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quarta-feira, 23 de agosto de 2017

CULTURA E LITERATURA EM POÇO REDONDO, SERTÃO SERGIPANO


*Rangel Alves da Costa


Imagina-se que Poço Redondo, por ser um distante e empobrecido município sertanejo, nos confins sergipanos do Sertão do São Francisco, pouco ou quase nada produz culturalmente. Contudo, engana-se quem pensar assim, pois nas suas terras se estendem imensas e ricas manifestações culturais.
Em Poço Redondo é possível encontrar cavalhadas, reisados, grupos folclóricos que se prolongam gerações a gerações, folguedos de todos os tipos e para todos os gostos. A Família Vito com seus pífanos se constitui numa imensa riqueza cultural. Rendeiras, bordadeiras, artesãos, continuam produzindo verdadeiros encantamentos. Assim também em outras artes e na literatura.
Atualmente, alguns nomes podem ser citados como expoentes máximos da literatura produzida em Poço Redondo, dentre os quais o político, escritor e compositor Alcino Alves Costa (1940-2012), o advogado e jornalista Rangel Alves da Costa, além do cordelista Manoel Belarmino, do poeta Edézio da Paixão e do romancista Alan Leite.
Alcino Alves Costa nasceu em Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano, a 17 de junho de 1940 e faleceu no dia 1º de novembro de 2012, aos 72 anos. Foi político (prefeito por três vezes em seu município), pesquisador, compositor, radialista, escritor e palestrante.
Era conhecido e prestigiado não só em Sergipe, mas em todo o Nordeste e até além fronteiras, principalmente pela sua obra acerca do fenômeno cangaço.
O “O Caipira de Poço Redondo”, como assinava seus artigos e gostava de ser chamado, era conhecido pelo seu comportamento de homem simples que buscou nas raízes sertanejas a motivação para a pesquisa e a escrita. Sua marca característica era a havaiana nos pés até nos compromissos mais formais.
Além de político renomado em todo o sertão sergipano, foi também um apaixonado pela autêntica música caipira e compositor gravado por duplas sertanejas famosas como Dino Franco e Mouraí e Dino Franco e Fandangueiro. Foi também gravado por Clemilda num hino sertanejo chamado “Seca Desalmada”, de 1974.
Foi radialista na Rádio Xingó FM, de Canindé de São Francisco, onde durante muitos anos apresentou o programa “Sertão, Viola e Amor”.
Mas foi como pesquisador e escritor da saga nordestina, enveredando pelas pesquisas acerca do mundo cangaceiro, coronelista e violento, que se tornou reconhecido mundialmente.
Sobre o cangaço e suas afluências escreveu “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”; “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”.
Mas também contou a história de Poço Redondo e Canindé de São Francisco nos livros “Poço Redondo - A Saga de um Povo” e “Canindé de São Francisco - Seu Povo e sua História”.
Sobre a autêntica música caipira e suas famosas duplas escreveu “Sertão, Viola e Amor”. É também de sua lavra os livros “Saudação a Paulo Gastão” e “Preces ao Velho Chico”.
Em junho de 2012, já gravemente enfermo, fez o lançamento do romance “Maria do Sertão”. E outros livros inéditos aguardam publicação.
 Era membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC, sócio honorário do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, participante efetivo do seminário permanente Cariri Cangaço, além de palestrante em diversos eventos em renomadas instituições.
Em setembro de 2011, no município de Barbalha/CE, foi homenageado com uma placa distintiva outorgada pela Comunidade Lampião – Grande Rei do Cangaço como “Reconhecimento por sua valiosa contribuição à cultura nordestina, e, em especial, aos estudos e preservação da memória do cangaço”.
Em fevereiro de 2012, o evento II Arena de Arte e Cultura, promovido pela Prefeitura de Nossa Senhora da Glória/SE, homenageou-o como expoente da cultura e da memória sertaneja.
Nos seus livros, ensaios, artigos e composições estão presentes a história, a geografia, o cotidiano matuto, a sociologia da violência e do misticismo, a descrição dos meandros políticos como causa e consequência das injustiças, da pobreza, da violência e das lutas cangaceiras que tão presentes estiveram nas vastidões áridas do Nordeste.
Rangel Alves da Costa, filho de Alcino Alves Costa, é membro da Academia de Letras de Aracaju e da Associação Sergipana de Imprensa. Já publicou os seguintes livros:
Estórias dos Quatro Ventos (crônicas), Memória Cativa – O Sertão em Prosa e Verso, Sertão - Poesia e Prosa, Tempestade (romance), Ilha das Flores (romance), Evangelho Segundo a Solidão (romance), Desconhecidos (romance), Todo Inverso (poesias), Já Outono (poesias), Poesia Artesã (poesias), Andante (poesias), O Livro das Palavras Tristes (crônicas), Crônicas Sertanejas (crônicas), Crônicas de Sol Chovendo (crônicas), Três Contos de Avoar (contos), A Solidão e a Árvore e outros contos (contos), Poço Redondo – Relatos Sobre o Refúgio do Sol, Da Arte da Sobrevivência no Sertão, Estudos Para Cordel (prosa rimada sobre o cordel). Participou também da coletânea Gandavos - Contando outras histórias. Além, logicamente, da biografia de seu pai, “Todo o Sertão num Só Coração - Vida e Obra de Alcino Alves Costa”. Possui outros livros prontos para publicação, dentre os quais Nas mãos de Deus: um romance de injustiça e Entre a Ficção e a História - O Cangaço Imaginário.
Manoel Belarmino já escreveu perto de uma centena de cordéis e nestes aborda os elementos da terra, os causos e proseados antigos, as ilustres personagens sertanejas. Recentemente tomou posse, na condição de fundador, da Academia Sergipana de Cordel.
E a cada dia vão surgindo novos autores, principalmente cordelistas, a exemplo de Quitéria Gomes e de Ana Bela Rodrigues. Significando, pois, dizer, que também na literatura Poço Redondo possui uma feição de grandiosa produtividade.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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