apenas para o que está caracterizado como visibilidade pública. Tal termo seria no sentido de indicar aquilo que já foge ao mundo secreto e particular de cada um e se torna conhecido de todos, ainda que parte das pessoas não se atenha cuidadosamente para o que o outro faz.
Não se trata aqui de fazer apologia da fofoca, do simplesmente bedelhar, se intrometer na vida do próximo, mas sim de vê-la naquilo que há de mais bonito e de tudo tirar possíveis lições. Do mesmo modo, não ter medo nem vergonha das atitudes negativas do outro e fazer daquele exemplo um meio de não incorrer nos mesmos erros.
Verdadeiramente não há coisa mais feia e abominável para um ser humano do que levar a vida – logicamente esquecendo a própria – em função da vida do outro, do que ele faz, que roupa veste, com quem anda, se passo cheiroso ou suando. E mais ridículo ainda quando faz isto para buscar motivos para a fofocagem, o invencionismo, a deslavada mentira.
O que proveito que se deve tirar da vida do outro é totalmente diferente. Pessoas existem que vivem para a prática do bem, pra o compartilhamento, para a solidariedade. Estas estão em direção aos asilos, aos hospitais, aos abrigos, às creches, a qualquer lugar onde possa dedicar uma parcela de ajuda e de amparo aos mais necessitados.
Pessoas também existem que distribuem sopas aos que estão abandonados embaixo de marquises, que vão visitar e tentar confortar desconhecidos que estão enfermos, que se reúnem com outras para a realização de obras de caridade, que adotam de coração crianças gravemente doentes, não se cansam de dar uma parcela do seu esforço físico, espiritual e até financeira em função do outro.
Mas o inverso ou reverso existe, e do mesmo modo também é visível, pois os atos são escancaradamente praticados. Não há nem mais que se falar nas práticas criminosas levadas a efeito por tantos e tantos, pois nem a pena nem o sofrimento em uma prisão parece ter o poder de afastar determinados indivíduos dessas nefastas atitudes. O pior é que muitos, mesmo sabendo das consequências da prática de atos ilícitos, seguem por vontade própria os mesmos caminhos da vida criminosa.
Quanto a estes, os exemplos já estariam claros demais. Porém, cotidianamente se observa outras atitudes em cujo espelho ninguém deverá se mirar. Viver falando mal da vida dos outros, criando situações mentirosas para prejudicar, incentivar os mais jovens ao mau comportamento, sempre ter o outro como inimigo, como alguém imprestável. E ainda a arrogância, a brutalidade, a desonra, o egoísmo, a vaidade exacerbada, a egolatria, tudo isso está exemplarmente na imagem de muita gente e que deve servir como norte para o outro que observa tais atitudes.
Daí que a vida do outro, por não pertencer exclusivamente a este, passa a ser exemplo que deve ser seguido, ou não, pelos demais. Ademais, como dificilmente algum fato surge totalmente novo na vida, então que os exemplos dos outros sirvam tanto para atrair como para se evitar.


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Lá no meu sertão...


A beleza do Velho Chico - Curralinho, povoação ribeirinha em Poço Redondo, sertão sergipano




Araçá docinho (Poesia)



Araçá docinho


Namorei com a solidão
e até me apaixonei pela dita
mas foi a pior paixão
na paixão mais esquisita

e veio um jardim com flor
e veio uma flor com perfume
mulher com gosto e sabor
com sorriso e sem queixume

não me venha com ciúme
tenho a luz de vaga-lume
tenho a lua grande encantada
nos passos de minha estrada

tenho uma cuia de araçá
escondidinha num lugar
fruta caída de um céu
no lábio que é todo mel

e toda vez que ela me beija
o chão estremece e troveja
e é tão grande a trovoada
que a cama fica molhada.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - caminhar como Jesus caminhou


*Rangel Alves da Costa


CAMINHAR COMO JESUS CAMINHOU - No Evangelho de João 1, 2,6, lê-se: Quem disse que permanece em Deus deve, pessoalmente, caminhar como Jesus caminhou. Ou segundo a versão bíblica que se tenha por leitura, aquele que deseja permanecer em Jesus, deve andar como Jesus andou. Não significa, contudo, que a pessoa vá confirmar sua fé no deserto por quarenta dias e quarenta noites, sendo tentado pelas forças do mal a todo instante. Não significa também que reúna multidões para proclamar as bem-aventuranças do alto da montanha. Não significa ainda que tenha de ser sacrificado e crucificado pela salvação do homem. Hei de ainda encontrar sobre a terra uma pessoa que tenha coragem de sangrar como Jesus sangrou e de carregar na cabeça uma coroa de espinhos perfurando a carne. Na palavra tudo se faz, mas da dor e do sacrifício todo mundo foge. Então, como caminhar como Jesus caminhou? Ora, ninguém precisa seguir as ranhuras na terra deixadas pelos passos de Jesus, mas todo mundo deveria seguir os seus ensinamentos. Igualmente, não é frequentando igreja ou missa, rezando e acendendo velas, que os caminhos de Jesus estarão sendo percorridos. De nenhuma valia tem um ato de fé se no coração não está erguido um templo sagrado. Dizer que é cristã, católica, beata, de fervor religioso, não significa absolutamente nada se o coração é de pedra e da língua nada mais sai que a injúria e a difamação. Não adianta apregoar uma cristandade se os olhos moldam o bem avistado segundo as conveniências da maldade. Assim, seguir os passos é seguir seus ensinamentos. É, no mínimo, fugir dos pecados e, além de levar na estrada o seu cajado de ensinamentos, também pregar o que ele tanto nos ensinou. Será que a desumanização da vida apagou do coração o ensinamento maior: Amai ao próximo?!


