*Rangel Alves da Costa
Imagina-se que Poço Redondo, por ser um
distante e empobrecido município sertanejo, nos confins sergipanos do Sertão do
São Francisco, pouco ou quase nada produz culturalmente. Contudo, engana-se
quem pensar assim, pois nas suas terras se estendem imensas e ricas
manifestações culturais.
Em Poço Redondo é possível encontrar
cavalhadas, reisados, grupos folclóricos que se prolongam gerações a gerações,
folguedos de todos os tipos e para todos os gostos. A Família Vito com seus
pífanos se constitui numa imensa riqueza cultural. Rendeiras, bordadeiras, artesãos,
continuam produzindo verdadeiros encantamentos. Assim também em outras artes e
na literatura.
Atualmente, alguns nomes podem ser citados
como expoentes máximos da literatura produzida em Poço Redondo, dentre os quais
o político, escritor e compositor Alcino Alves Costa (1940-2012), o advogado e
jornalista Rangel Alves da Costa, além do cordelista Manoel Belarmino, do poeta
Edézio da Paixão e do romancista Alan Leite.
Alcino Alves Costa nasceu em Poço Redondo, no Alto Sertão
Sergipano, a 17 de junho de 1940 e faleceu no dia 1º de novembro de 2012, aos
72 anos. Foi político (prefeito por três vezes em seu município), pesquisador,
compositor, radialista, escritor e palestrante.
Era conhecido e prestigiado não só em
Sergipe, mas em todo o Nordeste e até além fronteiras, principalmente pela sua
obra acerca do fenômeno cangaço.
O “O Caipira de Poço Redondo”, como assinava
seus artigos e gostava de ser chamado, era conhecido pelo seu comportamento de
homem simples que buscou nas raízes sertanejas a motivação para a pesquisa e a
escrita. Sua marca característica era a havaiana nos pés até nos compromissos
mais formais.
Além de político renomado em todo o sertão
sergipano, foi também um apaixonado pela autêntica música caipira e compositor
gravado por duplas sertanejas famosas como Dino Franco e Mouraí e Dino Franco e
Fandangueiro. Foi também gravado por Clemilda num hino sertanejo chamado “Seca
Desalmada”, de 1974.
Foi radialista na Rádio Xingó FM, de Canindé
de São Francisco, onde durante muitos anos apresentou o programa “Sertão, Viola
e Amor”.
Mas foi como pesquisador e escritor da saga
nordestina, enveredando pelas pesquisas acerca do mundo cangaceiro, coronelista
e violento, que se tornou reconhecido mundialmente.
Sobre o cangaço e suas afluências escreveu
“Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”; “O Sertão de
Lampião” e “Lampião em Sergipe”.
Mas também contou a história de Poço Redondo
e Canindé de São Francisco nos livros “Poço Redondo - A Saga de um Povo” e
“Canindé de São Francisco - Seu Povo e sua História”.
Sobre a autêntica música caipira e suas
famosas duplas escreveu “Sertão, Viola e Amor”. É também de sua lavra os livros
“Saudação a Paulo Gastão” e “Preces ao Velho Chico”.
Em junho de 2012, já gravemente enfermo, fez
o lançamento do romance “Maria do Sertão”. E outros livros inéditos aguardam
publicação.
Era
membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC, sócio honorário do
Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, participante efetivo do seminário
permanente Cariri Cangaço, além de palestrante em diversos eventos em renomadas
instituições.
Em setembro de 2011, no município de
Barbalha/CE, foi homenageado com uma placa distintiva outorgada pela Comunidade
Lampião – Grande Rei do Cangaço como “Reconhecimento por sua valiosa
contribuição à cultura nordestina, e, em especial, aos estudos e preservação da
memória do cangaço”.
Em fevereiro de 2012, o evento II Arena de Arte
e Cultura, promovido pela Prefeitura de Nossa Senhora da Glória/SE,
homenageou-o como expoente da cultura e da memória sertaneja.
Nos seus livros, ensaios, artigos e
composições estão presentes a história, a geografia, o cotidiano matuto, a
sociologia da violência e do misticismo, a descrição dos meandros políticos
como causa e consequência das injustiças, da pobreza, da violência e das lutas
cangaceiras que tão presentes estiveram nas vastidões áridas do Nordeste.
Rangel
Alves da Costa, filho de Alcino Alves Costa, é membro da Academia de Letras de
Aracaju e da Associação Sergipana de Imprensa. Já publicou os seguintes livros:
Estórias dos Quatro Ventos (crônicas), Memória Cativa – O Sertão em Prosa e Verso, Sertão
- Poesia e Prosa, Tempestade (romance),
Ilha das Flores (romance), Evangelho
Segundo a Solidão (romance),
Desconhecidos (romance), Todo Inverso
(poesias), Já Outono (poesias), Poesia Artesã (poesias), Andante (poesias), O Livro das Palavras Tristes (crônicas), Crônicas Sertanejas (crônicas),
Crônicas de Sol Chovendo (crônicas),
Três Contos de Avoar (contos), A
Solidão e a Árvore e outros contos (contos), Poço Redondo – Relatos Sobre o Refúgio do Sol, Da Arte da
Sobrevivência no Sertão, Estudos Para Cordel (prosa rimada sobre o cordel).
Participou também da coletânea Gandavos -
Contando outras histórias. Além, logicamente, da biografia de seu pai, “Todo o Sertão num Só Coração - Vida e Obra
de Alcino Alves Costa”. Possui outros livros prontos para publicação,
dentre os quais Nas mãos de Deus: um
romance de injustiça e Entre a Ficção
e a História - O Cangaço Imaginário.
Manoel
Belarmino já escreveu perto de uma centena de cordéis e nestes aborda os
elementos da terra, os causos e proseados antigos, as ilustres personagens
sertanejas. Recentemente tomou posse, na condição de fundador, da Academia
Sergipana de Cordel.
E a cada
dia vão surgindo novos autores, principalmente cordelistas, a exemplo de
Quitéria Gomes e de Ana Bela Rodrigues. Significando, pois, dizer, que também
na literatura Poço Redondo possui uma feição de grandiosa produtividade.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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