SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 31 de outubro de 2014

OS DOIS CEGOS


Rangel Alves da Costa*


Dois cegos, grandes amigos, se encontram sempre ao entardecer da pacífica e singela pracinha. Nesse encontro, durante uma caminhada e outra, ou sentados no costumeiro banco, vão tecendo suas considerações de parte a parte. É um proseado digno de ser transcrito.
Assim que chegou, logo percebi algo diferente. Você hoje veio com uma cara mais queimada de sol do que pescador sem chapéu. Subiu naquela montanha que você frequenta sempre?
Mas você deve estar é maluco. Tanto quanto eu você é cego de nascença, daí que não tinha nem como você saber se estou com o rosto queimado ou não. E de onde tirou essa ideia que subo na montanha de vez em quando?
Ora, foi você mesmo quem disse assim que chegou. Disse que ia evitar vento forte no rosto e que estava com o espírito mais leve, mais suave, mais feliz. Também gosto da natureza e é por isso que amanhã vou entrar no meio do mato pra caçar borboleta e araçá. Sabe que nem me lembro do tempo que eu acostumava fazer muito isso?
Só mesmo vendo você caçando borboleta e pegando com a mão cada frutinha amarela ou vermelha. Se eu fosse você preferia araçá amarelinho que é mais doce. Traga-me uma borboleta de olho azul e uma cuia de araçá. Se você fizer isso vou colocar linha no buraco da agulha e costurar uma colcha de retalhos inteirinha.
Você não quer ir comigo não? Ande vou tem um pequeno rio que é cheio de peixe. É perigoso, mas tem cardume de não acabar mais. Você vai saltando as pedras até chegar num lugar mais fundo e joga a tarrafa. Se você não quiser pescar pode muito bem colher umas flores do campo pra presentear sua namorada.
Se eu disser que fiz isso ela diz que enlouqueci. É muito arriscado cego se meter a pescador e jardineiro, ou mesmo a qualquer outra coisa que implique em tocar, em pegar. Sempre se dá muito mal na empreitada. Teve um que chamou a namorada pra ver a lua em noite de breu. E levou um livro de poesia pra ler debaixo do brilho do luar. E leu. Só que ela resolveu trocar ele por um que não fosse doido.
É mesmo, é mesmo, por isso mesmo acho que todo cego devia se acostumar do jeito que é e não querer enxergar mais do que os outros. O único jeito é aceitar a triste sina de não avistar a cor do alvorecer. Eu mesmo faço de conta que não vejo nada, como realmente não vejo. Mas quando passa uma mocinha nova e reboladeira não há como não dar um psiu.
E como você sabe que ela é nova e que é reboladeira? Quando é que você vai deixar essa mania de dizer que enxerga tudo que passa à sua frente, que consegue fazer o que bem entende, que tem uma vida normal?
Normal eu sempre fui, e muito mais que aqueles que pensam que enxergam tudo só porque têm a visão sem problemas. Só vejo cego nesse povo assim. A pessoa ter o dom de ver tudo na maior claridade, na forma, na cor, na dimensão, na distância e em tudo, e depois ainda faz de conta que o que viu não vale nada. Só mesmo sendo o maior cego do mundo.
Nisso você tem razão. Mas é aquela velha história: a pessoa só dá valor quando lhe falta. Nós sonhamos em avistar ao menos uma réstia, uma sombra qualquer, mas aqueles que possuem toda a luz da vida à frente sempre se negam a enxergar como deveriam.
Também penso assim. A verdadeira cegueira não é a da falta de visão, não é não poder avistar a luz do sol e da lua, mas se negar a compreender e a valorizar toda visão que lhe é permitida.
E sobre a mocinha reboladeira?
Ah, sim, já ia me esquecendo. Não olhe agora não, mas vem uma ali. Sim, como eu ia dizendo. Já disse que não é pra olhar agora que é muito feio, e só vale mesmo a pena quando ela já passou um pouquinho, e aí a gente chega vê de perto o rebolado, sente o cheiro, a lindeza, tudo. Sim, mas continuando, sei que é mocinha, nova, bonita e reboladeira pelo perfume que usa...
Mas como assim, como pelo perfume que usa?
Perfume lembra flor e nunca vi ninguém dizer que uma flor fosse feia. Daí que já sei que ela é bonita, pelo aroma que exala pelo ar e chega direto ao meu coração sempre apaixonado. Perfume lembra sempre primavera florida, e chega fico vendo diante de mim aquelas flores bailando lentamente no vento macio que sopra nessa estação. E, como fazem as flores ao vento, sei que ela passa rebolando pertinho de mim...
Gostei da resposta, amigo, coisa de verdadeiro poeta. Por que não pega da pena e escreve um livro?
Para escrever poesia é precisa ver cada letra, cada palavra, cada verso. Dói muito ao poeta jogar numa folha qualquer emaranhado. É preciso escrever de um jeito que a poesia se sinta construída e levante, chegue até você e dê um beijo de agradecimento. Mas sou cego, apenas um cego...


Poeta e cronista
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Caminho sem fim (Poesia)


Caminho sem fim


Tanto faz
ter pedra ou espinho
se cheguei até aqui
posso ir até aí

não temo
o arame ou o muro
se já estou aqui
logo estarei aí

mas não fico aqui
e muito menos aí
se há caminho
nele vou prosseguir

na morte
muito longe daqui
e distante daí
enfim ainda partir.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 778


Rangel Alves da Costa*


“Não importa o que digam...”.
“O que falem...”.
“O que pensem...”.
“Mas converso sozinho...”.
“Tomo banho na chuva...”.
“Fico mirando o luar...”.
“Dialogo com passarinhos...”.
“Só tomo remédio de quintal...”.
“Escrevo no nada...”.
“Declamo poesia ao vento...”.
“Não importa o que digam...”.
“O que falem...”.
“O que pensem...”.
“Mas bebo água da fonte...”.
“Mordo fruta no pomar...”.
“Subo na montanha bem alta...”.
“Tenho Salmo sempre ao alcance...”.
“Gosto de acender velas...”.
“De me ajoelhar perante o oratório...”.
“Sentir uma face na chama acesa...”.
“Silenciosamente orar...”.
“Silenciosamente adorar...”.
“Não importa o que digam...”.
“O que falem...”.
“O que pensem...”.
“Mas já escrevi um livro...”.
“Já plantei uma árvore...”.
“Já sou pai de filha...”.
“Sou também sábio...”.
“Sou também filósofo...”.
“Por que assim desejo...”.
“E apenas isso...”.
“E sou muito mais...”.
“Um alquimista e profeta...”.
“Sonhador e poeta...”.
“Não importa o que digam...”.
“O que falem...”.
“O que pensem...”.
“Mas sou jovem e sou velho...”.
“Sou criança e menino...”.
“Sou brisa e ventania...”.
“Sou tristeza e alegria...”.
“Sou o grão e a semente...”.
“A folha seca do outono...”.
“E a última revoada do dia...”.
“Por tudo isso...”.
“Não importa o que digam...”.
“O que falem...”.
“O que pensem...”.
“Apenas sou o que quero ser...”.


Poeta e cronista
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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

COMO MACÁRIO SE LIVROU DA TOCAIA


Rangel Alves da Costa*


Macário estava marcado para morrer. E ordem nascida antes da cusparada de coronel não havia jeito, tinha de ser cumprida, e antes mesmo que o cuspe secasse, como se dizia por lá. Acusado de traição, de ter se bandeado e aberto a boca pro desafeto do coronel, seu patrão, tinha de pagar na bala a desfeita.
Não havia qualquer acusação formal, nada que comprovasse ter o jagunço realmente traído seu patrão. Mas a verdade e que, não se sabe bem por quais vias ou com quais intencionalidades, chegou ao ouvido do poderoso que o seu capanga mais famoso havia sido visto saindo da fazenda do Coronel Limoeiro.
Ora, o Coronel Limoeiro era inimigo de fogo a sangue do Coronel Sizenando, e de muito tempo, desde que os dois herdaram seus latifúndios e currais nas vizinhanças da Ribeira de Sangue. E Sizenando, por ser mais rico e poderoso, com muito mais influência política e poder de mando que Limoeiro, de tudo fazia para que este reconhecesse e aceitasse que quem mandava ali era ele. E pronto.
Mas o Coronel Limoeiro não se rebaixava de jeito nenhum e não admitia que alguém chegasse na sua varanda com oferta de compra de suas propriedades, principalmente partindo de Sizenando. Aliás, uma coisa seja logo registrada: a valentia do homem. E neste aspecto muito diferente de seu inimigo. Enquanto o Coronel Sizenando não dava um passo sem estar acompanhado de cinco a seis jagunços, ele galopava por suas terras tendo apenas o cavalo como companhia.
Tinha e mantinha jagunços na sua propriedade sim, pois não poderia ser diferente num mundo de inimizades de sangue. Sua jagunçada era muito mais de proteção que de ataque, e neste aspecto também muito diferente do Coronel Sizenando. Este mandava matar brincando, e qualquer um que se mostrasse como empecilho perante seus objetivos, ainda que se tratasse de um mero sertanejo de tapera e cuia.
Mandava matar qualquer um, porém não se atrevia a mandar tocaiar seu inimigo maior, o que seria a coisa mais fácil do mundo, vez que o Coronel Limoeiro não apenas era avistado sozinho nas suas terras como andava por qualquer lugar sem proteção alguma da jagunçada. E não encomendava emboscada de sangue e morte por dois motivos principais. O primeiro dizia respeito a um recado recebido do desafeto e cujo teor se manteve em segredo. E o segundo porque todo mundo saberia de que partiu a ordem para matar o inimigo.
Diante desse contexto, o que será mesmo que o jagunço de Sizenando foi fazer na fazenda de Limoeiro e foi avistado saindo de lá às escondidas e com feições de quem não queria ser reconhecido? Uma coisa é certa, recado de seu patrão não foi dar de jeito nenhum, pois se assim fosse não teria sua morte encomendada no mesmo instante que a fofoca chegou aos ouvidos do poderoso.
Mas o que Macário, o jagunço mais experiente de todos, aquele com mais tocaias já preparadas e devidamente executadas, teria ido fazer ali na residência do inimigo primeiro de seu patrão? Será que tinha ido até lá para matar o homem, e por conta própria? Mas ninguém ouviu tiros, ninguém ouviu nada, apenas o jagunço se esgueirando pela mataria adiante e sumir dali no mesmo instante.
A verdade é que Macário, após a inesperada e misteriosa visita ao Coronel Limoeiro, foi galopando diretamente às terras de seu patrão. Ao chegar, arriou o cavalo, virou um copo de cachaça e se pôs a limpar suas armas sentando num tronco. Não sabia, contudo, que alguém havia sido muito mais e rápido e já havia chegado ali para contar sobre sua presença na fazenda do coronel. Também não sabia que a ordem para sua morte já havia sido dada pelo patrão.
Após receber a notícia e avermelhar feito tição, o Coronel Sizenando acenou da janela e outro jagunço deu a volta para entrar pelos fundos. O coronel segredou-lhe alguma coisa e imediatamente este saiu correndo pelo mesmo lugar. A trama era sair escondido, por dentro do mato, e preparar uma emboscada para Macário, que logo passaria por aquela curva de estrada. E assim foi feito, com o jagunço incumbido de tocaiar e matar seu companheiro de desatino.
Aquele mesmo que havia repassado a notícia despontou na porta do casarão e logo avistou Macário pelos arredores. E seguiu em sua direção para dizer que o coronel havia dado ordem urgente para que fosse perguntar a Miguelim se já havia aceitado a oferta para vender seu pedaço de chão. Imediatamente Macário pulou no lombo do cavalo e pegou a estrada. Não sabia que a tocaia já estava pronta, que agora seria sua vez de ser emboscado e morto.
No ponto certo, na curva da estrada, o jagunço estava à espreita, escondido detrás de um tufo de mato, já mirando em direção ao companheiro que logo se aproximaria. Logo ouviu o som do galope, veloz. Era Macário, não tinha dúvida. Ajeitou ainda mais a pontaria, mais e mais. Mas de repente baixou a arma e correu para o meio da estrada. Repentinamente decidido a não matar o amigo, nem teve tempo de levantar a mão para pedir que parasse. Recebeu um tiro na testa. Caiu estatelado.
Mas antes de morrer revelou a Macário o que lhe havia sido encomendado fazer. Era tarde demais, lamentou o matador. E deu a volta para cumprir o acerto feito com o Coronel Limoeiro, ainda que este quase não tivesse aceitado a proposta. Ia matar o Coronel Sizenando.


Poeta e cronista
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Ave em voo (Poesia)


Ave em voo


A ave
em voo
pousou
na sua janela
e ficou

ave
que sou
pousar
na sua janela
também vou

e fazer
um ninho
de passarinho
e nunca mais
voar sozinho.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 777


