SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ALCINO, MEU PAI: RETRATO INACABADO - IV (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Durante as três ocasiões em que foi prefeito de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo (1966/1970 – 1973/1977 – 1982/1988), Alcino Alves Costa jamais mudou sua postura de homem comum, pessoa simples, acessível aos irmãos de sol, sertanejo igual aos demais.
Sempre levando nos pés a inseparável havaiana, costumeiramente de camisa de malha fechada, listrada tantas vezes, deitada ao ombro, nem parecia líder político, prefeito, primeiro mandatário do lugar. Altas horas da noite, quando a lua grande brilhava intensa e o silêncio se alongava pelas plagas matutas, lá ia Alcino com sua radiola, discos debaixo do braço, para a pracinha da matriz. Sem cantar, era o seresteiro da noite, o eterno apaixonado pela plangência da melodia caipira.
De sorriso largo, tez morena, mantinha sua liderança política como se convivesse em meio a uma grande família. Fato curioso que não era apenas prefeito, mas tantas vezes o farmacêutico do lugar, pois mantinha uma verdadeira farmácia com aqueles medicamentos sempre indicados em casos de dor de cabeça, de dente, diarréia e coisa e tal.
E não poderia ser diferente, ao assumir a prefeitura em 66, mesmo sendo territorialmente o maior município de Sergipe, Poço Redondo era totalmente esquecido pelos poderes, abandonado à sua sorte, sobrevivendo da luta do seu povo. Com as estiagens constantes, a pobreza se alastrando, a miséria gritando em todo canto, qualquer auxílio que chegasse para minorar o sofrimento do povo era uma dádiva de Deus.
Nessa época, e mesmo até muito tempo depois, não havia hospital ou maternidade, sequer uma casa de parto. As velhas parteiras tinham de dar conta do recado à luz do candeeiro. Somente depois surgiu um posto da Fundação SESP e um posto médico construído e mantido pelo próprio município. E com atendimento médico somente aos sábados, sob os auspícios do Dr. Jaime, figura humana considerável que marcou época no atendimento à população.
Contudo, as consultas eram poucas e as enfermidades multiplicadas. A extensão do município e o acesso às unidades de saúde mais distantes implicavam num problema grave para a população, e que caberia ao prefeito resolver. Por isso mesmo que Alcino mantinha remédios de utilidade geral sempre ao dispor, de modo que no meio da noite ninguém ficasse sem, por exemplo, um Anador.
Mesmo meninote, lembro bem da constância em que pessoas, nas altas horas da noite ou já madrugada, chegavam batendo à porta: “Chega Alcino, arranje um carro que fulana de tal tá com dor de parir e é coisa que só hospital dá jeito”, “Acuda Alcino, que num sei quem deu uma dor no pé da barriga que tá em tempo de se acabar”, “Socorro, Alcino arrume um carro pelo amor de Deus que sicrana tá com uma dor de correr doida”. E chega, chega, chega, era tudo um aperreio danado.
Tudo longe demais, estradas de chão, sem nem pensar em ambulância naqueles idos, carros caindo os pedaços, então era realmente uma situação muito difícil para o prefeito resolver. E quando alguém falecia a despesa com o caixão artesanal, feito ali mesmo na serraria, era responsabilidade da prefeitura. Tantas vezes do próprio prefeito.
E um costume que se alastrou e sucedeu até o seu último mandato, já no final dos anos 80, merece ser citado, principalmente porque através dele se pode dimensionar a pobreza que se abatia – e continua assim – sobre inúmeras famílias. Eis que todo dia de feira, e mesmo noutros dias, Alcino pagava do próprio bolso dezenas de pequenas cestas de alimentos. Quilo disso e daquilo, mas tudo essencial, cada um garantia seu alimento de poucos dias.
Num tempo de bodegas e mercearias, pequenas vendas de balcão e de um tudo, caderninhos eram especialmente mantidos nas gavetas com o nome de Alcino. As pessoas iam lá, diziam a mando de quem tinham ido para receber o alimento, e depois tudo era anotado com a letra quase sempre ilegível do vendedor de pouca leitura. Só não errava nos números. Assim era na bodega de Missiinha, de Dom, de Zé Preto, na mercearia de Seu João e assim por diante.
