Rangel Alves da Costa*
“No que pensas agora?”.
“Nada...”.
“Impossível...”.
“Por quê?”.
“Ora, simplesmente porque o nada existe...”.
“Filosoficamente, fala-se no nada como a não-existência...”.
“E também o não-ser, como oposto ao ser...”.
“E ainda como o vazio...”.
“Contraponho-me ao nada como coisa alguma...”.
“Difícil de explicar...”.
“Creio que não, bastando a percepção das coisas...”.
“Então surge o problema da ideia...”.
“Creio que as ideias dão existência às coisas...”.
“Não seria puro abstracionismo...”.
“Não, principalmente porque a existência não exige a visibilidade...”.
“Nesta linha de raciocínio são inúmeros os exemplos...”.
“As teorias cósmicas, os enigmas do universo, o sobrenatural...”.
“Mas a existência necessita de comprovação...”.
“Nem sempre, pois já existente no mundo das ideias...”.
“Nesta concepção, então tudo pode existir...”.
“Exatamente...”
“O nada, o vazio...”.
“Assim como o nada, o vazio também possui existência...”.
“Possuem a mesma feição...”.
“Não. São perceptíveis as suas diferenças...”.
“Então...”.
“O nada é apenas a ideia da não-existência de algo, mas basta a mentalização sobre tal possibilidade e automaticamente virá à mente a possibilidade desse nada...”.
“Se há possibilidade, então poderá haver existência...”.
“Isso mesmo. Vejamos. Se a pessoa diz que não pensa em nada é porque sua mente está vagando ao acaso. Mas vaga por qual dimensão?”.
“Ao acaso, fortuitamente...”.
“Não existe acaso sem uma imagem ao fundo, sem uma ideia, por mínima que seja...”.
“Então é neste cenário que o nada existe...”.
“Sim...”.
“Por isso que do nada surge a forma...”.
“Exatamente. O nada será preenchido no seu vazio...”.
“Então o que será o vazio?”.
“A moldura do nada...”.
“O espaço inerme...”.
“O local onde nada primeiro habita...”.
“Então o vazio antecede ao nada...”.
“Sim. Quando alguém pensa em nada, esse nada estará em algum lugar e tal lugar é o vazio...”.
“Uma casa sem móveis...”.
“As paredes formando o espaço vazio. Não havendo nenhum móvel, ali estará o nada. Mas a mente antecipa-se visualizando a existência dos objetos. Então o nada passa a ter existência no vazio...”.
“Mas ainda tudo desordem...”.
“A isto, a esta desordem, chamamos de caos...”.
“Como aquilo que existe mas ainda de forma obscura...”.
“Vamos ao exemplo da casa...”.
“Sim...”.
“A casa enquanto espaço é o vazio...”.
“Dentro dela, do vazio, o nada...”.
“A ideia de objetos colocados no espaço vazio dão existência ao nada...”.
“Porque o nada já tinha algum sentido na mente...”.
“Sim. Mas os móveis simplesmente vão chegando e colocados ali...”.
“Desordenadamente...”.
“Formando verdadeiro caos...”.
“Somente quando tudo é colocado em seu lugar...”.
“Quando tudo é ordenado segundo a sua destinação, então tudo passa a funcionar normalmente...”.
“Assim é na casa...”.
“Assim é no universo...”.
“Assim é na vida...”.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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