Rangel Alves da Costa*


“A janela aberta sorri para o mundo...”.
“Porta fechada é sinal de tristeza...”.
“Grão esquecido é fruto perdido...”.
“A lua é da noite e a estrela do sonho...”.
“Sozinho é mais difícil chegar...”.
“Gaiola aberta tem cantar na floresta...”.
“A pedra conversa com o vento...”.
“A lua na bacia é mistério com face...”.
“Lenço de lágrima não enxuga a tristeza...”.
“Um corpo nu está vestido de corpo...”.
“Cálice derramado por cima da dor...”.
“Caminho sem fim pra quem não quer chegar...”.
“O passo sem ponte e sem ponto...”.
“O silêncio cala antes de emudecer...”.
“Melhor sofrer que a solidão...”.
“Melhor a solidão que sofrer ao desvão...”.
“Colcha de retalho encobrindo retalhos...”.
“Palavras simples que se transformam em salmos...”.
“Caminhos cruzados que se entrelaçam na dúvida...”.
“A saudade que emoldura retrato...”.
“A poesia que chorou no verso...”.
“A folha de outono que não olha pra trás...”.
“Um nome na nuvem que só enxerga quem vê...”.
“A montanha do templo e da sabedoria...”.
“Um templo no peito e um sino no olhar...”.
“Na cruz está a ressureição...”.
“A aparência que se transforma em verdade...”.
“Chora baixinho e grita por dentro...”.
“Bolha de sabão que se perde na nuvem...”.
“Nada tão sublime como a tristeza...”.
“Uma verdade jamais contradita...”.
“Beber da chuva e banhar toda a alma...”.
“Ser criança quando a velhice chegar...”.
“Ir além do adiante e depois...”.
“Sair das brumas e não reconhecer o sol...”.
“A canção que se ouve sozinha...”.
“Um amor que adormece esperando...”.
“Porque a brisa chega tão perfumada...”.
“Que o perfume quer esvoaçar ao vento...”.
“Vinho e veneno avistados ao redor...”.
“A palavra que silencia no grito...”.
“A mão que se abre ao nada...”.
“Apenas ser o que merecer...”.
“Ser muito mais que imagina merecido...”.
“Sentir o mel na pétala de fel...”.
“Nada mais fazer a não ser viver...”.
“Buscar na raiz a razão desse fruto...”.
“E depois tudo esquecer para surgir um dia...”.


Poeta e cronista
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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A FLOR DO MANDACARU E OUTRAS FLORADAS


Rangel Alves da Costa*


Tornou-se comum imaginar o sertão como retrato acabado de desolação. Sua moldura carcomida pelas intempéries, tristezas e sofrimentos, idealiza uma paisagem apocalíptica e medonha. A verdade é que muitos pensam assim, ao longe visualizam o sertão como sombras de um fim de mundo. Não que tudo seja o inverso ou que o retrato tantas vezes seja mesmo doloroso, mas existem outras feições de encantar os olhos e até duvidar que ali esteja tanta beleza e pujança de vida.
Nas suas entranhas, o sertão se mostra muito além do rebanho esquelético, das ossadas por cima da terra rachada, do barro tomando o fundo dos tanques, do olhar de padecimento do sertanejo. Mesmo já estando em grande parte devastada pelo próprio homem, a sua natureza ainda possui feições de exuberância. A força da vida vence as ameaças e se mostra como flor na planta ressequida de sol, contradiz as predisposições climáticas e surge como frutos no meio do mato. E no marrom-acinzentado de repente surgem os vermelhos, lilases, rosáceos, amarelados, bem como a magia do araçá.
Muito já se conhece de convívio, retrato ou recordação. A qualquer tempo e a sempre confirmada beleza do luar sertanejo. Depois do sol imenso e abrasador, a aragem do entardecer vai chamando as sombras da noite e seu candeeiro maior. E então a lua desponta no olhar como força mágica para encantar um povo marcado pela dureza dos dias. O sertão então se vê tomado por um romantismo caboclo que torna o seu povo poeta de si mesmo e de sua existência. Mas não é só. Além de surpresas que deslumbram os olhares dos visitantes, o sertão guarda outras impressões de arrebatar e seduzir corações e mentes.
Retratos costumeiros para alguns, maravilhamento para outros, mas a verdade é que em determinados períodos do ano a natureza se expressa de modo fascinante. E tudo surge como para demonstrar que a exuberância brota no inesperado e imaginariamente infértil. Que não se espante diante da planta solitária florindo por cima do chão cimentado de sol, que não se tenha como impensável avistar abelhas fazendo festa diante do néctar e frutos de plantas de aparência esquelética. E assim porque o sertão também floresce nos seus jardins tão hostis.
São os avessos sertanejos. As paisagens cinzentas escondem verdadeiros arco-íris nas suas entranhas. E não há exemplo maior que a floração das craibeiras. Difícil imaginar que naquela secura possa surgir florada tão viva e encantadora. É uma visão realmente inspiradora. Mesmo distantes, os olhos divisam as cores majestosas tomando a copa das árvores defronte às moradias, beiras de estradas, sempre se sobressaindo nas paisagens. Talvez vaidosas demais, as craibeiras gostam de crescer afastadas de outras árvores, em local onde possam florescer e logo serem reconhecidas pela magia de sua florada.
A partir de setembro, em plena estiagem, com tudo ao redor chamuscado e quando o calor começa a abrasar, eis que as craibeiras desafiam o clima e irrompem com suas folhas amareladas. A simbologia da beleza em meio ao impensável. Mas tudo ali parece ser possível. Cactos que nascem e florescem por cima das pedras grandes, como ocorre com as cabeças de frade. Também nas bromélias como a macambira, no velame, na palma e em todas as cactáceas. São flores vistosas, com viço e colorido contrastando com os arredores. Já a flor do mandacaru possui uma simbologia especial, eis que dizem ser o próprio sol brotando na planta que nunca morre.
Mas muita gente sequer imagina que o mandacaru tem flor, que também tem época de sua floração. A ideia mais comum é daquela planta cactácea, de espinhos longos e finos, sempre de tez verdejada, ainda que mais para o marrom-acinzentado, magra e de braços erguidos em direção aos céus. Já a denominaram de candelabro sertanejo, também de beata matuta com braços erguidos em eternas súplicas.
Não só o mandacaru tem flor como esta é de beleza singela e cativante. Tantas vezes, com tudo definhando ao redor e até mesmo o cacto parecendo que não vai mais suportar, mas a flor se abre desafiando a morte que a tudo ronda e dizendo que o sertão não se rende às fornalhas ensolaradas. É a flor se encharcando de sol para mostrar que a vida ali continua com sua pujança, esperando somente a gota d’água para o renascimento de cada planta, de cada bicho, de toda a esperança sertaneja.
De modo geral, as árvores e plantas sertanejas, desde as mais raquíticas às portentosas, tornam a floração um espetáculo grandioso, sempre contrastando com as folhagens secas e esturricadas de poucos dias atrás. As flores do campo surgem nos beirais das veredas espinhentas, o quipá floresce e abre seu fruto amarelado para um vermelho de fogo. Mas quem quiser experimentar tem de vencer os espinhos. Aliás, dizem que foi num espinho de quipá que Virgulino Lampião feriu seu olho direito, deixando-o com pouca visão.
Quando na sua missão pelos sertões, o velho Antônio, o Conselheiro, pregava para fanáticos e fiéis o Salmo da Flor do Mandacaru, que dizia: Bem-aventurados aqueles que comigo caminham para brotar na fé a mesma força que possui a flor do mandacaru. Com as mãos levantadas aos céus, como faz o mandacaru, chama por Deus e sente florescer no coração a flor da vida, como a flor do mandacaru.