Entretanto, não significa que agindo assim Alcino tenha estabelecido aquilo que sociologicamente se chama assistencialismo. E não porque ele não prestava tanta assistência aos seus munícipes objetivando manter currais eleitorais ou fazendo da assistência uma forma de submissão e atrelamento à sua liderança política. Fazia, isto sim, porque conhecedor profundo das carências, das necessidades absolutas do povo, da face horrenda da miséria.
Ora, ele não fazia pouso nem descanso no seu gabinete, não tinha antessala para receber pessoas, não burocratizava as relações com os seus. Alcino vivia nas ruas, nos becos, nas distâncias, em Sítios Novos, em Santa Rosa, em Curralinho, em Bonsucesso, nas Areias, nas Queimadas, na Guia, em todo lugar onde precisasse sentir como a população estava passando e quais as necessidades mais prementes.   
Quando prefeito pela primeira vez, a partir de 66, já era casado, e com três filhos, Nagel, nascido em 62, Rangel em 63 e Ustane em 66. Casou ainda na curva do ano de 1959, com menos de vinte anos, com a moça mais bonita do lugar, Maria do Perpétuo Alves, filha de Teotônio Alves China e Marieta Alves de Sá, família de reconhecido quilate em toda a região sertaneja.
Seu China do Poço, assim conhecido, era um pequeno comerciante, bodegueiro de venda ao lado da moradia, mas cuja influência prosperava através dos amigos que recebia em sua casa para repasto e repouso. Tanto Lampião como Padre Arthur Passos recebiam acolhida do amigo e lambiam os beiços com os pratos sertanejos deliciosos preparados por Dona Marieta.
Acerca da amizade entre aquele que mais tarde viria a ser o sogro de Alcino e o Capitão Lampião, certa feita escrevi:
“Quando estava nos arredores do lugarejo mandava logo um coiteiro avisar ao meu avô materno Teotônio Alves China, o China, um respeitado comerciante do lugarejo, que providenciasse comida que em tal dia e tal hora ele chegaria por lá. Se não confiasse, se não fosse realmente amigo, jamais mandaria avisar ode estava e quando faria uma visita.
E Dona Marieta, coitada, minha avó, colocava as mãos na cabeça e ficava em tempo de endoidar. "Mai o que foi Marieta, só pruque o cumpade Lampião vem aqui você fica assim, e ói qui aqui ele nunca foi um estranho pra nóis não, pelo cuntraro. É nosso amigo e bom amigo. Entonce deixe de avexamento e vá arrumar os cabrito". Então minha avó respondia: "Mai num é isso não China, o poblema é qui o Pade Artur vai tá aqui na merma data qui o Capitão chegar. E cuma vai ser, Deus e o diabo numa casa só?".
E o encontro realmente aconteceu. Os donos da casa com nervos à flor da pele, mas tudo foi resolvido da melhor maneira possível. Nem Lampião quis afrontar o da igreja quando chegou à residência e ficou sabendo de sua presença num dos aposentos, providencialmente tirando uma soneca, nem este se levantou cheio de ira querendo exorcizar o cangaceiro.
Sem demonstrar receios nem olho feio de lado a outro, mais tarde estavam dividindo a mesma mesa e comendo gulosamente a carne de bode, a buchada, a galinha de capoeira e tudo que havia sido preparado com esmero e muito tempero por Dona Marieta. Mesmo na calma tão implorada aos céus, a dona da casa bambeava as pernas finas de tanta preocupação. A hóstia e o sangue olhando olho no olho era difícil demais de acreditar.
E dizem os pesquisadores que nesta oportunidade Lampião perguntou ao padre se ele e seu bando poderiam assistir a missa de agosto em comemoração a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do lugar. E recebeu resposta positiva, desde que deixassem as armas do lado de fora. Certamente só foram emparelhadas externamente o armamento pesado, vez que cangaceiro algum iria ficar desarmado por um só instante, ainda que assistindo missa, dentro da igrejinha.
Continua...

