SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 41


Rangel Alves da Costa*


“Hoje, 12 de outubro...”.
“Sim. Uma bela data...”.
“Para muitos apenas um feriado...”.
“Mais que isso, um fim de semana prolongado...”.
“Muitos nem lembram o que se comemora hoje...”.
“Apenas que é sexta...”.
“E o início da farra, da festa, do esquecimento dos afazeres...”.
“Tudo no seu limite...”.
“O fazer, o brincar, mas o encontro consigo mesmo...”.
“Será que vão à igreja?”.
“Aqueles que sempre vão...”.
“Mas nem uma prece aos pés da padroeira?”.
“Muitos não sabem nem que é nossa padroeira...”.
“E certamente que hoje é dia especial à sua devoção...”.
“Mesmo assim, Nossa Senhora Aparecida rogai por todos...”.
“Uma belíssima santa negra...”.
“O Brasil de raiz negra na cor de sua padroeira...”.
“E que é a mesma Nossa Senhora...”.
“Só que Aparecida, pois surgida, aparecida nas águas...”.
“Que história bonita essa do encontro dos pescadores...”.
“Lançaram a rede aos peixes e pescaram a fé...”.
“Que é o alimento maior...”.
“Nada seria o homem sem a fé persistente”.
“É através dela que tudo é conseguido...”.
“Hoje a Basílica de Aparecida estará repleta...”.
“Mas nem tanto para a devoção...”.
“Por quê?”.
“Ora, a própria igreja se incumbiu de transformar o local num grande centro comercial...”.
“Realmente, é grande o comércio dentro do templo e principalmente nos arredores...”.
“Do lado de fora é até normal...”.
“Claro. Todo mundo quer trazer de lá uma lembrancinha...”.
“Mas não acho correto que no interior da basílica existam lojas especializadas em artigos religiosos...”.
“Dizem que é para manutenção daquela grande obra...”.
“Ora, a igreja é rica demais e certamente não precisa estar misturando fé com comércio...”.
“Ademais, o povo é muito generoso, são muitas as esmolas, as doações...”.
“Além das verbas públicas destinadas à basílica...”.
“É a avidez. Onde há dinheiro querem sempre mais...”.
“Lembrei-me agora de uma dessas igrejas que pede até joia de família...”.
“E no seu próprio canal de televisão...”.
“E é uma história que nunca tem fim, e só para pedir mais e mais. Constroem um templo enorme com o dinheiro das doações, e mal a obra está pronta e já chegam com outro projeto...”.
“E com isso o chororô, a conversinha de que precisam erguer a obra de Deus. E a igreja ficando cada vez mais rica...”.
“E arrecadam muito dinheiro. E certamente aquele dinheiro todo recebe outra destinação...”.
“Quem souber morre...”.
“E a todo instante aquelas vozes de doentes pedindo, implorando, rogando...”.
“Deus me perdoe, mas cometem um grande pecado...”.
“Qual?”.
“Não só um, mas vários pecados. Da ambição, do enriquecimento em nome da fé, da palavra de Deus servindo para a ostentação capitalista...”.
“Mas a igreja católica vaticana, ou esta que temos aí, também é assim...”.
“Mas ao menos não vivem chorando pela televisão pedindo dinheiro aos incautos fiéis...”.
“Talvez uma diferença importante...”.
“Outra diferença é a comercialização desenfreada de produtos religiosos...”.
“E cujo dinheiro nunca vai para o que eles dizem que tanto necessitam...”.
“Mas é assim mesmo, ainda que com o meu veemente protesto...”.
“Mas hoje também é o dia das crianças...”.
“O nosso dia também...”.
“Na criança que sempre seremos...”.
“Ai daquele que deixar para sempre de ser criança!”.
“A idade jamais apagará o juvenil encantamento pela vida...”.
“Porque o ser envelhece, mas a criança é eterna!”.

   
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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