Poeta e cronista
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Pássaro (Poesia)


Pássaro


Meu pássaro
meu beija-flor
estou com saudade
estou...

beija-flor
minha boca beijou
e foi a saudade
o que ficou

tenho mel
no lábio a flor
venha beijar
meu beija-flor

tanta saudade
estou
do beijo
do beija-flor.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 776


Rangel Alves da Costa*


“Sou sem medo...”.
“Não tenho medo do medo...”.
“Não tenho medo do escuro...”.
“Não tenho medo de nada...”.
“Que venham os labirintos...”.
“Que venham as armadilhas...”.
“Que venham os sobressaltos...”.
“Que venham as surpresas...”.
“Que venham as assombrações...”.
“Pois não tenho medo...”.
“Sou sem medo...”.
“Não tenho medo de nada...”.
“Tenho por escudo a calma...”.
“Tenho por escudo a fé...”.
“Tenho por escudo a paz...”.
“Tenho por escudo a bondade...”.
“Tenho por escudo a honradez...”.
“Tenho por escudo a verdade...”.
“E Deus como lança maior...”.
“E Deus como proteção maior...”.
“Daí ser sem medo...”.
“Não ter medo de nada...”.
“Que venham as escuridões...”.
“Que venham as tempestades...”.
“Que venham as falsidades...”.
“Que venham as aleivosias...”.
“Que venham as mentiras...”.
“Que venham as hipocrisias...”.
“Que venham as arrogâncias...”.
“Que venham as ameaças...”.
“Que venham as violências...”.
“Que venham as intimidações...”.
“Pois não tenho medo...”.
“Sou sem medo...”.
“Não tenho medo de nada...”.
“Tenho por escudo a calma...”.
“Tenho por escudo a fé...”.
“Tenho por escudo a paz...”.
“Tenho por escudo a bondade...”.
“Tenho por escudo a honradez...”.
“Tenho por escudo a verdade...”.
“E Deus como lança maior...”.
“E Deus como proteção maior...”.
“É assim que sou...”.
“Uma pessoa intemerata...”.
“Uma pessoa de espírito valente...”.
“Uma pessoa de alma invencível...”.
“Pois que tem fé...”.
“E quem tem Deus...”.
“Nada pode temer...”.


Poeta e cronista
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terça-feira, 28 de outubro de 2014

BEN STRIK: A NOTÍCIA TARDIA SOBRE A MORTE DE UM AMIGO


Rangel Alves da Costa*


No último domingo, dia 26, repassando alguns livros da estante, fixei o olhar em “Morrer Para Viver – A Luta de Tito de Alencar Lima contra a Ditadura Brasileira”, um alentado relato biográfico (710 páginas) escrito por Ben Strik. Imediatamente recordei do velho amigo que deixara de dar notícias desde mais de ano.
Corri ao computador para ver se encontrava alguma informação e eis que encontro o que menos esperava: o anúncio de sua morte em 12 de março deste ano. Portanto, já há cerca de sete meses. E li que Ben faleceu em sua casa em Rucphen, Holanda, aos 91 anos, após acometimento de enfermidade. Nascido a 03 de março de 1923, seu desejo era chegar aos 101 anos, a mesma idade com que sua mãe faleceu.
Após a tardia, porém sempre triste notícia, me pus a recordar os primeiros contatos que com ele mantive, via email, bem como de sua visita, juntamente com sua esposa Patty Strik, à minha residência na capital sergipana. Já era noite e os dois chegaram acompanhados por José Paulino da Silva, anfitrião dos dois nas terras sergipanas, reconhecido historiador, escritor, folclorista e professor universitário aposentado. Trazia na mão seu precioso livro, que calmamente se pôs à dedicatória.
Relembro agora aquele senhor alto, de uma tez clara avermelhada, cabelos bons e esbranquiçados, cheio de alegria e jovialidade, com palavras que verdadeiramente encantavam. Com o sotaque entrecortado pelo seu holandês de origem e o português aprendido pelos longos anos na sua missão brasileira, Ben falava de seus novos planos e projetos, tanto para a juventude brasileira como para a holandesa.
Ben Strik foi homem múltiplo, de mundo, de muitos planos e objetivos, de muitas missões, e a maioria delas concretizadas por onde passou. Religioso, ex-sacerdote, missionário, escritor, compositor, cantor, evangelizador, engajado politicamente, muito fez pelos campesinos brasileiros na sua luta pela reforma agrária. Em nome da Igreja, atuou com eficiência para manter entre as forças governamentais e os movimentos sociais.
Em um texto intitulado “A correspondência de Ben Strik”, publicado em fevereiro de 2011, assim me referi ao grande homem:
“Ao entardecer deste último dia 23, fevereiro de 2011, estava eu tecendo meus escritos com pedra e cinzel quando me chega uma correspondência de longe, bem longe, e enviada por alguém que jamais imaginaria fosse lembrar-se de minha existência nesses tristes trópicos. [...] Trata-se de Pater Bernard Strik, ou simplesmente Ben Strik, um senhor de 88 anos, ex-partisano da guerra de 40-45, padre casado, que dedicou boa parte de sua vida sacerdotal à difusão de uma igreja verdadeiramente mais presente junto às populações pobres e carentes, principalmente nas regiões mais distantes e esquecidas do Brasil.
Sacerdote, escritor, cantor, palestrante e senhor de todas as lutas, nasceu em 1923 e lutou contra os nazistas alemães na Segunda Guerra Mundial. Sua luta contra o nazismo custou dois anos num campo de concentração na Alemanha. Depois se tornou sacerdote salesiano e em 1950 partiu para o Brasil onde trabalhou até 1972 entre indígenas, jovens e camponeses.
Voltando à Holanda, casa-se (Patty, sua esposa) e cria, já completados 75 anos, três fundações de ajuda ao Brasil: Brasil op Weg, Frei Tito de Alencar Lima e Brasilhoeve. Adepto e defensor da Teologia da Libertação, a partir daí recomeça sua peregrinação missionária pelo país, agora para sentir os resultados das sementes que havia plantado. Sempre inspirado na visão de uma igreja materialmente construtiva, se lançou ainda a outros projetos, catando recursos aqui e ali, para levar adiante seu sonho de transformação social.
[...] Ao chegar ao Brasil para cumprir sua missão, aqui estudou e trabalhou 22 anos como padre Salesiano de Dom Bosco. O reconhecimento pela sua dedicação às causas missionárias pode ser visto na profunda amizade que adquiriu junto a Dom Paulo Evaristo Arns, que com festejou naquele país baixo o segundo lustro de uma de suas fundações. Do mesmo modo mantinha estreitos laços de amizade com Dom José Brandão de Castro, falecido arcebispo da Diocese de Própria, em Sergipe, e um dos religiosos mais influentes do Nordeste.
Na sua peregrinação na aridez sertaneja, formou com os grupos de base da igreja católica uma verdadeira cruzada para ajudar os fiéis a conquistarem meios de sobrevivência digna, através do trabalho e da produção. Neste sentido, em 1986 esteve presente na primeira ocupação que os trabalhadores empobrecidos fizeram na improdutiva fazenda Barra da Onça, município de Poço Redondo, em Sergipe. Até hoje o MST reconhece o seu apoio para que as outras grandes conquistas se tornassem possíveis.
Natural da Holanda, neste e em outros países europeus empreendeu uma verdadeira via-crúcis para adquirir recursos e investimentos para serem repassados às obras sociais que criou por todo o país. Neste sentido, criou ONG’s, Associações e Fundações que continuam dando excelentes frutos em estados como Rondônia [...]”.
Desde aquele primeiro contato muitos outros se seguiram. E a amizade se fortalecera tanto que certa feita enviou-me importante e sigiloso material sobre a atuação do clero e dos movimentos sociais no sertão sergipano, tecendo críticas e mostrando, documentalmente, desvios de condutas e objetivos.
Depois de tanto silêncio a notícia triste. E revendo sua dedicatória, saudosamente avisto: Caríssimo Rangel, que a nossa luta pela verdade e pela honestidade surta efeito pelo bem dos sertanejos. Aracaju, 24/10/2011. Ben e Patty Strik.