  
Poeta e cronista
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Desde que... (Poesia)



Desde que...


Desde que ontem
andando o meu caminho
encontrei o teu retrato
beijei-o com doce carinho
estava na paisagem
na brisa e miragem
estava no meu diário
nossa história em calendário
estava na chuva caindo
valsa na dança sorrindo
estava na minha poesia
amor que tanto queria
estava no verso mais belo
um sentimento tão singelo
estava em tudo que vi
em tudo que ficou
na saudade e no amor
tão bela na flor da estação
para enfeitar meu coração

desde que hoje
decidido a não sofrer
guardarei o teu retrato
e irei procurar você...

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS - 60


Rangel Alves da Costa*


“Somos a moldura ou o fundo?”.
“Do retrato ou da pintura?”.
“Dos dois, e da vida também...”.
“Tudo tem seu jeito de ser...”.
“No retrato...”.
“Nem a moldura nem o fundo...”.
“Por quê?”.
“Ao fundo o passado. Você ou alguém que também é você...”.
“Eu e outro ser...”.
“Um familiar também é você...”.
“Entendi. Na moldura...”.
“O tempo, a história...”.
“A idade da fotografia...”.
“Sim. O retrato fica lá dentro, geralmente protegido por espelho, mas a moldura...”.
“A moldura está diante da vida, do tempo, da realidade...”.
“Não tenho, mas gostaria de ter muitos retratos na parede...”.
“A gente da cidade não gosta muito de preservar sua história familiar...”.
“Muito diferente das casas interioranas...”.
“Lindas paredes, mesmo de barro, quase caindo...”.
“Mas sempre com a presença da família retratada por ali...”.
“Parece museu...”.
“Museu de sangue na veia, de herança...”.
“De ancestrais, de linhagens...”.
“Museu das feições e faces...”.
“Por que a fotografia amarela tanto com o tempo?”.
“Diferentemente do espelho, as rugas estão na cor...”.
“Quanto mais esbranquiçada, amarelada mais antiga...”.
“A fiel representação da existência...”.
“Uma fotografia nova, um encanto...”.
“Um retrato novo, um sorriso...”.
“Com o tempo passando...”.
“Quando a moldura vai perdendo a cor...”.
“O vidro vai embaçando...”.
“A feição vai modificando...”.
“Aquele sorriso parece distante. Surge um aspecto entristecido...”.
“Por que enxergamos assim?”.
“Porque assim também é a vida...”.
“O retrato simboliza a mudança...”.
“O retrato não se transforma fisicamente...”.
“Mas representa fielmente a transformação...”.
“Aquele sorriso antigo...”.
“Cara de felicidade...”.
“Cabelinhos cacheados...”.
“Já naquela outra a menina mais sisuda...”.
“O sorriso sumiu...”.
“Mas ainda não parece triste...”.
“O retrato nunca é triste...”.
“Nós o entristecemos...”.
“Será saudade?”.
“Sempre...”.
“Sua mãe linda...”.
“Seu pai jovial...”.
“A família reunida...”.
“E mais tarde...”.
“Retratos dispersos...”.
“Um aqui outro acolá...”.
“E os outros que somem...”.
“E os retratos nos baús...”.
“Também assim na vida...”.
“Muitas vezes a plena solidão do retrato...”.
“A solidão da pessoa...”.
“Onde estarão as outras fotografias?”.
“Na saudade...”.
“Na imensa saudade”.
“Infinita...”.

  
Poeta e cronista
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terça-feira, 30 de outubro de 2012

