Rangel Alves da Costa*
Que atire a primeira mentira quem não
conhecer algum puxa-saco. Infelizmente conheço muitos, dezenas, centenas,
desses imprestáveis na vida. Imprestáveis não, pois se prestam com eficiência,
sem vergonha ou pudor, à indigna arte da bajulação, da lambidela, da adulação,
do amanteigamento.
Conceitualmente, tem-se o puxa-saco como
aquele indivíduo que se presta a paparicar o outro tencionando receber qualquer
consideração. Para ser agraciado com alguma coisa, torna-se excessivamente admirador
do outro, seu defensor intransigente, espalhando somente virtudes. Não apenas
concorda com tudo que o bajulado faz como se dá ao trabalho de torná-lo como
verdadeiro endeusado.
O chefe não abre a porta, eis que o adulador
já se adiantou para lhe dar passagem. Um sapato empoeirado não é problema, vez
que o puxa-saco arruma logo um lenço para esfrega-lo. Aproxima a cadeira, serve
café, pergunta se quer água, ajeita o nó da gravata, acaricia o paletó, só
faltando perguntar se quer que lhe beije os pés. E beija mesmo. Não tem nenhum
limite ou vergonha na cara para agradar o chefinho.
Ouve atentamente cada palavra que digam sobre
o bajulado e vai correndo soprar aos ouvidos a fofoca da vez. Acaso alguma
coisa não lhe pareça justo, parte pra briga, discute, vira mesa e vira mundo. E
age de tal forma que até se imaginaria estar, ele próprio, sendo aviltando,
achincalhado. Mas não, como não tem honra procura defender a honra do outro e
custe o que custar.
Assim, é próprio do puxa-saco tomar as dores do
outro. Não só toma as dores como serve de lança e escudo. É capaz de dar a cara
a tapa para não ver seu admirado ofendido. E age tão cega e desavergonhadamente
que acaba interiorizando suas fantasias e ilusões. Como um apaixonado, se
entrega de corpo e alma à causa do bajulado e chega até a pensar e repensar nas
melhores palavras toda vez que a ele tem de se dirigir.
O puxa-saco também é especialista em mentir,
não só para o bajulado como a para a população. Jamais transmite qualquer coisa
que enraiveça ou não seja do agrado do adulado. Mas age diferente quando sente
alguma ameaça nos seus planos. Então vai dizer ao seu amado que este ou aquele
estava mentindo a seu respeito, maculando sua honra. Tudo na tentativa de não
ter sua subserviência ameaçada por quem quer que seja.
Alguns bajuladores agem tão descaradamente
que ninguém mais acredita nas suas palavras nem nas suas defesas. Ora, todo
mundo sabe que o bajulado não presta, que não vale um tostão, mas ainda assim
insiste em florear suas ações, perfumar seu caráter, torná-lo purificado. Já
outros se utilizam de ideologias partidárias para vender o seu peixe. Pensando
em ser lembrado num cargo em comissão ou coisa parecida, então levanta
bandeira, faz inflamados discursos, vai mostrando o candidato como possuidor de
todas boas virtudes.
Muitos têm o puxa-saquismo como uma arte,
pois ofício de construção de uma imagem a qualquer custo e sem medir
consequências. Já outros o têm como mero exercício de adornamento tentando
obter algum benefício ou proteção. E ainda outros como pura safadeza, como
prática vergonhosa de se pensar, cuidar e defender muito mais o outro do que a
si mesmo.
E os sinônimos são muitos. Assim, é o mesmo
puxa-saco aquele que é visto e comentado como baba-ovo, bajulador, sabujo,
lambe-botas, adulador, pelego, lacaio, lambedor, chaleira, xeleléu, babão,
servil, dentre muitas outras desonrosas denominações. São encontrados
facilmente, eis que ao lado de político sempre há um puxa-saco, bem como como
do governante, da autoridade, do superior.
A verdade é que é reconhecível demais em
qualquer situação. Como erva daninha, espalha-se vergonhosamente pelos quatro
cantos. Conheço alguns que se tornaram dignos de piedade, pois jamais
conseguiram nada na vida com seus ofícios. Mas continuam lambendo sapatos e
ajeitando gravatas. E você, conhece algum?
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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