Rangel Alves da Costa*
“Chuva na noite...”.
“A chuva poética, romântica, cativante...”.
“Realmente, transmite uma sensação diferente...”.
“Porque não é somente a chuva que cai...”.
“Com ela a meditação...”.
“A reflexão, o afloramento dos sentidos, o diálogo da alma...”.
“As lembranças, as recordações...”.
“As viagens, as paisagens, os encontros...”.
“O voo do pensamento, o pouso noutras paragens...”.
“A singeleza, a meiguice e o afeto...”.
“A transformação...”.
“Quanta coisa provoca a chuva na noite...”.
“Sem falar nos mistérios que ecoam no seu som, no seu cair, no seu espalhar...”.
“E acompanhada da ventania...”.
“Ventania com voz, com sopro, assobio...”.
“Chamando, dizendo, instigando...”.
“O que será que diz a voz do vento em momentos assim?”.
“Traz as notícias de lá...”.
“De onde?”.
“De onde o nosso pensamento quer alcançar...”.
“Apenas abre a porta...”.
“Sim. Abre a porta e nos deixa os caminhos abertos...”.
“Mas nunca senti alegria com essa voz do vento...”.
“Nem com a chuva caindo?”.
“É um pouco diferente. Quando a chuva cai desperta uma certa melancolia, uma solidão que sei inexistente...”.
“Quanto ao entristecimento pelo sopro do vento outra coisa não é senão o encontro com o passado, com as saudades...”.
“O cabelo soprando, brincando a correr, ouvindo a voz...”.
“As folhas dançando diante do olhar, o pai, a mãe, a família, a casa, a rua...”.
“As roupas querendo voar do varal, a poeira nos olhos...”.
“A folha passando diante da janela...”.
“A tarde cantando a cantiga do vento...”.
“O passado, realmente...”.
“Que também pode ser trazido, e de uma forma ainda mais profunda, pelas chuvas da noite...”.
“Será que é por isso que tanta gente chora quando o tempo está assim?”.
“Creio que também, mas principalmente porque a noite é o portal dos sentimentos...”.
“Tanta gente alegre o dia inteiro, mas completamente diferente quando descem as sombras da noite”.
“Ora, ao encontrar outra realidade encontram-se consigo mesmas...”.
“Ficam mais solitárias, reflexivas, pensativas...”.
“E a cor da noite, o brilho da lua, os mistérios, as saudades, a solidão...”.
“A solidão na noite é terrível...”.
“Solidão de abandono...”.
“De distância, de perda, de ausência...”.
“Solidão dos solitários, das viúvas, dos saudosos, dos carentes...”.
“Interessante: solidão dos solitários!”.
“A mais autêntica solidão”.
“Por que será assim?”.
“A solidão existe até na multidão, mas o solitário precisa de um ambiente que emoldure seu sentimento de vazio...”.
“Na noite...”.
“Num canto da casa, perto da janela, ouvindo a chuva caindo, o vento soprando...”.
“E a lágrima...”.
“Nem sempre. O vazio é o que mais caracteriza a solidão. É como se nada existisse. E como nada existisse no olhar que se perde em qualquer direção, talvez a lágrima não tenha sentido...”.
“Doloroso demais...”.
“Triste”.
“Quantos estarão assim nesse momento?”.
“Os quartos escuros impede de vê-los. Mas amanhã a maioria estará sorrindo pelas ruas...”.
“Talvez num disfarce...”.
“Ainda na solidão!”.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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