ALCINO, MEU PAI: RETRATO INACABADO - III (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Como afirmado em linhas pretéritas, antes mesmo de enveredar pelos caminhos das pesquisas cangaceiras Alcino já era devotado, verdadeiramente apaixonado, pela autêntica música caipira. De Tonico e Tinoco então, o mais deslumbrado que possa existir.
Ainda menino, mas já de ouvido atento para coisa boa, eu me encantava quando pelos quatro cantos da moradia começava a ecoar a contagiante melodia caipira, na radiola ou no velho rádio ao entardecer. Naquela época Alcino já era um colecionador voraz de long-plays sertanejos, discos que cuidava com o maior zelo do mundo.
Eram centenas de discos em vinil, ainda hoje existentes e em quantidade ainda maior, mas se desse falta de algum então o mundo virava até se lembrar se havia doado ou emprestado a alguém. Ao lado desses discos, a coisa que mais gostava certamente era de sua pequena radiola, de cor azul, ainda lembro, portátil, pequenina mesmo, que lhe fora presenteada por um parente.
Há uns dois anos escrevi um texto intitulado “Uma radiola ao luar”, onde mencionava o cotidiano entre Alcino e o seu inseparável toca-discos. Eis parte do que escrevi:
“Sertão é assim mesmo, seu moço! Bicho e poesia, cantiga e lamentação, bom dia e inté mais se ver, boa sorte e que Deus lhe ajude! E pelos caminhos que cortam a vida, os barracos se espalhando feito galinha no terreiro, bicho no berreiro, qualquer coisa no cercadinho e o prazer imenso de dizer isso é meu. Não tem nada não, seu moço, mas tudo é dele. É dele porque o sertão é dele e ele é o sertão em pessoa.
Meu pai nasceu num lugar assim, nessa vastidão sertaneja onde tudo mundo era feliz e não sabia. Somente mais tarde, quando o filho de Dona Emeliana e Seu Ermerindo ouviu pela primeira vez uma autêntica cantiga sertaneja, um legítimo violar caipira, é que começou a juntar a letra da moda de viola com a terra que pisava e a realidade vivida e decisivamente concluiu que as belezas do sertão são melodias de se caminhar e pegar com a mão.
Foi nesse momento que a viola caipira de Tonico e Tinoco entrou melodiosamente no coração de Alcino. Aquele rapaz, já político e prefeito do lugar, logo ao amanhecer escurecido ligava seu velho e potente rádio Philips, de quase meio metro de diâmetro, e sintonizava nas emissoras paulistanas onde sabia que não demoraria muito para ouvir a voz inconfundível da dupla coração do Brasil.
Sou filho - e por isso mesmo posso falar - que o rapaz já casado ainda assim era um inveterado namorador. Todo mundo sabe disso até hoje. Assim, quando um dia um primo seu chegado do sul lhe trouxe de presente uma radiola portátil novinha, pequenininha e azul, todas as noites, e sempre já em altas horas, Alcino seguia em direção à praça da matriz, colocava seu toca-discos em cima de um banco e ia escolhendo a dedo as músicas de Tonico e Tinoco.
Muitos dizem que ele fazia serenata louvando as belezas do luarar sertanejo, outros afirmam que era serenata mesmo, mas com outras motivações apaixonadas. De qualquer sorte, invariavelmente se ouvia todas as noites “Tristeza do Jeca”, “Eu e a lua” e “Pé de ipê” nas doces e inconfundíveis vozes de Tonico e Tinoco.
E se ouvia na “Tristeza do Jeca”: “Nestes verso tão singelo/ minha bela, meu amor/ pra você quero contar/ o meu sofrer e a minha dor/ Eu sô igual a um sabiá/ quando canta é só tristeza/ desde um galho onde ele está/ nesta viola eu canto e gemo de verdade/ cada toada representa uma saudade...”.
Na “Eu e a lua”: “Eu me desperto em arta madrugada/ Em arvorada ponho-me a cantar/ Em tom profundo lamento em meu pinho/ Triste sozinho vivo a recordar/ Vem ouvir ingrata quem deixou de amar/ Somente a lua no céu estrelado/ Está a meu lado, surgiu num clarão/ E tu querida nem abre a janela/ Vem ouvir donzela a minha canção/ Tu foi aquela muié sem coração...”.
E “Pé de ipê”: “Eu bem sei que adivinhava/ quando as veiz eu ti chamava/ de muié sem coração/ Minha vóiz assim queixosa/ vancê é a mais formosa/ das cobocra do sertão/ Certa veiz tive um desejo/ de prová ao meno um beijo/ da boquinha de vancê/ Lá no trio da baixada/ pertinho da encruziada/ debaixo de um pé de ipê...”.
Até hoje, já aos 70 anos, Alcino continua ainda mais apaixonado pela autêntica música caipira. Naqueles idos suas paixões eram muitas e até dizem que muitas eram as mocinhas que choravam nos travesseiros ou pertinho das janelas, com os apertos nos corações que sempre chegam altas horas da noite e com a serenata sertaneja de Alcino”.
Mas hoje Alcino já chegou aos 72 anos e se não fossem as contínuas enfermidades que lhe afligem certamente ainda colaboraria muito com a cultura e a história nordestina. É possuidor de um verdadeiro acervo de obras inacabadas, livros que estão prestes a serem publicados, poemas matutos para serem transformados em canções. E sonhos, muitos sonhos.
O seu primeiro sucesso como compositor ocorreu pelos idos da década de 70, quando ainda era mais político do que qualquer outra coisa. Contudo, foi a política que o aproximou de grandes artistas nordestinos, de sanfoneiros da melhor qualidade, possibilitando que fizesse chegar aos rincões semiáridos de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo a musicalidade que tinha a feição do seu povo.