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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

CAMINHOS


*Rangel Alves da Costa


Estou desconhecendo a mim mesmo. Nunca mais caminhei pelas estradas e ruas, de pés descalços, pelo prazer de pisar na terra, sentir o calor do chão e estar mais aproximado do mais puro ventre.
Estou entristecido comigo mesmo. Nunca mais abri a janela para esperar borboletas, para a chegada de colibris nem pássaros do amanhecer. E sei que agora me falta aquele sorriso da flor e o beijo da brisa do amanhecer.
Estou me sentindo desumanizado demais. Chego a me perguntar se não perdi a sensibilidade, se não desacalantei o amor pelas coisas simples, se não reneguei o prazer pela jabuticaba e a sapoti de quintal.  E tão doce era beijar a boca do araçá.
Estou me distanciando de mim mesmo. Temo ter deixado ir embora a criança que sempre esteve em mim, o menino traquina que sempre gostou de brincar e de sorrir. Temo que até a memória e as doces lembranças e nostalgias tenham se distanciado de mim.
Estou me tornando cada vez mais insensível, e eis o medo maior que dá. Não desejo a lágrima petrificada nem o soluço preso, não quero olhos sem brilho nem coração que não pulse mais perante as situações de vida. E tudo parece simplesmente acontecer.
Estou sem tempo para as coisas boas da vida, estou sem encorajamento para reencontrar as coisas boas da vida. Nunca mais sentei na pedra, nunca mais conversei com a pedra, nunca mais deitei no colo da pedra e sonhei com um jardim florido e perfumado.
Estou envelhecendo demais sem ainda ter alcançado os portais da velhice. Imagino que os espelhos vão me negar o sorriso, penso que os espelhos vão acrescentar minhas rugas, imagino que de repente já serei outro, triste e alquebrado, num corpo apenas cansado.
Estou sem tempo de fazer o que sempre fiz mesmo sem ter tempo. Sempre encontrei um instante para subir à montanha, para sentar à beira das águas, para me aquecer com as brasas do pôr do sol. E sequer tenho tido tempo de olhar o horizonte e imaginar o que está além e mais além.
Estou sem tempo de pensar nas coisas boas da vida, de trazer ao pensamento o que sempre me confortou, ainda que com saudades. É como se o sabor do café torrado já não mais esteja na minha boca, é como se o perfume do café na chaleira já não estivesse ao meu alcance.
Estou sem auroras e entardeceres que realmente sejam auroras e entardeceres. Não adianta apenas acordar, levantar e caminhar pelo quarto, sem que pule a janela e vá logo beijar a primeira luz e o primeiro sol. Não adianta chegar ao fim da tarde e perante o pôr do sol apenas fingir que o avista.
Estou sem tempo para mim, sem tempo para ser eu mesmo, sem tempo para fazer o que gosto e o que me faz bem. Preciso conversar com o vizinho, falar com as pessoas que passem adiante, sentar na calçada e conversar sozinho. Preciso jogar pedrinhas no meio do nada e riscar o chão com uma varinha qualquer.
Preciso chupar picolé de graviola, de coco e mangaba. Preciso pedir um algodão doce e uma maçã do amor. Preciso de pipoca colorida e de cocada de rua. Preciso piscar o olho pra menina bonita que passa de flor vermelha no cabelo. Preciso beijar a palma da mão e depois lançar o beijar em qualquer direção.
Preciso riscar o tronco da madeira e nele desenhar coração. Preciso escrever versos rimando amor e bilhetinhos com letras miúdas e implorando ao menos um olhar. Preciso ler um livro do começo ao fim e depois reescrever o mesmo livro do fim ao começo. Preciso abrir a janela. Preciso abrir a porta.
Preciso também de um sorriso e de um espelho que não negue as verdades, mas que não doa tanto nas suas verdades.


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Lá no meu sertão...


Ao lado do amigo Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço, no Memorial Alcino Alves Costa, em Poço Redondo/SE. Severo aponta as havaianas usadas pelo saudoso escritor Alcino Alves Costa.




Um mais um (Poesia)


Um mais um


Um mais um
nunca apenas dois
pois um mais um
são tantos e mais
quanto se deseje
somar depois

um mais um
e um sem o outro
um quase nada
mas com o outro
perde-se a conta
do quanto se tem.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - somos asas de borboleta


*Rangel Alves da Costa


Sempre se diz - e na mais pura verdade - que o mais leve bater de asas de borboleta pode provocar insanos e destruidores vendavais. As asas batem, exalam uma leve força no ar, o ar se mistura às forças do ambiente e de repente o vento já está formado, a ventania já está formada, o vendaval já vai avançando para tudo destruir. Algo assim como nossas ações e atitudes. Agimos, falamos, fazemos determinadas coisas sempre achando que não provocarão consequência alguma. Não podemos esquecer, contudo, que todas as nossas ações são como asas de borboletas. Nada é feito que não produza um resultado. Muitas vezes, uma palavra impensada, um gesto irrefletido ou uma ação supostamente natural, logo provocará vento, ventania e vendaval. A palavra é transformada, a atitude também, e muito mais para o mal, para o lado mais negativo e conflituoso. Há ainda o efeito da distorção naquilo que de outra forma provocaria outro resultado. As asas da borboleta batem e atiçam os espaços ao redor, já as asas da língua e das atitudes possuem pessoas ao redor. E todas ávidas para tornar a vida em vendaval.

