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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 51


Rangel Alves da Costa*


“Às vezes no silêncio da noite...”.
“Fica imaginando nos dois, como diria Peninha?”.
“Também, mas outras coisas neste momento...”.
“Sobre a noite...”.
“E sobre o dia, mais precisamente sobre o passado e o presente...”.
“Quantas mudanças no percurso...”.
“Tristes, muitas vezes...”.
“A prova que o novo não chega apenas como coisa boa...”.
“Em muitos aspectos, uma verdadeira degradação...”.
“E poderíamos citar inúmeros exemplos...”.
“Citando verdadeiros absurdos...”.
“Eis o mundo da ciência, da inovação, da tecnologia...”.
“Mas também o de afastar sentimentos...”.
“Eis o mundo da máquina, da automação, da especialização...”.
“Mas também da desumanização...”.
“Eis o mundo digital, virtual, compartilhável...”.
“Mas também o mundo da solidão, da angústia, do medo...”.
“Eis o mundo da total exposição do ser humano...”.
“E também de sua saudade, de sua necessidade de presença...”.
“Eis o mundo da perda da privacidade, da quebra do sigilo, da violação da intimidade...”.
“E também da degeneração existencial...”.
“Realmente, um mundo de facilidades e de transtornos...”.
“Mas não me volto apenas para os avanços da modernidade, e sim para a ausência do homem nesse mundo...”.
“Infelizmente acha que a presença, a palavra, a busca, é algo de menor valia...”.
“Um mundo moderno que transformou o ser humano...”.
“Impondo-lhe distanciamento da própria realidade e de suas raízes...”.
“Principalmente as raízes familiares...”.
“Infelizmente ou não, mas a verdade que família se tornou um estorvo para muitos...”.
“Ora, mas tudo culpa das transformações...”.
“Verdade. O que são pais e o que são filhos hoje em dia?”.
“Pessoas que de vez em quando se encontram numa casa. Só isso...”.
“E sem se cumprimentar um ao outro, como sempre acontece...”.
“Filho não reconhece, não respeita, não valoriza o pai...”.
“Pai que não quer saber como o filho está, se está precisando de alguma, se tem algum problema, se desejar conversar especificamente sobre algo importante...”.
“E o pior que são pais que não percebem as mudanças nos seus...”.
“Não procuram sinais de usos de drogas, não se preocupam com as amizades, não perguntam sequer como anda o rendimento nos estudos...”.
“E também porque o casal não possui mais união, não conversa, não se entende, e muitas vezes apenas se suporta...”.
“Quando não acontece coisa pior...”.
“As brigas, as violências, as traições, as perseguições...”.
“E o que refletirá um filho num ambiente assim?”.
“Todas as vezes que reflito sobre isso passo a valorizar ainda mais o passado...”.
“Um tempo em que a família não se resumia a uma casa, mas sim a união de parentes, de toda uma herança consanguínea...”.
“Tempo de respeito, de afeto e afeição, de sinceridade entre as pessoas de bem...”.
“Principalmente um tempo de limites...”.
“Isso mesmo. Um tempo que não inovava para piorar tão abruptamente o existente...”.
“E quando avançou demais na inovação deu no que deu...”.
“Não é saudosismo nem sentimentalismo, mas a verdade é que o namoro era diferente...”.
“Porque havia namoro, havia compromisso, noivado. E tudo na aliança...”.
“E um namoro de relacionamento muito mais pessoal do que sexual...”.
“Namoro romântico...”.
“Que por sinal não existe mais...”.
“Como não existe mais verso jogado pela janela, a flor murchando sobre o umbral...”.
“E a maçã vermelhinha, os nomes desenhados em tronco de árvores, os muros das escolas rabiscados de corações apaixonados...”.
“Hoje o amor somente a quem sabe preservá-lo...”.
“Sustentá-lo no coração...”.
“E dividir apenas com o outro...”.
“Sempre na medida...”.
“Do amor verdadeiro...”.

  
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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