Quando prefeito, Alcino acostumou a todo final de ano oferecer ao seu povo uma festança diferenciada, com grandes nomes sertanejos e forró da melhor qualidade. Assim, a rua da prefeitura, no centro da cidade, era fechada de canto a outro e num dos lados um caminhão servia de palco para as apresentações. E por lá passaram Pedro Sertanejo, Elino Julião, João do Pífano, Gérson Filho, Clemilda, Abdias, Messias Holanda e tantos outros.
Mantinha uma amizade muito próxima com o grande forrozeiro Gérson Filho e sua esposa Clemilda. E foi esta que gravou, no ano de 1973, um verdadeiro hino sertanejo de sua lavra, chamado “Seca Desalmada”, que deu nome ao disco da forrozeira alagoana/sergipana e despontou como o maior sucesso daquele período. A letra, cuidando da fé e da religiosidade do povo sertanejo, dizia assim:
“Visitei o Juazeiro que fica lá no sertão/ Havia muito romeiro escutando um sermão/ Eu também fui escutar/ Prestei bastante atenção/ Perguntei quem era o padre/ Meu Padim Frei Damião que vinha da eternidade/ Pra salvar o meu sertão/ O sertão está passando uma grande provação/ É a seca desalmada acabando com o cristão/ Mas temos um defensor/ Meu Padim Frei Damião/ Padim Ciço Foi embora/ Para o céu Deus o levou/ O romeiro do sertão de tristeza até chorou/ Mas agora vive alegre/ O santo Padre voltou”.
Muitas outras canções compostas por Alcino foram sendo gravadas por duplas caipiras ao longo dos anos. Contudo, duas especialmente, e gravadas mais recentemente, alcançaram grande sucesso no sul do país. A primeira, registrada por Dino Franco e Mouraí no CD Presente de Deus, é um cateretê intitulado “Garça Branca da Serra”, cuja letra diz:
“Naquela serra do norte o sol nascendo dourado/ Lindos raios vão surgindo naquele reino encantado/ Ao longe a serra azul formando um manto sagrado/ A garça branca da serra tem ali o seu reinado/ Bem pertinho da cascata/ E perto da verde mata daquele sertão amado/ É obra da natureza o mundo da passarada/ A serra desponta bela no final daquela estrada/ A garça branca da serra fez ali sua morada/ Quando chega a tardinha ela volta pra pousada/ Com seu porte de rainha/ A plumagem é branquinha parece deusa sagrada/ Também tenho a minha garça, garça linda meu senhor/ Ela não mora na serra e também nunca voou/ É uma bela morena com um olhar encantador/ E a mulher que eu amo que o destino me enviou/ Ela vive em meu ranchinho/ É a garça do meu ninho, um bem que Deus me deixou”.
Já a segunda, “Desencanto da Natureza”, foi gravada por Dino Franco e Fandangueiro e se constitui num verdadeiro grito ambientalista, cuja preocupação maior é apontar as atrocidades do homem perante a fauna e a flora, a natureza enfim. Eis a letra:
“Eu vejo lá bem distante os papagaios voando/ Cada vez indo pra longe, o sertão estão deixando/ Fugindo da mão do homem, outro habitat procando/ Periquitos e araras também vão se retirando/ A raposa espreita tudo desconfiada olhando/ E o homem sem piedade cruelmente vai matando/ Caçador, caçador, com você estou falando/ Não mate a fauna e a flora, quero vê-las procriando/ Muito triste a mata chora a morte da passarada/ Os campos virando cinza com a fúria da queimada/ Na sombra da quixabeira não se vê onça pintada/ Caititu se retirou pra bem longe da baixada/ Galho seco despencando, caindo lá da ramada/ O homem cortando tudo em medonha derrubada/ Roçador, roçador não pegue mais empreitada
Encoste a foice e o machado, evite fazer queimada/ O sertão é um paraíso, paraíso de esplendor/ Mata virgem, céu azul e canário dobrador/ Inhambu piando triste quando a tarde furta-cor/ Os bichos todos fugindo da mira do caçador/ O riacho ainda chora a mata cheia de flor/ E o homem destruindo as obras do Criador/ Predador, predador, olhai para o que restou/ Predador, predador, não mate o que Deus criou/ Não mate o que Deus criou”.
Entretanto, não duvido que a música que ele mais admira é uma composição sua em parceria com Dino Franco, cujo título “Sertão, viola e amor” é o mesmo do programa que manteve por muitos anos na Rádio Xingó Fm, de Canindé do São Francisco. Todas as tardes de sábado, com todos os radinhos sertanejos ligados, muitas vezes juntinhos ao ouvido, começavam ouvir a música de abertura do programa:
 “No nordeste brasileiro/ Uma onda se espalhou/ Na voz da Rádio Xingó/ Com seu apresentador/ Foi uma benção divina/ A um povo sofredor/ O violeiro cantando/ Sertão, viola e amor/ O cavaquinho do samba/ Num canto se encostou/ O tamborim fez silêncio/ Pra longe se retirou/ A natureza sorriu/ Ouvindo seu trovador/ No rádio leu-se a mensagem/ Sertão, viola e amor/ Cantigas e mais cantigas/ De um tempo que já passou/ As trovas apaixonadas/ Do poeta cantador/ Histórias de vaquejadas/ Maravilhas, sim senhor/ Me alegra quando ouço/ Sertão, viola e amor/ No nordeste, leste, oeste/ O povo se admirou/ Ouvindo a Rádio Xingó/ E seus poemas de amor/ Canta, canta minha gente/ Pois violeiro também sou/ O Brasil todo conhece/ Sertão, viola e amor”.
Na Rádio Xingó declamava os seus versos, falava aquilo que o sertanejo tanto gosta de ouvir, e entremeava seus diálogos cheirando a terra com a melhor música caipira, escolhida a dedo, oferecida com o coração. Eis o Alcino, o caipira de Poço Redondo, com o seu viver tão marcante.
Continua...