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domingo, 27 de agosto de 2017

O SILÊNCIO DOS PÁSSAROS


*Rangel Alves da Costa


Há um inquietante silêncio nos pássaros. Em muitos lugares os pássaros não cantam mais. Mas principalmente no sertão os pássaros não cantam mais. Não há como ouvir canto daquilo inexistente, não há mais como ouvir trinado passarinheiro se as aves arribaram de vez, sumiram das galhagens e deixaram a mataria sertaneja em doloroso silêncio. E também os ninhos, restando somente as gaiolas com seus prisioneiros tristonhos. Triste sina viver chorando e o seu dono pensar que está cantando.
Rolinha fogo-pagô, coleirinho, curió, sabiá, sofrê, cabeça, azulão, pintassilgo, toda uma passarinhada voava de galho em galho em cada palmo daquele chão. E também o caboclinho, o tiziu, o tico-tico, a lavandeira, o sanhaço, numa festança de vida por cima das catingueiras, baraúnas e quixabeiras. E ainda o lamento rouco do carcará, do gavião, do anum, da coruja e do caburé. Cadê o piar da nambu e o palrar do periquito?
Passarinho pousava na mão, cantarolava em plena janela, fazia ninho na cumeeira e pelas vagas das coberturas de palha ou telha. O menino era amigo do passarinho, conversava com ele e prometia que jamais iria puxar seu pescoço mesmo que a fome apertasse demais. Pelo seu voo e pela escolha do local do ninho, logo o sertanejo sabia se a chuvarada se aproximava. Eis que passarinho em alvoroçado voo ou quando faz moradia rente ao chão é porque pingo grosso vai cair. Todo bom sertanejo sabe que é assim.
Os ouvidos atentos do sertanejo não precisavam ir muito longe na mataria para sentir a presença da orquestra passarinheira. Nas margens das estradas, nas malhadas das fazendas, nas beiradas de riachos, tanques e açudes, onde houvesse proximidade com mato e água, ali sobressaía a plangência da cantoria. Muitas vezes difícil de avistar o cantor, eis que pequenino e escondido na copa da grande árvore, mas a certeza de sua presença.
Mas também um tempo diferente, um passado até recente onde as aves possuíam garantia de moradia e de pouso e repouso. Não precisavam voar muito para encontrar uma galhagem segura para construir seu ninho e procriar. Por todo lugar os arvoredos, ainda que nem sempre grandiosos e imponentes, permitindo o aconchego da passarada. Os viveiros se formavam entre os galhos, enquanto que os troncos e arredores acolhiam outras espécies da fauna sertaneja.
O sertão era assim, tomado de uma vegetação rica e adaptada às condições climáticas, sem ter que se curvar ressequida todas as vezes que a seca do dia a dia chegasse querendo a tudo devorar. Em meio ao xiquexique, facheiro, mandacaru, ao cipó e à macambira, as árvores amigas da catingueira se espalhando de canto a outro. Juazeiros, angicos, cedros, umburanas e bonomes dividiam espaço com plantas que trocavam folhas por espinhos. Paisagem tão conhecida, e muitas vezes entristecida, retratava a pujança e a fragilidade de uma terra.
Fragilidade sim, pois mesmo que o sertão seja visto como a Fênix que sempre renasce das cinzas e o seu habitante, o sertanejo, um forte, na expressão euclidiana, não há pedra fincada no tempo que resista à brabeza da seca maior. E tudo se curva e se dobra, esmorece e definha, se prostra esperando a gota d’água. Até mesmo o mandacaru, tido como imortal diante das inclemências, mantém seus braços ossudos e espinhentos em direção aos céus. E dizem que chora, dizem que implora.
Mesmo com as plantas ressequidas, com a nudez marrom-acinzentada, e mais tarde embranquecida, enfeando toda a paisagem, e o homem tudo fazendo pra manter água barrenta no fundo da moringa, ainda assim se ouvia o canto da passarada ao amanhecer. Cantoria que ia diminuindo quando os galhos já estavam nus e não restava nem lama no fundo do poço. Era o instante de a asa branca arribar para outras distâncias e lá permanecer até a invernada chegar. E toda a revoada passarinheira fazia o percurso de volta, enchendo de canto bonito toda aquela vida sertaneja.
Mas hoje não há mais passarinho nem quando os tanques estão cheios e as plantas rasteiras florescem verdejantes. A mão do homem, que antes aprisionava o pássaro, passou a utilizar de outra arma: devastar a moradia do pássaro. E onde não mais pé de pau, onde não há mais copa de árvore, não pode haver ninho nem passarinho. Apenas o silêncio.


