*Rangel Alves da Costa
O mundo é uma imensidão, como já disse o
viajante do alto mais alto do cume mais alto da montanha mais alta. E quanto
mais lançava o olhar adiante, viajando pelas paisagens e horizontes, mais
parecia estar apenas no início de tudo aquilo que poderia avistar.
Eis o tamanho do mundo: uma imensidão. Nas
suas vastidões, o além muito além de tudo. Regiões desconhecidas, lugares
desabitados, distâncias jamais alcançadas. Mas também os apertos das cidades
grandes, as teias do subdesenvolvimento, o inacreditável.
Continentes, mares, oceanos, desertos, tudo
fazendo parte desse imenso imundo. Mosteiros, santuários, igrejas, templos
sagrados, tudo em meio aos quintais, aos terreiros de umbanda e de candomblé,
aos pórticos de seitas desconhecidas, pois tudo no mesmo mundo.
Uma choupana de palha nos confins do mundo
africano. Um santuário nas montanhas tibetanas. Moradias fincadas nas friezas
hostis siberianas. Casebres toscos espalhados pelas distâncias nordestinas
brasileiras. Jardins avarandados e floridos no mundo europeu. Tudo parte de um
só mundo. Vasto. Imenso, parecendo sem fim.
Um mundo tão imenso que no seu vão cabe o
esperado e o inesperado, o encantador e o desesperador, o alegre e o triste, o
grandioso e a pequenez. Um mundo que é de paz e que é de guerra, que é riqueza
e da pobreza, que é da acolhida e da brutal perseguição. Tantos jardins
floridos e tantos rios de sangue correndo.
No ser humano, as raças, as crenças, os
credos, os mitos, os conceitos e os preconceitos, se alastram em suas feições e
matizes próprios. Religiões que se combatem e se comungam, tradições que se
perpetuam ou dilaceram no tempo, crenças que se esfacelam pela descontinuidade
de seus valores.
Um mundo tão contrastante como impiedoso a muitos.
De um lado a riqueza e a bonança para tantos e de outro o menos de o nada ter.
A mesa cheia, farta, volumosa, de uns, e a barriga sempre vazia de outros.
Milhões de famintos catando grãos na areia, catando o pão nos lixões, enquanto
outros se fartam nos luxos e consumismos.
Calçadas, ruas e vielas de um mundo só,
único, com sua imensidão. E pelas calçadas vão passando os solados, os ternos e
os paletós, enquanto que pelas mesmas calçadas se estendem as mãos estendidas,
os rogos por uma esmola qualquer. Uns que simplesmente passam e outros que
simplesmente ficam.
Um mundo de mãos em orações, de corpos
ajoelhados, de mãos entrecruzadas em preces. Mas também um mundo do terror, da
barbárie, da desumanidade sem fim. Muito se pede a paz, muito se prega a paz,
mas os ataques continuam ceifando vidas por todos os lugares, os terrorismos
continuam ensanguentando nações inteiras.
Um mundo de águas tantas, de florestas
tantas, de plantações e colheitas. Porém correndo o risco de escassez de água,
de comida, de campos para a plantação. Ora, os desertos vão se formando por
todo lugar. Assim nas distâncias arenosas como nas selvas urbanas e os seus
seres fugindo de outros seres. O homem cada vez mais lobo do homem.
Há uma favela aqui outra acolá, favelas pelo
mundo inteiro. Barracos, palafitas, moradias indignas e desumanas. Prédios
suntuosos, edifícios majestosos, tudo no requinte e na ostentação. E tudo num
mundo só, mas parecendo dois mundos que se ladeiam sem ao menos se conhecerem.
Um mundo de todo mundo, mas de pessoas
desiguais até em si mesmas. Pessoas que se desconhecem e negam de vez a
existência do próximo. Daí ser um mundo de tantos e de tão poucos, um mundo tão
solitário que talvez caminhe sozinho pelo próprio mundo.
Mas este é o mundo de todo mundo. E não há
outro mundo que não este.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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