Poeta e cronista
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Fúria do tempo (Poesia)


Fúria do tempo

Meus desejos e sonhos
e veio o outono voraz
minhas ideias e fantasias
e veio o feroz vendaval
apenas quis ter um dia
antes que os temporais
levassem toda alegria

de tudo o que restou
restos e sombras e restos
sequer a fúria da vida
encontrará o que levar
nos outonos e vendavais
para dissipar pelo ar
e enfim nada restar mais. 


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 775



Rangel Alves da Costa*


“Fechei a janela...”.
“Saí do escuro quarto...”.
“Abri a porta...”.
“Coloquei os pés lá fora...”.
“Olhei adiante...”.
“Mirei o horizonte...”.
“Senti o sol bater no meu rosto...”.
“Levantei os braços...”.
“Apontei para os céus...”.
“E disse...”.
“Sou rei...”.
“Sou soberano...”.
“Sou tudo...”.
“O mundo é meu...”.
“Sou eu natureza...”.
“No rio que corre...”.
“No pássaro que voa...”.
“No vento que sopra...”.
“Na brisa da tarde...”.
“Na semente e no grão...”.
“No chão e na terra...”.
“Na folha e no tronco...”.
“Na flor e no espinho...”.
“No sol e na lua...”.
“Na estrela e na nuvem...”.
“No ninho do passarinho...”.
“No corpo e na face...”.
“Na ostra e na onda...”.
“No café e no bule...”.
“Na saudade e na recordação...”.
“Tudo sou eu...”.
“E em tudo eu estou...”.
“Pois sou rei...”.
“Sou soberano...”.
“E assim dizer...”.
“Não mais à guerra...”.
“Não mais à fome...”.
“Não mais à injustiça...”.
“Não mais à arrogância...”.
“Não mais à submissão...”.
“E a cada ser...”.
“Darei uma parcela do meu poder...”.
“Para que sejam seus donos...”.
“Comandem suas vidas...”.
“Com ética e moralidade...”.
“Com honestidade e retidão...”.
“Com bondade e companheirismo...”.
“Para que o seu rei e soberano...”.
“Jamais precise sentenciar...”.
“Senão para acolher suas ações...”.


Poeta e cronista
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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

BRASIL, CHORA TUA DOR!


Rangel Alves da Costa*


Dizem que num tempo distante, após a morte de um guerreiro da tribo, o velho cacique disse que daquela vez não haveria cantos rituais nem rostos pintados de urucum. E disse ainda que dali em diante, enquanto vida tivesse, não admitiria mais que o seu povo fingisse sua dor senão com a demonstração de verdadeira dor. E se pôs a chorar. E todos choraram, e todos intimamente sofreram.
Moral da história: A realidade deve ser enfrentada sem disfarces, demonstrando na face e no íntimo toda dor de uma perda, eis que somente assim haverá valorização daquele ideal pelo que se lutou. E tal assertiva se aplica muito bem ao que ocorreu no pleito de ontem, dia 26, com a reeleição da candidata petista. Diante do resultado, com a certeza da continuidade da corrupção no poder, será justo e verdadeiro a dor e o sofrimento naqueles que desejaram um Brasil melhor. Ora, foi o Brasil que acabou derrotado.
Segundo já dizia Caminha na sua famosa Carta, aqui se plantando tudo dá. E dá mesmo: corrupção, lamaçais, roubalheiras, desvios do dinheiro público, improbidades e tudo mais que pudesse vir de um partido político e sua governante. Mas a maioria do povo eleitor só enxerga maravilhas, principalmente entre os nordestinos (e sou sertanejo), onde a cegueira e a passividade acabaram redundando em tragédia. Não sabem, contudo, o que os espera.
Esse deslumbramento insensato e incoerente deu no que deu: Dilma reeleita, o PT continuando no poder e tudo o mais que se possa esperar. E desde a noite de ontem uma imensidão de gente está em festa. Foi dormir feliz porque acabou o temor de perder a esmola do Bolsa Família (como tanto se espalhou) e assim não precisará mais trabalhar. É a institucionalização da preguiça, da vergonhosa lassidão.
Certamente muitas velas foram acesas em louvor a São Lula e a Santa Dilma, o pai e a mãe dos pobres. E também padroeiros dos preguiçosos e corruptos. Ainda ontem à noite chegavam notícias de farras em botequins interioranos com o cartão do Bolsa Família servindo como garantia de pagamento. Esfuziantes, os neopetistas bradavam que a farra e a esbórnia estavam garantidas por mais quatro anos.
Mas se assim eles quiseram, que assim fosse. Mesmo que grande parte dessa maioria votante no petismo não tenha capacidade suficiente para saber da dimensão da tragédia advinda com tal eleição, as consequências do clientelismo e do analfabetismo político acabam afligindo a todos, indistintamente. Por causa de alguns todos irão pagar. Todos serão vitimados pela sanha voraz do petismo e dessa governanta. Serão mais quatro anos de mentiras, ladroeices e descalabros administrativos.
Mas eis o Brasil das maravilhas, segundo a maioria dos eleitores. Educação, saúde, segurança, emprego, salário, tudo maravilhoso, eficiente, de primeiro mundo. Não há inflação, não há corrupção nem corruptos no governo, a pobreza foi dizimada, não há mais ninguém morando em barraco, todos têm alimento à mesa, uma verdadeira fartura. O país de políticos honestos e governantes íntegros, externamente reconhecido como liderança mundial em bonança e desenvolvimento. É assim que o eleitor de Dilma imagina o Brasil. E por isso mesmo lhe confiou a continuidade dessa perfeição.
Que Aécio, mesmo com os seus 51 milhões de votos, não se tenha por vitorioso por ter enfrentado a máfia governamental e ainda assim ser reconhecido por tantos eleitores. Não, eis que derrotado como todo brasileiro, mesmo aqueles que tenham ajudado a eleger seus algozes. Aécio foi derrotado, eu fui derrotado, você foi derrotado, o Brasil foi derrotado. E por muito tempo o país não conseguirá se recompor dos lamaçais acumulados pelo petismo.
Faço como o velho cacique. Não finjo a dor, não finjo o sofrimento. Eis em mim o reconhecimento de uma realidade que muitos se negam a enxergar. Mas quem viver verá.