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Lá no meu sertão...



Rio São Francisco, Povoado Curralinho, Poço Redondo/SE



Somos assim (Poesia)


Somos assim


Somos assim
como desejamos ser
um começo ou fim
o  que queremos ser
espinho ou jasmim
nossa vida em dois
ou você sem mim

e seremos assim
nosso destino traçado
em pedra ou jardim
seguindo na estrada
entre o não e o sim
o que queremos ser
começo ou fim.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta – a frieza do gelo


*Rangel Alves da Costa


Nada mais frio do que a frieza do gelo. Nada mais congelante que o sopro gelado do mais frio gelo. Antártidas, Sibérias, freezers, geladeiras, congeladores, ventos gelados, seres humanos. Sim, para citar a frieza mais fria, o sopro mais gelado, a nevasca mais devastadora: o ser humano. Difícil perceber, pois sempre acobertado pelo manto da crença em sua força acolhedora, mas logo desvendado quando a porta do seu coração é aberta. Então, que gelo mais frio, que frieza mais aterradora! Quantos granizos e pedras de gelo desabando de sua boca, de suas mãos, perante seus atos e atitudes! E os demais, que nos seus cotidianos desejam apenas o calor da existência, acabam se tornando vítimas desses sopros congelantes e arrepiantes. E de repente um mundo inteiro sendo soprado pelas nevascas das insensibilidades, das incoerências e das irracionalidades. E mesmo no fogo, mesmo debaixo do sol, mesmo ante as caldeiras do dia a dia, a frieza do gelo, o gelo humano mais frio que possa existir.


Escritor
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sábado, 26 de agosto de 2017

AINDA SOBRE ELA


*Rangel Alves da Costa


De vez em quando a gente briga. De vez em quando a gente se afasta da visão um do outro. De vez em quando a gente dá tudo por terminado e some. De vez em quando a gente já não é mais um do outro. Tudo acabou.
Mas depois da briga chega a tristeza. Depois da separação chega a angústia, a desilusão, a melancolia. Então sinto saudade, então de vez em quando choro, então de vez em quando tento refazer em segundos o que já parece distante demais.
Então escrevo, como aqui já escrevi. Então repito o que tanto eu já disse ao coração. Então me vejo diante das mesmas palavras já expressadas na máxima floração de sentimentos. Assim:
Não me arrependo de ter conhecido a menina que depois se tornou minha namorada. Acaso oito meses voltassem no tempo, jamais queria estar noutro lugar senão naquele do inusitado primeiro encontro.
Não me arrependo de amar e tanto amar a mulher que se fez minha namorada. Eu precisava desse amor, eu precisava amar assim. E nela encontrei um sorriso grandioso e belo bem dentro do coração.
Não me arrependo de nada junto a ela, dentro dela, em tudo nela. Nela encontro carinho, afeto, afago, amor. E não há que se arrepender de ter encontrado aquela que o destino já havia, desde muito, me reservado.
Não me arrependo, pois, que o destino me tivesse levado até onde ela estava, colocando-me perante ela e mostrado a mulher que eu não demoraria a amar. Coisa mais estranha. Não conheço, nunca troquei uma só palavra, e de repente o despertar do amor.
Não me arrependo de tê-la avistado ao longe e mesmo distante achado tão bela. Também não me arrependo de ter caminhado até onde estava e, ao seu lado, calmamente esperar que prestasse atenção à minha presença.
Não me arrependo de ter gostado dela desde aquele momento, mesmo sem qualquer aproximação, mesmo sem qualquer diálogo, mesmo sem a esperança do sorriso. Ora, já não podíamos fugir de nós mesmos: o destino quis, o destino assim fez!
Não me arrependo de naquela noite ainda eu haver retornado sem qualquer esperança. Coitado de mim, sem saber que o destino já havia feito sua parte com precisão. Mas como tudo tinha de acontecer, então simplesmente começou a acontecer.
Não me arrependo de não acreditar que jamais conseguiria ter aquela moça tão linda como minha namorada. Com quase o dobro de sua idade, achava-me mesmo em devaneios ou com maluquices por um amor impossível de se tornar realidade.
Não me arrependo de ter esperado como esperei. Mesmo que mil mulheres me rodeassem, mesmo que eu fosse em busca de mais mil mulheres, certamente que seriam desejos e buscas em vão. Eu a ela já estávamos prometidos. Ora, o destino, o destino.
Não me arrependo de nada depois disso. Qual o arrependimento por ter encontrado a mulher que desejei em sonhos, que quis como poeta sonhador, que chegou ao meu lado como promessa de amor maior? Ao invés de arrependimento, a gratidão em seu nome.
E por que digo que não me arrependo, como se tudo acontecido entre nós não merece sequer uma só menção de arrependimento? Digo que não me arrependo por que também tenho a consciência de que nem tudo esteve sempre em paz entre nós.
Brigamos, discutimos, nos afastamos, terminamos, nos arrependemos, voltamos, para tudo novamente acontecer com suas idas e vindas. Mas qual perfeição num amor tão humano? Nada é perfeito e não somos perfeitos. Isso não nos foge à compreensão.
Por isso que não me arrependo de absolutamente nada ao lado dela. Pelo contrário, grato sou e sempre serei por beijar sua boca tão cativante, por abraçar o seu corpo tão macio e tão feminino, por revelar segredos que nem nossos ouvidos conseguem ouvir.
E quando o meu olhar encontra o seu olhar, e quando meus braços procuram os seus, e quando em dois nos tornamos um, então o poeta que sou se transforma em jardineiro. E colhendo flor sobre flor, vejo-me saciado pelo aroma da felicidade.
Por isso o amor. E mesmo que nossos passos um dia sigam por diferentes caminhos, ainda assim a amarei. Não o amor que terei perdido. Mas o amor que jamais esquecerei por ter em você encontrado.
Por isso que te amo!