  
Poeta e cronista
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Provas de amor (Poesia)



Provas de amor


No meu olhar a verdade
no meu ser a sinceridade
o diálogo maior da relação
flui sincero no coração
provas de amor tão reais
em nós o que satisfaz

mas se ainda assim
quiseres provas materiais
presentes belos sem fim
darei tudo e muito mais
um diadema encantado
um brilhante todo azul
um anel de pedrarias
um perfume importado
fios dourados em tudo
e o que houver sonhado

mas preferia te dar uma flor
apenas uma linda flor
e também uma palavra doce
assim como um algodão
e depois do abraço apertado
dizer apenas que o amor
é a certeza que se faz
no ser e não no ter.
  

Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS - 59


Rangel Alves da Costa*


“Onde está a poesia?”.
“Em tudo há poesia...”.
“Mesmo na dor?”.
“Da dor se extrai a beleza dos sentimentos...”.
“Um contraste à beleza poética...”.
“Talvez, mas a poesia se expressa exatamente naquilo que é mais contundente na alma, no espírito, no ser...”.
“Então...”.
“Todas as lágrimas são poesias...”.
“Da dor e do contentamento?”.
“Os motivos são diferentes, mas o gesto expressivo é o mesmo...”.
“Uma morte poética...”.
“Também...”.
“Difícil acreditar...”.
“Os feitos, o bondoso coração de quem se expirou, as saudades que já brotam, tudo é poesia...”.
“A morte humana tão diferentemente do perecimento na natureza...”.
“Ainda tudo poesia. A beleza de um ser não se extingue com a morte. A herança sentimental prima pela poesia...”.
“E na natureza...”.
“Eis uma morte de sentimento inverso. Não há tanta dor e lamento. Tudo se expressa bem intimamente...”.
“Na tristeza, na angústia...”.
“Como acontece nas folhas mortas...”.
“Realmente, o fim de outono é um livro encantador de poesia, ainda que triste...”.
“Então, se na morte há poesia imagine noutras situações da vida...”.
“Na janela...”.
“A poesia do vento, da brisa...”.
“No jardim...”.
“A poesia da flor, do amor, do aroma, do perfume...”.
“Na noite...”.
“A poesia da lua, da solidão, da tristeza...”.
“Na estrada...”.
“A poesia da liberdade, do encontro, do reencontro...”.
“Na porta...”.
“A poesia da partida e da chegada, do adeus, da ausência...”.
“No cais...”.
“A poesia da solidão, da distância, da melancolia...”.
“No sorriso...”.
“A poesia da felicidade, do contentamento...”.
“Na manhã...”.
“A poesia da promessa, da força, da esperança...”.
“Na solidão...”.
“A poesia do silêncio, da busca...”.
“No beijo...”.
“A poesia do desejo, do querer, da aproximação...”.
“No abraço...”.
“A poesia da afeição, do afeto, da amizade...”.
“Na saudade...”.
“A poesia da falta, da carência, do querer...”.
“Na chuva...”.
“A poesia da renovação, do refazimento...”.
“No sonho...”.
“A poesia do inesperado, do desejo adormecido...”.
“Na palavra...”.
“A poesia maior, pois lápis que escolhe o motivo...”.
“No olhar...”.
“A poesia da lágrima, do sentimento...”.
“Na memória...”.
“A poesia da recordação, da doçura em recordar...”.
“Na vida...”.
“A poesia da presença e do sonho de permanência...”.
“No amor...”.
“A nossa poesia!”.

  
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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

ALCINO, MEU PAI: RETRATO INACABADO - II (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