Poeta e cronista
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Desde o ontem distante (Poesia)


Desde o ontem distante


Não muito longe o passado
e aqui ainda a nossa presença
sempre colhendo os frutos
do que começamos a semear
ainda nas noites de lua antiga

caminhamos pela estrada
vencemos pedras e espinhos
e chegamos de mãos dadas
ainda olhando com saudade
para os sorrisos de nossa idade

que não esqueçamos de ontem
que não esqueçamos de nada
nada mais temos ou somos
que o que aprendemos cultivar
ainda nos tempos de esperanças

o beijo e esse abraço de agora
nasceram de um olhar de ontem
esse amor de sempre foi lição
aprendida em cada passo dado
desde aquele amor do passado.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 774


Rangel Alves da Costa*


“Abro a janela...”.
“E as flores mortas surgem...”.
“E as folhas mortas esvoaçam...”.
“E os restos mortos passam...”.
“Paisagem de outono...”.
“Sombras sombrias...”.
“Angústias e melancolias...”.
“E uma tristeza danada...”.
“São tristes os versos do coração...”.
“É aflitiva a poesia da alma...”.
“Ainda que seja primavera...”.
“E o jardim esteja enfeitado...”.
“As árvores todas pujantes...”.
“E a vida pulsante viver...”.
“Eis que tenho um outono meu...”.
“E me chega assim...”.
“De vez em quando...”.
“Bastando abrir a janela...”.
“E sentir saudades e recordações...”.
“Oh, minha linda onde está agora?”.
“Minha terna flor onde está agora?”.
“Onde está agora o meu amor?”.
“E me respondo que não sei...”.
“E repito que não sei...”.
“E de repente a chuva no olhar...”.
“Um rio no olhar...”.
“Um barco no olhar...”.
“E de repente a tristeza tanta...”.
“A angústia pela ausência...”.
“A aflição por não ter...”.
“A dor da impossibilidade...”.
“E tudo transformando a primavera...”.
“Num outono voraz...”.
“Tempestades e vendavais...”.
“Paisagens sombrias...”.
“Num cenário de aflição...”.
“O que fazer em momentos assim?”.
“Como evitar que as chuvas caíam sem nuvens?”.
“Como impedir que o rio transborde?”.
“Como não me deixar naufragar?”
“Como apenas fingir as realidades?”.
“Talvez fechando os olhos...”.
“Negando o pensamento...”.
“Fingindo ao coração...”.
“Ou forjando ser outro...”.
“Diferente do que realmente sou...”.
“Mas seria sofrer muito mais...”.
“Pois mesmo a janela fechada...”.
“As sombras do quarto revelarão...”.
“Que somente o amor traz a luz...”.
“Mas cadê meu amor?”.


Poeta e cronista
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domingo, 26 de outubro de 2014

O TERCEIRO TURNO


Rangel Alves da Costa*


Não se imagine que o pleito eleitoral brasileiro terminará com o anúncio do vitorioso no segundo turno. Ao anoitecer deste domingo, 26, certamente que ou Dilma ou Aécio estará festejando a consagração popular, mas consciente que nada ainda terminou, pois um pleito maior e mais difícil se aproxima. Após a posse começa o embate entre o novo governante e o povo, seja seu eleitor ou não. De um lado estarão as promessas e de outro as exigências ao cumprimento.
E então surge um aspecto de maior relevância: O povo pode vencer o eleito em pouco tempo, bastando que este passe a governar sem o aval dos compromissos assumidos, negando seu próprio projeto de governo ou relegando as grandes aspirações populares. Já o eleito terá que suportar uma disputa de quatro anos, procurando, a cada dia, mostrar que é realmente merecedor de aceitação. Enquanto o povo tem o dom de logo rechaçar a postura do eleito, este terá a árdua missão de, desde o início, mostrar que o rumo que está tomando não é diferente daquele caminho prometido.
A disputa do terceiro turno começa, pois, a partir da posse. Diferentemente do que ocorreu no primeiro turno, onde as desconstruções, as mentiras e os confrontos pessoais deram o tom da disputa, e no segundo, quando os dois escolhidos chegaram à arena armados até os dentes para confrontos diretos, rancorosos e deselegantes, o terceiro turno ocorrerá no âmbito das cobranças. Será a vez de o povo se alçar de candidato e buscar derrotar a antiga prática do esquecimento e da inversão dos discursos.
As inversões dos discursos, dos compromissos assumidos e dos projetos defendidos em campanha, sempre prevaleceram ao longo da história política brasileira. Tornou-se praxe que o marketing político, ou o mero jogo de fantasiamento do candidato e venda de ilusões, sempre tenha se sobreposto à discussão e enfrentamento das realidades e a efetiva busca de soluções para os tantos problemas que afligem o país. Por isso mesmo que depois da posse o governante começa a enfrentar grandes dificuldades. E o passo seguinte, diante da impossibilidade de governar segundo o prometido, é se mostrar como outro totalmente diferente daquele da campanha.
A verdade é que nenhum governante respeita a própria palavra, nenhum eleito termina o mandato tendo cumprido ao menos um terço de suas promessas. O protelamento das medidas urgentes e necessárias é um mal também histórico. Por consequência, todo governante se reifica após a posse, se arvora do direito de tudo ser e acaba agindo por pura conveniência. E isso é muito perigoso quando encontra quem o cobre com firmeza do outro lado. E tal cobrança, diante da situação de fragilidade ou dependência que geralmente acaba abarcando os outros poderes, somente o povo poderá fazer.
Em tal perspectiva, de poder do povo sobre o próprio governante, logo o qualifica como rival difícil de ser derrotado no terceiro turno. O eleito tem o poder, tem o mandato à mão para cumprir segundo seus objetivos de governo, mas devendo sempre ter o cuidado de não conflitar sua gestão com os interesses legítimos da sociedade. Ou se amolda aos anseios e clamores sociais ou estará fadado a ser negado até mesmo por aqueles que o apoiaram. Ao menos assim deveria acontecer, eis que somente o povo para impor ao mandatário um governo que não se distancie das promessas e compromissos assumidos.
A afirmativa que ao menos assim deveria acontecer implica também em dizer que nunca acontece assim. Ora, todo e qualquer candidato chega numa campanha já sabendo que deve prometer o máximo porque o povo assimila tudo que o que for prometido, mas depois, com o comodismo que lhe é peculiar, acaba tudo esquecendo. Na maioria das vezes, seria até impossível cumprir metade da cesta de bondades. Mas mesmo assim promete mundos e fundos. E depois, quando toma posse, pouco ou nada faz e, o que é pior, passa a desconhecer o próprio povo.
Mas basta que a sociedade diga que está de olhos abertos para o governante começar a temê-la. Não há nada que mais aflija um mandatário que um povo cobrando, puxando a sua rédea. A sociedade brasileira não gosta muito de fazer cobranças ou exigir posturas que lhe sejam benéficas, tendendo muito mais a pactuar com os esquecimentos e desacertos, mas ainda assim tem tudo para dominar a disputa e sair vencedora. Basta que faça ver ao eleito deste domingo que um mandatário maior da nação governa é para o povo e não para partidos, grupos ou na defesa de interesses pessoais.
De qualquer modo, o terceiro turno envolverá apenas o vitorioso deste domingo e o povo, e num pleito que se iniciará após a posse. A partir daí a disputa poderá ser do governante contra o povo, deste contra aquele, ou até mesmo num pacto onde os dois comunguem suas forças em nome da nação. Mas cabe ao governante evitar que haja qualquer confronto. Agindo segundo as aspirações da população, transmitindo confiança à sociedade e governando com seriedade e pauta desenvolvimentista, certamente que o povo abraçará sua causa.
Por fim, tenha-se que aquela frase tão corriqueira em campanha, dizendo que a vitória do candidato será o povo no poder, é plenamente aplicável no embate entre sociedade e governante. Eis que o povo, a qualquer momento, poderá exigir o poder. Que, aliás, sempre lhe pertenceu.