Escritor
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Lá no meu sertão...


Neste sábado, prazer imenso em participar de palestra a convite da direção da Escola Municipal Menino Deus, em Poço Redondo.




Templo de Deus


Templo de Deus


Quando veio a tempestade
eu já era templo
quando veio a ventania
eu já era fé
quando veio a destruição
eu já era Deus

e quando veio o outono
eu continue a flor
quando veio o desencanto
eu era a esperança
quando tudo entristeceu
o Deus se alegrou.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta – revoadas


*Rangel Alves da Costa


Sempre ao entardecer, as revoadas. Dez pássaros, cem pássaros, mil pássaros na revoada. Do umbral da janela, logo avisto a nuvem apressada de passarinhos. Saio de casa e vejo a nuvem sumindo ao longe. Sempre fico imaginando a direção e o destino daqueles pássaros. Não se voltam, talvez não voltem, pois seguem viagens longas, distantes, de muitos dias. Mas então indago: por que uma nova revoada no dia seguinte? Sei que não há tantos pássaros assim para que todos os dias uma nuvem deles vá sumindo nos horizontes. Sei que não retornam a tempo de retornar no dia seguinte. Mas sempre há uma revoada ao entardecer do dia seguinte. E de repente me vejo em suposições absurdas. Digo a mim mesmo que nada daquilo existe em tal constância. Não vejo uma revoada passar todos os dias. Mas minha vontade de voar, minha ânsia de liberdade, permite avistar aquele bando avoante todos os dias e até ter vontade de também ser passarinho. De seguir, de seguir, de seguir...

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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

LAMPIÃO NO ORATÓRIO


*Rangel Alves da Costa


Os grandes feitos dos homens, ou mártires da abnegação e da fé, são reconhecidos pela Igreja e tais feitos de desapego ao mundano e devotamento religioso através da santificação. Mas não somente a Santa Sé reconhece e erige pessoas à santidade, vez que pessoas, comunidades e povos, também constroem altares àqueles que reconhecem como verdadeiras santidades.
É pela fé, pela crença e pelo devotamento, que o povo, principalmente o mais comum da sociedade, vai tornando seu mito humano em santidade. Acontece muito isso na região nordestina do Brasil. De vez em quanto se encontra uma cruz da donzela ou uma cruz do homem, sempre com a presença de uma capelinha de refúgio e oração. Significa dizer que a donzela ou o homem são acreditados e devotados como se santificados fossem. E não há como afirmar que o povo esteja errado na sua concepção, vez que tudo nascido na crença maior.
Os exemplos maiores, contudo, dizem respeito aos reconhecidamente santos nordestinos, ainda que sem reconhecimento oficial da Igreja. Padre Cícero Romão Batista, o tão conhecido Padim Padre Ciço do Juazeiro, bem como o Frei Damião, se constituem nesta manifestação explícita da fé íntima de um povo. O Santo do Juazeiro desde muito é devotado pelo Nordeste inteiro e tido e havido como milagreiro e até como o maior dos santos. Sua representação é tão forte que não há de se falar em religião nordestina sem colocá-lo no pedestal maior de crença e devotamento. Depois de Deus, do Nosso Senhor Jesus Cristo, a valia no Santo Padim, é assim que o povo se expressa.
Não obstante a santificação pelo povo daqueles vindos da própria Igreja, como é o caso do Padre Cícero e do Frei Damião, também altares erguidos aos beatos e beatas e seus milagres. Pessoas oriundas das camadas comuns da sociedade, mas depois abraçados pela religiosidade e pelas causas maiores da fé. Daí surgirem os beatos afeiçoados a pastores e com dezenas ou centenas de seguidores. Daí as beatas ungidas pelo sangue da fé e no além continuando como verdadeiras protetoras e milagreiras. Como afirmado, não há como volver da mentalidade do povo outra noção de religiosidade, principalmente de base científica.
Que não haja espanto com a santificação de Luiz Gonzaga, de Patativa do Assaré, do Cego Aderaldo e tantos outros dignificantes homens nordestinos. Basta o povo querer e não há como desfazer o altar. Por isso mesmo que Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião, cangaceiro maior dos carrascais nordestinos, passou a ser mitificado de tal modo que, tantas vezes, vai muito além do herói para se firmar como verdadeiro mártir dos sertões brasileiros. Seria, assim, um Lampião santificado pelo povo.
Por que a santificação pelo povo não exige nada além da crença do próprio povo, certamente que o reconhecimento de seu valor igualmente não exige sequer o conhecimento ou aprofundamento na sua história, seu percurso de vida, seus feitos, seus males ou bondades. E muito menos de sua religiosidade, hoje reconhecida como de devotamento aos santos e principalmente ao Padre Cícero do Juazeiro. Basta apenas que o líder cangaceiro seja visto pelo povo como injustiçado, perseguido, vitimado na sua luta. E tem muita gente que pensa assim, que concebe a figura de Lampião como um mártir nordestino.
Aqueles que pensam assim - e que, repita-se, são muitos - são também aqueles que voltam das feiras interioranas trazendo no embornal duas imagens de barro de igual valor: Padre Cícero do Juazeiro e Virgulino Lampião. Nos seus entendimentos, duas imagens que merecem guarida nas suas casas ou casebres de cipó e barro. E de repente, num ânimo espiritual sem plausível explicação, e os dois passam a ser avistados até mesmo dentro de oratórios. Mas, e urge que se saliente, também em muitas mansões e requintadas moradias nordestinas, pelas paredes e móveis não se avista imagem alguma de santo, mas a de Lampião está por todo lugar.
O sentido da santificação de Lampião pelo povo não está, contudo, no seu poder milagreiro ou nos seus feitos religiosos ou ainda de caridade, mas tão somente pelo poder de escolha popular de seus mitos, seus heróis, seus protetores. O estudioso ou pesquisador, com cátedra em heroicizar ou destruir, certamente possui argumento apropriado para dizer que Lampião nunca passou de um reles bandido ou que foi um grande herói. Mas isto não tem valia alguma àquele que simplesmente devota o Capitão. Para este, vale o homem e não o que digam sobre ele.
E assim, como fez certa vez a Velha Titoca, Lampião saiu da feira e foi fazer moradia diretamente no oratório. Ao lado das imagens de santos da Igreja e de Padre Cícero e Frei Damião, que são os santos nordestinos, o rei cangaceiro com sua imponência catingueira. Ao lado uma vela acesa. E diante de tudo a velha sertaneja ajoelhada em oração: Que todo mal seja desfeito pelo Padim Ciço Romão e pelo Frei Damião. Que toda injustiça seja combatida por Virgulino Lampião.