As primeiras incursões de Alcino Alves Costa pelo mundo do cangaço não aconteceram ao acaso. O município de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo como palco de andanças e aventuras do bando de Lampião, as famílias relatando as glórias e inglórias dos seus filhos que se tornaram cangaceiros, o convívio com os personagens remanescentes das lides catingueiras, tudo isso potencializava a inclinação para a pesquisa.
Ouvindo de um e de outro os relatos sobre a presença do bando mais famoso na região, passando a conhecer as localidades das batalhas e refúgios, além de ser genro de um dos maiores amigos de Lampião, Teotônio Alves China, o China do Poço (aquele mesmo em cuja residência houve o célebre encontro entre a cruz e a espada, entre Padre Arthur Passos e Virgulino), eis que Alcino foi juntando os retalhos cangaceiros e de repente já estava transcrevendo considerações acerca dessa inigualável saga nordestina.
De dedo a dedo, começou a teclar a história. E em páginas e mais páginas iam surgindo suas versões sobre o cangaço. Digo versões porque contrapontos aos muitos relatos oficializados pelos livros, porém não aceitos como verdadeiros por ele. Juntando os fatos, confrontando as provas, passou a não aceitar que verdadeiros absurdos históricos continuassem sob o manto da veracidade. E o primeiro aspecto a indagar foi acerca da morte de Lampião na Gruta do Angico, naquela madrugada de 28 de julho de 1938.
Segundo Alcino, aquela história deveria ser recontada diante da possibilidade de a Chacina de Angico não ter acontecido da forma como é tão considerada pelos livros e disseminada pela maioria dos estudiosos. E começou a ampliar seu debate. Contudo, inicialmente não tinha qualquer pretensão de publicar aquilo que considerava apenas como acanhados escritos de um matuto cavando as profundezas da história.
Ciente de suas limitações, tanto como pesquisador quanto escritor, vez que se achava possuidor de uma escrita estreitada demais, sem qualquer primor de grafia, incorrendo em constantes erros gramaticais, escrevia mais para si mesmo do que para lançar seus escritos ao debate público. Mas também por não acreditar muito que o seu trabalho pudesse alcançar qualquer importância perante o meio especializado no tema. 
Mas vaidoso como sempre foi, buscando qualquer comentário positivo sobre seus rascunhos, e nisto o encorajamento para seguir adiante, de repente começou a mostrar a pesquisadores e outros interessados partes daquilo que cuidadosamente elaborava. Alguns, vendo a qualidade das pesquisas e a pujança dos relatos, tentaram mesmo usurpar, transcrevendo como seus, importantes conteúdos daquela nascente obra. E isto porque, inocentemente, confiando demais, emprestava a qualquer um seus originais.
Certa feita, já tendo publicado outros livros sobre o cangaço e um sobre a música caipira, e começando a ter o merecido reconhecimento perante o meio acadêmico e pesquisadores, Alcino recebeu uma proposta das mais aviltantes para uma pessoa de sua honradez, algo totalmente indecente na vida de um sertanejo. Eis que alguém bastante influente, amigo seu desde outros tempos, e cujo nome prefiro não citar, propôs que ele emprestasse um livro inédito para que fosse publicado como tendo sido escrito por aquela pessoa.
Outra pessoa bastante influente da intelectualidade sergipana, escritor renomado, simplesmente copiou trechos inteiros de um livro inédito que estava em suas mãos para apreciação. E depois desavergonhadamente publicou. Mas nem só em meio a esse joio, a ervas daninhas, convive Alcino.
“O Caipira de Poço Redondo”, como gosta de acentuar nos seus artigos, fez e faz grandes amigos e, tendo a muitos como verdadeiros irmãos, a estes confia seus escritos com prazer e máxima certeza que o retorno será o melhor possível. Entrega seus originais a tais amigos e na maioria das vezes pede uma revisão, uma análise, uma introdução ou um prefácio. E sempre é inteligentemente recompensado.
Contudo, muito tempo se passou desde os primeiros esboços até a possibilidade de transformar em livro aqueles registros. Somente quando nas suas andanças sertanejas, nas suas incansáveis pesquisas de campo, a professora e historiadora Luitgarde de Oliveira Cavalcanti Barros se debruçou sobre aquelas páginas é que os relatos de Alcino começaram a ter o devido e abalizado reconhecimento. No prefácio do livro “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”, a historiadora assim expõe:
“Alcino, como já aconteceu com outros escritores, tangido por uma preocupação de fidedignidade aos fatos narrados cria espontaneamente, sem os paradigmas da produção científica, uma descrição pormenorizada do ambiente, dentro do contexto local, objeto de sua narrativa, dos fatos que apresenta. Partindo de Poço redondo, refletindo a angústia de seu povo sem recursos e de poucos estudos, falando sobre o vazio de alternativas econômicas de sua população mais pobre, o que ele faz na verdade é uma Etnologia do sertão nordestino”.
E prossegue a ilustre pesquisadora:
“Mas o belo de seu trabalho, ressaltado o valor documental que apresenta, é o lirismo, a emoção que serve de teia no encadeamento da narrativa. Aí, na norma da expressão, no mote, na plangência do canto de suas reminiscências, este livro é poesia pura, narrativa literária que prende o leitor até a última linha de sua prosa poética. Sem qualquer conhecimento de Teoria Literária, atinge em muitos capítulos o ritmo e a marcação do teatro grego, no estímulo enxuto, na dramaticidade despida de palavrórios adjetivados [...]”.
Após tecer outras importantes considerações, cita:
“É a produção intelectual de um homem que só tem formação institucional de curso primário, feita com muito sentimento e maestria, um grito vindo da profundidade da caatinga mais recôndita, como o frescor da água fria do facheiro para o andante sedento. Ele não tivera medo que eu me apropriasse de suas melhores idéias, de alguns dos excelentes trechos de seu livro”.
Assim, a professora Luitgarde Cavalcanti proporcionou a Alcino o incentivo que tanto precisava para se situar no meio literário do mundo cangaceiro. Mas não apenas o cangaço enquanto conceito de luta sertaneja entre o bandoleiro e a volante, mas na visualização de um contexto maior que, necessariamente, implica em desbravar a realidade de então para encontrar as injustiças sociais, as explorações, as perseguições, os latifúndios, as práticas coronelistas, os conchavos e desmandos do poder, enfim, o meio gestando os mais sangrentos conflitos.
Depois de lançado o primeiro livro, “Lampião Além da Versão”, em 1996, obtendo grande receptividade entre os estudiosos e a população, Alcino tomou ânimo e daí em diante passou a dar um norteamento totalmente diferente à sua vida. Optou por transformar o seu lado político, de forte liderança local, em mero acompanhamento das novas forças surgidas, e enveredou de vez pelo lado da cultura e da história regional.
Desde então passou a se voltar para duas vertentes diferentes, mas num mesmo sentido: a valorização da música caipira, procurando mostrar sua riqueza através do programa “Sertão, Viola e Amor”, que manteve durante muitos anos na Rádio Xingó FM, em Canindé do São Francisco, cidade vizinha a Poço Redondo, até ser acometido por um AVC em julho deste ano, bem como aumentar e aprimorar suas composições musicais, pois também exímio letrista cuja poesia sertaneja já foi gravada por Clemilda, Dino Franco e Amaraí, Dino Franco e Fandangueiro e Osano e Ozanilton, dentre outros.
E na outra vertente a continuidade de suas pesquisas e escritos não só sobre a saga cangaceira como pela formação histórica da região sertaneja sergipana, cujo olhar aprofundado frutificou dois belos livros: “Canindé do São Francisco – Seu Povo e Sua História” e “Poço Redondo – A Saga de Um Povo”. Sobre o cangaço não só continuou escrevendo como também participando de palestras, seminários e outros eventos. Tornou-se famoso, reconhecido. Contudo, o mesmo humilde, o mesmo sertanejo, o mesmo caipira de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo.
Continua...