Poeta e cronista
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Desde criança... e sempre (Poesia)


Desde criança... e sempre


Desde criança cultivo uma flor
e minha esperança é entregá-la um dia

desde menino cuido de um pomar
esperando que aceite minha doce fruta

desde pequenino que escrevo versos
e todos eles beijando e abraçando você

desde aquele tempo que lhe amava
e cresci sem medo de perder o encanto

e ontem encontrei novamente você
e eu estava sem flor, sem fruta, sem verso

mas ontem você me olhou e me sorriu
e senti que a vida se justifica pela esperança.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 773


Rangel Alves da Costa*


“Não me tragam amores modernos...”.
“Amores modismos, amores tecnológicos...”.
“Amores brilhos e enfeites...”.
“Amores festins e excessos...”.
“Não me venham com amores assim...”.
“Amores ficantes...”.
“Amores momentâneos...”.
“Amores curtições...”.
“Amores descartáveis...”.
“Amores solúveis...”.
“Amores de bolha de sabão...”.
“Ora, o amor verdadeiro é rocha...”.
“É ouro e diamante...”.
“É penhasco e rocha...”.
“Possui força ferrosa pétrea...”.
“Um amor que se reconhece...”.
“Pela cumplicidade entre dois...”.
“Pela união entre dois...”.
“Pelo querer demais entre dois...”.
“Pelo compromisso entre dois...”.
“Amor de seresta e de serenata...”.
“Amor de flores e bilhetes...”.
“Amor de versos e cartinhas...”.
“Amor de saudades e sonhos...”.
“Amor de beijos e abraços...”.
“Um amor que dá as mãos...”.
“Que caminha pelos campos...”.
“Que deita suave na relva...”.
“Que declama poemas...”.
“Que sobe à montanha...”.
“Que solta beijo ao vento...”.
“Que escreve o nome na nuvem...”.
“Que vê a face numa canção...”.
“Que chama o nome em silêncio...”.
“Que se enche de felicidade e paz...”.
“Porque ama...”.
“Quero amar assim...”.
“Um amor antigo...”.
“Um amor amoroso...”.
“Um amor nostálgico...”.
“Que além de amor...”.
“Seja também a certeza...”.
“Que ainda é possível...”.
“Compartilhar o coração...”.
“Sem temer que o outro acredite...”.
“Que pode usar e abusar...”.
“E depois descartar...”.
“Um amor que seja eterno...”.
“Mesmo que sozinho...”.
“Até que encontre...”.
“Seu amor verdadeiro...”.


Poeta e cronista
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sábado, 25 de outubro de 2014

LEIA E RESPONDA ANTES DE VOTAR


Rangel Alves da Costa*


A eleição será amanhã. Nela a decisão sobre o futuro do país, ao menos pelos próximos quatro anos. E você logicamente será peça fundamental na escolha do próximo governante do Brasil.
Já parou para pensar o quanto você é importante nesta escolha? Tão fundamental que toda emoção, todo partidarismo fanatizado e toda passionalidade deveriam ser deixados de lado em nome de uma razão maior: Brasil.
Eleição não é partida de futebol, é a própria nação que está em jogo. Eleição não é brincadeira, mas algo tão sério quanto a saúde que você precisa, a educação que você deseja, a segurança que você necessita.
Eleição deve ser vista muito além de jingles, bandeiras, adesivos, gritos e brigas por causa dos candidatos. Eleição é consciência crítica, desapaixonada, racional, despojada de qualquer fanatismo. Eis que o Brasil não é um partido, mas um todo de todos.
Ora, não se estará apenas escolhendo Aécio ou Dilma ou Dilma ou Aécio, mas principalmente tudo aquilo que se deseja para o Brasil. E um Brasil melhor, mais justo, mais digno, mais humano. O eleito será apenas um agente das transformações que a nação brasileira tanto necessita. Ao menos deveria ser assim.
Por isso mesmo que antes de se dirigir ao seu local de votação, ou mesmo enquanto ou após ler este escrito, reflita bem sobre o seu voto e sobre o seu candidato. Como afirmado, deixe toda emoção de lado, desarme-se das paixões, e calmamente reflita sobre o que se segue.
Sim, que vote em Dilma, o voto é livre, a escolha também e não há problema, mas, por favor, responda:
Você tem certeza que o Brasil suportará mais quatro anos entregue nas mãos de um partido que mais se assemelha a uma quadrilha e, agindo como tal, rouba descaradamente a nação, desvia recursos públicos, faz da ilicitude uma normalidade?
Você está disposto a conviver mais quatro anos com a arrogância de Dilma, com as mentiras de Dilma, com os descalabros administrativos de Dilma? Ou será que ela sempre disse a verdade sobre a real situação da educação, da economia, da saúde e do crescimento do país?
Quantas vezes você já ouviu que o Brasil está protegido das crises internacionais, que a economia está sempre em aceleração, que não há inflação, que o salário mínimo acompanha o poder de compra? Qual o preço de sua feira, do seu remédio, de suas tarifas, ou será que você não sente nenhuma diferença no bolso a cada compra ou pagamento que precise fazer?
Diga, sinceramente, o PT tem moral, lisura, honestidade e integridade partidária para estar comandando um país como um Brasil? Ou você acha que o Brasil não é realmente um país sério e que por isso mesmo tanto faz ser governado por um partido mafioso, corrupto e quadrilheiro?
Ou você acha que Dilma, mesmo sendo do PT, se não fosse ex-guerrilheira até poderia ser canonizada, eis que acima de qualquer suspeita? Mas segundo Alberto Youssef, tanto ela como Lula sabiam de tudo. Quer dizer, desde muito sabiam do esquema de corrupção na estatal. E, por consequência, que dinheiro estava sendo desviado da empresa para o caixa do PT.
Eis o que diz a capa da revista Veja desta semana: “ELES SABIAM DE TUDO: O doleiro Alberto Youssef, caixa do esquema de corrupção na Petrobras, revelou à Polícia Federal e ao Ministério Público, na terça-feira passada, que Lula e Dilma Rousseff tinham conhecimento das tenebrosas transações na estatal”.
E você sabe por que eles sempre negaram ter conhecimento disso? Ora, a isto se domina “omertà”, que é a lei ou voto de silêncio entre os mafiosos. E mesmo assim você vai votar em Dilma?
A verdade é que se tornou muito perigoso afirmar que não vota no PT. Não há nada mais vingativo que o petismo, mais covarde que o petismo. Desde muito deixou de ser partido político para se tornar em facção, em organização criminosa. Talvez seja o submundo da podridão política brasileira.
E eu não sou conivente com a corrupção nem voto em facção criminosa travestida de partido político. E você?