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Lá no meu sertão...



No sertão, no mato, na pedra...




Lenço no varal (Poesia)


Lenço no varal


Assim como varal
estendido no quintal
espero a ventania
pra levar toda agonia

varal de lenço molhado
pelas dores encharcado
respingando a solidão
e tantos rios de aflição

o vento chega soprando
e vai o varal esvoaçando
mas nunca resseca a dor
no lenço que em mim restou.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - a mais injusta das justiças


*Rangel Alves da Costa


Sim, não há como negar, a Justiça brasileira é a mais injusta das justiças. Os fatos estão como provas, as ordens judiciais estão aí como provas, os julgamentos estão aí como provas, a condução de processos está aí como prova. Uma justiça de companheirismos, de compadrismos, de clientelismos. Se tais fatos acontecem na mais alta corte da justiça brasileira, que se imagine perante as instâncias inferiores. Ministros que zombam do povo, que brincam com a suposta seriedade da casa da qual fazem parte, que decidem de modo tão avultoso que causa espanto e insegurança em toda sociedade. Como é que um ministro, comprovadamente tendencioso, pois mantendo laços de profunda amizade com os réus, de repente manda soltá-los, mesmo com todas as provas exigíveis à manutenção da custódia. E achando pouco ainda desfaz de outro julgador que decretou a prisão. E ainda achando pouco, só para dizer que achava pouco o disparate por ele mesmo cometido, ainda estendeu o alvará de soltura a outros presos enjaulados no mesmo esquema de corrupção. E não obstante, e ainda achando muito pouco, foi para frente dos microfones macular a imagem do julgador de instância inferior, dizendo que o rabo quer abanar o cachorro. Uma mesma justiça que outro dia decidiu que a prisão já pode ser expedida após o julgamento em segundo grau, mas que agora já vai repensar seu próprio entendimento. E por quê? Ora, simplesmente por que o recurso de um ex-presidente está em vias de julgamento. E o mesmo poderá ser preso. Então, mudando o entendimento, garante-se a liberdade mesmo após a condenação nas duas primeiras instâncias. Absurdos assim que apenas comprovam a sem-vergonhice brasileira até mesmo onde se esperava seriedade. Que Justiça é essa?


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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O PAI DA POBREZA?