  
Poeta e cronista
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Só restou amor, você gosta? (Poesia)



Só restou amor, você gosta?


A mesa estava farta
tanto fausto e tanta glória
dourados e diamantes
a vida embelezada
pujança na cor e sabor
mas como tudo acaba
um dia tudo acabou
e só restou o amor
você gosta?

o amor que restou
por ser a sobrevivência
do espírito e do coração
terá de ser compartilhado
aos que verdadeiramente
tenham carência afetiva
sem a gula da paixão
mas tão pouco e tudo
somente um grão
você quer?

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS - 58


Rangel Alves da Costa*


“Da janela passa tudo...”.
“A história, a vida...”.
“A brisa, a ventania...”.
“O aroma e o odor...”.
“O conhecido e o estranho...”.
“O cumprimento e o silêncio...”.
“A tristeza e a alegria...”.
“O cão e o gato...”.
“A vendedora e o pedinte...”.
“O carteiro sem voz...”.
“A vizinha levando a mácula...”.
“O menino de todo dia...”.
“O doido de toda hora...”.
“Da janela avista-se a história...”.
“Os negros acorrentados...”.
“Os revoltosos apunhalados...”.
“A elite do poder...”.
“A pobreza alarmante...”.
“O vaqueiro a cavalo...”.
“O inconfidente para a morte...”.
“O libertário com panfleto...”.
“O anúncio do jornal...”.
“O grito do jornaleiro...”.
“O grito do mudo estupefato...”.
“Da janela vejo o passado...”.
“As famílias seguindo à missa dominical...”.
“O tristonho funeral...”.
“O terno de linho branco...”.
“O cheiro de perfume francês...”.
“O coronel e o jagunço...”.
“A cafetina florida...”.
“A prostituta envergonhada...”.
“A mãe perseguindo o menino...”.
“O menino atrás da bola...”.
“O povo em procissão...”.
“A beata em devoção...”.
“Da janela sinto o mundo...”.
“Da janela vejo a realidade...”.
“Queria ter mais janelas...”.
“Para os encantos da vida?”.
“Para a revoada ao entardecer...”.
“Para a tarde, o por do sol, o cair da noite...”.
“Para enxergar a lua...”.
“Para amar tanta lua...”.
“Para querer ter a lua...”.
“Avistar o horizonte...”.
“As nuvens por trás dos montes...”.
“Ver a nuvem gorda chegando...”.
“Ouvir o ronco do trovão...”.
“Temer o luzir do relâmpago...”.
“Sentir a chuva cair...”.
“Sentir a chuva molhar...”.
“Sentir uma vontade danada...”.
“De pular a janela...”.
“Tomar banho de chuva...”.
“Brincar de criança...”.
“Reencontrar a felicidade...”.
“E da janela espero...”.
“Espere que chego já...”.
“E olha adiante aflita...”.
“Esperando o chegar...”.
“E lá na curva da estrada...”.
“Meu passo de flor à mão...”.
“E na janela espero...”.
“Que o sorriso abra a porta...”.
“Que o amor chame ao amor...”.
“Para fechar a janela!”.

  
Poeta e cronista
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