SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 14 de outubro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 43


Rangel Alves da Costa*


“Quem me dera um segredo...”.
“E ter a cumplicidade?”.
“Para querer revelar...”.
“Perderia o encanto do segredo...”.
“Eis aí o mistério: segredo não existe...”.
“Se mais alguém sabe já não é segredo...”.
“Também penso assim...”.
“Segredo é o não revelado...”.
“O guardado...”.
“O que permanece oculto...”.
“O próprio conceito diz isso: O que não se revela ou não se deve revelar a outrem”.
“O que ninguém deve saber ou não pode ser divulgado”.
“O que se mantém em absoluto sigilo”.
“Verdade, conhecimento ou suposição não revelada”.
“Fato inexplicado...”.
“Mistério...”.
“O segredo é inimigo da revelação...”.
“Como também é inimigo da descoberta...”.
“Principalmente quando perde sua força de enigma”.
“Sem enigma segredo se torna boato”.
“E vai sendo espalhado pelo vento...”.
“Mas se não for confirmado?”.
“Torna-se fumaça...”.
“E onde há fumaça há fogo. Quer dizer, alguma coisa existe por trás daquilo...”.
“E o que não existe passa a existir pela invencionice do povo...”.
“O povo é realmente instigante...”.
“Por que?”.
“Porque faz tudo para conhecer um segredo e depois revelar...”.
“Próprio da fragilidade humana...”.
“Nem os próprios segredos as pessoas conseguem guardar...”.
“Muitas porque preferem que suas vidas sejam de domínio público...”.
“E tão público que se torna fofoca e vai tomando contornos intermináveis...”.
“Com relação ao segredo, a fofoca não deve ser muito discriminada...”.
“E por que?”.
“Porque a fofoca é a ciência do povo...”.
“Interessante...”.
“O povo faz da vida dos outros laboratório...”.
“E vai testando, criando, inventando, até...”.
“Até jogar no ar uma revelação. Se pegar pegou...”.
“E quando não pega...”.
“Ora, o fofoqueiro é um incansável cientista, e por isso jamais se cansa em ir buscar novas evidências...”.
“Mas eis que o segredo e a fofoca não se misturam...”.
“De certa forma contrapõem-se, vez que o que é espalhado deixou de ser segredo. Contudo...”.
“Não venha me dizer que ainda assim se confundem...”.
“Com o verdadeiro segredo não, pois este pressupõe o total desconhecimento; mas com relação ao segredo a partir de alguém, isto sim...”.
“Dois segredos: o que ainda está completamente adormecido e o que já despertou, e por isso mesmo alguém já conhece...”.
“Isso mesmo. O segredo conhecido por apenas um já se avizinha da fofoca...”.
“Eis que dificilmente alguém o manterá em sigilo...”.
“É próprio do ser humano a revelação. Mais cedo ou mais tarde tudo é revelado...”.
“Então, conta a um e pede segredo...”.
“Como sempre acontece...”.
“Mas esse outro, que pouco compromisso tem com o que foi revelado, então...”.
“Então transforma o segredo em fofoca...”.
“E como tal vai sendo repassado de um a outro...”.
“Aconteceu assim com a pedra em formato de fêmur...”.
“O que aconteceu?”.
“Alguém encontrou, disse a outro que havia encontrado um osso pré-histórico, e de repente se espalhou o absurdo...”.
“O que?”.
“Que o homem havia encontrado o fêmur mais antigo do mundo...”.
“E apenas uma pedra...”.
“Apenas um segredo mal revelado”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: