SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 20 de outubro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 49


Rangel Alves da Costa*


“Ponho-me a imaginar...”.
“Próximo ou ao longe...”.
“Por todo lugar...”.
“Sobre o que?”.
“As contradições, os contrastes...”.
“Da vida ou da existência...”.
“Da realidade...”.
“Essa mesma, tão perversa, tão cruel...”.
“Em muitos aspectos sim...”.
“Mais do que imaginamos...”.
“Mas tudo diante de nossos olhos, de nossas mãos...”.
“Somos impotentes diante de tantos problemas...”.
“Realmente. Os nossos já são muito difíceis de resolver...”.
“Se a indignação tivesse o dom de transformar...”.
“Não transforma de pronto, mas abre caminho para a ação...”.
“É aquela velha história: se todos...”.
“Não penso assim. Ninguém deve o esperar o outro quando tem de começar a agir...”.
“Lógico, principalmente se o seu passo puder ser seguido...”.
“Mas é realmente muito difícil diante dessa brutal realidade...”.
“Num só país, tantas vezes num mesmo lugar, e tudo tão contraditório...”.
“Tudo desumano demais...”.
“Ou humanos demais para uns e animalesco para outros...”.
“A desigualdade na distribuição de renda...”.
“O desemprego, o subemprego, a desesperança...”.
“E tantos sem fazer nada e ganhando vultosos salários...”.
“As promiscuidades políticas, os apadrinhamentos vergonhosos...”.
“E a falta do pão e o bolsa paletó, bolsa auxílio de tudo pra quem não precisa mais do que já ganha...”.
“E as secas, as estiagens, a miséria, e as promessas de sempre...”.
“Nunca irão resolver um problema que rende votos, que alimenta o assistencialismo, que faz do sertanejo um joguete na mão de políticos desalmados...”.
“As mãos de esmolas nas esquinas e marquises, e as mãos do suborno, da corrupção, da ladroeira...”.
“A miséria gritando e os governantes pedindo silêncio...”.
“Precisam desse silêncio para refletir como desgovernar...”.
“A violência aumentando, o caos se espalhando, a miséria absoluta persistindo...”.
“E eles falando em crescimento econômico, em PIB, em renda per capita, solidez e etc.”.
“É como se fossem muitas realidades...”.
“A dos governantes, que pregam melhorias em tudo, altos índices de crescimento...”.
“E a visível, a dolorida, a patente...”.
“Com a educação de péssima qualidade...”.
“A saúde chamando à morte...”.
“O emprego desempregado...”.
“A dignidade humana desonrada, ferida, maculada...”.
“Mas pregam as mil maravilhas...”.
“Também não conhecem a realidade. Só conhecem papel. Uma pessoa é um número, a fome é um dado, a morte é uma equação, a miséria é uma subtração. E ao final das contas tudo estará às mil maravilhas...”.
“As estatísticas forjadas, maquiadas, diante da realidade nua...”.
“Ora, mas é como num circo. Atrás da cortina tudo é miséria, mas no picadeiro a felicidade é estonteante...”.
“É como sala e antessala. Na frente o luxo, atrás o lixo...”.
“E vivemos num país assim...”.
“O mesmo país da erradicação da pobreza...”.
“Da educação de qualidade...”.
“Da saúde e da qualidade de vida...”.
“Da dignidade e da integridade, até com relação aos condenados, aos presos...”.
“Piada...”.
“Mas é este o nosso País...”.
“Do roubo, da ladroice, da arbitrariedade, da corrupção, das gangues do poder...”.
“Mas o povo continuando a votar...”.
“E continuará assim, pois a pobreza é gestada assim para não ter poder de crítica nem de reflexão...”.
“Senão de aceitar a submissão...”.
“E calar diante de uma vergonhosa bolsa família...”.
“Calar diante de tudo...”.
“E sem voz, sem ação...”.
“E tudo Brasil...”.
“Este mesmo que De Gaulle soube tão bem qualificar...”.  

  
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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