Poeta e cronista
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Cálice (Poesia)


Cálice


Puro cristal
cálice e vinho
vermelho e fogo
a boca e a sede
o toque e a chama
o lábio e o desejo
até a última gota
para depois
cair e quebrar

mil estilhaços
pedaços e restos
pontas e espinhos
a pele e o sangue
o lábio tocando
a dor e o vermelho
na face o espelho
da vida e da morte
o último gole
de vida.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 772


Rangel Alves da Costa*


“Punhal feroz...”.
“Lâmina cortante...”.
“Fio traiçoeiro...”.
“Rasga-me o peito...”.
“Dilacera-me inteiro...”.
“Estraçalha e deforma...”.
“E ainda assim, possa acreditar...”.
“Direi que amo...”.
“Direi que o amor é meu...”.
“Direi que jamais abdicarei de amar...”.
“Direi que continuarei amando...”.
“Pois nada...”.
“Nada que mate ou machuque...”.
“Nada que dizime ou devaste...”.
“Nada que aflija o ser...”.
“Terá o poder...”.
“Terá o poder...”.
“De subjugar e submeter...”.
“De fazer dobrar...”.
“Quem resoluto é...”.
“Quem sabe o que quer...”.
“Quem sabe o que deseja...”.
“E reconhece no amor...”.
“Sua razão de viver...”.
“Ainda que lhe seja impingido...”.
“Todo o padecer e sofrimento...”.
“Toda a dor e aflição...”.
“Angústias que não apagarão...”.
“A chama viva e consciente...”.
“De ajoelhar-me a seus pés...”.
“De prostrar-me a seus pés...”.
“De lançar-me a seus pés...”.
“Para dizer e repetir...”.
“Te amo...”.
“Te amo...”.
“Te amo...”.
“Torna-me um deus no seu templo...”.
“Torna-me seiva no seu íntimo...”.
“Torna-me sua razão de viver...”.
“Ou escraviza-me...”.
“Devora-me as estranhas...”.
“Submete-me ao que desejar...”.
“Mas ainda assim ouvirá...”.
“Que te amo...”.
“E me ouvirá repetir...”.
“Que te amo...”.
“Te amo...”.
“Te amo...”.
“Porque assim a minha voz...”.
“Ou meu grito de amor...”.


Poeta e cronista
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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

BATE PILÃO


Rangel Alves da Costa*


Da madeira do navio, do navio negreiro, talvez seja o pilão. Mas trazida da mata para ser escavada até que a fundura triture o grão, na batida da mão do pilão.
Forte como o negro, sofrido quanto escravidão. Geme o negro, também geme o pilão. No lombo do escravo é o chicote e o ferro que são as mãos do pilão.
A árvore cortada no tronco rombudo é lançada ao chão. O corpo do negro, depois de esfolado, é jogado ao desvão. Mas o pilão é de madeira e o escravo não.
Traz o tronco da mata, madeira de lei, bem largo e macio para ser batido. E bate o facão, bate a ponta aguda, bate até cavar profundo e surgir o fundo, fundo do pilão.
O negro adorna, o negro alisa, o negro dá vida ao pilão. Um pilão com a feição de seu corpo, tão forte e tão firme, mas sendo batido, sendo castigado, sendo remoído.
Largo é o tronco, tão firme e tão forte é o pilão. O pau de pilão de pé e tem mão, geme na batida, parece ter coração. A cada batida, num movimento repetido, irrompe aflição.
Ali na senzala, cheirando a queimado, cheirando a garapa, no meio do tempo está o pilão. Pelos arredores a vida em aflição. Crianças e velhos de negra coloração, tratados como bichos ou simplesmente pilão.
Bate escravo, bate o pilão. Agoniza o escravo, agoniza o pilão. O sangue de um é misturado ao grão, alimentando o engenho e o poder do patrão. Dono de negro, tido como bicho sem alma e coração.
Bate que bate o pilão. A senzala é grande, o engenho imensidão. Bate que bate o pilão, pois lá vem o senhor com chibata na mão, precisa de negro para plantação. Ou o negro vai logo ou se transforma em pilão.
Se o pilão é raso, afunda mais o pilão. Tem de caber tudo dentro do pilão, desde o corpo à alma, tudo feito grão, para depois ser batido e jogado ao chão. Então joga o negro dentro do pilão, não precisa o escravo ter outra destinação.
Assim pensa o algoz com o ferro na mão, assim pensa o senhor mostrando o pilão, que é o tronco adiante esperando o negro em submissão. E no meio do tempo irrompe o grito, o pilão sangrando, um brado de trovão.
Mas a vida também se faz ao redor do pilão. A criança faminta espera o pilão, a senzala inteira come do pilão. Dali sai o alimento ou o que sobra do grão, para ser transformado numa sombra de pão.
O negro cansado, o negro suado, o negro lanhado, vai bater arroz, vai bater café, vai bater o milho. Bate negro, negro bate o pilão. Pouco lhe sobra, é tudo do patrão, mas sua sina é esta, é bater o pilão.
O negro no tronco e no tronco do pilão. No tronco jogado, no tronco açoitado, no tronco lanhado, a crucificação. E depois do tronco vai pra outro tronco, o tronco do pilão.
O dia se vai, a noite caminha, a lua ilumina o negro no pilão. Um canto gemido, um canto de dor, uma dolência em tudo, um lamento que ecoa do tronco do pilão.
Iá iê, akuntô, naní na’iô, lamenta o negro, geme o pilão. Nô’anã iá iô, naná aió, oní nanã, ecoa o negro, ressoa o pilão. É canto de negro, é lamento de pilão, no meio da noite, em toda escuridão.
Negro avançando na noite, o braço subindo, o braço descendo, batendo pilão. O negro cansado vai deitar na terra, mas continua batendo sozinho o pilão. E bate lentamente, como a dor da escravidão.
Escrava é a vida, escravo é o homem e também o pilão. O mesmo sofrimento na desolação, o mesmo gemido em toda aflição, como milho esmagado, o farelo do grão, assim na existência do homem pilão.
Avisto no quintal ainda um pilão. E por todo lugar a escravidão. Na cor, na submissão, fingindo gostar, mas quer bater o pilão. E bate o pilão, e bate o pilão...


Poeta e cronista
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