*Rangel Alves da Costa


Dias atrás Lula visitou o Nordeste e pelas redes sociais o que mais se lia era o chamamento para ir receber o “pai da pobreza”. Ontem li alguma coisa interessante neste sentido, onde uma jovem dizia: “Sou pobre, mas Lula não é o meu pai não”. Achei interessante por que aqueles que criaram a simbologia do “pai da pobreza” sequer imaginaram o quanto tal expressão pode significar.
Ora, ser pai da pobreza é ser o responsável pela pobreza, é ser o guardião da pobreza, é ser o comandante da pobreza. Ser pai da pobreza é ser aquele que semeia entre os seus os restos daquilo que ele mesmo tirou, é tentar proteger na lábia e na esperteza aqueles que o próprio dito pai deixou desprotegidos e desalentados.
Como pai da pobreza, o Lula se mostrou um pai negligente, irresponsável, deixando na mais absoluta miséria aqueles que viam na sua paternidade um futuro melhor. Mas o que aconteceu? O pai da pobreza enriqueceu alguns e a si próprio e simplesmente abandonou suas crias aos desvãos da crise por ele mesmo criada.
Mas hoje seus defensores, com as incoerências próprias dos fanatismos, simplesmente alardeiam a sua paternidade como algo bom. Querem fazer com que a população imagine ser o forjado pai um salvador da pátria para todos, querem mostrá-lo como a única pessoa que pode trazer a plena felicidade ao brasileiro.
Passam uma ideia de que ser pai da pobreza é ser aquele que coloca comida na mesa, que tudo faz para que os carentes e necessitados tenham o que for necessário à sobrevivência. Transmitem a ilusão de que somente através de sua paternidade acabará toda a miséria, toda a precisão, toda a carência do brasileiro. Mas esquecem de dizer - ou propositalmente omitem - que foi o tal pai de toda necessidade que aumentou a pobreza do brasileiro.
Como diz a letra de “Vozes da Seca”, na voz de Luiz Gonzaga, “mas doutô uma esmola a homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão...”. E foi, pois, com a ilusão da esmola que o dito “pai da pobreza” viciou uma população inteira a não querer trabalhar. E hoje, quando o país se mostra precipício abaixo por causa do petismo, a carestia bem acima de qualquer ganho, mostra o quanto foi iludido e acomodado na pobreza. E está cada dia mais pobre.
Mas nada mais verdadeiro em reconhecer o ex-presidente como pai da pobreza. Ora, foi a partir de seu governo que o Brasil passou a ser um país das ilusões e ter por consequência a miséria de hoje. Por mais que se diga que a partir de seu governo os programas de esmolas oficiais tenham alcançado milhões de brasileiros, foi também depois de seu governo que o país começou a afundar.
Quando Dilma assumiu o buraco já estava tão fundo que somente sendo uma petista para tentar encobrir a todo custo o abismo econômico já existente. Era tamanho o mundo de fantasia que se imaginava estar vivendo na nação mais rica e próspera do mundo. Até que o tempo viesse cobrar sua conta. E o custo maior disso foi o declínio total da economia e o crescimento da pobreza pelos diversos níveis da população.
A situação atual do Brasil, como um país em frangalhos, uma economia paupérrima e uma sociedade cada vez mais pobre se deve ao governista petista, e desde Lula. Daí que, efetivamente, ele é o pai da pobreza, pois tendo gestado a miséria e o desalento que hoje se tem na maioria da população brasileira.
Ainda segundo alguns, se ele é o pai da pobreza, igualmente é a mãe da miséria, da corrupção, de tudo o que está neste Brasil de agora. Tudo está assim por que foi semeado. E quem semeou foi a esperteza daqueles que viciaram na esmola e depois tomaram todo o país para si.


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Lá no meu sertão...


O mais belo fruto de todo o sertão




Do tamanho do coração (Poesia)


Do tamanho do coração


Eu nunca quis amar
além do amor
que eu poderia dar
e quando dei-me
apenas eu fiz somar
ao outro amor
buscando multiplicar

hoje somos tão pouco
apenas você e eu
mas tamanha imensidão
que já não cabe no amor
senão na grandeza do coração.


Rangel Alves da Costa

Palavra Solta - casa de areia


*Rangel Alves da Costa


Tudo o que mais sonhei foi um dia construir uma fortaleza tão inexpugnável que nem o exército mais poderoso do maior inimigo pudesse vencê-lo. O que consegui, contudo, foi apenas uma casa de areia e na areia. E de uma areia solta, frágil, vencível por qualquer sopro. E vejo que vem a ventania, e sinto que as tempestades se formam, e sinto que os vendavais se formam ao longe. Mas o que fazer então, se outra coisa eu não consegui levantar senão essa cassa de areia? Sei que vivo à mercê das forças do tempo e que nenhum cimento há para que eu recubra meus sonhos de permanência. Sei que nada posso fazer senão vencer os inimigos antes mesmo que ameacem ou se aproximem de minha casa de areia. Já não sonharei, já não viverei de ilusões ou quimeras. Perante minha casa eu estarei sem medo, encorajado na força e na fé. E farei da casa de areia um templo tão alto como a mais alta montanha que houver. E em cada janela estará um anjo, em cada porta estará um santo. E dentro dela um Deus a me proteger.

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quarta-feira, 23 de agosto de 2017

