Rangel Alves da Costa*
“Falávamos sobre o amor...”.
“E poderia durar a eternidade...”.
“Mas quanto mais é debatido mais surgem novas feições...”.
“Sim. Os muitos escondidos existentes no seu contexto...”.
“Sem falar na sua vertente mais áspera, que é a paixão...”.
“A paixão tão rebuscada na literatura, na poesia, mas que é tão dolorosa na vida real...”.
“Difícil entrar na sua estrada sem pisar em espinhos...”.
“Sem sangrar, sem ferir...”.
“Sem dilacerar...”.
“Tenho a paixão como o mais perigoso dos sentimentos...”.
“Arma cega e sempre afiada...”.
“Punhal enfurecido...”.
“Faca cortante e sedenta...”.
“E tudo por causa de seus limites...”.
“Ou talvez a falta de limites...”.
“Principalmente...”.
“Por que será que a paixão tem o dom de ser assim tão voraz?”.
“Pela fragilidade das pessoas...”.
“Um amor que fortalece depois fragiliza?”.
“Sim. A paixão possui uma estratégia peculiar: primeiro doma, depois abusa...”.
“Mas não é por que o outro se deixa envolver demais?”.
“Já disse Júlio Ribeiro que a carne é fraca...”.
“Deveria impor-se um limite no seu querer, no seu desejo, no seu gostar...”.
“Mas tais limites são complicados demais quando se fala em relacionamento...”.
“Principalmente quando o outro enxerga tais fraquezas...”.
“Ao enxergar, e não ter a relação nada mais que um jogo, então tem caminho aberto para fazer o outro sofrer...”.
“É difícil compreender. Ao invés de corresponder amor com amor, procura envolver ainda mais...”.
“E ao envolver, retira toda a força de proteção do outro...”.
“Como será que isso acontece?”.
“Ora, através da chantagem, do desprezo, do abandono, principalmente do ciúme...”.
“Quem está envolvido demais não suporta nada que ameace a relação”.
“E por saber que é assim, então o outro instiga ainda mais...”.
“Para fazer sofrer...”.
“Para esvaziar totalmente a pessoa...”.
“Mas isso é muito injusto, até desumano...”.
“Claro que é, mas quem age assim não tem nenhum compromisso amoroso com o apaixonado...”.
“Não sente nada de amor...”.
“De jeito nenhum. Absolutamente nada...”.
“Então por que faz isso, por que continua agindo assim?”.
“Pelo egoísmo, pela vaidade, para que os outros percebam a situação de quem sofre e pense quem ele é o tal...”.
“Mas as consequências são desastrosas...”.
“Apenas para o apaixonado, pois quem age premeditadamente para que isso ocorra não tem nenhum caráter, nenhum escrúpulo...”.
“Tanto faz que o outro sofra ou não...”.
“E quando mais o outro sofra mais o seu mau-caratismo é alimentado, se enche de satisfação...”.
“Enquanto um se enche de prazer, o outro...”.
“Muitas vezes, a completa loucura. O que o completamente louco faz?”.
“Tudo na normalidade...”.
“Isso mesmo, porém na normalidade ensandecida...”.
“E que aparentemente é apenas uma forma de lutar para manter e preservar o amor...”.
“Infelizmente pode chegar ao ponto de matar ou morrer achando que age dentro da racionalidade”.
“Mas como evitar que isso ocorra?”.
“Amando, apenas amando. Só isso...”.
“Um amor que seja paixão consciente dos limites desse amor...”.
“Principalmente porque no verdadeiro amor nada motiva a atitude além da medida do amar...”.
“Também acredito...”.
“E digo mais: o amor em si mesmo tem a força de suprir o inimaginável”.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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