*Rangel Alves da Costa
Parece mentira. Contando ninguém acredita.
Parece mentira, mas não é não. Já se vão mais de cem anos que caço, cato e
futuco, uma vestimenta de vaqueiro para colocar no Memorial Alcino Alves Costa
e não encontro. Ninguém doa, ninguém empresta, ninguém vende. Será que em Poço
Redondo nunca existiu vaqueiro, nunca existiu gibão, nunca existiu peitoral,
nunca existiu perneira, nunca existiu esporas? Mas não é só isso não. Já desde
mais de duzentos anos que estou com dois manequins, um masculino e um feminino,
prontos pra vestir de cangaceiros. Serginho Rodrigues já doou a roupa do
cangaceiro, mas falta a da cangaceira, bem como os chapéus estrelados, os
embornais, as alpercatas, as cartucheiras, os cantis, os adornos e tudo o mais.
Se eu fosse todo dia atrás de quem já prometeu, certamente ia endoidar. E já
faz mais de trezentos anos que tento firmar algum tipo de parceria ou convênio
que ajude nas despesas de manutenção e de funcionamento, mas não tem jeito.
Seria a forma de o Memorial abrir as portas todos os dias, ampliar seu acervo e
proporcionar melhor atendimento à população. Mas tem nada não. Sonhei mil anos
em abrir as portas do Memorial. E nem quinhentos anos de falta de apoio ou
colaboração irão me impedir de manter viva, ali na casa da esquina, a memória
de Alcino, de Dona Peta, de Poço Redondo, do Sertão. A minha memória.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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