CULTURA E LITERATURA EM POÇO REDONDO, SERTÃO SERGIPANO


*Rangel Alves da Costa


Imagina-se que Poço Redondo, por ser um distante e empobrecido município sertanejo, nos confins sergipanos do Sertão do São Francisco, pouco ou quase nada produz culturalmente. Contudo, engana-se quem pensar assim, pois nas suas terras se estendem imensas e ricas manifestações culturais.
Em Poço Redondo é possível encontrar cavalhadas, reisados, grupos folclóricos que se prolongam gerações a gerações, folguedos de todos os tipos e para todos os gostos. A Família Vito com seus pífanos se constitui numa imensa riqueza cultural. Rendeiras, bordadeiras, artesãos, continuam produzindo verdadeiros encantamentos. Assim também em outras artes e na literatura.
Atualmente, alguns nomes podem ser citados como expoentes máximos da literatura produzida em Poço Redondo, dentre os quais o político, escritor e compositor Alcino Alves Costa (1940-2012), o advogado e jornalista Rangel Alves da Costa, além do cordelista Manoel Belarmino, do poeta Edézio da Paixão e do romancista Alan Leite.
Alcino Alves Costa nasceu em Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano, a 17 de junho de 1940 e faleceu no dia 1º de novembro de 2012, aos 72 anos. Foi político (prefeito por três vezes em seu município), pesquisador, compositor, radialista, escritor e palestrante.
Era conhecido e prestigiado não só em Sergipe, mas em todo o Nordeste e até além fronteiras, principalmente pela sua obra acerca do fenômeno cangaço.
O “O Caipira de Poço Redondo”, como assinava seus artigos e gostava de ser chamado, era conhecido pelo seu comportamento de homem simples que buscou nas raízes sertanejas a motivação para a pesquisa e a escrita. Sua marca característica era a havaiana nos pés até nos compromissos mais formais.
Além de político renomado em todo o sertão sergipano, foi também um apaixonado pela autêntica música caipira e compositor gravado por duplas sertanejas famosas como Dino Franco e Mouraí e Dino Franco e Fandangueiro. Foi também gravado por Clemilda num hino sertanejo chamado “Seca Desalmada”, de 1974.
Foi radialista na Rádio Xingó FM, de Canindé de São Francisco, onde durante muitos anos apresentou o programa “Sertão, Viola e Amor”.
Mas foi como pesquisador e escritor da saga nordestina, enveredando pelas pesquisas acerca do mundo cangaceiro, coronelista e violento, que se tornou reconhecido mundialmente.
Sobre o cangaço e suas afluências escreveu “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”; “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”.
Mas também contou a história de Poço Redondo e Canindé de São Francisco nos livros “Poço Redondo - A Saga de um Povo” e “Canindé de São Francisco - Seu Povo e sua História”.
Sobre a autêntica música caipira e suas famosas duplas escreveu “Sertão, Viola e Amor”. É também de sua lavra os livros “Saudação a Paulo Gastão” e “Preces ao Velho Chico”.
Em junho de 2012, já gravemente enfermo, fez o lançamento do romance “Maria do Sertão”. E outros livros inéditos aguardam publicação.
 Era membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC, sócio honorário do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, participante efetivo do seminário permanente Cariri Cangaço, além de palestrante em diversos eventos em renomadas instituições.
Em setembro de 2011, no município de Barbalha/CE, foi homenageado com uma placa distintiva outorgada pela Comunidade Lampião – Grande Rei do Cangaço como “Reconhecimento por sua valiosa contribuição à cultura nordestina, e, em especial, aos estudos e preservação da memória do cangaço”.
Em fevereiro de 2012, o evento II Arena de Arte e Cultura, promovido pela Prefeitura de Nossa Senhora da Glória/SE, homenageou-o como expoente da cultura e da memória sertaneja.
Nos seus livros, ensaios, artigos e composições estão presentes a história, a geografia, o cotidiano matuto, a sociologia da violência e do misticismo, a descrição dos meandros políticos como causa e consequência das injustiças, da pobreza, da violência e das lutas cangaceiras que tão presentes estiveram nas vastidões áridas do Nordeste.
Rangel Alves da Costa, filho de Alcino Alves Costa, é membro da Academia de Letras de Aracaju e da Associação Sergipana de Imprensa. Já publicou os seguintes livros:
Estórias dos Quatro Ventos (crônicas), Memória Cativa – O Sertão em Prosa e Verso, Sertão - Poesia e Prosa, Tempestade (romance), Ilha das Flores (romance), Evangelho Segundo a Solidão (romance), Desconhecidos (romance), Todo Inverso (poesias), Já Outono (poesias), Poesia Artesã (poesias), Andante (poesias), O Livro das Palavras Tristes (crônicas), Crônicas Sertanejas (crônicas), Crônicas de Sol Chovendo (crônicas), Três Contos de Avoar (contos), A Solidão e a Árvore e outros contos (contos), Poço Redondo – Relatos Sobre o Refúgio do Sol, Da Arte da Sobrevivência no Sertão, Estudos Para Cordel (prosa rimada sobre o cordel). Participou também da coletânea Gandavos - Contando outras histórias. Além, logicamente, da biografia de seu pai, “Todo o Sertão num Só Coração - Vida e Obra de Alcino Alves Costa”. Possui outros livros prontos para publicação, dentre os quais Nas mãos de Deus: um romance de injustiça e Entre a Ficção e a História - O Cangaço Imaginário.
Manoel Belarmino já escreveu perto de uma centena de cordéis e nestes aborda os elementos da terra, os causos e proseados antigos, as ilustres personagens sertanejas. Recentemente tomou posse, na condição de fundador, da Academia Sergipana de Cordel.
E a cada dia vão surgindo novos autores, principalmente cordelistas, a exemplo de Quitéria Gomes e de Ana Bela Rodrigues. Significando, pois, dizer, que também na literatura Poço Redondo possui uma feição de grandiosa produtividade.


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